AbdonMarinho - CACHAÇA NO LEITE.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

CACHAÇA NO LEITE.

CACHAÇA NO LEITE.

Meu pai – anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira –, cos­tu­mava dizer que no Maran­hão o que din­heiro ou «taca» não resolvesse era porque fora pouca. Dizia isso, acred­ito, não no sen­tido da cor­rupção per­mear todas as relações – sequer sabia o que era isso –, mas no sen­tido de que para os ricos, os poderosos, os bem nasci­dos, o peso das auguras pesava menos sobre os ombros.

Vejamos o caso da ex-​prefeita de Bom Jardim – que anal­iso de longe, sem con­hecer minú­cias, e por isso peço um desconto –, onde as autori­dades fazem de tudo para serem desmoralizadas.

A Polí­cia Fed­eral, em qual­quer pesquisa de opinião que se faça, figura como uma das mais respeitáveis insti­tu­ição da República. Isso se deve, sobre­tudo, ao grande vol­ume de ações que empreen­deu, para com­bater a cor­rupção que assola o país. Em que pese o êxito ser pouco, pois quanto mais se desco­bre rou­bos mais aumenta a fome dos dadores do din­heiro público, o tra­balho da polí­cia é recon­hecido como serio e eficiente.

Dito isso, soa como inverossímil que a Polí­cia Fed­eral tenha lev­ado um «banho» da quase ado­les­cente prefeita de Bom jardim, de 25 anos, que con­seguiu ficar à solta por 39 dias. Só se entre­gando, ao que parece, através de um acordo prévio, que lhe garan­tisse um trata­mento difer­en­ci­ado em relação a out­ras pes­soas em iguais situações.

Até para uma pes­soa que não tem muita vivên­cia nesta área, pare­ceu estranho que a PF tenha lev­ado o “banho” que levou, ainda mais de uma jovem inex­pe­ri­ente como já referido.

A impressão que fica – e que deve está equiv­o­cada – é que não fiz­eram tudo que podiam e deviam para prendê-​la ou que não são esse mod­elo todo de efi­ciên­cia que tanto orgulha a sociedade brasileira.

Diante do fato da Câmara Munic­i­pal de Bom Jardim ter declar­ado vago o cargo de prefeito pela ausên­cia da tit­u­lar por mais de dez dias do municí­pio e empos­sado a vice-​prefeita em caráter defin­i­tivo como prefeita, ces­sou o foro priv­i­le­giado da for­agida, baixando o processo para a com­petên­cia de uma das varas crim­i­nais da Justiça Federal.

Diante de tal fato, a primeira medida dos defen­sores, da agora ex-​prefeita, foi pedir o relax­am­ento do man­dado de prisão, emb­ora a requer­ente ainda que a mesma estivesse foragida.

Ainda, pelo que soube, o juiz que assumiu o caso con­cedeu o prazo de 72 horas para que se apre­sen­tasse à polí­cia, prestasse depoi­mento e fosse con­duzida para o quar­tel do corpo de bombeiros, para, só então se man­i­fes­tar sobre o pedido de revo­gação da prisão.

Não tenho dúvida alguma que juiz agiu den­tro da mais estrita observân­cia aos parâmet­ros legais e, até o recol­hi­mento da ex-​prefeita numa prisão espe­cial, deve ter sido moti­vada na intenção de preservar-​lhe a inte­gri­dade física, diante da enorme reper­cussão adquirida pelo caso, manchete em todos os meios de comu­ni­cação no país e até no exterior.

A forma como divul­garam o assunto – com alguns jor­nal­is­tas dando conta como certa a soltura da ex-​prefeita – pas­sam a ideia de há um suposto favorec­i­mento, priv­ilé­gio e que a Justiça Fed­eral estaria a colab­o­rar com ele. O que, acred­i­ta­mos, esteja bem longe de cor­re­spon­der à verdade.

Claro que uma foto que cir­cu­lou na inter­net mostrando como cela uma quarto com cama con­fortável, tele­visão de LED e frigo­bar, bem como, um lanche do bob’s suposta­mente servido a ex-​prefeita por ocasião do seu depoi­mento, não con­tribuíram muito para dis­si­par a ideia de que algo inco­mum estaria ocorrendo.

Noutra quadra, a ex-​prefeita, ori­en­tada por bril­hantes advo­ga­dos, tra­balha e aca­lenta a ideia de retornar ao comando do municí­pio. A senha para isso foi dada durante o depoi­mento após se entre­gar à polí­cia. Lá, no depoi­mento, fez questão de consignar que jamais deixara o municí­pio, per­manecendo durante todo esse tempo vis­i­tando os munícipes em seus povoa­dos, sobre­tudo, suas aldeias indígenas.

Os índios, claro, negaram tal visita. Um chefe de aldeia chegou a afir­mar que a ex-​alcaidina, não só não esteve por lá, como fazia tal afir­mação no propósito de dene­grir a imagem dos mes­mos. Tam­bém, se não me falha a memória, ouvi de um del­e­gado que a afir­mação care­ce­ria de verdade.

Não deixa de ser estranho que saiba onde a prefeita não estava, mas que não soubesse onde estava. Mas, entre o céu e terra, sem­pre cabe uma explicação.

Ao afir­mar que não se ausen­tara do municí­pio durante 39 dias – período em que nem a polí­cia fed­eral, com todo seu aparato e com­petên­cia, sabia onde estava –, tenta tornar sem efeito a decisão da mesa leg­isla­tiva que declarou vago seu cargo.

Vejam como é inter­es­sante a tese: a prefeita aproveitou o fato de não ser prefeita para pleit­ear o relax­am­ento de sua prisão em primeira instân­cia e, na outra frente, argu­menta que jamais perdera a condição de prefeita pois não deixara o município.

Diante de todos estes fatos, fico em dúvi­das se tudo isso não é movido por alguma cachaça forte, talvez com leite.

Abdon Mar­inho é advogado.