QUEM COM A PENA FERE … OU O PATO MANCO RI POR ÚLTIMO.
Por Abdon Marinho.
NESTES dias de ócio virótico pus-me a refletir sobre uma categoria de pessoas que existem desde os primórdios da civilização: os aduladores.
Não sobre os que devotam a outrem os elogios mais impertinentes ou os atos de sabujice mais escancarados.
Destes já tratou deste Salomão, nos seus provérbios: “a testemunha falsa não ficará livre do castigo, e aquele que despeja mentiras não sairá livre. Muitos adulam o governante, e todos são amigos de quem lhe dá presentes”. Provérbios 19:5-9.
Passando por Havé Salvador: “ Afasta-se dos bajuladores antes que eles se afastem ti quando não tiveres mais nada”.
Ou Tácito: “os aduladores são a pior espécie de inimigos”.
Ou Saint-Clair Mello: “a pior espécie de rato é aquela que prolifera nos escaninhos do poder”.
Ainda sobre o tema e a título de conselho, disse-nos Barack Obama, ex-presidente da nação mais poderosa do mundo : “Livre-se dos bajuladores. Mantenha perto de você pessoas que te avisem quando você erra”.
E não podemos esquecer que o próprio Nicolau Maquiavel, no seu “O Príncipe”, dedicou-se ao tratamento do tema.
Poderíamos passar dias repetindo o que já disseram os mais antigos e sábios do que eu sobre os aduladores, é um assunto inesgotável.
Com anos-luz de distância, eu mesmo, mais uma dúzia de vezes, já fui compelido a falar do tema.
Hoje ao retornar ao assunto faço numa outra abordagem: falarei dos aduladores como instrumentos da guerra política.
Quem acompanha a política local já deve ter percebido críticas ao atual governador e ao seu vice-governador e candidato à sucessão estadual antes inimagináveis.
Não que muitas delas não sejam devidas – até pelo contrário –, mas é que passaram os últimos sete anos, cegos e mudos quando o assunto era os descaminhos do governo, para eles até as flatulências das autoridades tinham aroma de rosas.
E ai daqueles que ousassem dizer o contrário, eram atacados, desmerecidos, esculhambados, desqualificados e até mesmo atacados em sua honra pessoal.
Agora, os defeitos que nunca viram, afloram, são ampliados; as qualidades, se existirem, viram defeitos.
Eu mesmo, quantas vezes não fui vítima disso? Algumas vezes cheguei a responder, não aos xerimbabos de plantão, que apenas cumpriam ordens, mais diretamente aos patrões, aos patrocinadores das imundas penas.
Foi de um destes que, por conta da minha deficiência física, ganhei o apelido de “pato manco”. Nunca liguei pra isso, exceto agora, para dizer que o pato manco acaba rindo por último.
Pois bem, como dizia, assistimos a uma divisão na facção governista, com cada qual das bandas levando no inventário de partilha até os aduladores que infestam os órgãos públicos.
No início, cada um ainda querendo tirar vantagens ou apostando na união, os xerimbabos foram “orientados” a ficar no “morde e assopra”, dizia-se um agravo ali, mas deixando uma “deixa” para o caso de quererem voltar.
Já passaram: falam demais e depois ter que desdizer, engolir o choro ou pedir desculpa para não perder a sinecura, própria, do parente ou do amancebado?
Hoje, parece-nos, já não existe o “risco da união” e as milícias virtuais antes unidas na adulação já podem partir para o jogo de espalhar ofensas, criar fatos, desmerecer os antigos aliados, agora adversários.
E começaram cedo. São estratagemas, inicialmente, tidos por inofensivos, mas que têm um potencial de crescimento e divisionismo na sociedade.
Outro dia, estava analisando o que estaria por trás de determinada candidatura quando passaram a trabalhar o mote “meu nego” contra “meu branco”.
Um referindo-se à determinado candidato para dizer que o mesmo “seria do povo”; e outro para referir-se ao adversário, como se este fosse, digamos, da “nobreza”, da elite, indiferente ao sofrimento do povo e que até foi passar férias nos Estados Unidos enquanto o Maranhão “afundava” em meio às enchentes dos rios.
A ideia subliminar de explorar o racismo como arma política no estado revela-nos que as ordens dos milicianos digitais não conhecem limites, deve ser naquele estilo: espalha, “se colar colou”.
Muito embora pareça ser um inocente e até coloquial, vez que no dia a dia, até tratamos as pessoas do nosso convívio assim, não é.
Uma ex-governadora até foi apelidada de “a branca”, de um outro político dizia-se que lavava as mãos com álcool depois que cumprimentava um pobre – isso bem antes da pandemia.
Apesar das pilhérias mais incisivas, nunca se teve em tais caracterizações a exploração do racismo como arma política.
Como observador da política de hoje vejo que estes ataques sob o mote costumes “inocentes”está longe de se tratar de uma brincadeira inocente, na verdade trata-se de um cálculo político para exploração do racismo na política estadual.
Não me recordo de ter testemunhado algo assim.
Esse é apenas um exemplo de como o consórcio dos aduladores vem sendo usado para influir na livre escolha dos cidadãos na sucessão estadual.
No outro lado também não tem “refresco” vi ou li que o senador dissidente reclamara da exploração que fizeram de um encontro que tivera com o ministro da Saúde do governo Bolsonaro supostamente para buscar recursos e medicamentos por conta da enchente.
A versão vendida pelos opositores foi que já se tratou de um primeiro aceno para buscar apoio do bolsonarismo no estado e que a tal tertúlia até tivera o aval do presidente ou mesmo que acontecera uma “reunião secreta” entre o senador pedetista e o presidente.
A “campanha” da fação governista parece ter feito “estragos” na estratégia do neo adversário, tanto que o próprio partiu para “guerra” reafirmando ser “adversário” do atual presidente da República.
Aos reclames do senador pedetista somou-se a “solidariedade” inusitada do antigo desafeto e contendor das lides judiciais e principal aliado do presidente no estado, senador Roberto Rocha, que “defendeu” o “colega” nas redes sociais, dizendo que o mesmo era vítima das “milícias digitais” bancadas pelo governo estadual.
Ora, ora, quem melhor para “jurar a desavença” do senador pedetista com o presidente que o seu “líder” informal?
A política é, realmente, uma caixinha de surpresas.
Não tratarei desta questão de fundo no presente texto até porque já falei disso há mais de um ano – se não me falha a memória –, e voltarei a tratar em um texto específico.
Os caminhos do bolsonarismo no estado renderão muitos debates, muito embora me pareça claro para onde irá, no final.
O presente texto, entretanto, é para tratar daquilo que fizeram com os adversários e ou inimigos imaginários e que agora começam a sentir (e a reclamar) dos supostos ataques que estariam sofrendo.
Não achavam “engraçado” quando eram com os outros? Ou quando partiam para constranger jornalistas e blogueiros com infinitas ações judiciais?
Pois é, como diz o dito popular, “quem com o ferro fere, com ferro será ferido”. No caso, mais adequado será dizer “quem com a pena fere …”.
O mais engraçado é que são basicamente as mesmas penas que usaram para ferir os outros as “contingências” da política as usam para feri-los.
Uma doce ironia para mostrar que o “pato manco” ri por último.
Abdon Marinho é advogado.