AbdonMarinho - Cotidiano
Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

A MEMÓRIA ME TRAIU OU A AMIZADE DE DEUS E ABRAÃO.

Abdon C. Marinho*.

COMO sabem, escrevo de memória. 

É assim: após o café da manhã me instalo na poltrona pensadora, abro a tela do tablet e começo a escrever confiando unicamente na memória, nas lembranças, sem qualquer pesquisa. Uma ou duas horas depois, o textão do fim de semana está pronto para ser publicado.

No último final de semana no texto Palestina ≠ Hamas ≠ Israel cometi um equívoco (já corrigido) que foi dizer que Ló intercedera junto a Deus pela não destruição de Sodoma/Gomorra e não Abraão, como seria o correto. 

Neste caso a memória me traiu duas vezes. 

Cerca de dez ou quinze minutos após a publicação do texto, minha sobrinha Márcia Marinho me apontou o equívoco. Como estava andando pelo sítio acabei esquecendo de fazer a correção que só fiz ontem após receber mensagem do colega Eli Medeiros apontando o mesmo equívoco no texto.

A ambos meus sinceros agradecimentos.

Na verdade, como sabemos Deus era “chapa” de Abraão, daqueles de sentar na varanda de casa e ficarem levando um papo enquanto Sara preparava o cafezinho para ambos.

No episódio, em sentido reverso, que usei para criticar a matança indiscriminada de inocentes em Gaza, sobretudo, crianças, mulheres, idosos e enfermos por Israel na sua guerra contra o grupo terrorista Hamas, deu-se o seguinte: 

Visitava Deus os ‘parças’ Abraão e Sara e após dizer que a última engravidaria em breve, apesar da idade avançada, fazendo com que Sara risse Dele – viram o grau de intimidade? Quando Deus disse que Sara ficaria grávida, ela pois-se a rir de suas palavras. Tipo assim: –– conta outra barbudo –, começaram a conversar sobre a situação de Sodoma e Gomorra, enquanto Sara fora a cozinha preparar o café.

Deus anunciou que lançaria os  mísseis mais potentes para destruir as duas cidades.

Tendo Abraão ponderado: –– Destruirás o justo com o ímpio (em linguagem atual: tu vai destruir os inocentes junto com os culpados?).

Veja a intimidade de Abraão era tão grande que ele o chamava de tu.

E continuou Abraão: –– Se porventura houver cinquenta justos na cidade, destruirás também e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta justos que estão dentro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mate o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o juiz de toda a terra?

Veja que Abraão deu uma “chamada” em Deus, chamando-o à razão. Dizendo ser injusto que culpados e inocentes fossem punidos juntos.  

Deus pensou, viu que o ‘parça’ Abraão estava certo, disse: –– Tá bom, se eu achar em Sodoma cinquenta inocentes, por conta deles não lançarei os mísseis destruidores.

Abraão, já certo que vencera, o “barba” na argumentação de fundo, foi além: –– já que disse o que penso, continuo a dizer: Se não forem cinquenta,  mas apenas quarenta e cinco, pela falta de cinco destruirás a cidade.

Deus respondeu: –– Está bem, Abraão, não lançarei os mísseis se achar ali quarenta e cinco.

Abraão: –– e se forem quarenta?

Deus: –– não lançarei os mísseis por causa dos quarenta inocentes.

Abraão: –– e se forem trinta os inocentes?

Deus: –– não lançarei os mísseis por causa desses trinta.

Abraão: –– e se forem apenas vinte?

Deus: –– não lançarei os mísseis de fabricação americana por causa desses vinte.

Abraão insistiu: –– brother, desculpa a “aporrinhação”,  vai que só encontre ali dez inocentes?

Deus: –– cabra tu estás chato, tá bom, se achar os dez inocentes não lançarei os mísseis, vou mandar verificar.

Foi a hora que Sara chegou com o café, Deus tomou uma xícara com uma broa de milho, se despediu do casal e foi cuidar dos seus afazeres – que já eram muitos.

Dias depois foi que mandou os anjos fazer o censo dos inocentes de Sodoma/Gomorra e foram acolhidos por Ló.

Não tendo os anjos recenseadores encontrados os inocentes que Abraão imaginara que tivesse, e ainda tentaram “passar” os mesmos, Deus lançou ataques violentos com todos os mísseis que possuía no arsenal celestial, não deixando sequer vestígios das cidades.

Apenas Ló e suas filhas se salvaram. Enquanto fugiam para as montanhas ou outras terras distantes já que as cidades não eram cercadas, a esposa de Ló olhou para trás e foi convertida em uma estátua.

Conforme disse no texto anterior, Deus só lançou os seus mísseis após a verificação “in loco”  da inexistência de inocentes. 

O que ocorre nos dias atuais é que o exército judeu, diferente do que tanto cobrou Abraão de Deus, estão mirando nos inocentes e não nos culpados. 

É o contrário do acordo celebrado naquela tarde entre Deus e Abraão (o pai de todos eles) enquanto aguardavam o café de Sara.

Outro “parça” que tem tudo a ver com os conflitos dos nossos tempos foi Moisés. Mas nesse caso Deus teve sua parcela de responsabilidade.

Como escrevo “de memória” como dito acima, só lembro de dois caras que tiveram intimidade com Deus a ponto de conversarem cara a cara, ou como se dizia antigamente, na face do Senhor: Abraão e Moisés.

Só que no tempo de Abraão Deus tinha mais tempo, podia ficar uma tarde inteira trocando umas ideias com ele, discutindo sobre as coisas terrenas.

Já no tempo de Moisés o trampo estava mais puxado. Já haviam conflitos por todos os lados, Deus já pensando em destruir tudo e começar de novo.

Deus já não tinha tanto tempo e para agravar a situação Moisés era gago. 

Imagine, você cheio de coisas para fazer e precisar fazer uma reunião com o gago para passar-lhe uma constituição inteira. 

Por isso que só saíram os dez mandamentos ditados por Deus a Moisés.

A responsabilidade divina nos episódios recentes deu-se pela falta de tempo de Deus e pela gagueira de Moisés. 

Quando Deus salvou os hebreus do cativeiro no Egito – os fazendo vagar por quarenta anos pelo deserto –, Moisés subiu no monte para receber a constituição do povo, que como disse, Deus só teve tempo de ditar os dez mandamentos, mandando-o se virar com o resto das leis. 

Pois bem, naquela oportunidade, após passar ditar a constituição, Deus dirigiu-se a Moisés e indagou: –– Ok, Moisés, já os tirei do cativeiro, já te ditei a constituição, agora me diz ai para onde queres que mande o seu povo?.

Moisés começou: –– ca-ca, ca-ca…

Deus, sem tempo, foi no mais rápido: –– certo Moisés, todo mundo para Canaã.

E foi cuidar dos outros conflitos.

Na verdade Moisés queria dizer Canadá.

Por conta dessa falta de comunicação, dessa impaciência divina temos esse conflito todo.

Como os amigos devem saber, esse texto é uma crônica, não tomem ao “pé da letra” mas tem fundamento.

A atual guerra me fez recordar, também, a série de debates que travei com o saudoso amigo Walter Rodrigues por conta das diversas “intimadas” ocorridas antes de sua morte. Todas elas, claro, nem de longe, tão violentas quanto a atual, o que permitia ao amigo dizer, entre a pilhéria e a preocupação: –– Abdon, em todo o Oriente Médio não existe uma única pedra que ainda não tenha sido atirada uns contra os outros. 

Saudosas e tristes memórias.

Abdon C. Marinho é advogado.