AbdonMarinho - Cotidiano
Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Segunda-feira, 25 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


REFLEXÕES PARA O OITO DE OUTUBRO. 

Por Abdon C. Marinho.

O MUNDO acorda em suspense diante da nova guerra eterna entre Judeus e Palestinos. Ontem, 7, o grupo Hamas de forma surpreendente atacou o Estado de Israel, matando e sequestrando dezenas, talvez, centenas de civis. 

O horripilante caminho do terrorismo. 

Em reação aos ataques, Israel ataca com excessiva força os palestinos já espremidos na Faixa de Gaza, também civis, também trabalhadores, também inocentes e que sofrem há décadas com a guerra e com a falta de tudo, inclusive, de uma existência digna. 

A guerra é sempre brutal e suas vítimas mais efetivas são aqueles que nada fizeram.

Ansiosos por se posicionarem, muitos já escolheram o seu lado.

Esse lado nunca é o lado das verdadeiras vítimas. 

Ah, é legitimo o direito de autodefesa. Claro que sim, é legítimo. 

O que não é legítimo é quando se usa um direito legítimo para cometer ato de vingança coletiva, punindo, principalmente, aqueles que nada fizeram e que não possuem condições mínima de se defenderem. 

O nome para isso é covardia. Outro nome: terrorismo de estado e até genocídio.

Os veículos de comunicação e seus donatários parecem sentir orgasmos múltiplos a cada minuto que atualizam o número de vidas perdidas. 

Na Europa, a invasão russa na Ucrânia já caminha para o segundo ano sem uma perspectiva de solução. 

Além das vítimas fatais choca o sofrimento dos milhões de cidadãos que, de uma hora para outra, se viram privados de suas vidas, de suas casas, do seu convívio familiar e comunitário. Muitos foram viver noutra plagas, sofrendo privações e todo tipo de preconceito e incompreensões e, até mesmo, abusos diversos. 

Na Ásia, a população afegã voltou ao indizível sofrimento de tempos pretéritos com as mulheres, sobretudo elas, sofrendo todo tipo de abusos, humilhações e privações. 

A mesma situação que mulheres e meninas enfrentam no Irã, na Arábia Saudita e tantos outros países. Humilhação, privação, abuso. 

Melhor sorte não têm os povos do lado de cá do Atlântico. 

Honduras tornou-se uma ditadura asquerosa com os sandinistas que há quarenta anos pensávamos que fossem redimir aquele povo tornado-se seus opressores tão ou piores que os lacaios da ditadura de Somoza.

Quanta decepção. Lembro que na juventude tínhamos Daniel Ortega como herói libertador do povo hondurenho e hoje o vemos prendendo, expropriando opositores como os tiranos mais sanguinários. 

Merece relevo que até a igreja católica que nos primórdios do sandinismo os apoiou, hoje sente o braço forte da ditadura sobre seus membros e sobre o seu patrimônio. 

O sandinismo e Ortega, de libertadores viraram (ou sempre foram) opressores do povo.

Em alguns casos, como das expropriações dos adversários, viraram, na verdade, ladrões do povo. Reles ladrões que usam do poder que possuem para “tomar” o patrimônio alheio na mão grande. 

Essa é a “sorte” de tantos outros povos das Américas. Os barbudos de Sierra Maestra não iam levar paz e prosperidade a Cuba? Chávez e os seus não iam devolver o progresso à Venezuela? 

O que é desses países além de caricaturas de regimes totalitários? 

Mesmo o Brasil, será que não caminhamos para um modelo autoritário? Que garantias possuem os cidadãos diante de poderes constituídos conflagrados e com seus membros só pensando nos próprios interesses? 

O Brasil sofreu uma tentativa de golpe, de supressão da democracia, de forma atípica – muito embora os membros da intentona mais parecerem o esfarrapado exército de Brancaleone –, mas a nossa democracia não sairá vitoriosa se continuarmos a pensar no interesse próprio em detrimento do interesse do país. 

A democracia no mundo todo parece-me cada vez mais fragilizada. Não são poucos os países onde líderes autoritários ameaçam ou estão tomando o poder na maioria das vezes com o apoio do povo que não aprenderam nada das lições históricas. 

Vejam que mesmo a democracia americana – durante séculos um exemplo de estabilidade –, apresenta sinais de fragilidade. 

Há três anos, como uma republiqueta de bananas qualquer, sofreu uma tentativa de golpe, quando por meios violentos tentaram alterar o resultado eleitoral. 

Agora, de forma inédita na sua história, destituíram o presidente da Câmara dos Deputados por causa da excessiva polarização política. 

Não demora, como ocorreu na Alemanha nos anos anteriores ao nazismo, aqueles que tentaram derrubar a democracia americana chegarão ao poder mesmo todos sabendo que não possuem qualquer compromisso com ela. 

O homem, definitivamente, é o ser mais irracional do planeta pois embora sabendo e tendo capacidade para discernir entre o certo e o errado ele busca o caminho errado, ainda que isso só traga dissabores para si mesmo e para todos no seu entorno. 

Desde sempre sabemos que devemos preservar a natureza, cuidar do planeta que é a “casa” de todos. 

O que fizemos? Destruímos o planeta, desmatamos as florestas, matamos os rios, córregos, igarapés, poluímos os mares, consumimos além do necessário. 

Como sabemos e temos a oportunidade de constatar, um dia a conta chega.

A cada dia o planeta está mais aquecido, geleiras derretem, a cada dia, a cada mês, dizem foi o mais quente de todo o sempre. 

Eventos climáticos nunca vistos acontecem em todo mundo, calor escaldante na Europa, tromba d’água na África, seca nunca vista na Amazônia, tornados e enchentes no sul Brasil. 

Condições climáticas extremas, agravadas pela pobreza mais extrema ainda, além das guerras internas e abusos constantes provocam as ondas de migração de pessoas que só buscam um pouco de melhora para suas vidas. 

Pessoas que são abandonadas ou deixadas à própria sorte quando não são mais maltratadas ainda. 

 

Ninguém se acha culpado, ninguém se acha responsável – talvez Deus –, se a seca dos rios amazônicos, mata os peixes e mamíferos e se os humanos morrem de sede ou consomem lama. 

Mas é, também, em nome de Deus que se cometem os maiores absurdos. Na grande maioria das vezes aqueles que bradam o dia inteiro o nome de Deus são os primeiros a duvidarem de sua existência. 

Ao fazer tais reflexões sobre os nossos dias, esse pequeno recorte neste 8 de outubro, imagino se não somos o mais retumbante fracasso da criação.

Daqui a pouco nenhum de nós estará aqui. Nada. Nenhuma propriedade, nenhuma fortuna, nenhuma posse. Nada disso nos servirá mais. Talvez não sejamos, sequer, um retrato na parede. 

Daqui a pouco, talvez nem o planeta exista mais. 

Nossa própria descendência talvez não mais exista para nos honrar.

E isso encadeia uma outra indagação: o que estamos fazendo para sermos honrados? 

O que estamos, efetivamente, fazendo de útil para ela, para a nossa descendência? 

São tantas reflexões. São tantas indagações. 

Abdon C. Marinho é advogado.