AbdonMarinho - O sofrimento dos animais não é engraçado.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O sofri­mento dos ani­mais não é engraçado.

O sofri­mento dos ani­mais não é engraçado.

Por Abdon C. Marinho.

RECEBI por diver­sas fontes um videoz­inho satírico de um can­didato a prefeito da cap­i­tal onde o mesmo, de forma bem humorada e inven­tiva crit­ica, o que para ele são pro­postas “mirabolantes”e inex­e­quíveis de um dos seus concorrentes.

O vídeo, se chegou a mim, já deve ter sido visto e cur­tido por mil­hares de pes­soas – inclu­sive de um ou outro, já ouvi a cobrança de dev­e­ria ter um segundo –, o que, cer­ta­mente, garan­tirá uns vot­in­hos a mais ao seu idealizador/​autor ou quem sabe, se não tiver sucesso nas urnas, uma car­reira de “influ­encer”, profis­são que está na moda, muito emb­ora poucos saibam o que sig­nifica.

Ficou muito bom e os ide­al­izadores mere­cem os crédi­tos e parabéns.

Sem querer estra­gar a piada de ninguém – até porque sou daque­les que perco o amigo, mas não a piada –, sinto-​me no dever de fazer um reparo cru­cial na “piada” do candidato.

O “fio con­du­tor” da nar­ra­tiva da sátira, o “sonho do car­ro­ceiro”, em torno do qual a piada gira não se trata de uma pro­posta mirabolante, não se trata de uma ideia orig­i­nal e tão pouco de alguma coisa inex­e­quível.

Acred­ito que o can­didato sat­i­rizado e objeto da “cha­cota geral” dessa ilha dos amores, talvez no afã de querer “causar”, o que é, exceção à regra, próprio dos políti­cos, não soube comu­nicar, como dev­e­ria a sua pro­posta.

E, na política, como todo o resto, “quem não se comu­nica se trumbica”, na lição de Abelardo Bar­bosa, o Chacrinha que tanto nos ale­grou nas jovens tardes de sábado.

Imag­ino que aquilo que foi inter­pre­tado como o “fornec­i­mento de um carro elétrico” aos car­ro­ceiros da cap­i­tal como sendo um BYD, um Volvo, um Mer­cedes, etcetera e tal, o can­didato quis referir-​se ao “Pro­jeto Cav­alo de Lata”.

Em 2017, o gov­erno estad­ual divul­gou ampla­mente que estu­dava sub­sti­tuir as car­roças de tração ani­mal ainda muito uti­lizadas em toda ilha por veícu­los elétri­cos, den­tro do pro­grama “Mais Renda”.

Já naquela opor­tu­nidade, como defen­sor dos ani­mais, achei a ideia muito boa e per­feita­mente real­izável. Não se tratava (como não se trata) de algo novo, out­ras cap­i­tais já uti­lizam esses veícu­los elétri­cos, como o da foto ou sim­i­lares para aliviar o sofri­mento e as jor­nadas exaus­ti­vas dos ani­mais, além dos maus tratos que são comuns.

Se não me falha a memória um dos mod­e­los de “veículo elétrico” para sub­sti­tuir as car­roças foi desen­volvido por um engen­heiro gaú­cho.

Na época que o gov­erno estad­ual “vendeu” a ideia que depois não retirou do papel a Sec­re­taria de Desen­volvi­mento Social — SEDES chegou a infor­mar a existên­cia de pouco mais 600 car­ro­ceiros.

O custo de sub­sti­tuir o car­roça por tração ani­mal por car­roças movi­das a elet­ri­ci­dade não era tão alto e era per­feita­mente com­patível com a real­i­dade econômica da cap­i­tal ou do gov­erno estad­ual, o que fal­tou para imple­men­tar, imag­ino, foi a von­tade política, a parce­ria entre estado e prefeituras da ilha, o empenho de “ver­dadeiros” defen­sores dos ani­mais na Câmara Fed­eral, na Assem­bleia e na Câmara Munic­i­pal para des­ti­nar ver­bas com essa final­i­dade.

O próprio can­didato “vítima” da sátira, que informa des­ti­nar ver­bas para tan­tas coisas, pode­ria ao longo do tempo que está dep­utado, ter des­ti­nado ver­bas para a prefeitura ou mesmo para alguma sec­re­taria estad­ual ou mesmo para alguma asso­ci­ação de pro­teção aos ani­mais com essa final­i­dade.

Com o pro­jeto em curso, ao invés de “sacado” como uma carta da manga, hoje não estaria pas­sando pelo per­rengue de ter uma boa pro­posta para a causa ani­mal como sendo uma pro­posta “mirabolante” e adiando, mais uma vez, a exe­cução de um pro­jeto que será tão bom para os ani­mais e seus tutores.

Ainda há tempo de fazer o certo. O cidadão, sobre­tudo os políti­cos que detém as chaves dos cofres públi­cos, pre­cisam com­preen­der que “o jumento é nosso irmão”.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.