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Líderes, lid­er­a­dos e conjuntura.

Escrito por Abdon Mar­inho


Líderes, lid­er­a­dos e con­jun­tura.

Por Abdon C. Marinho*.

AMI­GOS próx­i­mos dizem aguardar minha opinião sobre a polit­ica local diante da indi­cação do sen­hor Flávio Dino – até, então, um dos líderes incon­testes da política maran­hense –, para a vaga aberta no Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF com a aposen­ta­do­ria da min­is­tra Rosa Weber.

Essa não é uma análise fácil e difi­cil­mente ter-​se-​á uma resposta “preto no branco” para tal inda­gação.

Se amigo leitor espera uma resposta defin­i­tiva ou mesmo uma “fumac­inha” já pode ir tirando o cav­al­inho da chuva.

Acho que uma das primeiras análises a faz­er­mos é sobre a situ­ação do país.

O Brasil é hoje um país divi­dido e que se recusa a descer do palanque eleitoral.

A pop­u­lação ou pelo menos uma grande parte dela tornou-​se obcecada pelo debate politico – que nada tenho con­tra, registre-​se –, aproximando-​se, muito da irracionalidade.

Vou dar um exem­plo tolo, você abre uma matéria qual­quer sobre um assunto qual­quer, por assim dizer, triv­ial e basta olhar os comen­tários que lá você encon­tra, dos dois lados, refer­ên­cias ao Lula, ao Bol­sonaro.

Debate sobre o seca no nordeste ou a enchente no sul, apare­cem uma infinidade de “comen­taris­tas” dizendo que a culpa é de um ou do outro político.

Até nos famosos “gru­pos da família” você encon­tra esse tipo de debate ou de “enve­ne­na­mento” político.

Pior do que isso só mesmo a “cul­tura” do can­ce­la­mento.

O ator fulano de tal aparece no com­er­cial da marca tal, muito boa por sinal. Ah, mas na cam­panha eleitoral ele disse que o meu can­didato era isso ou aquilo, boicote total, ninguém com­pra mais da marca até que tirem o ator ou a atriz da cam­panha.

Por essas e por tan­tas out­ras tolices percebe-​se que o Brasil tornou-​se um país “doente”, enve­ne­nado pela política.

A esse con­texto ou, prin­ci­pal­mente, dev­ido a ele, deve­mos acres­cen­tar que o nosso con­ter­râ­neo hon­rado com a indi­cação, tornou-​se uma pes­soa con­tro­versa – e aqui não se faz qual­quer juízo de valor quanto aos posi­ciona­men­tos que o tornou “con­tro­ver­tido” –, a ponto de, pela primeira vez na história da República, a oposição fazer uma cam­panha pública, inclu­sive com man­i­fes­tações de rua em todas as cap­i­tais e/​ou grandes cen­tros urbanos con­tra uma indi­cação para o STF, e a pres­sionar por todos os meios, legí­ti­mos ou não, para que o Senado não aprove o seu nome.

Na história da República ape­nas uma vez, segundo con­sta, e, ainda, na chamada “República Velha” tive­mos uma recusa do Senado a uma indi­cação do pres­i­dente para o STF, assim mesmo sem a “cam­panha” orquestrada no seio da sociedade como se tem agora.

Mas, vive­mos tem­pos inédi­tos.

Essa deve ser uma segunda avali­ação.

Até que ponto a oposição terá força para recusar um nome indi­cado ao STF – ini­cial­mente, pen­sei que pas­sasse sem maiores alardes e margem ele­vadís­sima, até porque, como poucos, preenche os req­ui­si­tos con­sti­tu­cionais –, e, depois, até que ponto vai “vigiar” cada passo do novel min­istro?

É dizer, Dino aprovado e empos­sado min­istro STF con­tin­uará sendo vigiado 24 horas por dia, como, aliás, vem sendo out­ros min­istros da corte?

E, assim sendo, colo­cado na berlinda como “adver­sário” político do bol­sonar­ismo, não seria ten­ta­dor jogar “tudo pro alto” e voltar ao enfrenta­mento político?

Veja, aqui são digressões, por vezes, diva­gações. Como tais, per­mitem que façamos esses exer­cí­cios men­tais.

O plano de Dino – desde sem­pre –, foi ser pres­i­dente da República. Para isso, nos momen­tos de frag­ili­dade política do Lula e do petismo, colocou-​se na condição de inimigo número um do bol­sonar­ismo.

Que­ria esse pro­tag­o­nismo e seria um dos nomes a dis­putar con­tra o ex-​presidente Bol­sonaro se o ex-​presidente Lula não tivesse sido can­didato.

Eleito Lula, con­tin­uou no mesmo pro­tag­o­nismo de enfrenta­mento do bol­sonar­ismo no Min­istério da Justiça, tam­bém, na intenção de se “cred­i­bi­lizar”, como antag­o­nista de Bol­sonaro para suceder o Lula na dis­puta ao maior cargo da nação.

Como já dis­se­mos esse “pro­tag­o­nismo” atraiu dois sen­ti­men­tos: o ódio dos bol­sonar­is­tas e o ciúme dos lulis­tas.

A sua indi­cação para a Suprema Corte não desagradou ape­nas os opos­i­tores, a ponto de pro­moverem uma inédita cam­panha con­tra seu nome, mas, tam­bém, inúmeros ali­a­dos “de primeira hora” que o tinha na conta de um pos­sível quadro para suceder o Lula, em 2026 ou 2030.

Muitos destes ali­a­dos ficaram “ressen­ti­dos” com o fato dele (Dino) ter preferido seguir no bloco “eu comigo mesmo” para o Supremo.

Indi­cado ao cargo de min­istro e tendo que enfrentar uma inédita “pedreira” política até vestir a toga, Dino prom­e­teu que será seu último cargo – um casa­mento para a vida toda.

Faz todo sen­tido esse tipo de “com­pro­misso” pois ele foi um político (sem mandato, é ver­dade, não sei se fil­i­ado) que virou mag­istrado; um mag­istrado que virou político; e, agora, nova­mente, um político em vias de virar magistrado.

Caso não ocorra o impen­sável e ele se sagre min­istro do STF, alguns ques­tion­a­men­tos per­manecerão pre­sentes e vivos: o bol­sonar­ismo o man­terá na condição de “inimigo número um”, junto com o min­istro Alexan­dre de Moraes? Ele vai “aguen­tar” cal­ado todo tipo de dis­curso con­tra ele ou voltará para o embate político? Em quanto tempo?

Mesmo que fique as duas décadas no STF, com setenta e cinco anos e com os adver­sários fazendo sua cam­panha diu­tur­na­mente, não será estranho se ainda vier a dis­putar uma eleição pres­i­den­cial.

Como os ami­gos podem perce­ber, não se trata de uma análise de con­jun­tura fácil de se fazer. Depende de muitas var­iáveis: desde a saúde de Lula a dis­cussão de mandatos para min­istros do STF – que é debate que ocorre em vários países do mundo.

A Dino talvez seja mais “inter­es­sante” dizer que foi min­istro do STF do que dizer que aposentou-​se como min­istro do STF.

Em relação a política local é certo dizer que o din­ismo não se assenta numa estru­tura hier­ar­quizada – até existe uma certa ojer­iza em relação aos políti­cos tradi­cionais –, se assim fosse, bas­taria dizer que o “número dois” assumiria daqui pra frente.

A lig­ação do din­ismo é com o próprio Dino, mesmo aque­les, que, cer­ta­mente, teriam alguma influên­cia sobre ele, não se “can­di­datam” a sucedê-​lo ou insin­uam pos­suir tal desejo. Ainda que pos­suam não se man­i­fes­taram.

Querem ocu­par um espaço que não sabem se se encon­tra vazio ou não mas sem esse com­pro­misso da sucessão.

Orbitam em torno do din­ismo três par­tidos prin­ci­pais: o PSB, ao qual esteve (ou ainda estar fil­i­ado); o PCdoB, para onde foi quando retornou a política, em 2006; e o PT, par­tido onde mil­i­tou na primeira fase política e de onde nunca se afas­tou afe­ti­va­mente, basta dizer que em 2003, na esteira da eleição de Lula, no ano ante­rior, surgiu um movi­mento den­tro desse par­tido para fazer Dino can­didato a prefeito de São Luís em 2004, o movi­mento acabou por fra­cas­sar e o retorno de Dino à política, pelas mãos de Zé Reinaldo, só veio ocor­rer em 2006, quando se elegeu dep­utado fed­eral.

Para saber­mos o “impacto” da indi­cação de Dino para STF terá na política local, partindo do pres­su­posto que a mesma será con­fir­mada pelo Senado, como é nor­mal que ocorra, uma das primeiras questões a serem lev­an­tadas é a questão da “defin­i­tivi­dade”.

O que isso sig­nifica? Sig­nifica saber se ele estará de “fato e de dire­ito” fora da política para todo o sem­pre, sem qual­quer pre­ten­são de retorno, no curto, médio prazo ou mesmo depois de aposentar-​se, o que, nas regras atu­ais acon­te­cerá daqui a vinte anos.

Se a saída da política é defin­i­tiva e sem qual­quer chance de retorno, a “coisa” muda de figura.

Cada um dos políti­cos e mesmo os par­tidos, bus­carão out­ros pro­je­tos.

Sem a “defin­i­tivi­dade” resolvida, em torno de qual pro­jeto político o grupo se man­terá unido e coman­dado por quem?

A questão do “comando” é rel­e­vante e pre­cisa ser bem ajus­tada porque sem poder “dá pitaco”, exceto, muito reser­vado, have­ria rebe­liões diver­sas.

Uma das regras mais ele­mentares do jogo do poder é aquela que diz não haver espaço vazio na política ou, o velho “rei morto, rei posto”.

A saída de Dino do “jogo” movi­menta diver­sas pedras do xadrez.

Sem Dino no con­texto político e como “fiador” dos espaços políti­cos que seus ali­a­dos ocu­pam no poder estad­ual, que tipo de com­pro­mis­sos o atual gov­er­nador se sen­tirá “obri­gado” a man­ter? Outra, se vai man­ter. E, volta­mos a questão do comando, quem terá a “legit­im­i­dade” para cobrar?

É fato que o atual gov­er­nador e o seu entorno político se con­sol­i­daram como uma nova força política no estado inde­pen­dente de qual­quer apoio político do ante­ces­sor – as diver­sas “cos­turas” que fez e mesmo o apoio pop­u­lar que man­tém ape­sar da crise econômica que atrav­essa o estado, mostram isso.

Intra­muros e mesmo com Dino “ativo” na política, ali­a­dos próx­i­mos do ex e do atual gov­er­nador já dis­cu­tiam – ou defendiam –, uma rup­tura no pacto de poder que os man­tinham unidos antes da indi­cação.

Com Dino “ina­tivo”, qual será a estraté­gia: ten­tar assumir o comando total do grupo – e isso impli­caria em abrir mais espaços de poder –, ou “apos­tar” no seu ocaso? No caso da primeira hipótese, o din­ismo, sem Dino, aceitaria? E em que bases?

Exis­tem out­ras forças políti­cas à espre­ita do possa vir acontecer.

Existe um grupo de dire­ita no estado – muito emb­ora poucos saibam o que seja isso –, que cresceu e se con­soli­dou como opos­i­tores ao din­ismo – e que ficaram em segundo lugar nas eleições de 2022 –, con­tin­uará forte sem o prin­ci­pal antag­o­nista ou voltará à antiga expressão política?

Existe o grupo político vin­cu­lado ao senador Wev­er­ton Rocha que ficou em ter­ceiro lugar na última dis­puta de gov­erno – “her­dará” parte desse eleitorado din­ista a ponto de se via­bi­lizar para a próx­ima eleição majoritária como gov­er­nador ou para man­ter o cargo de senador?

Exis­tem ainda, à dire­ita e à esquerda, diver­sas forças e per­son­agens aguardando o próx­imo lance político para tirarem, para si, os mel­hores div­i­den­dos.

O tempo, em todo caso, é o sen­hor razão, é aguardar para con­ferir.

Ou, como dizia um antigo político maran­hense: quem viver verá.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado, escritor, cro­nista.

Vin­cu­lação de Dino ao crime orga­ni­zado é absurda.

Escrito por Abdon Mar­inho

Vincu­lação de Dino ao crime orga­ni­zado é absurda.

Por Abdon C. Marinho*.

O AMIGO Nedil­son Bar­bosa Coelho, político lá de Cedral e meu amigo de uma vida, esteve no escritório e me abor­dou:

— Abdon, viste esses “memes” de Flávio Dino com o crime organizado?

Respondi-​lhe com a ver­dade:

— Não, não vi.

— Ah, tem um monte, não “falam de outra coisa”, tem uma infinidade de mon­ta­gens, memes, etc.

Como já sabem os mais próx­i­mos, rara­mente par­ticipo de debates de gru­pos e as ocu­pações diárias não me per­mitem acom­pan­har as pub­li­cações, e se me man­dam, não sendo pes­soas bem con­heci­das não abro. Muitas vezes nem mesmo dessas me dou o tra­balho de olhar.

Essa minha “ojer­iza” a abrir áudios, vídeos, memes, já até me ren­deu um “meme” próprio: aquele da pes­soa que não sabe o que está acon­te­cendo porque não abre as men­sagens que lhe man­dam.

Em relação a esse episó­dio tão comen­tado, imag­ino que foi o que acon­te­ceu.

Acho que bem poucos cidadãos, políti­cos adver­sários ou ali­a­dos, jor­nal­is­tas alin­hados ou de oposição apon­taram os acer­tos e, prin­ci­pal­mente, os desac­er­tos do gov­erno Flávio Dino (2015÷2022) quanto eu.

Qual­quer um que dig­ite seu nome no meu site encon­trará uma “enx­ur­rada” de tex­tos a grande maio­ria com críti­cas ao seu gov­erno e ao seu estilo de governar.

Como, sem­pre que posso, evito citar os nomes próprios – acho que deve­mos falar de fatos, não de pes­soas –, a quan­ti­dade de tex­tos com refer­ên­cias aos desac­er­tos gov­er­na­men­tais são ainda mais abun­dantes e diversos.

Quem apos­tava numa “rev­olução” gov­er­na­men­tal que tirasse o Maran­hão do atraso como eu, só gan­hou decepção.

Ainda no dia da eleição de 2014 fiz uma carta-​aberta ao can­didato mostrando pon­tos que dev­e­riam ser obje­tos de pre­ocu­pação e por onde dev­e­ria começar para fazer um gov­erno efe­ti­va­mente difer­ente – o nosso balu­arte da imprensa, o Jor­nal Pequeno, pub­li­cou a missiva.

Ainda antes da posse mais um tex­tão dizendo que a eleição dele se devia ao desejo de mudança do povo, de alternân­cia ao antigo régime e que ele dev­e­ria implan­tar as mudanças de ime­di­ato, isso foi no texto “recado ao Dino: mate o galo na primeira noite”.

Por ocasião falei-​lhe que todo aquele povo ali na praça alguns chorando era por acred­i­tar em um Maran­hão difer­ente e que aque­las eram lágri­mas de esper­ança.

Ape­sar de todos meus comen­tários e con­sel­hos serem igno­ra­dos, con­tin­uei pon­tuando o que achava inad­e­quado, o fato de não se cer­car de bons con­sel­heiros, preferindo o con­sór­cio de devo­tos e adu­ladores; do desprezo à exper­iên­cia e visão de Zé Reinaldo, que o trouxe para a política; o fato de ir deixando quem o aju­dou pelo caminho.

Em momen­tos dis­tin­tos escrevi dois tex­tos refletindo a solidão do gov­er­nante: “o menino só” e “ami­gos pelo caminho”.

Reclamei da perseguição pes­soal e insti­tu­cional aos jor­nal­is­tas e blogueiros; da uti­liza­ção do poder estatal con­tra adversários.

E não foram poucos os tex­tos mostrando que o estado não cam­in­hava para o futuro son­hado e dese­jado pelo povo. Falei sobre o acordo com grupo Sar­ney pon­tuando que enter­rara os cinquenta anos de atraso e sobre a junção política de ambos no união que não ousava o nome.

Se não me falha a memória, a última análise que fiz do gov­erno do sen­hor Dino, às vésperas ou logo depois de sua saída foi no texto “O fra­casso da ger­ação Pira­pora”, uma análise do fra­casso da nossa ger­ação à frente do gov­erno depois te tan­tos anos crit­i­cando o “antigo régime” e legando indi­cadores ainda piores e fes­te­jando as reit­er­adas inau­gu­rações de restau­rantes pop­u­lares quando o seu sig­nifi­cado é sem­pre o oposto do que deseja para um estado desen­volvido.

Pois bem, faço essas breves digressões para dizer que são com­ple­ta­mente absur­das essas ten­ta­ti­vas de vin­cu­lação do atual min­istro ao crime orga­ni­zado.

É dizer, me parece tão deli­rante esse tipo de pauta que a minha impressão é que trata de uma cortina de fumaça colo­cada pela própria vítima para desviar a atenção de alguma coisa.

O cin­ema já explorou o tema algu­mas vezes.

Fun­ciona assim: você faz uma “lam­bança” inde­fen­sável, não tem como defender e aí, para desviar a atenção daquilo que é real, você insu­fla uma falsa acusação de algo bem mais grave, com­plexo, muitas vezes com con­teúdo sex­ual, etc… E o que acon­tece? As pes­soas acabam “per­dendo tempo” com a falsa acusação ao invés de ir atrás do fato real para o qual não tem des­cul­pas.

Após o alerta de Nedil­son, fui ver­i­ficar min­has caixas de men­sagens ou mesmo de gru­pos e vi que nos últi­mos dias me chegaram infini­tas matérias de blogues obscuros e até da imprensa séria com esse tipo de infor­mação, que o min­istro da justiça estaria “vin­cu­lado”, em “con­chavo” com o crime organizado.

O “pule de dez” para o delírio cole­tivo final teria sido o fato de uma sen­hora, esposa de um traf­i­cante con­de­nado e preso – e ela tam­bém con­de­nada, mas recor­rendo em liber­dade –, ter se “infil­trado” numa comis­são qual­quer do Ama­zonas e ter ido tratar de pau­tas den­tro do Min­istério da Justiça.

O fato gan­hou tanta reper­cussão e explo­ração política que todos os canais de tele­visão, blogues, canais de inter­net divul­garam e tornaram o rosto da apel­i­dada “dama do trá­fico” um dos mais con­heci­dos da mídia – talvez ela passé a ser uma “influencer”.

E, tam­bém, por conta disso, o min­istro virou “ali­ado” de alguma das facções crim­i­nosas que infes­tam o país.

A situ­ação é tão “inusi­tada” que o pres­i­dente, gov­er­nador, dep­uta­dos e tan­tos out­ros políti­cos, chegaram a se “sol­i­darizar” com o min­istro com dire­ito a divul­gação na mídia.

Ora, o absurdo de tal vin­cu­lação é tão desproposi­tado que não caberia as autori­dades ou quem quer que seja hipote­car sol­i­dariedade ao min­istro.

Muito menos que ele fosse agrade­cer.

A única coisa razoável a se fazer seria igno­rar a “não” notí­cia.

Pelo que percebo, grande parte das “não notí­cias” têm par­tido de redes “vin­cu­ladas” ao bol­sonar­ismo – pelo menos me chegaram em maior pro­porção as vin­das deste segui­mento.

Por outro, lado sou infor­mado que os “cole­gas” de dis­puta pela cobiçada vaga de min­istro do STF (que juraram amizade eterna) tam­bém estariam por trás da patranha – ou pelo menos ten­tado tirar uma “casquinha” da história.

O “hábito” do min­istro de ter se colo­cado – desde a cam­panha eleitoral de 2022 e, prin­ci­pal­mente, depois de insta­l­ado o novo/​velho gov­erno petista –, na condição de ser mais real­ista que o rei fez com que atraísse con­tra si todos os ódios dos adver­sários e todos os ciúmes “dos ali­a­dos”, que pas­saram a ter nele o inimigo a ser batido.

Com isso, repetem uma velha manchete de um antigo jor­nal por­tuguês que dizia: “Dire­ita e esquerda do mesmo lado”. No caso, do mesmo lado, con­tra o min­istro pos­tu­lante a vaga no STF.

No pre­sente episó­dio, entre­tanto, parece-​me que erraram o ponto ou se enga­naram no excesso, de tal sorte que a ilação, a notí­cia, os ares de escân­dalo, de tão absur­dos, mais aju­dam do que atra­pal­ham o sen­hor Dino.

O con­sór­cio lulo-​bolsonarista, dire­ita e esquerda, do mesmo lado, escan­dal­izam uma acusação boba, sem pé nem cabeça ao invés de, se fosse o caso, apontarem fal­has reais, insuces­sos con­cre­tos, etc., do min­istro.

Ninguém sério acred­ita nessa bobagem de que o min­istro da justiça tem vin­cu­lação com o crime orga­ni­zado.

Trata-​se de uma pes­soa que desde muito cedo leva uma vida “pública” – mesmo antes disso exi­s­tir –, mil­itân­cia política, tem desde os tem­pos da cam­panha pelas “Dire­tas Já”, quando tinha de treze para qua­torze anos.

Eu mesmo o con­heço desde essa época, quando ele estu­dava no Maris­tas e eu chegava no Liceu Maran­hense, em mea­dos dos anos oitenta.

Já se vão quase quarenta anos e nunca se ouviu ou se teve notí­cias de qual­quer coisa do tipo.

Ao meu sen­tir, trata-​se de algo tão absurdo que se tivesse sido plane­jado por ele para colo­car dire­ita e esquerda tra­bal­hando a seu favor não teria saído tão per­feito.

Essa total “falta de absurdo”, como dizia um político com quem tra­bal­hei anos atrás, acabam por aju­dar as pre­ten­sões do min­istro – na ver­dade as segun­das pre­ten­sões, já que a primeira seria a presidên­cia.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Os Cal­heiros Mar­inho e o comércio.

Escrito por Abdon Mar­inho


Os Cal­heiros Mar­inho e o comércio.

Por Abdon C. Marinho*.

O COMÉR­CIO, assim como a agri­cul­tura, sem­pre estiveram entre as ativi­dades da nossa família desde que me entendo por gente – e sei, vem desde bem antes disso.

O tio Pedro, por exem­plo, teve um comér­cio que fez história no mer­cado de Pedreiras desde que foi morar por lá quando veio com a família do Rio Grande do Norte para essas ter­ras.

O tio Deolindo (“tie Dió) tinha seu comér­cio numa casa de alpen­dre numa ele­vação, tín­hamos que vencer alguns degraus na calçada de cimento queimando para chegar à quitanda.

Minha irmã Deiza e seu marido Wil­son (filho de “tie Dió) quando saíram do Cen­tro Novo para Gonçalves Dias mon­taram seu comér­cio na Rua Rui Bar­bosa, logo no iní­cio da mesma, na parte da frente da casa onde moravam. Tem­pos depois, quando fiz­eram a ampli­ação da cidade com a cri­ação do Novo Gonçalves Dia, abri­ram um segundo comér­cio por lá.

Após minha irmã ficar viúva, emb­ora estes dois pon­tos com­er­ci­ais ten­ham fechado, ela con­tin­uou na ativi­dade, primeiro com uma banca de feira, levando seus pro­du­tos de cidade em cidade, até se esta­b­ele­cer onde se encon­tra hoje em um ponto com­er­cial quase em frente a prefeitura onde tra­balha todos os dias, de sol a sol ape­sar de já ter mais de setenta anos.

O meu pai já viúvo, lá pelo final dos anos setenta, mudou-​se para Gonçalves Dias, indo morar numa casa que man­dara fazer fazer ger­mi­nada à casa da minha irmã. Por essa época decidiu colo­car um comér­cio na Rua Dr. Paulo Ramos que é a rua que segue para­lela a Rua Rui Bar­bosa, onde morávamos.

Ainda no fun­da­men­tal, fiquei encar­regado do comér­cio.

Pas­sava o dia no comér­cio – só fechando no horário do almoço e no final dia quando tinha que ir para a escola.

Naquela época os comér­cios, tam­bém chama­dos de qui­tan­das, ven­diam todo tipo coisa: café, açú­car, arroz, fei­jão, óleo, fós­foro, cig­a­rro, cachaça, fumo de rolo, etc., lidava, por isso mesmo, com todo tipo de gente: da dona de casa a “rapariga”, do tra­bal­hador aos cachaceiros.

Naquele tempo, antes do surg­i­mento do Novo Gonçalves Dias ou quando se ini­ci­ava a ocu­pação do mesmo, a Rua Dr. Paulo Ramos ainda era con­hecida como a “rua de trás”, a alguns met­ros adi­ante do “meu” comér­cio tin­ham alguns cabarés onde as “meni­nas de vida fácil” tin­ham difi­cul­dades e suavam para gan­har a vida durante a noite.

A minha viz­inha da esquerda, parede-​meia com a qui­tanda, era uma dessas “moças de vida fácil”, tinha duas fil­has que acabavam brin­cando pelo comér­cio enquanto a mãe des­cansava da labuta.

Quando ela acor­dava tam­bém ia para lá con­ver­sar, pagar alguma coisa que fiz­era fiado ou pedir fiado alguma coisa para pagar com o resul­tado da noite.

Todos sabíamos qual a “guerra” que teria que vencer para pagar o fiado no dia seguinte.

Era comum – e até ansiá­va­mos por isso –, voltar­mos da escola, quando estudá­va­mos à noite, pela “rua de trás” para ver­mos o movi­mento nos cabarés, prin­ci­pal­mente nos dias de maior movi­mento.

Não raro via a viz­inha no “ofí­cio” ten­tando gan­har o din­heiro que me pagaria no dia seguinte.

Encar­á­va­mos isso com nat­u­ral­i­dade. Assim como o fato de com 11 ou 12 anos servir cachaça aos que fre­quen­tavam o comér­cio.

Esse foi o meu ofí­cio dos dez aos qua­torze anos, quando me mudei para fazer o ensino médio na cap­i­tal.

Posso até dizer que come­cei antes, pois quando morava em Gov­er­nador Archer, com minha irmã Bibia, seu marido Hen­rique tinha um quiosque de madeira atrás da Igreja Adven­tista e sob umas sapu­ca­ias e muitas vezes, eu com sete ou oito anos ficava por lá “tomando de conta”.

Pois é, naquele tempo não exis­tia Con­selho Tute­lar.

Logo que teve opor­tu­nidade e con­seguiu jun­tar um din­heir­inho o meu irmão Dodô mon­tou seu comér­cio na mesma Rua Rui Bar­bosa e o man­tém até hoje.

Com o nego Goça, o irmão nascido antes de mim, não foi difer­ente, envere­dou pelo comér­cio desde cedo, com­prando e vendendo de tudo: legumes, ver­duras, carnes, etc. muita das coisas tem que bus­car noutros esta­dos e sai vendendo de feira em feira, de comér­cio em comér­cio pela região do Mearim.

Entre os famil­iares e ami­gos cos­tu­mamos dizer que se o “nego” tivesse estu­dado, com o “tino” que tem, já teria dom­i­nado o mundo.

Nos últi­mos tem­pos tenho ten­tado voltar o comér­cio através de uma das coisas que, jun­ta­mente com o dire­ito, sem­pre me encan­tou: a edu­cação. Daí que resolvi “patroci­nar” junto com ami­gos alguns pro­je­tos no segui­mento.

A véspera do feri­ado da procla­mação da República me alcançou em Timon, terra de muitos ami­gos queri­dos e um calor humano extra­ordinário (o ter­mômetro dizia que está­va­mos com 45º, na som­bra), onde fui apre­sen­tar meus pro­du­tos, vulgo, “vender meu peixe” a esses ami­gos.

Na volta, pas­sando pelo Dezes­sete, Codó, con­videi o com­pan­heiro de viagem para vis­i­tar os meus par­entes em Gov­er­nador Archer e Gonçalves Dias.

Em GA vis­itei a mana Bibia e fui para casa querido irmão Armando, onde fiz o per­noite. No dia seguinte, após a palestra do café desci para o GD.

No cam­inho ia com­par­til­hando com o com­pan­heiro de jor­nada, Ali­son Fer­nando, as lem­branças da minha primeira infân­cia no Cen­tro Novo, que fica divisa entre os dois municí­pios.

Já em Gonçalves Dias pas­sei na casa do Goça, segui até o comér­cio do Dodô onde o cumpri­mentei e fui até o comér­cio da mana mais velha, Deiza.

Já na volta parei para uma con­versa no comér­cio do Dodô.

Um amigo da família, Seu Luiz Ceci, casado com filha Antônio Padre, aparentado dos Peixo­tos, do Cen­tro dos Came­los, já avançado na casa dos oitenta anos, estava por lá e começou a con­tar um pouco dos cau­sos da nossa família desde que vieram do Rio Grande.

Pouco depois chegou o Goça e ficamos os três, além do Ali­son ouvindo alguns cau­sos.

Com o ouvido atento que só os apre­ci­adores de cau­sos, tem fui sol­vendo cada uma das lem­branças dele.

Disse-​nos que o primeiro empreendi­mento com­er­cial do meu pai foi como vende­dor de “mel de furo”, na ver­dade o melaço resul­tante da cen­trifu­gação no processo de pro­dução de açú­car e/​ou cachaça.

Ele, meu pai, ia aos engen­hos – naquela tín­hamos bas­tante no inte­rior do Maran­hão –, com­prava o mel de furo e o reven­dia pela região.

Foi graças a esse comér­cio que com­prou seu primeiro burro começou enveredar por out­ras ativi­dades como a com­pra e venda de arroz.

Já o alcan­cei nessa fase da vida, ele com­prando o arroz “na folha” e nós indo com ele bus­car nas roças dos vende­dores, mon­ta­dos nos bur­ros. Na minha primeira infân­cia, já depois da par­tida de minha mãe, era o nosso lazer: mon­ta­dos nas can­gal­has dos bur­ros íamos pelas veredas bus­car o arroz.

Eram toneladas e toneladas de arroz trans­portadas assim das roças para os nos­sos depósitos.

Meu pai, como já disse out­ras vezes, era anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira. Já minha mãe fora alfa­bet­i­zada até os primeiros anos do ensino fun­da­men­tal.

Na lida diária, quando não estavam na roça, meu pai estava cuidando de alguma coisa, debul­hando um milho, um fei­jão e minha mãe se ocu­pando na cos­tura numa antiga máquina Singer, aju­dada por minha irmã mais velha que já fazia um “emban­hado” ou pre­gava os botões. Todas as roupas da família eram feitas por elas.

Assim, quando chegava alguém para vender o arroz, meu pai gri­tava: — ô Neuza anota aí que fulano vendeu três ou qua­tro arrobas de arroz.

Segundo o seu Luiz Ceci, meu pai era um com­er­ciante nato e como bom com­er­ciante sabia importân­cia de guardar o din­heiro e as coisas. Achava que gan­hava todo din­heiro que deix­ava de gas­tar.

Dessa parte eu lem­bro bem pois ainda hoje ressoa nos meus ouvi­dos suas palavras: — guarde, meu filho, porque quem guarda tem.

Ele guar­dava bem.

Disse-​nos seu Luiz Ceci que uma vez que uma vez meu pai levou Dadido (meu irmão Adil­son) com ele para fazer umas entre­gas de alguma coisa e com­prar a feira da sem­ana. Na volta Dadido viu alguém vendendo bolo e disse: — ô pai com­pra um bolo para eu ir comendo.

Ao que meu pai respon­deu: — que nada, menino, a tua mãe já está esperando com o almoço pronto.

Outra feita, estava meu pai debul­hando o milho quando chegou alguém: — ô seu Van­delo me dê um copo d’água.

Meu pai levan­tou foi para sala ficava onde ficavam os potes. Pegou um copo de alumínio, enfiou no pote, ouviu-​se só o “tim­bum”. Voltou com o copo e entre­gou ao cidadão.

Após o cidadão beber, olhou para um cacho de bananas pen­durado na sala amadure­cendo para vender na cidade e disse: —ô seu Van­delo, eu não tenho din­heiro para com­prar essa banana, o sen­hor pode me dar uma?

Meu pai arriou-​se sobre a “runa” do milho que debul­hava e gri­tou: — ô Neuza, ô Neuza, venha cá.

Minha mãe largou a cos­tura e cor­reu pra sala: — o que foi Van­delo?

Meu pai respon­deu: — tire uma banana do cacho e dê para o rapaz.

Minha mãe disse: — mas Van­delo você acabou de lev­an­tar para dar a água para o rapaz, por que não deu a banana?

Meu pai respon­deu: — porque a banana eu não tenho cor­agem de dar, dê você.

Se os cau­sos de seu Luiz Cici são ver­dadeiros eu ou meus irmãos não temos como saber, sei ape­nas que quase me acabei de rir deles.

Depois dessa peg­amos a estrada e volta­mos para a cap­i­tal.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado e con­ta­dor de cau­sos.