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Ditadura nunca mais!

Escrito por Abdon Mar­inho


(Foto da inter­net)
DITADURA NUNCA MAIS!

Por Abdon C. Mar­inho.

ALGUNS dias pen­sei em escr­ever o texto que pub­lico hoje. Foi por ocasião da divul­gação dos depoi­men­tos presta­dos pelos ex-​comandantes mil­itares do gov­erno pas­sado.

A minha com­preen­são do que foi dito é bas­tante sin­gela e segue nas lin­has abaixo.

Quando mil­itares de ele­vadas patentes teste­munham que o pres­i­dente da República os pres­sio­nou para aderirem a um golpe de estado com todas as con­se­quên­cias nefas­tas que tal intento pode­ria trazer ao país é algo que merece reflexão de todos os brasileiros.

Quanto esses mil­itares a quem se propôs o golpe de estado eram os mes­mos que lá atrás eram coman­dantes das Forças Armadas, deve­mos parar qual­quer coisa que este­jamos fazendo para anal­isar o fato e bus­car enten­der o que se pas­sou, o papel dos envolvi­dos, o que fazer em relação aos mes­mos e como evi­tar que tais coisas voltem a ocor­rer.

Há sessenta anos, em 31 de março de 1964, davam um golpe mil­i­tar no Brasil.

Eu e a grande maio­ria da pop­u­lação brasileira nasceu depois do golpe e muitos out­ros já vieram ao mundo depois que o régime de exceção, que durou vinte e um anos, chegara o fim.

Talvez por não lem­brar­mos ou por não saber­mos o que é viver­mos sub­ju­ga­dos por um régime dita­to­r­ial ou, mesmo, por igno­rar­mos a situ­ação de muitos países que ainda vivem sob domínio de auto­cratas e dita­dores, ten­demos a fazer pouco caso, min­i­mizar ou “pas­sar o pano” para o que aconteceu/​acontece no Brasil.

O filó­sofo George San­tayana tem uma frase lap­i­dar sobre o tema: “Aque­les que não con­seguem lem­brar o pas­sado estão con­de­na­dos a repeti-​lo”.

O Brasil acostumou-​se a não apren­der com seus erros.

O nor­mal é ser­mos “bonz­in­hos” mesmo com aque­les que come­tem as maiores atro­ci­dades.

Se não fomos as víti­mas deve­mos “rel­e­var”.

Em 1979, por ocasião da Lei da Anis­tia – que dev­e­ria ser ampla, geral e irrestrita –, o país optou de forma con­sciente pelo esquec­i­mento das dores e dos sofri­men­tos daque­les que foram víti­mas da ditadura.

Naquele ano ainda era uma cri­ança, mas, certa vez, ao con­ver­sar com um amigo muito mais velho e expe­ri­ente ele me mostrou e me fez com­preen­der que aque­les que não foram víti­mas, até pode­riam opinar, mas que não era legí­timo per­doar.

Porém, essa é ape­nas uma diva­gação, na real, como se diz atual­mente, quando o país fez a opção por “pas­sar o pano” para todos os crimes cometi­dos, inclu­sive o da supressão da democ­ra­cia brasileira, abriu cam­inho para que out­ros tirantes ou ape­nas imbe­cis se achas­sem no dire­ito de tentarem nova­mente.

A ver­dade é que andamos muito perto de levar­mos o país a uma con­vul­são social, com con­se­quên­cias inimag­ináveis, com mortes, prisões, exílios, famílias destruí­das, sem quais­quer garan­tias de dire­ito, etc.

Bas­tava que o coman­dante do exército tivesse con­cor­dado com a lou­cura – os demais viriam no “arrasto” –, para que não fizésse­mos ideia do que teria acon­te­cido e para que, cer­ta­mente, esse texto não exis­tisse.

Como já disse em out­ras opor­tu­nidades, não acred­ito que o movi­mento de 08 de janeiro de 2023 fosse um “golpe”, sin­ce­ra­mente aquilo mas pare­cia um bando de alo­pra­dos que foram usa­dos como “bucha” para algo muito maior – que acabou não acon­te­cendo.

Por outro lado, quando se anal­is­ar­mos o “filme” com­pleto que vem desde a famosa reunião de julho de 2022, em que min­istros impor­tantes falaram sem con­strang­i­mento em “virada de mesa”, out­ros tratando as insti­tu­ições da República como “forças inimi­gas”, pas­sando pelas diver­sas out­ras reuniões já pos­te­ri­ores ao pleito em segundo turno, aos acam­pa­men­tos sin­croniza­dos em frente aos quar­téis em todos os can­tos do país, aquele ato ganha outra relevân­cia, não pelas pes­soas – muitas ilu­di­das, buchas é a palavra cor­reta –, não pelo ato em si, mas por ter sido a última ten­ta­tiva para forçar o golpe.

E podemos ir além, mesmo antes de assumir após a vitória nas urnas em 2018, “tra­bal­havam” com o foco numa rup­tura insti­tu­cional.

Por conta disso e de forma rotineira, estim­ulava o con­flito entre os poderes, ele­gendo por fim, o Poder Judi­ciário (rep­re­sen­tado pelo STF e TSE) como os seus “inimi­gos”.

Tratava-​se, por óbvio, de um pro­jeto anti­democrático tosco, com um olhar para o pas­sado – e deve­mos “até” agradecê-​los por isso –, as ditaduras mas recentes destru­iram suas democ­ra­cias de den­tro pra fora.

Tem sido assim na Rús­sia, na Venezuela, na Hun­gria, etc., a par­tir do poder con­quis­tado de forma legí­tima ou não foram aniqui­lando as insti­tu­ições e os opos­i­tores até chegarem ao ponto de só restarem o seu grupo para dis­putar sim­u­lacros de eleições.

Não fosse a “cav­alar” falta de trato, que podemos atribuir (ou fes­te­jar) como equívoco de estraté­gia, hoje estaríamos avançando para um retro­cesso insti­tu­cional de forma legí­tima.

Quem teria legit­im­i­dade para ques­tionar um gov­erno eleito por ampla maio­ria dos eleitores?

O que impediria que um gov­erno reeleito por ampla maio­ria ini­ci­asse o processo de “apar­el­hamento” das insti­tu­ições civis e mil­itares para per­manecer no poder “ad infini­tum” ?

Há sessenta anos deram um golpe mil­i­tar no Brasil que durou vinte e um anos.

Quase quarenta anos depois da rede­moc­ra­ti­za­ção do país, ten­taram nova­mente.

O que salvou o país do retro­cesso foi o “não” do gen­eral e a pouca inteligên­cia dos golpis­tas. Não fosse o gen­eral ter dito não ou se os golpis­tas não fos­sem tão idio­tas, estaríamos vivendo uma “volta ao pas­sado”.

Bem que algum dep­utado ou senador pode­ria pro­por uma lei criando o “Dia do Não” e/​ou o “Dia da Ignorân­cia”. Não já temos o Dia do Fico? Por que não?

O certo é que pas­samos “ras­pando” por um processo de retro­cesso político que maio­ria da pop­u­lação não se deu conta, não perce­beu.

Muitos até ficaram decep­ciona­dos.

O que pas­samos foi muito além de dois proces­sos políti­cos extremos. Não se tra­tou e nem se trata de uma dis­puta política ou eleitoral ou de pro­je­tos de poder.

O que se tra­tou, efe­ti­va­mente, foi de uma rup­tura insti­tu­cional ou não.

Essa é a clareza que pre­cisamos ter.

O país pre­cisa reforçar ou criar novos mecan­is­mos de pro­teção con­tra os pro­je­tos autoritários que são uma real­i­dade em todo o mundo e que tem no Brasil uma posição estratég­ica.

O que fazer?

Con­fesso não saber o que deve ser feito.

Dizem que o Con­gresso Nacional vai acabar com a pos­si­bil­i­dade de reeleição dos car­gos majoritários.

Será a solução? Ou, só isso será o remé­dio con­tra os pro­je­tos autoritários?

Cada vez mais as pes­soas exigem respostas super­fi­ci­ais para prob­le­mas com­plexos.

Cada vez mais bus­cam “sal­vadores da pátria” que, invari­avel­mente, não pas­sam de esper­tal­hões.

A real­i­dade é vive­mos em um mundo de pes­soas igno­rantes, que não con­hecem a história, que não lêem e que, por isso mesmo, são inca­pazes de com­preen­derem o que se passa ao seu redor. Uma parcela sig­ni­fica­tiva da pop­u­lação já se encon­tra com o cére­bro cor­roído pelas inutil­i­dades a que estão expostas diari­a­mente.

É como se vivêsse­mos um con­flito entre a inteligên­cia arti­fi­cial e a total falta de inteligên­cia.

O Brasil pre­cisa voltar a estu­dar – prin­ci­pal­mente história (e já vão dizer que o ensino de história é doutri­nação).

O Brasil não tem o dire­ito de esque­cer (e já vão dizer que não esque­cer é revan­chismo).

O Brasil não tem o dire­ito de tratar o seu pas­sado com menosprezo ou rel­a­tivis­mos.

A democ­ra­cia não é um valor rel­a­tivo.

Ela, democ­ra­cia, é conc­reta e pos­sui parâmet­ros sóli­dos e definidos – o resto é con­versa fiada.

Não existe ditadura boa.

Nunca podemos esque­cer disso.

Passé sessenta, passé cem, duzen­tos anos …

Ditadura nunca mais!

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Trinta anos de uma cam­panha mem­o­rável episó­dio 2 O racha da esquerda

Escrito por Abdon Mar­inho


TRINTA ANOS DE UMA CAM­PANHA MEM­O­RÁVEL II.

Por Abdon C. Marinho.

Episó­dio 2 — O racha da esquerda.

O SÍTIO Pira­pora, no bairro Santo Antônio, em São Luís, era o palco prin­ci­pal dos encon­tros da esquerda maranhense.

O Par­tido Social­ista Brasileiro — PSB do Maran­hão até por diver­sas moti­vações de ordem prática, tinha prefer­ên­cia por seus espaços.

Difer­ente de out­ros par­tidos de esquerda com uma base mais urbana, sindi­cal ou estu­dan­til, quase noventa por cento (ou próx­imo disso) da base do PSB era com­posta por tra­bal­hadores rurais, que­bradeiras de côcos de babaçu, homens, mul­heres, jovens, que viviam no campo, da agri­cul­tura famil­iar e ativi­dades cor­re­latas. Pes­soas sim­ples, hon­es­tas e com uma visão prática do mundo muito mais clara do que muitos “doutores”.

Os par­tidos políti­cos não dis­pun­ham dos recur­sos finan­ceiros que dis­põem hoje para alu­gar hotéis ou cen­tros de con­venções. O Pira­pora era o espaço ideal pois ofer­e­cia alo­ja­men­tos, refeitório e local para a reunião.

Con­forme fos­sem as pau­tas de debates, já na quinta ou sexta-​feira as lid­er­anças políti­cas do par­tido começavam a chegar no Pira­pora e se dividi­rem entre os alo­ja­men­tos mas­culino e fem­i­nino. Muitos traziam suas redes. Com o aluguel do sítio já con­tratava coz­in­heira para preparar as refeições, gente para fazer a limpeza (parte dela feita pelos próprios par­tic­i­pantes) e se mon­tava a logís­tica de fun­ciona­mento do evento.

Geral­mente os con­gres­sos con­tavam com trezen­tas ou mais pes­soas e as reuniões do diretório na faixa de cem ou um pouco mais ou menos. Eram pes­soas que vin­ham de todos can­tos do estado, sul do estado, baix­ada, mearim, médio Par­naíba, etc.

Desde que chegavam e nos horários de folga ou à noite esses tra­bal­hadores e tra­bal­hado­ras rurais tro­cavam impressões e infor­mações sobre suas regiões e como estava o embate político nos seus municí­pios, suas lutas por dire­itos, con­tra a vio­lên­cia no campo.

As análises de con­jun­tura para as eleições de 1994 começaram já pelo final do ano ante­rior.

Nas eleições de 1992, na cap­i­tal, o PDT, de Jack­son Lago, apoiou a can­di­datura de Con­ceição Andrade (PSB). Muito emb­ora ela tenha tido uma boa per­for­mance nas eleições para o gov­erno em 1990, sem o apoio do PDT, da sua estru­tura de poder – uma vez que estavam no comando da prefeitura e bem avali­a­dos –, e sua mil­itân­cia talvez não tivesse ganho a eleição (ou mesmo não tivesse sido can­di­data).

A eleição seria um primeiro con­fronto entre as forças lig­adas ao poder munic­i­pal e as forças lig­adas ao poder do gov­erno estad­ual.

Os can­didatos no primeiro turno (seria a primeira eleição munic­i­pal com dois turnos), por ordem de votos foram: Con­ceição Andrade (PSB, PDT, PCdoB e PPS), que obteve 134.910, 38,26%; João Alberto Souza (PFL, PV, PCN), 58.922, 16,75%; Evan­dro Bessa (PDS, PMDB, PRN, PL), 42.000,11, 94%; Car­los Guter­res (PDC), 26.000, 7,39%; Betto Dou­glas (PMN), 24.000, 6,82%; Jaime San­tana (PSDB, PRP) 17.000, 4,83%; Costa Fer­reira (PTR), 16.000, 4,55%; Haroldo Sabóia (PT, PC), 13.000, 3,70%; Rubens Soares (PSD), 10.472, 2,98%; Nan Souza (PST, PSC), 1,42%; e Mauro Fecury PTB), 4.500, 1,28%.

O resul­tado do primeiro turno traz como destaque o boa votação de Evan­dro Bessa, que tinha o apoio de Cafeteira e ficou em ter­ceiro lugar, Car­los Guter­res que perdeu a eleição qua­tro anos antes por pouco mais de mil votos, ficou em quarto lugar; o can­tor Betto Dou­glas que alcançou 24 mil votos ficando muito à frente de políti­cos de renome como Jaime San­tana, Costa Fer­reira, Haroldo Sabóia, Nan Souza, que eram dep­uta­dos e até mesmo do ex-​prefeito biônico Mauro Fecury.

O segundo turno, ape­sar do resul­tado final ter sido ampla­mente favorável a col­i­gação PSB, PDT, PCdoB e PPS com a chapa Conceição/​Aziz obtendo 137.687 votos o que cor­re­spon­dia a 64,1%, con­tra os 77.239 votos da chapa João Alberto/​Bosco, que cor­re­spon­dia a 35,9%, a dis­puta foi forte.

Os números rev­e­lam que Con­ceição só acres­cen­tou pouco mais de três mil votos à votação que obteve no primeiro turno enquanto que João Alberto acres­cen­tou quase 20 mil votos. Sem con­sid­erar que muitos dos que con­cor­reram no primeiro turno foram apoiar Con­ceição, como foi o caso de Evan­dro Bessa, Car­los Guter­res, os que lem­bro.

Isso para dizer que os números finais não refletem o clima da dis­puta. Ape­sar do mote de que ilha rebelde não votaria em um can­didato do grupo Sar­ney, João Alberto havia sido gov­er­nador (sucedeu Cafeteira quando esse deixou o gov­erno para dis­putar o Senado) e se nota­bi­li­zou por oper­ações poli­ci­ais fortes con­tra o crime orga­ni­zado a pis­to­lagem, den­tre as quais merece destaque a Oper­ação Tigre, tão efi­caz quanto con­tro­ver­tida.

No segundo turno das eleições o ex-​governador “assumiu” esse papel de, dig­amos, jus­ti­ceiro e sua cam­panha man­dou “plotar” os seus veícu­los a imagem da ave “car­cará”, imor­tal­izado nos ver­sos do can­tor João do Vale como aquela ave lá da baix­ada que “pega, mata e come”. Aliás, segundo os dicionários, o sig­nifi­cado em sen­tido fig­u­rado do termo é pes­soa ruim e mal­vada.

O certo é que emb­ora tenha per­dido por larga margem, pelo tanto que cresceu entre o primeiro e o segundo turno, não fez feio.

Um fato que tam­bém con­tribuiu para sur­preen­dente per­for­mance de João Alberto no segundo turno foi o enga­ja­mento de segui­men­tos da juven­tude na cam­panha dele. A juven­tude da ilha sem­pre estivera lig­ada a esquerda nos seus diver­sos par­tidos, PDT, PSB e a UJS, vin­cu­lada ao PCdoB.

A par­tir daquela eleição os par­tidos “ditos” de dire­ita começaram a “apos­tar” nos segui­men­tos juve­nis. Um dos respon­sáveis do por isso foi o atual dep­utado estad­ual do MDB, Roberto Costa, que ini­ciou sua mil­itân­cia política no PSB e levou essa “exper­tise” para a cam­panha do PFL.

Con­ceição Andrade (PSB) gan­hou a eleição com o apoio do PDT e teria que fazer um gov­erno que equi­li­brasse os inter­esses desses ali­a­dos majoritários com os do seu par­tido, o PSB. Não seria e não foi fácil.

Nos con­gres­sos do PSB ocor­ri­dos no final de 1993 e começo de 1994 era clara a insat­is­fação das diver­sas lid­er­anças do par­tido, prin­ci­pal­mente, as lid­er­anças rurais com o gov­erno de Con­ceição.

Achavam que o par­tido não tinha qual­quer espaço (o espaço era muito reduzido) e recla­mavam até da falta de acesso que tinha à prefeita que era do par­tido.

Essas lid­er­anças estavam acos­tu­madas a ter as por­tas aber­tas. Con­ceição ini­ciara na polit­ica pela advo­ca­cia, foi como advo­gada dos tra­bal­hadores rurais, enfrentando as “gri­la­gens” de ter­ras e a vio­lên­cia no campo que con­quis­tou os apoios necessários a sua primeira eleição, em 1986, ainda pelo grupo “Nossa Luta”, agru­pado den­tro do PMDB. A prefeita não estava mais à dis­tân­cia de um trinco dos mes­mos, como estivera como advo­gada, dividindo dormida com eles em sedes de sindi­ca­dos, casas paro­quiais ou mesmo em acam­pa­men­tos no campo ou como dep­utada na antiga Assem­bleia da Rua do Egito, quando qual­quer pes­soa bas­tava bater numa porta para entrar no gabi­nete e ser aten­dida.

O acesso ao gabi­nete da prefeita na prefeitura da cap­i­tal era mais com­plexo, as pes­soas que estavam antes do gabi­nete, na maio­ria das vezes, não con­heciam nen­huma daque­las lid­er­anças do PSB que eram da “coz­inha” da prefeita e a prefeita da “coz­inha” delas e difi­cul­tavam ou não per­mi­tiam o acesso. Sem con­tar as próprias atribuições e respon­s­abil­i­dades do cargo.

Na época eu era chefe da gabi­nete do dep­utado Juarez Medeiros e muitos dessas lid­er­anças con­heci­das e ami­gas iam lá – ou mesmo no gabi­nete do dep­utado Costa, que foi eleito no lugar de Con­ceição nas eleições de 1990 –, com esse tipo de recla­mação ou queixa.

O resumo do que diziam: a prefeita é do par­tido mas o gov­erno é do PDT, nós não temos “nada” no gov­erno, não encam­in­hamos qual­quer reivin­di­cação; não faz difer­ença alguma ter­mos ou não a prefeitura da cap­i­tal.

Esse sen­ti­mento, essa insat­is­fação, queixas, etc., são rel­e­vantes para que se com­preenda que não foi “traumático” o PSB romper a aliança com o PDT para apoiar a can­di­datura de Cafeteira, PPB. Aque­las lid­er­anças tin­ham estado com ele em 1986. Em 1988 inte­graram a União da Ilha com PDT mas não se sen­tiam inte­grante do gov­erno Jack­son Lago, em 1990, emb­ora todos ten­ham apoiado Con­ceição ao gov­erno mas perderam e quando ganha em 1992, no gov­erno de uma “estrela” do PSB não se sen­tem rep­re­sen­ta­dos.

Por todos esses motivos, quando se ini­cia­ram as análises de con­jun­tura política para as eleições estad­u­ais de 1994, a maio­ria sig­ni­fica­tiva das lid­er­anças do par­tido, con­forme disse ante­ri­or­mente, homens, mul­heres e jovens do campo não tiveram difi­cul­dades em indicar ou apoiar o nome de Cafeteira ao invés de seguir com a aliança com o PDT de Jack­son Lago.

No último con­gresso do PSB de 1993 já haviam indica­tivos que isso pode­ria acon­te­cer.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

PS. No próx­imo episó­dio tratare­mos da decisão de apoiar Cafeteira, do racha entre o PSB e PDT e a falta de visão política que levou o Maran­hão a per­manecer estag­nado politi­ca­mente.

Trinta anos de uma cam­panha memorável.

Escrito por Abdon Mar­inho


TRINTA ANOS DE UMA CAM­PANHA MEM­O­RÁVEL.

Por Abdon C. Marinho*.

Episó­dio 1 — Fatos históri­cos ante­ri­ores.

ENQUANTO me preparo para mais uma cam­panha eleitoral – leitura de res­oluções, regras, entendi­men­tos, debates sobre o que vai ou não poder se fazer –, min­has lem­branças foram sendo tomadas por flash­backs daquela que, para mim, foi a mais impor­tante cam­panha que par­ticipei.

Falo da cam­panha eleitoral de 1994 – aquela que gan­hamos e não lev­a­mos.

Os indi­cadores do IBGE apon­tam o nosso estado “ainda” na rabeira de tudo. Por der­radeiro saiu de renda per capita e lá estava o Maran­hão com uma renda de menos de mil reais, um com­par­a­tivo com um mais ele­vado, chega a ser menos de um terço da renda per capita do Dis­trito Fed­eral, que encabeça a lista. Antes dessa tinha saído a de esgo­ta­mento san­itário, mais uma vez, lá atrás; e, antes ainda indi­cadores edu­ca­cionais (os foi de infraestru­tura?), atrás. Pouca difer­ença faz qual é o indi­cador, rara­mente o nos desta­camos de forma positiva.

Esses números e fatos me fiz­eram pen­sar: e se em 1994, além de gan­har­mos, tivésse­mos lev­ado a vitória para “casa”? Se tivésse­mos feito a “tran­sição” de poder com Cafeteira? O Maran­hão seria um estado mel­hor? Teríamos nos desen­volvido como fiz­eram out­ros esta­dos ao romperem com suas oli­gar­quias estad­u­ais?

Em 1986, Cafeteira elegeu-​se gov­er­nador numa aliança com o grupo do arqui-​inimigo Sar­ney, alçado à presidên­cia da República por conta da morte de Tan­credo Neves. O grupo “Nossa Luta”, for­mado por diver­sas lid­er­anças cam­pone­sas, lid­er­ado por Juarez Medeiros, Con­ceição Andrade, José Car­los Sabóia, José Costa, Celso Veras, e tan­tos out­ros, inte­grava o PMDB (Par­tido do Movi­mento Democrático Brasileiro) e apoiou, em torno de alguns com­pro­mis­sos, a eleição de Cafeteira, em 1986.

Deve­mos lem­brar que em 1986, após a eleição de Tancredo/​Sarney o país ainda fazia uma tran­sição do bipar­tidarismo para o sis­tema pluri­par­tidário que vive­mos até hoje. Todos os que eram con­tra a ditadura ficaram “hospeda­dos” no MDB.

Um esclarec­i­mento: até o iní­cio da rede­moc­ra­ti­za­ção do país os par­tidos políti­cos não eram chama­dos par­tidos, com isso tín­hamos a ARENA, que dava sus­ten­tação ao régime mil­i­tar e o MDB, onde ficavam todos que se opun­ham ao mesmo.

Com o iní­cio da aber­tura política a ARENA transformou-​se em PDS; e por ocasião da eleição indi­reta no Colé­gio Eleitoral, surgiu a dis­sidên­cia do par­tido chamada “Frente Lib­eral”, que pos­te­ri­or­mente veio a chamar-​se Par­tido da Frente Lib­eral — PFL.

Além do MDB e ARENA/​PDS, poucos par­tidos tin­ham reg­istros e/​ou pos­suíam den­si­dade política para enfrentar dis­putas, den­tre eles, o Par­tido Democrático Tra­bal­hista — PDT, que con­seguiu reg­istro em 1981 e o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, que con­seguiu reg­istro em 1982.

No Maran­hão, além de todos os prob­le­mas que per­du­ram até hoje, vivíamos uma fase de muitos con­fli­tos agrários, tradução para assas­si­natos, “gri­lagem de ter­ras” – e toda sorte de vio­lên­cia.

Foi em tal con­texto que o grupo “Nossa Luta” apoiou a eleição de Cafeteira em 1986 e con­seguiu eleger três par­la­mentares: José Car­los Sabóia, dep­utado fed­eral; Juarez Medeiros e Con­ceição Andrade, dep­uta­dos estad­u­ais.

Cabe, ainda, salien­tar que em 1985, na esteira da rede­moc­ra­ti­za­ção, tive­mos a eleição para prefeitos das cap­i­tais. Em São Luís a dis­puta teve como atores prin­ci­pais, a esposa do ex-​governador João Castelo, que foi eleita, sendo uma das primeiras mul­heres a se elegerem prefeita de cap­i­tal; o dep­utado fed­eral Jaime San­tana, pelo PFL, com o apoio do prefeito biônico, Mauro Fecury, do gov­erno estad­ual, e do gov­erno fed­eral, a cam­panha gan­hou o sug­es­tivo nome de “força total”, que perdeu por menos de dez mil votos; na mesma dis­puta, logo em seguida vieram Jack­son Lago, pelo PDT; Haroldo Sabóia, pelo PMDB; Luis Soares (Vila Nova), pelo PT; e, Ema­noel Viana, pelo PMB.

Cafeteira foi eleito, em 1986, pela Col­i­gação “Aliança Democrática”, que reuniu PMDB, PFL, PTB, PCB e PCdoB, esses últi­mos par­tidos tira­dos da ile­gal­i­dade recen­te­mente pelo gov­erno Sar­ney. Nas palavras de Ader­son Lago, que foi um dos que coor­de­nou a cam­panha foi “uma festa”, bas­tava pen­sar numa neces­si­dade que a solução já se mostrava pre­sente.

A vitória con­tra o ex-​governador João Castelo foi con­tun­dente: 81,03% con­tra 16,52%; a can­di­datura do PT, rep­re­sen­tado por Delta Mar­tins obteve ape­nas 2,45%.

O PDT de Jack­son Lago apoiou Cafeteira mas sem inte­grar a col­i­gação, lançando cha­pas para o Senado e para Câmara dos Dep­uta­dos e Assem­bleia.

Nessa mesma eleição, por conta do quo­ciente eleitoral o líder do PDT, Jack­son Lago, ape­sar de ter obtido uma votação das mais expres­si­vas, na con­seguiu ir para o Con­gresso Nacional como dep­utado.

O gov­erno Cafeteira, a par­tir de 1987, foi mon­tado a par­tir das forças que o apoiaram, inclu­sive, cabendo ao PDT a Sec­re­taria de Saúde, que pas­sou a ser coman­dada por Jack­son Lago.

Em 1988, eleições munic­i­pais nova­mente, dois secretários de Cafeteira deixam o gov­erno para dis­putarem a prefeitura da cap­i­tal, Jack­son Lago, do PDT, pela col­i­gação União da Ilha, com­posta por PDT, PMC, PCdoB, PSB e PSDB; e Car­los Guter­res, PMDB, que for­mou a col­i­gação Aliança Democrática for­mada pelos par­tidos PMDB, PFL, PJ, PND, PDC; Ainda fig­u­raram na dis­puta Jairz­inho da Silva, pela col­i­gação Resistên­cia, for­mada por PDS, PTB. PMB e PTR; José Heluy, do PT; e Edi­valdo Holanda, pelo PL, estes últi­mos em col­i­gações menores.

Cabe uma obser­vação sobre o per­son­agem Jairz­inho da Silva, radi­al­ista pop­u­lar que há muitos anos tinha um pro­grama na Rádio Riba­mar. Em 1982 ele foi eleito vereador da cap­i­tal (o prefeito era biônico, mas os vereadores eram eleitos); em 1985, foi eleito vice-​prefeito na chapa com Gardê­nia Gonçalves; em 1986, foi eleito dep­utado estad­ual e em 1988, estava can­didato a prefeito da cap­i­tal, ficando em ter­ceiro lugar, com 20% dos votos váli­dos.

Como sabe­mos, aquela foi uma das mais dis­putadas eleições, tendo Jack­son Lago sido eleito com 31,14% (85.801) e Car­los Guter­res, ficando em segundo lugar com 30,71% (84.636), pouco mais de mil votos entre os dois can­didatos.

Con­vém obser­var, que a regra dos dois turnos foi imple­men­tada na Con­sti­tu­ição de 1988, mas como o processo eleitoral já havia sido defla­grado por ocasião de sua pro­mul­gação a regra não pode­ria ser apli­cada.

(Juarez Medeiros, Neud­son Claudino, Luiz Vila Nova, Domin­gos Dutra e José Costa, reg­istro de 1990).


Em 1990, Cafeteira renun­cia ao gov­erno estad­ual para candidatar-​se ao Senado, assu­mindo o gov­erno o vice-​governador, João Alberto Souza. Após Cafeteira descer a rampa do Palá­cio do Planalto com Sar­ney que deix­ava o gov­erno para Fer­nando Col­lor, eleito em 1989, assumir, recomeçou o dis­tan­ci­a­mento (e a oposição) entre ambos.

Naquela eleição Cafeteira apoiou, jus­ta­mente o adver­sário da eleição ante­rior, o ex-​governador João Castelo, da col­i­gação Maran­hão Livre, PRN, PMDB, PDC, PSDB, PDS, PL, e PSD, con­tra o can­didato do grupo Sar­ney, Edi­son Lobão, do PFL, da col­i­gação Maran­hão do Povo, PFL, PTB, PSC,

Nessa eleição, pela primeira vez na história do estado, a oposição de esquerda teve uma can­di­datura com­pet­i­tiva – não digo com condições de gan­har, mas de dis­putar –, a dep­utada estad­ual Con­ceição Andrade (PSB) foi lançada ao gov­erno tendo o empresário Neud­son Claudino (PT) como vice, na chamada Frente Pop­u­lar do Maran­hão for­mada pelos par­tidos PSB, PR, PDT, PCB e PCdoB.

O resul­tado do primeiro turno foi: Castelo, com 595.392 votos (45,75%); Lobão, com 459.542 votos (35,31%); e Con­ceição com 246.468 votos (18,94%). Se com­para­r­mos com os quase e dois e meio da pro­fes­sora Delta Mar­tins na eleição de 1986, foi um salto extra­ordinário.

No segundo turno esses votos da oposição de esquerda migraram para a chapa Lobão/​Fiquene que obtiveram 695.727 votos (53,92%) con­tra 594.620 votos (46,08%) da chapa Castelo/​Ney Bello.

A oposição de esquerda vin­culava o ex-​governador João Castelo à ditadura por conta de ter sido nomeado gov­er­nador biônico em 1978; por ser rela­cionado aos atos de vio­lên­cia no campo e con­tra os estu­dantes em 1979; por ser ali­ado de Col­lor de Melo nas eleições de 1989.

Todos esses fatores fiz­eram com que preferis­sem o Lobão, can­didato de Sar­ney.

Mesmo os que não o apoiaram não dis­seram nada con­tra.

Nessa eleição de 1990 Cafeteira foi eleito senador com quase sessenta por cento dos votos (59,56%), para ser­mos mais pre­cisos.

Na eleição seguinte, 1992, Con­ceição Andrade eleita prefeita da cap­i­tal pelas forças políti­cas da oposição de esquerda.

No próx­imo (ou próx­i­mos) episó­dio falare­mos da eleição de 1992 e de como a oposição de esquerda perdeu a opor­tu­nidade de gan­har aquela mem­o­rável eleição de 1994.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

PS. Os fatos nar­ra­dos são per­cepções de um ado­les­cente que estava “de fora”, assistindo, com pouca par­tic­i­pação efe­tiva e nos dados cole­ta­dos do TSE.