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A MEMÓRIA ME TRAIU OU A AMIZADE DE DEUS E ABRAÃO

Escrito por Abdon Mar­inho

A MEMÓRIA ME TRAIU OU A AMIZADE DE DEUS E ABRAÃO.

Abdon C. Marinho*.

COMO sabem, escrevo de memória.

É assim: após o café da manhã me instalo na poltrona pen­sadora, abro a tela do tablet e começo a escr­ever con­fiando uni­ca­mente na memória, nas lem­branças, sem qual­quer pesquisa. Uma ou duas horas depois, o tex­tão do fim de sem­ana está pronto para ser publicado.

No último final de sem­ana no texto Palestina ≠ Hamas ≠ Israel cometi um equívoco (já cor­rigido) que foi dizer que Ló inter­ced­era junto a Deus pela não destru­ição de Sodoma/​Gomorra e não Abraão, como seria o cor­reto.

Neste caso a memória me traiu duas vezes.

Cerca de dez ou quinze min­u­tos após a pub­li­cação do texto, minha sobrinha Már­cia Mar­inho me apon­tou o equívoco. Como estava andando pelo sítio acabei esque­cendo de fazer a cor­reção que só fiz ontem após rece­ber men­sagem do colega Eli Medeiros apon­tando o mesmo equívoco no texto.

A ambos meus sin­ceros agradecimentos.

Na ver­dade, como sabe­mos Deus era “chapa” de Abraão, daque­les de sen­tar na varanda de casa e ficarem levando um papo enquanto Sara prepar­ava o cafez­inho para ambos.

No episó­dio, em sen­tido reverso, que usei para criticar a matança indis­crim­i­nada de inocentes em Gaza, sobre­tudo, cri­anças, mul­heres, idosos e enfer­mos por Israel na sua guerra con­tra o grupo ter­ror­ista Hamas, deu-​se o seguinte:

Vis­i­tava Deus os ‘parças’ Abraão e Sara e após dizer que a última engravi­daria em breve, ape­sar da idade avançada, fazendo com que Sara risse Dele – viram o grau de intim­i­dade? Quando Deus disse que Sara ficaria grávida, ela pois-​se a rir de suas palavras. Tipo assim: –– conta outra bar­budo –, começaram a con­ver­sar sobre a situ­ação de Sodoma e Gomorra, enquanto Sara fora a coz­inha preparar o café.

Deus anun­ciou que lançaria os mís­seis mais potentes para destruir as duas cidades.

Tendo Abraão pon­der­ado: –– Destru­irás o justo com o ímpio (em lin­guagem atual: tu vai destruir os inocentes junto com os culpados?).

Veja a intim­i­dade de Abraão era tão grande que ele o chamava de tu.

E con­tin­uou Abraão: –– Se por­ven­tura hou­ver cinquenta jus­tos na cidade, destru­irás tam­bém e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta jus­tos que estão den­tro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mate o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o juiz de toda a terra?

Veja que Abraão deu uma “chamada” em Deus, chamando-​o à razão. Dizendo ser injusto que cul­pa­dos e inocentes fos­sem punidos jun­tos.

Deus pen­sou, viu que o ‘parça’ Abraão estava certo, disse: –– Tá bom, se eu achar em Sodoma cinquenta inocentes, por conta deles não lançarei os mís­seis destruidores.

Abraão, já certo que vencera, o “barba” na argu­men­tação de fundo, foi além: –– já que disse o que penso, con­tinuo a dizer: Se não forem cinquenta, mas ape­nas quarenta e cinco, pela falta de cinco destru­irás a cidade.

Deus respon­deu: –– Está bem, Abraão, não lançarei os mís­seis se achar ali quarenta e cinco.

Abraão: –– e se forem quarenta?

Deus: –– não lançarei os mís­seis por causa dos quarenta inocentes.

Abraão: –– e se forem trinta os inocentes?

Deus: –– não lançarei os mís­seis por causa desses trinta.

Abraão: –– e se forem ape­nas vinte?

Deus: –– não lançarei os mís­seis de fab­ri­cação amer­i­cana por causa desses vinte.

Abraão insis­tiu: –– brother, des­culpa a “apor­rin­hação”, vai que só encon­tre ali dez inocentes?

Deus: –– cabra tu estás chato, tá bom, se achar os dez inocentes não lançarei os mís­seis, vou man­dar verificar.

Foi a hora que Sara chegou com o café, Deus tomou uma xícara com uma broa de milho, se des­pediu do casal e foi cuidar dos seus afaz­eres – que já eram muitos.

Dias depois foi que man­dou os anjos fazer o censo dos inocentes de Sodoma/​Gomorra e foram acol­hi­dos por Ló.

Não tendo os anjos recenseadores encon­tra­dos os inocentes que Abraão imag­i­nara que tivesse, e ainda ten­taram “pas­sar” os mes­mos, Deus lançou ataques vio­len­tos com todos os mís­seis que pos­suía no arse­nal celes­tial, não deixando sequer vestí­gios das cidades.

Ape­nas Ló e suas fil­has se sal­varam. Enquanto fugiam para as mon­tan­has ou out­ras ter­ras dis­tantes já que as cidades não eram cer­cadas, a esposa de Ló olhou para trás e foi con­ver­tida em uma estátua.

Con­forme disse no texto ante­rior, Deus só lançou os seus mís­seis após a ver­i­fi­cação “in loco” da inex­istên­cia de inocentes.

O que ocorre nos dias atu­ais é que o exército judeu, difer­ente do que tanto cobrou Abraão de Deus, estão mirando nos inocentes e não nos cul­pa­dos.

É o con­trário do acordo cel­e­brado naquela tarde entre Deus e Abraão (o pai de todos eles) enquanto aguar­davam o café de Sara.

Outro “parça” que tem tudo a ver com os con­fli­tos dos nos­sos tem­pos foi Moisés. Mas nesse caso Deus teve sua parcela de responsabilidade.

Como escrevo “de memória” como dito acima, só lem­bro de dois caras que tiveram intim­i­dade com Deus a ponto de con­ver­sarem cara a cara, ou como se dizia antiga­mente, na face do Sen­hor: Abraão e Moisés.

Só que no tempo de Abraão Deus tinha mais tempo, podia ficar uma tarde inteira tro­cando umas ideias com ele, dis­cutindo sobre as coisas terrenas.

Já no tempo de Moisés o trampo estava mais pux­ado. Já haviam con­fli­tos por todos os lados, Deus já pen­sando em destruir tudo e começar de novo.

Deus já não tinha tanto tempo e para agravar a situ­ação Moisés era gago.

Imag­ine, você cheio de coisas para fazer e pre­cisar fazer uma reunião com o gago para passar-​lhe uma con­sti­tu­ição inteira.

Por isso que só saíram os dez man­da­men­tos dita­dos por Deus a Moisés.

A respon­s­abil­i­dade div­ina nos episó­dios recentes deu-​se pela falta de tempo de Deus e pela gagueira de Moisés.

Quando Deus salvou os hebreus do cativeiro no Egito – os fazendo vagar por quarenta anos pelo deserto –, Moisés subiu no monte para rece­ber a con­sti­tu­ição do povo, que como disse, Deus só teve tempo de ditar os dez man­da­men­tos, mandando-​o se virar com o resto das leis.

Pois bem, naquela opor­tu­nidade, após pas­sar ditar a con­sti­tu­ição, Deus dirigiu-​se a Moisés e indagou: –– Ok, Moisés, já os tirei do cativeiro, já te ditei a con­sti­tu­ição, agora me diz ai para onde queres que mande o seu povo?.

Moisés começou: –– ca-​ca, ca-​ca…

Deus, sem tempo, foi no mais rápido: –– certo Moisés, todo mundo para Canaã.

E foi cuidar dos out­ros conflitos.

Na ver­dade Moisés que­ria dizer Canadá.

Por conta dessa falta de comu­ni­cação, dessa impaciên­cia div­ina temos esse con­flito todo.

Como os ami­gos devem saber, esse texto é uma crônica, não tomem ao “pé da letra” mas tem fundamento.

A atual guerra me fez recor­dar, tam­bém, a série de debates que travei com o saudoso amigo Wal­ter Rodrigues por conta das diver­sas “inti­madas” ocor­ri­das antes de sua morte. Todas elas, claro, nem de longe, tão vio­len­tas quanto a atual, o que per­mi­tia ao amigo dizer, entre a pil­héria e a pre­ocu­pação: –– Abdon, em todo o Ori­ente Médio não existe uma única pedra que ainda não tenha sido ati­rada uns con­tra os out­ros.

Saudosas e tristes memórias.

Abdon C. Mar­inho é advogado.

Palestina ≠ Hamas ≠ Israel.

Escrito por Abdon Mar­inho


PALESTINAHAMASISRAEL.

Por Abdon C. Marinho*.

NAS TRÊS PALAVRAS do título o essen­cial é o que se encon­tra entre elas, um sím­bolo matemático pouco usual e quase esque­cido pelos alunos do fun­da­men­tal: o sinal de difer­ente.

Talvez essa defi­ciên­cia no con­hec­i­mento dos sím­bo­los matemáti­cos ou mesmo gra­mat­i­cais faça com que sejamos obri­ga­dos a ouvir, a ler tan­tas sandices em torno de questões sérias e com­plexas.

Outro dia um senador da República, ex-​juiz, que rep­utava pos­suir con­hec­i­men­tos mesmo que de nível fun­da­men­tal, pos­tou uma charge que chamou de “per­feita”, onde, segundo ele, resumiu toda a situ­ação judaico-​palestina.

Soube depois que até deu uma entre­vista onde con­fir­mava su ignorân­cia sobre o tema histórico e até mesmo sobre dire­ito, assunto que imag­i­nava que con­hecesse.

O pre­ten­sioso se achou no dire­ito de resumir três mil anos de história em uma charge e em meia dúzias de palavras que nem de longe pas­sam perto da essên­cia do que se dev­e­ria dis­cu­tir no momento: a perda de vidas inocentes.

Essa ignorân­cia é bem própria dos nos­sos dias, o indi­ví­duo “escolhe” um lado e o “seu” lado pode fazer o que quiser, o que lhe der na “telha” sem pre­cisar se jus­ti­ficar ou dar qual­quer jus­ti­fica­tiva.

A mídia oci­den­tal assim como muita gente boa vem divul­gando a guerra entre Israel e o Hamas. Só que essa guerra não vem sendo travada con­tra o Hamas, mas sim con­tra o povo palestino que é difer­ente (≠) do Hamas.

O Hamas é um grupo ter­ror­ista que pos­sui cerca de vinte mil inte­grantes de diver­sas nacional­i­dades, não ape­nas palesti­nos, que tomou o poder – medi­ante eleições –, e com o apoio direto e indi­reto (inclu­sive finan­ceiro) de Israel que que­ria (e quer) enfraque­cer a Autori­dade Palestina e assim “enter­rar” o sonho de um Estado Palestino con­forme foi definido pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas — ONU, em 1947, através da Res­olução 158 (se não me falha a memória) que esta­b­ele­ceu que naquele ter­ritório dev­e­riam exi­s­tir dois países: Israel e Palestina.

Desde 1948, quando foi insta­l­ado o Estado de Israel que a região vive em con­stantes guer­ras e con­fli­tos. Sejam eles provo­ca­dos pelos palesti­nos, pelos países viz­in­hos, seja pelo próprio Estado de Israel, que a cada guerra aumenta seu ter­ritório em detri­mento dos povos palesti­nos, con­forme mostra clara­mente os mapas que ilus­tram esse texto.

Nesse clima de guerra con­stante vice­jam os gru­pos terroristas.

O Hamas é um desses gru­pos ter­ror­is­tas, repito, que foi “ban­cado” durante décadas por diver­sos países, inclu­sive por Israel (direta e indi­re­ta­mente para enfraque­cer a Autori­dade Palestina e o seu par­tido político no poder na Cisjordânia).

Esse grupo ter­ror­ista ata­cou Israel em 07 de out­ubro p.p., de forma covarde, infame, e todas out­ras adje­ti­vações exis­tentes, inclu­sive com o seque­stro de duas cen­te­nas de israe­lenses, mul­heres, idosos e até mesmo cri­anças.

No mesmo ataque ter­ror­ista esse grupo ter­ror­ista matou mais de mil cidadãos israe­lenses e alguns de out­ras nacional­i­dades, inclu­sive, brasileiros.

Pois bem, sendo Hamas um grupo ter­ror­ista, como é um con­senso quase global e Israel um estado nacional recon­hecido por quase todos países do mundo, sig­nifica dizer que Israel é difer­ente (≠) do Hamas, logo, como tal, não pode se valer dos méto­dos do Hamas, ou seja, do ter­ror­ismo para combatê-​lo.

É essa lóg­ica bem sim­ples, fun­da­men­tal até, que muitos pelos motivos mais canal­has fin­gem descon­hecer e a igno­rar.

O preço de ser recon­hecido como estado sober­ano, com todos os dire­itos esta­b­ele­ci­dos na carta das Nações Unidas é que você pre­cisa submeter-​se as leis do dire­ito inter­na­cional, sobre­tudo o dire­ito da guerra quando no exer­cí­cio da chamada “autode­fesa”.

Essa é a questão essen­cial. Ninguém diz que Israel não tem o dire­ito à autode­fesa que é uma pre­rrog­a­tiva das nações recon­heci­das esta­b­ele­cido na Carta da ONU, o que se diz é que esse dire­ito pre­cisa ser exer­cido den­tro da lei.

O Estado de Israel tem todo o dire­ito de ir atrás do grupo ter­ror­ista, mata-​los em con­fronto, prendê-​los, julgá-​los e condená-​los.

O que não pode fazer é usar do seu pode­rio mil­i­tar extra­or­di­nar­i­a­mente supe­rior para ater­rorizar e matar pes­soas que nada fiz­eram con­tra o Estado de Israel, impondo deslo­ca­men­tos força­dos, destru­indo casas, pri­vando as pes­soas de elet­ri­ci­dade, ali­men­tos e até água.

Essa estraté­gia de guerra viola todos trata­dos de guerra e por isso é crim­i­nosa.

É dizer, repito, um estado nacional por mais razão que tenha em qual­quer de suas pre­ten­sões não pode agir como um grupo ter­ror­ista, vem aí ele nova­mente: Israel ≠ Hamas.

Infe­liz­mente, desde que essa guerra começou, com a conivên­cia de muitas nações, de muitos “cidadãos de bem”, Israel vem agindo como se não fosse difer­ente do Hamas ou como se não tivesse respon­s­abil­i­dade como nação recon­hecida que é: Israel = Hamas.

A Faixa de Gaza, o enclave ou a prisão a céu aberto onde se encon­tram “con­fi­na­dos”, apri­sion­a­dos dois mil­hões e meio de palesti­nos, tem mais da metade de sua pop­u­lação con­sti­tuída por cri­anças e ado­les­centes com menos de 18 anos, uma outra parte for­mada por mul­heres e idosos.

É sobre essas pes­soas que pesa mais o braço forte de Israel. Nas fotografias de agên­cias inter­na­cionais vemos cri­anças com sem­blante apa­vo­rado, mul­heres em deses­pero fug­indo de um lado para outro e sem encon­trar segu­rança nen­huma onde quer que vão, com os poucos per­tences em saco­las e deixando para trás suas casas, seu patrimônio e o pouco que con­seguiram ameal­har.

A maio­ria dos que pere­ce­ram nessa guerra até aqui são cri­anças e mul­heres, assim como os feri­dos que estão sendo sub­meti­dos a pro­ced­i­men­tos cirúr­gi­cos à luz de lanter­nas e sem aneste­sia.

Isso sem con­tar a fome, a falta d’água, a escuridão.

Esse é o nível de sofri­mento a que está sendo sub­metida uma pop­u­lação inocente diante dos olhos do mundo e da cumpli­ci­dade de muitos.

Não entendo como isso possa ser chamado de dire­ito de autode­fesa.

Um dos princí­pios mais caros do dire­ito é aquele que diz que pena não pode pas­sar da pes­soa do con­de­nado.

A pop­u­lação de Gaza está sendo punida, ater­ror­izada, tor­tu­rada, sobre­tudo, mul­heres, cri­anças e idosos por crimes que não come­teram. Isso é ver­gonhoso.
A humanidade que assiste a tudo isso cal­ada e na maio­ria das vezes con­cor­dando dev­e­ria ter ver­gonha de se olhar no espelho.

Cri­anças, mul­heres, idosos, doentes, defi­cientes, etc., não podem ser mas­sacra­dos por crimes que não come­teram.

Um estado nacional, recon­hecido como tal, não pode utilizar-​se da estraté­gia do ter­ror­ismo para mino­rar os efeitos de suas próprias incom­petên­cias e estratégias.

Os bons cristãos daqui e do resto mundo dev­e­riam lem­brar da história de Ló, o sobrinho de Abraão. Pois con­sta do livro do Gêne­sis que Abraão inter­cedeu a Deus pela não destru­ição das cidades gêmeas de Sodoma e Gomorra, tendo Ele dito que não as destru­iria se den­tre seus habi­tantes encon­trasse os inocentes, o que não se deu deu – salvando-​se ape­nas Ló e as fil­has, já que mul­her dele olhara para trás e virara uma está­tua de sal.

Vê-​se, cristãos, que no atual con­flito em Gaza os inocentes pere­cem bem mais que os maus, o que viola o pacto sagrado. E vós sois sabedores disso.

Um outro princí­pio básico do dire­ito é que mel­hor um cul­pado solto do que um inocente preso (ou morto).

Ape­nas os infames acham que a perda de vidas humanas, de cri­anças inocentes, de mul­heres, enfer­mos e idosos são “efeitos colat­erais da guerra”.

Não são, ainda mais quando assis­ti­mos, todos os dias, todas as horas, que estes inocentes são os alvos da guerra porque essa não está escol­hendo alvos, os civis são as víti­mas, são os alvos.

Ao dar­mos razão a isso podemos dizer que Herodes estava certo quando, para evi­tar que Cristo se tor­nasse rei dos judeus, man­dou matar todas as cri­anças nasci­das naque­les tem­pos e que tivessem até dois anos de idade.

Encerro dizendo que sob qual­quer argu­mento, ético, moral, político, reli­gioso não é jus­ti­ficável o mas­sacre de inocentes.

Ao aceitar­mos e, até mesmo, jus­ti­fi­car­mos isso é porque esta­mos per­dendo o sen­tido de humanidade.

Esta­mos dizendo que Palestina = Hamas = Israel.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Por quem choram as mães?

Escrito por Abdon Mar­inho

(Foto AFP)

POR QUEM CHORAM AS MÃES?

Abdon C. Marinho*.

SEM­PRE que nos deparamos com tragé­dias humanas como as que vive­mos atual­mente em diver­sos can­tos do mundo uma ideia me vem à mente: como estão as mães? Por quem elas choram?

Faço isso diante de todos os con­fli­tos. As guer­ras na África; a guerra na Ucrâ­nia dev­ido a invasão russa; os con­fli­tos nas Améri­cas, a fome em todos os can­tos do plan­eta.

Há uma sem­ana, prati­ca­mente, desde que estourou mais esse con­flito con­flito entre o Hamas e o gov­erno israe­lense, essa é uma ideia que não me sai da cabeça.

Primeiro, o sofri­mento cau­sado às mães judias ante o ataque ter­ror­ista do Hamas que ceifou a vida de cen­te­nas de judeus e não judeus no dia 7 de out­ubro. Jovens, idosos, homens, mul­heres e até cri­anças que perderam a vida ou se encon­tram sequestradas, em condições indizíveis e sofrendo todo tipo de pri­vações, humil­hações e o risco per­ma­nente e imi­nente da morte.

Como estarão suas mães? Como aguen­tam tamanha provação?

Segundo, o sofri­mento cau­sado às mães palesti­nas ante a reação israe­lense.

O cerco à Faixa de Gaza há mais uma sem­ana cria situ­ações de vio­lên­cia e sofri­mento ímpares.

Esse tempo todo estão sem água potável, sem elet­ri­ci­dade, sem ali­men­tação, força­dos a se deslo­carem para o sul do ter­ritório, sem saber se voltam as suas casas e com bom­bas sendo ati­radas sobre suas cabeças, uma a cada dois min­u­tos, segundo os espe­cial­is­tas que se deram o tra­balho de con­tar.

Quão deses­per­adas não estão essas mães para pro­te­gerem seus fil­hos, para alimentá-​los, para curá-​los de suas enfer­mi­dades ou dos estil­haços das bom­bas ou mesmo o sofri­mento que pas­sam diante da morte que os ron­dam e está sem­pre presente?

Como essas mães refrig­eram seus corações diante do medo, do deses­pero, da angús­tia, da impotên­cia por nada poderem faz­erem por seus fil­hos?

Caberia alguma com­para­ção ou sime­tria entre os povos para saber quem sofre mais? Acred­ito que não.

Em maior ou menor pro­porção o sofri­mento é igual para as mães.

Talvez não o seja para os que ata­cam e para os que são ata­ca­dos, mas, para as mães, não.

Para elas o sofri­mento é o mesmo de Maria diante do martírio de Jesus Cristo. O sofri­mento de vê-​lo pade­cer sob Pilatos, de ser humil­hado, de car­regar a própria cruz ao monte do calvário e ser cru­ci­fi­cado.

Até porque, a ver­dadeira mãe sofre com a dor de outra mãe, mesmo que em cam­pos opos­tos.

São capazes de sen­tir o deses­pero que acomete a outra.

Pode­ria exam­i­nar essa etapa do con­flito judaico-​palestino de forma bem prática.

Dizer, de forma pro­to­co­lar, que o Estado de Israel tem total dire­ito de defender-​se mas, que mesmo o dire­ito à mais ampla defesa pos­sui lim­ites; que a própria guerra pos­sui lim­ites muito claros nas con­venções internacionais.

Pode­ria dizer que o direto que tem Israel de defender-​se dos ataques ter­ror­ista do Hamas não o exime de obser­var tais con­venções e a respeitar os dire­itos humanos das pop­u­lações civis alo­jadas na Faixa de Gaza, que no fundo é uma prisão a céu aberto, e que os países de todo o mundo são cúm­plices de toda desumanidade prat­i­cada con­tra o povo.

Pode­ria, ainda, chamar a atenção para o fato do gov­erno israe­lense não poder ou não ser aceitável que use o pre­texto dos ataques para con­fi­nar ainda mais o povo palestino, notada­mente aquele que vive na Faixa de Gaza.

Guerra nen­huma, em tem­pos mod­er­nos, pode ter esse caráter expan­sion­ista.

Por isso deve­mos repu­diar a invasão russa na Ucrâ­nia; por isso deve­mos protes­tar con­tra qual­quer ten­ta­tiva do gov­erno israe­lense de pre­tender um metro, sequer, de qual­quer ter­ritório, recon­hecido como palestino.

Uma coisa são as incursões para irem atrás do Hamas, lib­er­tar os reféns sub­traí­dos de seus famil­iares, outra coisa, bem difer­ente, é querer ou pre­tender acrescer qual­quer metro de terra da Faixa de Gaza ao seu ter­ritório.

Aliás, desde 1947, quando a ONU criou o Estado de Israel e a solução de dois esta­dos difer­entes em um mesmo espaço ter­ri­to­r­ial (divi­dido entre o Estado de Israel e Estado da Palestina) que per­manece insolúvel a questão da definição das fron­teiras entre eles.

Já passa da hora – e faz tempo –, da ONU e seus organ­is­mos pararem com a polit­icagem e se debruçarem sobre essa questão resolvendo-​a defin­i­ti­va­mente, com ambos os esta­dos respei­tando os ter­mos da res­olução que dividiu o ter­ritório entre eles.

Nesses anos todos, desde que “cri­aram” a solução de dois esta­dos que não resolvem a questão fron­teir­iça com o povo palestino con­fi­nado em dois ter­ritórios: Faixa de Gaza (maior den­si­dade pop­u­la­cional do mundo, com dois mil­hões de pes­soas no espaço de 365 km2) e a Cisjordâ­nia, com Israel, sem­pre que pode, trans­ferindo judeus para áreas recon­heci­das como palesti­nas.

Nada, repito, nada jus­ti­fica um ataque ter­ror­ista com os prat­i­ca­dos pelo Hamas, mas, por outro lado, a omis­são reit­er­ada dos organ­is­mos inter­na­cionais e mesmo de algu­mas nações em não protestarem ou faz­erem “vis­tas grossas” a uma questão pen­dente desde 1947, tem sido o com­bustível para incen­ti­var essa guerra e tan­tas out­ras que vieram antes.

Em 1947 resolveu-​se o prob­lema dos Judeus, mas­sacra­dos e espo­li­a­dos por todos os regimes autoritários do mundo, com a cri­ação do Estado de Israel, mas criou-​se um prob­lema para os povos que ocu­pavam aquele ter­ritório desde o iní­cio da Era cristã quando se deu a última grande diás­pora que durou 19 sécu­los, pois somente a par­tir 1948 o povo judeu pode se reunir nova­mente em mesmo ter­ritório.

Os con­fli­tos veem desde então.

Desde 1948 que não há con­vivên­cia pací­fica entre judeus e palesti­nos, com diver­sas guer­ras, con­fli­tos entre eles e o sofri­mento indizível dos povos, prin­ci­pal­mente, da pop­u­lação civil que em todas as guer­ras é quem mais sofre.

Muitas lágri­mas as mães destes povos ainda vert­erão até que os sen­hores das guer­ras dêem-​se por saci­a­dos com os seus lucros e os políti­cos tomem juízo.

Chorarão as mães pelos fil­hos que perderão nas guer­ras e pelos fil­hos que mor­rerão sem ter a chance de crescer; chorarão pelas pri­vações e pelas as angús­tias de cada dia.

Deus salve as mães de tan­tos sofri­men­tos.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.