AbdonMarinho - Palestina ≠ Hamas ≠ Israel.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Terça-​feira, 07 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Palestina ≠ Hamas ≠ Israel.


PALESTINAHAMASISRAEL.

Por Abdon C. Marinho*.

NAS TRÊS PALAVRAS do título o essen­cial é o que se encon­tra entre elas, um sím­bolo matemático pouco usual e quase esque­cido pelos alunos do fun­da­men­tal: o sinal de difer­ente.

Talvez essa defi­ciên­cia no con­hec­i­mento dos sím­bo­los matemáti­cos ou mesmo gra­mat­i­cais faça com que sejamos obri­ga­dos a ouvir, a ler tan­tas sandices em torno de questões sérias e com­plexas.

Outro dia um senador da República, ex-​juiz, que rep­utava pos­suir con­hec­i­men­tos mesmo que de nível fun­da­men­tal, pos­tou uma charge que chamou de “per­feita”, onde, segundo ele, resumiu toda a situ­ação judaico-​palestina.

Soube depois que até deu uma entre­vista onde con­fir­mava su ignorân­cia sobre o tema histórico e até mesmo sobre dire­ito, assunto que imag­i­nava que con­hecesse.

O pre­ten­sioso se achou no dire­ito de resumir três mil anos de história em uma charge e em meia dúzias de palavras que nem de longe pas­sam perto da essên­cia do que se dev­e­ria dis­cu­tir no momento: a perda de vidas inocentes.

Essa ignorân­cia é bem própria dos nos­sos dias, o indi­ví­duo “escolhe” um lado e o “seu” lado pode fazer o que quiser, o que lhe der na “telha” sem pre­cisar se jus­ti­ficar ou dar qual­quer jus­ti­fica­tiva.

A mídia oci­den­tal assim como muita gente boa vem divul­gando a guerra entre Israel e o Hamas. Só que essa guerra não vem sendo travada con­tra o Hamas, mas sim con­tra o povo palestino que é difer­ente (≠) do Hamas.

O Hamas é um grupo ter­ror­ista que pos­sui cerca de vinte mil inte­grantes de diver­sas nacional­i­dades, não ape­nas palesti­nos, que tomou o poder – medi­ante eleições –, e com o apoio direto e indi­reto (inclu­sive finan­ceiro) de Israel que que­ria (e quer) enfraque­cer a Autori­dade Palestina e assim “enter­rar” o sonho de um Estado Palestino con­forme foi definido pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas — ONU, em 1947, através da Res­olução 158 (se não me falha a memória) que esta­b­ele­ceu que naquele ter­ritório dev­e­riam exi­s­tir dois países: Israel e Palestina.

Desde 1948, quando foi insta­l­ado o Estado de Israel que a região vive em con­stantes guer­ras e con­fli­tos. Sejam eles provo­ca­dos pelos palesti­nos, pelos países viz­in­hos, seja pelo próprio Estado de Israel, que a cada guerra aumenta seu ter­ritório em detri­mento dos povos palesti­nos, con­forme mostra clara­mente os mapas que ilus­tram esse texto.

Nesse clima de guerra con­stante vice­jam os gru­pos terroristas.

O Hamas é um desses gru­pos ter­ror­is­tas, repito, que foi “ban­cado” durante décadas por diver­sos países, inclu­sive por Israel (direta e indi­re­ta­mente para enfraque­cer a Autori­dade Palestina e o seu par­tido político no poder na Cisjordânia).

Esse grupo ter­ror­ista ata­cou Israel em 07 de out­ubro p.p., de forma covarde, infame, e todas out­ras adje­ti­vações exis­tentes, inclu­sive com o seque­stro de duas cen­te­nas de israe­lenses, mul­heres, idosos e até mesmo cri­anças.

No mesmo ataque ter­ror­ista esse grupo ter­ror­ista matou mais de mil cidadãos israe­lenses e alguns de out­ras nacional­i­dades, inclu­sive, brasileiros.

Pois bem, sendo Hamas um grupo ter­ror­ista, como é um con­senso quase global e Israel um estado nacional recon­hecido por quase todos países do mundo, sig­nifica dizer que Israel é difer­ente (≠) do Hamas, logo, como tal, não pode se valer dos méto­dos do Hamas, ou seja, do ter­ror­ismo para combatê-​lo.

É essa lóg­ica bem sim­ples, fun­da­men­tal até, que muitos pelos motivos mais canal­has fin­gem descon­hecer e a igno­rar.

O preço de ser recon­hecido como estado sober­ano, com todos os dire­itos esta­b­ele­ci­dos na carta das Nações Unidas é que você pre­cisa submeter-​se as leis do dire­ito inter­na­cional, sobre­tudo o dire­ito da guerra quando no exer­cí­cio da chamada “autode­fesa”.

Essa é a questão essen­cial. Ninguém diz que Israel não tem o dire­ito à autode­fesa que é uma pre­rrog­a­tiva das nações recon­heci­das esta­b­ele­cido na Carta da ONU, o que se diz é que esse dire­ito pre­cisa ser exer­cido den­tro da lei.

O Estado de Israel tem todo o dire­ito de ir atrás do grupo ter­ror­ista, mata-​los em con­fronto, prendê-​los, julgá-​los e condená-​los.

O que não pode fazer é usar do seu pode­rio mil­i­tar extra­or­di­nar­i­a­mente supe­rior para ater­rorizar e matar pes­soas que nada fiz­eram con­tra o Estado de Israel, impondo deslo­ca­men­tos força­dos, destru­indo casas, pri­vando as pes­soas de elet­ri­ci­dade, ali­men­tos e até água.

Essa estraté­gia de guerra viola todos trata­dos de guerra e por isso é crim­i­nosa.

É dizer, repito, um estado nacional por mais razão que tenha em qual­quer de suas pre­ten­sões não pode agir como um grupo ter­ror­ista, vem aí ele nova­mente: Israel ≠ Hamas.

Infe­liz­mente, desde que essa guerra começou, com a conivên­cia de muitas nações, de muitos “cidadãos de bem”, Israel vem agindo como se não fosse difer­ente do Hamas ou como se não tivesse respon­s­abil­i­dade como nação recon­hecida que é: Israel = Hamas.

A Faixa de Gaza, o enclave ou a prisão a céu aberto onde se encon­tram “con­fi­na­dos”, apri­sion­a­dos dois mil­hões e meio de palesti­nos, tem mais da metade de sua pop­u­lação con­sti­tuída por cri­anças e ado­les­centes com menos de 18 anos, uma outra parte for­mada por mul­heres e idosos.

É sobre essas pes­soas que pesa mais o braço forte de Israel. Nas fotografias de agên­cias inter­na­cionais vemos cri­anças com sem­blante apa­vo­rado, mul­heres em deses­pero fug­indo de um lado para outro e sem encon­trar segu­rança nen­huma onde quer que vão, com os poucos per­tences em saco­las e deixando para trás suas casas, seu patrimônio e o pouco que con­seguiram ameal­har.

A maio­ria dos que pere­ce­ram nessa guerra até aqui são cri­anças e mul­heres, assim como os feri­dos que estão sendo sub­meti­dos a pro­ced­i­men­tos cirúr­gi­cos à luz de lanter­nas e sem aneste­sia.

Isso sem con­tar a fome, a falta d’água, a escuridão.

Esse é o nível de sofri­mento a que está sendo sub­metida uma pop­u­lação inocente diante dos olhos do mundo e da cumpli­ci­dade de muitos.

Não entendo como isso possa ser chamado de dire­ito de autode­fesa.

Um dos princí­pios mais caros do dire­ito é aquele que diz que pena não pode pas­sar da pes­soa do con­de­nado.

A pop­u­lação de Gaza está sendo punida, ater­ror­izada, tor­tu­rada, sobre­tudo, mul­heres, cri­anças e idosos por crimes que não come­teram. Isso é ver­gonhoso.
A humanidade que assiste a tudo isso cal­ada e na maio­ria das vezes con­cor­dando dev­e­ria ter ver­gonha de se olhar no espelho.

Cri­anças, mul­heres, idosos, doentes, defi­cientes, etc., não podem ser mas­sacra­dos por crimes que não come­teram.

Um estado nacional, recon­hecido como tal, não pode utilizar-​se da estraté­gia do ter­ror­ismo para mino­rar os efeitos de suas próprias incom­petên­cias e estratégias.

Os bons cristãos daqui e do resto mundo dev­e­riam lem­brar da história de Ló, o sobrinho de Abraão. Pois con­sta do livro do Gêne­sis que Abraão inter­cedeu a Deus pela não destru­ição das cidades gêmeas de Sodoma e Gomorra, tendo Ele dito que não as destru­iria se den­tre seus habi­tantes encon­trasse os inocentes, o que não se deu deu – salvando-​se ape­nas Ló e as fil­has, já que mul­her dele olhara para trás e virara uma está­tua de sal.

Vê-​se, cristãos, que no atual con­flito em Gaza os inocentes pere­cem bem mais que os maus, o que viola o pacto sagrado. E vós sois sabedores disso.

Um outro princí­pio básico do dire­ito é que mel­hor um cul­pado solto do que um inocente preso (ou morto).

Ape­nas os infames acham que a perda de vidas humanas, de cri­anças inocentes, de mul­heres, enfer­mos e idosos são “efeitos colat­erais da guerra”.

Não são, ainda mais quando assis­ti­mos, todos os dias, todas as horas, que estes inocentes são os alvos da guerra porque essa não está escol­hendo alvos, os civis são as víti­mas, são os alvos.

Ao dar­mos razão a isso podemos dizer que Herodes estava certo quando, para evi­tar que Cristo se tor­nasse rei dos judeus, man­dou matar todas as cri­anças nasci­das naque­les tem­pos e que tivessem até dois anos de idade.

Encerro dizendo que sob qual­quer argu­mento, ético, moral, político, reli­gioso não é jus­ti­ficável o mas­sacre de inocentes.

Ao aceitar­mos e, até mesmo, jus­ti­fi­car­mos isso é porque esta­mos per­dendo o sen­tido de humanidade.

Esta­mos dizendo que Palestina = Hamas = Israel.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.