AbdonMarinho - Vinculação de Dino ao crime organizado é absurda.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 12 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Vin­cu­lação de Dino ao crime orga­ni­zado é absurda.

Vincu­lação de Dino ao crime orga­ni­zado é absurda.

Por Abdon C. Marinho*.

O AMIGO Nedil­son Bar­bosa Coelho, político lá de Cedral e meu amigo de uma vida, esteve no escritório e me abor­dou:

— Abdon, viste esses “memes” de Flávio Dino com o crime organizado?

Respondi-​lhe com a ver­dade:

— Não, não vi.

— Ah, tem um monte, não “falam de outra coisa”, tem uma infinidade de mon­ta­gens, memes, etc.

Como já sabem os mais próx­i­mos, rara­mente par­ticipo de debates de gru­pos e as ocu­pações diárias não me per­mitem acom­pan­har as pub­li­cações, e se me man­dam, não sendo pes­soas bem con­heci­das não abro. Muitas vezes nem mesmo dessas me dou o tra­balho de olhar.

Essa minha “ojer­iza” a abrir áudios, vídeos, memes, já até me ren­deu um “meme” próprio: aquele da pes­soa que não sabe o que está acon­te­cendo porque não abre as men­sagens que lhe man­dam.

Em relação a esse episó­dio tão comen­tado, imag­ino que foi o que acon­te­ceu.

Acho que bem poucos cidadãos, políti­cos adver­sários ou ali­a­dos, jor­nal­is­tas alin­hados ou de oposição apon­taram os acer­tos e, prin­ci­pal­mente, os desac­er­tos do gov­erno Flávio Dino (2015÷2022) quanto eu.

Qual­quer um que dig­ite seu nome no meu site encon­trará uma “enx­ur­rada” de tex­tos a grande maio­ria com críti­cas ao seu gov­erno e ao seu estilo de governar.

Como, sem­pre que posso, evito citar os nomes próprios – acho que deve­mos falar de fatos, não de pes­soas –, a quan­ti­dade de tex­tos com refer­ên­cias aos desac­er­tos gov­er­na­men­tais são ainda mais abun­dantes e diversos.

Quem apos­tava numa “rev­olução” gov­er­na­men­tal que tirasse o Maran­hão do atraso como eu, só gan­hou decepção.

Ainda no dia da eleição de 2014 fiz uma carta-​aberta ao can­didato mostrando pon­tos que dev­e­riam ser obje­tos de pre­ocu­pação e por onde dev­e­ria começar para fazer um gov­erno efe­ti­va­mente difer­ente – o nosso balu­arte da imprensa, o Jor­nal Pequeno, pub­li­cou a missiva.

Ainda antes da posse mais um tex­tão dizendo que a eleição dele se devia ao desejo de mudança do povo, de alternân­cia ao antigo régime e que ele dev­e­ria implan­tar as mudanças de ime­di­ato, isso foi no texto “recado ao Dino: mate o galo na primeira noite”.

Por ocasião falei-​lhe que todo aquele povo ali na praça alguns chorando era por acred­i­tar em um Maran­hão difer­ente e que aque­las eram lágri­mas de esper­ança.

Ape­sar de todos meus comen­tários e con­sel­hos serem igno­ra­dos, con­tin­uei pon­tuando o que achava inad­e­quado, o fato de não se cer­car de bons con­sel­heiros, preferindo o con­sór­cio de devo­tos e adu­ladores; do desprezo à exper­iên­cia e visão de Zé Reinaldo, que o trouxe para a política; o fato de ir deixando quem o aju­dou pelo caminho.

Em momen­tos dis­tin­tos escrevi dois tex­tos refletindo a solidão do gov­er­nante: “o menino só” e “ami­gos pelo caminho”.

Reclamei da perseguição pes­soal e insti­tu­cional aos jor­nal­is­tas e blogueiros; da uti­liza­ção do poder estatal con­tra adversários.

E não foram poucos os tex­tos mostrando que o estado não cam­in­hava para o futuro son­hado e dese­jado pelo povo. Falei sobre o acordo com grupo Sar­ney pon­tuando que enter­rara os cinquenta anos de atraso e sobre a junção política de ambos no união que não ousava o nome.

Se não me falha a memória, a última análise que fiz do gov­erno do sen­hor Dino, às vésperas ou logo depois de sua saída foi no texto “O fra­casso da ger­ação Pira­pora”, uma análise do fra­casso da nossa ger­ação à frente do gov­erno depois te tan­tos anos crit­i­cando o “antigo régime” e legando indi­cadores ainda piores e fes­te­jando as reit­er­adas inau­gu­rações de restau­rantes pop­u­lares quando o seu sig­nifi­cado é sem­pre o oposto do que deseja para um estado desen­volvido.

Pois bem, faço essas breves digressões para dizer que são com­ple­ta­mente absur­das essas ten­ta­ti­vas de vin­cu­lação do atual min­istro ao crime orga­ni­zado.

É dizer, me parece tão deli­rante esse tipo de pauta que a minha impressão é que trata de uma cortina de fumaça colo­cada pela própria vítima para desviar a atenção de alguma coisa.

O cin­ema já explorou o tema algu­mas vezes.

Fun­ciona assim: você faz uma “lam­bança” inde­fen­sável, não tem como defender e aí, para desviar a atenção daquilo que é real, você insu­fla uma falsa acusação de algo bem mais grave, com­plexo, muitas vezes com con­teúdo sex­ual, etc… E o que acon­tece? As pes­soas acabam “per­dendo tempo” com a falsa acusação ao invés de ir atrás do fato real para o qual não tem des­cul­pas.

Após o alerta de Nedil­son, fui ver­i­ficar min­has caixas de men­sagens ou mesmo de gru­pos e vi que nos últi­mos dias me chegaram infini­tas matérias de blogues obscuros e até da imprensa séria com esse tipo de infor­mação, que o min­istro da justiça estaria “vin­cu­lado”, em “con­chavo” com o crime organizado.

O “pule de dez” para o delírio cole­tivo final teria sido o fato de uma sen­hora, esposa de um traf­i­cante con­de­nado e preso – e ela tam­bém con­de­nada, mas recor­rendo em liber­dade –, ter se “infil­trado” numa comis­são qual­quer do Ama­zonas e ter ido tratar de pau­tas den­tro do Min­istério da Justiça.

O fato gan­hou tanta reper­cussão e explo­ração política que todos os canais de tele­visão, blogues, canais de inter­net divul­garam e tornaram o rosto da apel­i­dada “dama do trá­fico” um dos mais con­heci­dos da mídia – talvez ela passé a ser uma “influencer”.

E, tam­bém, por conta disso, o min­istro virou “ali­ado” de alguma das facções crim­i­nosas que infes­tam o país.

A situ­ação é tão “inusi­tada” que o pres­i­dente, gov­er­nador, dep­uta­dos e tan­tos out­ros políti­cos, chegaram a se “sol­i­darizar” com o min­istro com dire­ito a divul­gação na mídia.

Ora, o absurdo de tal vin­cu­lação é tão desproposi­tado que não caberia as autori­dades ou quem quer que seja hipote­car sol­i­dariedade ao min­istro.

Muito menos que ele fosse agrade­cer.

A única coisa razoável a se fazer seria igno­rar a “não” notí­cia.

Pelo que percebo, grande parte das “não notí­cias” têm par­tido de redes “vin­cu­ladas” ao bol­sonar­ismo – pelo menos me chegaram em maior pro­porção as vin­das deste segui­mento.

Por outro, lado sou infor­mado que os “cole­gas” de dis­puta pela cobiçada vaga de min­istro do STF (que juraram amizade eterna) tam­bém estariam por trás da patranha – ou pelo menos ten­tado tirar uma “casquinha” da história.

O “hábito” do min­istro de ter se colo­cado – desde a cam­panha eleitoral de 2022 e, prin­ci­pal­mente, depois de insta­l­ado o novo/​velho gov­erno petista –, na condição de ser mais real­ista que o rei fez com que atraísse con­tra si todos os ódios dos adver­sários e todos os ciúmes “dos ali­a­dos”, que pas­saram a ter nele o inimigo a ser batido.

Com isso, repetem uma velha manchete de um antigo jor­nal por­tuguês que dizia: “Dire­ita e esquerda do mesmo lado”. No caso, do mesmo lado, con­tra o min­istro pos­tu­lante a vaga no STF.

No pre­sente episó­dio, entre­tanto, parece-​me que erraram o ponto ou se enga­naram no excesso, de tal sorte que a ilação, a notí­cia, os ares de escân­dalo, de tão absur­dos, mais aju­dam do que atra­pal­ham o sen­hor Dino.

O con­sór­cio lulo-​bolsonarista, dire­ita e esquerda, do mesmo lado, escan­dal­izam uma acusação boba, sem pé nem cabeça ao invés de, se fosse o caso, apontarem fal­has reais, insuces­sos con­cre­tos, etc., do min­istro.

Ninguém sério acred­ita nessa bobagem de que o min­istro da justiça tem vin­cu­lação com o crime orga­ni­zado.

Trata-​se de uma pes­soa que desde muito cedo leva uma vida “pública” – mesmo antes disso exi­s­tir –, mil­itân­cia política, tem desde os tem­pos da cam­panha pelas “Dire­tas Já”, quando tinha de treze para qua­torze anos.

Eu mesmo o con­heço desde essa época, quando ele estu­dava no Maris­tas e eu chegava no Liceu Maran­hense, em mea­dos dos anos oitenta.

Já se vão quase quarenta anos e nunca se ouviu ou se teve notí­cias de qual­quer coisa do tipo.

Ao meu sen­tir, trata-​se de algo tão absurdo que se tivesse sido plane­jado por ele para colo­car dire­ita e esquerda tra­bal­hando a seu favor não teria saído tão per­feito.

Essa total “falta de absurdo”, como dizia um político com quem tra­bal­hei anos atrás, acabam por aju­dar as pre­ten­sões do min­istro – na ver­dade as segun­das pre­ten­sões, já que a primeira seria a presidên­cia.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.