AbdonMarinho - Politica
Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Sábado, 02 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


UMA ELEIÇÃO FEDERALIZADA.

Por Abdon Marinho.

A ANÁLISE POLÍTICA não é contra ou a favor de ninguém. 

Se ela se porta em benefício de um ou contrária a outro não se trata de análise, mas, sim, de uma peça publicitária ou de propaganda. 

A análise, também, não é um exercício de adivinhação ou de achismo. 

Se o indivíduo, sem qualquer base, diz alguma coisa, o que disse pode ser um desejo, uma vontade, ou uma sugestão do que gostaria que acontecesse, mas, não uma análise política. 

Como uma grande parcela dos jornalistas e/ou blogueiros do estado (e do país) encontra-se vinculada aos candidatos ou mesmo às pautas políticas desta ou daquela corrente, dificilmente encontramos no que lemos no dia a dia análises políticas, mas, sim, opiniões – que até podemos achá-las pertinentes –, ou, na maior parte das vezes, sugestões de pautas para os políticos incautos ou mesmo para a população. 

O verdadeiro analista (ou quem merece assim ser chamado), indiferente ao que gostaria que fosse e aos seus interesses e convicções pessoais, examina os fatos e faz sua projeção para o futuro. 

Pode errar, pode ser que não possua informações suficientes, pode ser que o quadro político dê uma quinada.

São muitas as razões para que uma análise política deixe de acontecer e elas independem da vontade de quem as projetou. 

Situação diversa é daquela em que uma opinião, indução ou sugestão não se confirmou. 

Pois bem, faço essa introdução pra dizer que o atual quadro político no nosso estado já havia sido projetado em nossos textos há cerca de um ano. Para verificar basta fazer uma singela pesquisa. 

Já em maio do ano passado – e até mesmo antes –, assentava que o candidato do grupo governista seria o vice-governador e que os demais candidatos seriam colocados no espectro político do bolsonarismo. 

Em pelo menos três ou quatro textos de meados do ano passado digo exatamente isso. 

Faço tal registro apenas para dizer que uma multidão de pessoas que escreve para jornais e/ou blogues ou sites continua a não fazer análises políticas, mas a expressar o que gostaria que acontecesse.

O exemplo mais claro assisti na última semana ao acompanhar alguns grupos de aplicativos e mesmo blogues e sites de notícias a respeito do anúncio da decisão de um deputado federal e do seu grupo a cerca de quem iriam apoiar nas eleições deste ano. 

Ficaram em clima de expectativa, como se fica em final de Copa do Mundo, e trataram como “novidade” a decisão anunciada. 

Fiquei pasmo ao perceber que mesmo políticos de “alto escalão” deu tratamento de novidade a um fato por mim anunciado há mais de um ano. 

Fiquei com sensação de que não leram o que havia escrito ou, que, na verdade, tanto políticos quando os cidadãos comuns, passando por alguns formadores de opinião, gostam de acreditar naquilo que lhes “faz bem” ou que de alguma forma atenda aos seus interesses e convicções pessoais, ainda que isso desafie a verdade e a lógica. 

Vamos aos fatos?

Leio que em muitos estados da federação os políticos tentam a todo custo “fugir” do ambiente de polarização política que toma de conta do país. 

No Maranhão, como sabemos, dar-se o oposto. A política estadual foi “capturada” pela polarização entre o bolsonarismo e o lulismo. 

Desde a campanha de 2018 que o ex-governador do estado e o atual presidente da República vêm construindo uma relação de ódio plenamente correspondida. 

Ambos eleitos, o ódio mútuo foi se consolidando com o ex-governador sempre que teve oportunidade – e ainda hoje –, fustigando o presidente e seu governo e sendo respondido e/ou atacado na mesma moeda. 

Este “culto” ao ódio é perfeitamente perceptível entre os próprios – presidente e ex-governador –,  e entre os seguidores de ambos. 

Logo, conhecendo o presidente e o seu entorno e mesmo o bolsonarismo,  de uma forma geral, não é de duvidar – e os fatos eliminam quaisquer dúvidas –, que têm interesse e trabalharão, “sem tomar chegada”, contra a eleição do ex-governador. 

Imaginar que haveria espaço político para o partido do presidente da República apoiar uma chapa tendo o ex-governador como líder – ainda que não o apoiassem –, me parece ingenuidade ou tolice.

Acredito que, mesmo que o presidente do partido local resolvesse “comprar” a briga para apoiar o atual governador, candidato a reeleição, não conseguiria, pois, tomariam o partido dele. 

Considerando que a discussão deu-se apenas entre o apoio a dois candidatos e um já carregava o óbice de ser o candidato do “inimigo público número um” do bolsonarismo, a opção óbvia seria, como foi, a outra candidatura. 

Ainda assim, para “carimbar o apoio” do partido do presidente o candidato oposicionista ao governo teve que “pagar uma prenda”, que foi declarar publicamente – diferente do que vinha fazendo até então –, que não mais apoiaria a candidatura ao Senado do ex-governador, agora ex-aliado desde sempre. 

A declaração pública foi a “senha” para conseguir o apoio do partido do presidente e do grupo político a partir das articulações feitas na capital da República. 

A análise política não admite juízo de valor sobre os fatos, apenas que os coloquemos com  clareza. 

É isso que procuramos fazer, inclusive, com a omissão deliberada dos personagens. Poderia ser qualquer um. 

Os candidatos, cada um no seu quadrado, poderiam ser Pedrinho, Joãozinho e Huguinho, que não mudaria em nada os fatos postos. 

Imagino também tratar-se de uma “estratégia” para enganar-se a si e aos incautos, que, em uma eleição tão polarizada quanto a atual, com possibilidade de ser decidida no primeiro turno, exista espaço para uma “frente ampla”, com uma candidatura ao governo “abrindo” palanque para diversas candidaturas presidenciais.

Não existe isso.

Ainda que o Maranhão represente muito pouco do ponto de vista do número de eleitores, como dito anteriormente, em nenhum outro estado existe tanto ódio entre dois candidatos quanto o ódio religiosamente cultivado entre o presidente da República e o ex-governador, bem como, entre o bolsonarismo e o lulismo.

Não estranharia se o próprio presidente viesse ao estado ou gravasse vídeos  não apenas pedido votos para o “seu” candidato a senador, mas, sobretudo, pedindo aos seus seguidores que não votem no seu “desafeto” de jeito nenhum. 

Diante disso, não me parece lógico imaginar que o candidato do PT aceite subir no palanque pedetista/liberal, assim como, que o PL, partido do presidente e que deverá ter a candidatura a vice na chapa ou ainda que não seja, o maior destaque da candidatura, aceite esse tipo de “arranjo” ou que o ex-governador, alvo do ódio recíproco do bolsonarismo concorde “de boa” que isso venha acontecer – que o candidato da coligação PT/PSB, suba em tal palanque. 

Digo com pesar, que a política brasileira chegou a um nível de acirramento tal, que as posições de bolsonaristas e lulistas são inconciliáveis. Mesmo nos seios das famílias já não os convidam para os mesmos eventos, pois a confusão é quase certa. 

Se me disserem que bolsonaristas e lulistas estarão no mesmo palanque, muito embora na política maranhense, segundo lição de Vitorino Freire, “até boi avoe”, custarei a acreditar. 

O que me parece factível que ocorra, ainda dentro do já havia afirmado desde o ano passado, é que todas as forças bolsonaristas – as de raiz e as de ocasião –, estarão unidas contra a eleição do ex-governador ao Senado – e este será o maior desafio –, unindo-se no apoio a uma candidatura ao governo no segundo turno, se, diferente do que imaginam, não tiverem duas candidaturas bolsonaristas naquela disputa. 

Já o consórcio governista, imagino que trabalhará com muito mais afinco para colocar o carimbo de bolsonaristas nos opositores no intento de capitalizarem para as suas candidaturas o apoio do lulismo – ainda muito forte no estado. 

O ex-governador e candidato ao Senado, como idealizador ou, no mínimo, impulsionador de tal “estratégia” precisará de todo “jogo de cintura” e, principalmente, utilizar-se de todo prestígio que possuir para “federalizar” ainda mais a disputa, não apenas a seu favor, mas, principalmente, em favor do seu candidato ao governo. 

Faltando quatro meses para as eleições e faltando poucas definições, as peças estão prontas para serem mexidas no tabuleiro da política. 

Vamos ao jogo. 

Abdon Marinho é advogado.