POLÍTICA COM SOLIDARIEDADE.
Por Abdon Marinho,
COMO SABEM, sou sertanejo. Mais que isso, tive uma educação sertaneja.
No sertão – pelo menos era assim –, aprendemos que se deve respeitar os mais velhos. Sim, o respeito é devido não apenas aos idosos, mas aos mais velhos que a gente.
Aprendi, também, a manter uma postura de proteção àqueles que, por alguma razão estão impedidos ou são frágeis, ainda que momentaneamente, em relação a nós, como crianças, idosos, deficientes ou enfermos.
Por conta desta educação “sertaneja”, aprendida com os pais e com os mais antigos da comunidade, estranhei e continuo a estranhar o tratamento dispensado pelos políticos locais – e não apenas os que lhe fazem oposição –, mídia e puxa-sacos de toda espécie ao atual governador e candidato à reeleição, Carlos Brandão, PSB.
Imaginem que desde que o governador ausentou-se do estado para tratamento de saúde – que suponho ser sério, uma vez que pela lógica alguém recém-empossado em um governo de estado e com uma reeleição renhida pela frente, precisando colocar sua marca de governo, não sai do cargo para tratar uma unha encravada ou retirar uns pés de galinha do rosto –, lhe tratam com tanto desrespeito e falta de empatia que incomoda, não apenas aos que, como eu, tiveram uma educação sertaneja, mas a todos que se considerem cidadãos “de bem” ou que tragam algum sentimento de cristandade e solidariedade.
É bem verdade que todo período eleitoral é tempo de “vaca desconhecer bezerro”, mas, vamos convir, os ataques sofridos pelo atual mandatário estadual – a começar pela forma como se referem a ele –, além de grosseiros desconhecem limites entre o razoável e o desejo perverso de retirar o outro, por qualquer forma, do caminho.
Muito embora e em uma situação absolutamente diferente, uma vez que se tratava de um presidente eleito, quando da doença de Tancredo Neves – que culminou com o seu passamento –, havia um sentimento de comoção, respeito e torcida para que tudo acabasse bem. Os mais velhos acompanharam aquele calvário e devem lembrar.
Na atual quadra política no Maranhão, repito, não vemos qualquer empatia ou solidariedade, seja pelo governador, seja por seus familiares ou amigos – que sofrem junto com ele.
É como se o interesse eleitoral de “fazer” o candidato de cada um vitorioso se sobrepusesse acima de tudo e de todos e de quaisquer sentimentos.
O governador, entre a posse e o afastamento, deve ter ficado pouco mais de um mês no cargo e, assim mesmo, já sentindo os achaques da enfermidade.
Diante disso, penso que nem teve tempo de formar completamente a equipe de governo e mesmo que tenha formado, com ela não teve tempo suficiente de traçar um plano de trabalho e de ação – pois a saúde vem em primeiro lugar, a vida vem em primeiro lugar.
A despeito disso, o tratamento recebido de quase todos tem sido o mais duro possível – mesmo no período de internação –, atribuindo-lhe a responsabilidade por todos os desacertos e malfeitos governamentais que já vêm de anos.
As estradas esburacadas? Culpa do atual governador. O ferry-boat não está atendendo a contento? Culpa do atual governador. O Maranhão aparece como o estado mais miserável da federação? Culpa do atual governador.
Ora, vice na Roma dos césares, a responsabilidade do atual governador é a mesma dos demais que apoiaram o governo anterior – e dele se beneficiou –, desde a sua instalação.
Aliás, diante da crise no transporte através do ferry-boat, das estradas esburacadas ou dos indicadores sociais africanos, dizia a um amigo, em data recente: —olha, todas as críticas que se faz à situação do Maranhão são devidas. O problema não são as críticas. O problema que vislumbro é que a maioria das críticas partem de pessoas que não possuem qualquer legitimidade para fazê-las, pois estiveram no governo – e até ainda estão mesmo que por interpostas pessoas –, desde o seu início, em 2015, e acharam mais cômodo calar-se e usufruir das benesses enquanto se mostravam indiferentes ao sofrimento do povo. Estes mesmos críticos, caso a escolha do grupo governista tivesse recaído sobre eles ou os seus, estariam na defesa do governo e não apontando desacertos para os quais estiveram “cegos” por sete anos e meio. Em resumo, as críticas podem e até são legítimas, os críticos, não.
Mas, retornando ao calvário do atual governador, sinto que os seus adversários, diretamente ou através dos costumeiros xerimbabos, ao demonstrarem tão pouca empatia e falta de solidariedade por alguém enfermo, têm “errado a mão” ou a população não tem se deixado levar pela insidiosa campanha.
Vejam que as pesquisas de opinião pública sobre as eleições vindouras, mesmo com o governador “amarrado” a um leito de hospital por mais de trinta dias e sofrendo todo tipo de especulação sobre sua saúde, insinuações sobre uma saída da disputa e até da vida, não revelam um prejuízo significativo em votos e apoios. Acredito até que tenha deixado de ganhar alguns pontos, mas não perdeu os que já tinha.
Mesmo a pesquisa Exata, que o apresenta em ligeira desvantagem, não é “exatamente” benéfica aos seus adversários, caso se considere o atual contexto.
Enquanto o atual governador encontra-se hospitalizado, repito, “amarrado” a um leito, com suas pernas amarradas em dois ferry-boat e na sua conta sendo debitados a secular miséria maranhense, os seus adversários estão percorrendo o estado em campanha eleitoral aberta, fazendo acordos e recebendo apoios de diversas lideranças – muito embora a legislação só permita a campanha a partir de meados de agosto.
Ainda assim, não existe, até aqui, “um prejuízo” significativo à campanha do atual governador, muito embora se diga há quase um mês que ele não será o candidato, que o candidato a vice vai ou já assumiu a candidatura.
Se com todos estes “perrengues”, embora não tenha subido, não perdeu pontos, significa que os seus adversários já estejam bem próximo do teto que poderão atingir, ainda mais se consideramos que já estão em campanha há tanto tempo, alguns, há mais de quatro anos.
É bem verdade que governo tem um poder de atração quase irresistível, mas mesmo com todas especulações sobre a saúde do governador e até mesmo, certa torcida perversa, para que o pior aconteça, não se assiste a um clima de “fim de festa” nos Leões, como assistimos nos meses que antecederam ao pleito de 2014, muito embora, naquela época, a atual governadora estivesse em palácio e gozando de perfeita saúde.
Outro fato a ser considerado é que o ex-governador e candidato ao Senado, aparece com uma aceitação quase igual à soma dos dois candidatos ao governo que estão à frente nas pesquisas e que são originários do seu grupo.
Tal fato, leva-nos a acreditar que os mesmos ainda dividam o mesmo “espólio eleitoral” restando saber se haverá migração de votos para o candidato que o ex-governador apontar como “legítimo herdeiro” do grupo ou se segurão divididos apesar dos projetos antagônicos que passaram a representar.
Especialmente sobre as pesquisas na mesa trataremos em um texto específico.
De mais a mais, a mídia já anunciou a alta médica do governador, que esperamos, como cristãos solidários que somos, que volte logo e plenamente reestabelecido para cumprir a sua missão de governar o estado e enfrentar as batalhas que escolheu enfrentar.
À todos um apelo: a política precisa de solidariedade. Se o cidadão não consegue ser solidário ao sofrimento do seu próximo, jamais será capaz de entender as dores e o sofrimento dos demais cidadãos.
Mais solidariedade é o que precisamos.
Abdon Marinho é advogado.