A ARROGÂNCIA DERROTADA.
Por Abdon Marinho.
APENAS na noite de domingo, 29/11, tomaremos conhecimento de quem será o novo prefeito da capital, responsável por conduzir os destino da cidade pelos próximos quatro anos.
Será bem antes, acredito, dos americanos saberem quem será o presidente que assumirá o comando dos EUA, a partir de 20 de janeiro de 2021, eleito no pleito terminado em 3 de novembro último – essa informação é apenas para “tirar sarro” da cara dos gringos. Rsrsrs.
Embora não saibamos que será o vencedor, em que pese haver uma tendência em favor do candidato Braide, certamente, já sabemos que o grande derrotado é o governador do estado, senhor Flávio Dino, pois ainda que consiga reverter o quadro e eleger o seu candidato Duarte, revelando a sutileza de um rinoceronte numa loja de cristais, estraçalhou a sua base “aliada” e mostrou que não é o líder que se vendia.
O TSE ainda não encerrara a totalização da capital e sua excelência, sem consultar ninguém, sem falar com um presidente de partido, já anunciava o nome do seu ungido. Melhor dizendo, o ungido do governo.
No dia seguinte, segundo dizem, fez espalhar que a partir daquele momento aquele que não seguisse com o seu candidato seria considerado “inimigo do governo”. Não sei se é verdade. Parece-me uma demasia mesmo para os padrões autoritários dos regimes totalitários ocultos além da Cortina de Ferro, de triste memória.
O certo é que vi diversos integrantes do governo – os fãs do governador –, externando-se fiéis ao senhor Dino e fazendo juras de “amor eterno” ao novo candidato.
Todos passando “por cima” de certos princípios, inclusive, do fato de que o candidato fez campanha enquanto contaminado pelo vírus da covid-19, colocando em risco a vida de dezenas de pessoas.
Isso parece não ter qualquer relevância para o governador e mesmo para as suas autoridades de saúde.
Alguns, mais realistas que o rei, até já iniciaram uma espécie de “caça aos infiéis”, como se fazia antigamente com as bruxas. Tendo, até mesmo, secretário que “ameaçou” os que não marchassem unidos, com o fogo do inferno de Dante. Mas, acredito que tenha sido apenas por “força de expressão”.
Ocorre que fora estes fãs, a quem, se o governador pedisse para deixar de respirar por meia hora, morreriam, mas cumpririam a determinação, o que se viu foi que ninguém mais – falo dos políticos com expressão –, deu “bola”, para a escolha do governador e/ou para as ameaças veladas ou explícitas de um ou outro xerimbabo.
Tanto assim que durante a semana foram se declarando neutros ou que emprestariam apoio ao candidato “inimigo”.
No Maranhão evoluímos tanto que os adversários políticos voltaram ao status de inimigos.
Faltando pouco mais de dois anos para o término do mandado, o governador do estado, como se diz nos Estados Unidos dos presidentes em fim de mandato, vira uma espécie de “pato manco” precoce.
Se brincar vão começar a servir o cafezinho dele frio.
Se o governador do estado imaginava que bastava ele declarar o seu apoio e todas as demais forças políticas que “gravitam” em torno dos Leões iriam aceitar sem qualquer “senão”, curte um certo dissabor.
Basta dizer que a escolha do governador não encontrou aceitação nem mesmo entre as lideranças do seu próprio partido.
Aliás, boa parte da semana – após a declaração de apoio do governador ao seu candidato –, a sociedade ludovicense “gastou” comentando a “humilhação” a que fora submetido o candidato do partido governador, deputado Rubens Júnior, que tendo sido ofendido na sua honra e da sua família, quedou-se e engoliu o “amor próprio” para apoiar o ofensor.
O mais que ouvi foram comentários sobre a humilhação do ex-candidato, mais, até, que o fato do candidato ter ido para segundo turno.
Ao levar a disputa da eleição da capital para dentro do palácio – segundo denúncias, literalmente –, o governador se diminui politicamente, pois não consegue sustentação entre seus principais aliados e faz a eleição, que poderia ser tranquila, virar um “vale-tudo” para qual só a vitória interessa.
Se a derrota vier, ela não será mais do candidato, será a derrota do governador. Já a vitória será do candidato, do vice-governador, do deputado federal Maranhãozinho, sim, dele também.
Sem contar que, com a vitória ou com derrota, a antecipação do pleito de 2022, já está feita e ele, o governador, sem qualquer possibilidade de influir no destino da sucessão e dependendo dos outros para uma eventual disputa para o Senado ou aventuras mais perigosas, fragiliza este arco de apoios.
Ao decidir entrar “de cabeça” na eleição do seu ex-aluno e ex-auxiliar, sem conversar, previamente, com ninguém, deixou de considerar algumas variáveis.
A primeira, que o candidato que passou para o segundo turno – e deve se elogiar a tenacidade por haver conseguido tal feito –, digamos, que não é a pessoa mais querida entre seus pares. Desde que entrou na Assembleia Legislativa, logo no primeiro dia, disse que lá era ele é mais 41 deputados. A frase, se não me falha a memória foi: “eu cheguei”. Depois foram as reiteradas notícias de plágios e apropriação de projetos de leis alheios, e tantas outras polêmicas desnecessárias, frutos da imaturidade.
A segunda, que candidato durante o pleito, indiferente ao fato de que poderia ir para o segundo turno e que precisaria de aliados, foi para cima de “todo mundo” com “a faca nos dentes”, como se não precisasse de ninguém ou confiando que depois todos viriam pelo “beiço”, em obediência ao governador.
A terceira, que embora poder e espaço político “quanto mais melhor”, hoje os deputados, principalmente, os federais, com o volume de verbas oriundo de emendas parlamentares, precisam muito pouco do governo estadual, que, aliás, consolidou a fama de ser como “terra de cemitério”.
A quarta, é o interesse, políticos como Weverton Rocha e Othelino Neto, além de diversos deputados federais, sabem que na prefeitura governada por Duarte Júnior, quem “darão as cartas” serão o deputado Maranhãozinho e o vice-governador Carlos Brandão, dois que querem justamente o que os dois primeiros almejam.
Para este políticos, ainda que não contem com a prefeitura a “seu favor”, bem melhor que ela não esteja, literalmente, contra.
Daí saberem não ser do interesse de ambos a eleição do protegido do governador. Trata-se de cálculo político.
A quinta e última variável – ao menos que estou lembrando –, é que a liderança do governador é “emprestada”, vale dizer, depende de outros líderes.
Não conheço ninguém, prefeitos, deputados, vereadores, lideranças, que tenham apreço por sua excelência, a imagem que têm dele é a pior possível, o estilo professoral e arrogante desestimula qualquer aproximação.
Longe das câmeras e dos ouvidos indiscretos, dizem horrores. Se o toleram é pela força dos Leões.
Lá na frente, já sem essa força, o atual governador é que vai precisar deles.
Quem parece ter uma leitura melhor do quadro político é o atual prefeito, Edivaldo Holanda Júnior.
Muito embora tenha feito quase que dois mandatos “pífios”, agora, na reta final, parece ter “acordado para Jesus”, para encerrar o mandado com diversas obras feitas ou andamento, deu a sorte de conseguir que as obras de revitalização ocorresse no seu mandato, o que por si é algo extraordinário, bem avaliado pelos eleitores e “na boa” com a classe política, por não ter se envolvido na disputa pela sucessão.
Achou que ninguém sabe nem em quem votou.
É verdade que ele sempre teve uma avaliação melhor que da sua gestão, com as pessoas ainda que críticas do seu governo, preservando sua imagem pessoal, tanto assim, que nem mesmo os escândalos ou notícias de corrupção, chegaram perto de arranhar sua imagem.
Já o governador do estado, ao trazer a disputa para o campo pessoal, trabalhando, inclusive para torná-la nacional, tentando dizer que a disputa é entre o candidato dele e o candidato de Bolsonaro – muito embora seja o seu candidato o filiado ao partido do filhos de presidente e que o presidente apoiou foram os candidatos deste partido em vários estados –, pode até ganhar, é bem possível que ganhe, pois como dizia meu pai “governo é governo”, mas, mesmo vitória, não o fará vitorioso.
Se vier a vitória, será uma vitória de Pirro, sem qualquer mérito, com o abusos diversos, que já estão sendo denunciados diariamente, um retorno à velha política dos tempos dos coronéis – e para os fins que já tratamos acima.
Não existe mérito no que vem acontecendo na atual quadra política, muito pelo contrário.
Abdon Marinho é advogado.