Eleições 2022:
UMA TERCEIRA VIA É VIÁVEL NO BRASIL?
Por Abdon Marinho.
HÁ quatro anos e sem estar respondendo a tal indagação, disse sim. Sustentei não ser da natureza do povo brasileiro adotar o extremismos político e que acabaria por eleger alguma pessoa mais ao centro no espectro político.
Como sabemos, errei feio. A sociedade caminhou para os extremos, com muitos, no segundo turno, tendo que escolher entre os dois candidatos ou deixando de votar – como foi o meu caso.
Para 2022 o cenário que se descortina, ao meu sentir, é praticamente o mesmo: em que pese os dois candidatos galvanizarem sólido apoio em torno de si, são rejeitados pela maioria do povo brasileiro.
A despeito de tudo que faz (ou deixa de fazer) o atual presidente tem apoio de quase trinta por cento do eleitorado. Destes, algo em torno de vinte por cento, mesmo que o veja “chutando velhinhas” nas praças do país votarão nele sem qualquer sombra de dúvida.
Acham que o presidente não tem nada a ver com o meio milhão de vidas perdidas numa pandemia em em que ele fez tudo ao contrário do que fizerem os outros países que tiveram algum êxito; que não tem nada a ver com derretimento das instituições; que não tem nada a ver com a ameaça de golpes que volta e meia ameaça o país, etcetera, etcetera.
Contra o atual presidente, entretanto, conforme apontam diversas pesquisas, pesa uma rejeição que já se aproxima dos sessenta por cento, com mais de cinquenta, até aqui consolidados.
A situação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva não é muito distante da situação do atual presidente: possui apoio “fechado” também girando na casa dos trinta por cento e, até aqui, ganhando “folgado” no confronto entre eles.
Contra o ex-presidente, entretanto, pesa o histórico de corrupção dos seus governos e da sua sucessora, o desconforto de uma parcela significativa da população brasileira em devolver ao comando do país o “estilo” petista de governar.
Ambos, Bolsonaro e Lula ou Lula e Bolsonaro – de tão parecidos não sei quem vem primeiro –, sabem, grosso modo, que são rejeitados pela grande maioria do povo brasileiro, por algo em torno de setenta por cento.
Apesar disso tanto um quanto o outro, indiferentes à repulsa da maioria do povo, trabalham para se enfrentarem nas urnas. Outro dia, inclusive, o senhor Bolsonaro chegou a dizer: – não estão satisfeitos, votem no Lula.
A cantilena de ambos os lados é mesma: consolidar a ideia de que só existem eles dois no Brasil. Como se estivéssemos entre o céu e o inferno, sendo que cada um se acha dono das chaves de São Pedro.
É como se o nosso país estivesse condenado a esse tipo de escolha: entre a desgraça e a danação eterna.
Conforme é perceptível, a consolidação “extremista”, em ambos os lados, pode alcançar trinta por cento do eleitorado o que daria uma “avenida” de quarenta por cento do eleitorado “livre” para seguir por uma terceira via.
O problema é que, a exemplo do que ocorreu nas eleições de 2018, esses “por baixo”, quarenta por cento do eleitorado, estão divididos em diversos seguimentos, o que inviabiliza o sucesso da empreitada.
Essa é a aposta de lulistas e bolsonaristas.
Quer dizer, sem um candidato capaz de superar o atual presidente ou o ex-presidente para uma vaga para o segundo turno, continuaremos a ter que optar entre um dos dois projetos postos que a maioria dos cidadãos de bem já perceberam não servem para o Brasil.
Tanto isso é verdade que os puxa-sacos de um ou outro lado não falam nos méritos dos seus candidatos ou dos seus governos, mas sim, na comparação entre ambos.
Noutras palavras, temos dois projetos políticos desgastados, dois candidatos horrorosos que, entretanto, as outras forças políticas são incapazes de superar.
Aí surge a pergunta: uma terceira via é viável?
A minha opinião é que eleitoralmente ela é viável, existem eleitores, muitos eleitores que repudiam o que vem ocorrendo no Brasil.
Entretanto, para que terceira via se torne viável é necessário que os políticos, seus representantes que dizem representar tal seguimento, cheguem a um consenso e escolham uma candidatura única do “grupo”.
Alguém com representatividade e respeitabilidade suficientes para derrotar no primeiro turno um dos dois principais candidatos: o atual e o ex-presidente.
O desafio eleitoral da terceira via não é ganhar as eleições. Isso é fácil. A vitória, mesmo, será ir para o segundo turno.
Vi com otimismo a retirada da candidatura do senhor Amoêdo, do Partido Novo, acho que foi o primeiro a compreender que um centro fracionado só interessa aos dois projetos políticos extremos que precisam ser derrotados – para o bem país.
Acredito que se os demais postulantes entenderem com clareza o que entendeu o pré-candidato do Partido Novo, a terceira via terá êxito.
Outra coisa que precisa ser compreendida é que os projetos políticos individuais – que acho legítimos –, de chegarem à presidência da República, não avançarão um milímetro se não forem capazes de, nestas eleições, abrirem mãos dos mesmos em torno de uma única candidatura capaz de derrotar o bolsonarismo ou o lulismo no primeiro turno e o que sobrar no segundo turno.
Acho que a sociedade brasileira – a maioria que já percebeu não haver futuro nesta dicotomia obscurantista –, precisa cobrar dos políticos de centro que se unam em torno de uma candidatura competitiva para essa terceira via, para, com a vitória no pleito de 2022, possam ter uma chance de se apresentarem para a sociedade a partir de 2026.
A derrota da democracia brasileira tem sido causada por essa profusão de candidatos ditos de “centro”.
Como não conseguem derrotar os extremos acabam levando o país ao que assistimos na era petistas e ao que assistimos hoje.
Como dizia um antigo professor de matemática: os números não mentem. Se temos trinta de um lado, trinta de outro, os quarentas só terão sucesso em derrotá-los não se fracionando.
Muito embora a margem “de manobra”, seja estreita, é possível e é viável uma terceira via ganhar as eleições do ano que vem, bastando para isso que as pessoas e os políticos comprometidos com isso deixem de olhar para o próprio umbigo e para os próprios interesses e entendam que é a hora de adiarem os sonhos e pensarem no Brasil.
Abdon Marinho é advogado.