AbdonMarinho - Eleições 2022: Uma terceira via é viável no Brasil?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Eleições 2022: Uma ter­ceira via é viável no Brasil?


Eleições 2022:

UMA TER­CEIRA VIA É VIÁVEL NO BRASIL?

Por Abdon Mar­inho.

qua­tro anos e sem estar respon­dendo a tal inda­gação, disse sim. Sus­ten­tei não ser da natureza do povo brasileiro ado­tar o extrem­is­mos político e que acabaria por eleger alguma pes­soa mais ao cen­tro no espec­tro político.

Como sabe­mos, errei feio. A sociedade cam­in­hou para os extremos, com muitos, no segundo turno, tendo que escol­her entre os dois can­didatos ou deixando de votar – como foi o meu caso.

Para 2022 o cenário que se descortina, ao meu sen­tir, é prati­ca­mente o mesmo: em que pese os dois can­didatos gal­va­nizarem sólido apoio em torno de si, são rejeita­dos pela maio­ria do povo brasileiro.

A despeito de tudo que faz (ou deixa de fazer) o atual pres­i­dente tem apoio de quase trinta por cento do eleitorado. Destes, algo em torno de vinte por cento, mesmo que o veja “chutando vel­hin­has” nas praças do país votarão nele sem qual­quer som­bra de dúvida.

Acham que o pres­i­dente não tem nada a ver com o meio mil­hão de vidas per­di­das numa pan­demia em em que ele fez tudo ao con­trário do que fiz­erem os out­ros países que tiveram algum êxito; que não tem nada a ver com der­re­ti­mento das insti­tu­ições; que não tem nada a ver com a ameaça de golpes que volta e meia ameaça o país, etcetera, etcetera.

Con­tra o atual pres­i­dente, entre­tanto, con­forme apon­tam diver­sas pesquisas, pesa uma rejeição que já se aprox­ima dos sessenta por cento, com mais de cinquenta, até aqui con­sol­i­da­dos.

A situ­ação do ex-​presidente Luís Iná­cio Lula da Silva não é muito dis­tante da situ­ação do atual pres­i­dente: pos­sui apoio “fechado” tam­bém girando na casa dos trinta por cento e, até aqui, gan­hando “fol­gado” no con­fronto entre eles.

Con­tra o ex-​presidente, entre­tanto, pesa o histórico de cor­rupção dos seus gov­er­nos e da sua suces­sora, o descon­forto de uma parcela sig­ni­fica­tiva da pop­u­lação brasileira em devolver ao comando do país o “estilo” petista de governar.

Ambos, Bol­sonaro e Lula ou Lula e Bol­sonaro – de tão pare­ci­dos não sei quem vem primeiro –, sabem, grosso modo, que são rejeita­dos pela grande maio­ria do povo brasileiro, por algo em torno de setenta por cento.

Ape­sar disso tanto um quanto o outro, indifer­entes à repulsa da maio­ria do povo, tra­bal­ham para se enfrentarem nas urnas. Outro dia, inclu­sive, o sen­hor Bol­sonaro chegou a dizer: – não estão sat­is­feitos, votem no Lula.

A can­tilena de ambos os lados é mesma: con­sol­i­dar a ideia de que só exis­tem eles dois no Brasil. Como se estivésse­mos entre o céu e o inferno, sendo que cada um se acha dono das chaves de São Pedro.

É como se o nosso país estivesse con­de­nado a esse tipo de escolha: entre a des­graça e a danação eterna.

Con­forme é per­cep­tível, a con­sol­i­dação “extrem­ista”, em ambos os lados, pode alcançar trinta por cento do eleitorado o que daria uma “avenida” de quarenta por cento do eleitorado “livre” para seguir por uma ter­ceira via.

O prob­lema é que, a exem­plo do que ocor­reu nas eleições de 2018, esses “por baixo”, quarenta por cento do eleitorado, estão divi­di­dos em diver­sos segui­men­tos, o que invi­a­bi­liza o sucesso da empre­itada.

Essa é a aposta de lulis­tas e bolsonaristas.

Quer dizer, sem um can­didato capaz de superar o atual pres­i­dente ou o ex-​presidente para uma vaga para o segundo turno, con­tin­uare­mos a ter que optar entre um dos dois pro­je­tos pos­tos que a maio­ria dos cidadãos de bem já perce­beram não servem para o Brasil.

Tanto isso é ver­dade que os puxa-​sacos de um ou outro lado não falam nos méri­tos dos seus can­didatos ou dos seus gov­er­nos, mas sim, na com­para­ção entre ambos.

Noutras palavras, temos dois pro­je­tos políti­cos des­gas­ta­dos, dois can­didatos hor­ro­rosos que, entre­tanto, as out­ras forças políti­cas são inca­pazes de superar.

Aí surge a per­gunta: uma ter­ceira via é viável?

A minha opinião é que eleitoral­mente ela é viável, exis­tem eleitores, muitos eleitores que repu­diam o que vem ocor­rendo no Brasil.

Entre­tanto, para que ter­ceira via se torne viável é necessário que os políti­cos, seus rep­re­sen­tantes que dizem rep­re­sen­tar tal segui­mento, cheguem a um con­senso e escol­ham uma can­di­datura única do “grupo”.

Alguém com rep­re­sen­ta­tivi­dade e respeitabil­i­dade sufi­cientes para der­ro­tar no primeiro turno um dos dois prin­ci­pais can­didatos: o atual e o ex-​presidente.

O desafio eleitoral da ter­ceira via não é gan­har as eleições. Isso é fácil. A vitória, mesmo, será ir para o segundo turno.

Vi com otimismo a reti­rada da can­di­datura do sen­hor Amoêdo, do Par­tido Novo, acho que foi o primeiro a com­preen­der que um cen­tro fra­cionado só inter­essa aos dois pro­je­tos políti­cos extremos que pre­cisam ser der­ro­ta­dos – para o bem país.

Acred­ito que se os demais pos­tu­lantes enten­derem com clareza o que enten­deu o pré-​candidato do Par­tido Novo, a ter­ceira via terá êxito.

Outra coisa que pre­cisa ser com­preen­dida é que os pro­je­tos políti­cos indi­vid­u­ais – que acho legí­ti­mos –, de chegarem à presidên­cia da República, não avançarão um milímetro se não forem capazes de, nes­tas eleições, abrirem mãos dos mes­mos em torno de uma única can­di­datura capaz de der­ro­tar o bol­sonar­ismo ou o lulismo no primeiro turno e o que sobrar no segundo turno.

Acho que a sociedade brasileira – a maio­ria que já perce­beu não haver futuro nesta dico­to­mia obscu­ran­tista –, pre­cisa cobrar dos políti­cos de cen­tro que se unam em torno de uma can­di­datura com­pet­i­tiva para essa ter­ceira via, para, com a vitória no pleito de 2022, pos­sam ter uma chance de se apre­sentarem para a sociedade a par­tir de 2026.

A der­rota da democ­ra­cia brasileira tem sido cau­sada por essa pro­fusão de can­didatos ditos de “centro”.

Como não con­seguem der­ro­tar os extremos acabam levando o país ao que assis­ti­mos na era petis­tas e ao que assis­ti­mos hoje.

Como dizia um antigo pro­fes­sor de matemática: os números não mentem. Se temos trinta de um lado, trinta de outro, os quarentas só terão sucesso em derrotá-​los não se fra­cio­nando.

Muito emb­ora a margem “de manobra”, seja estre­ita, é pos­sível e é viável uma ter­ceira via gan­har as eleições do ano que vem, bas­tando para isso que as pes­soas e os políti­cos com­pro­meti­dos com isso deixem de olhar para o próprio umbigo e para os próprios inter­esses e enten­dam que é a hora de adi­arem os son­hos e pen­sarem no Brasil.

Abdon Mar­inho é advo­gado.