AbdonMarinho - Pede pra sair, Queiroga!
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Pede pra sair, Queiroga!

PEDE PRA SAIR, QUEIROGA!

Por Abdon Marinho.

PARECE que estou ficando velho. Sou de um tempo em que as pes­soas cul­ti­vavam o amor próprio, o autor­re­speito, zelo pelo bom nome.

Ainda lem­bro do meu saudoso pai dizendo que o maior patrimônio de um homem era o seu nome. Dizia tam­bém que “quem muito se abaixa o fundo aparece”.

Ape­sar de ouvir tais coisas há, no máx­imo, trinta ou quarenta anos, pare­cem saí­das de filmes ou séries de época, tal a dis­tân­cia em relação aos dias atu­ais.

Vejo cidadãos para quem tais coisas mas pare­cer refle­tir um com­por­ta­mento de abobados.

Vejo pes­soas, que todos sabem ladrões portarem-​se como se fos­sem os pal­adi­nos da moral­i­dade. Querem enga­nar a quem? Será que não sabe­mos que fiz­eram for­tuna des­viando os recur­sos públi­cos, matando pes­soas nas filas dos hos­pi­tais, negando o con­hec­i­mento e o futuro de cri­anças, negando ali­men­tos a uma mul­ti­dão de famintos?

Como se fôsse­mos tan­sos, exibem-​nos suas for­tu­nas con­quis­tadas às cus­tas do suor e das lágri­mas de mil­hões de brasileiros.

Out­ros, escrav­iza­dos pelo chamado sta­tus ou pela fama dos car­gos, pouco ligam para o amor próprio, pelo zelo do nome e acabam por perder o respeito dos demais e o próprio autor­re­speito.

Vejam o caso do “ainda” min­istro da saúde, Marcelo Queiroga.

Na sua página na inter­net, o Min­istério da Saúde, apre­senta o tit­u­lar da pasta, no que inter­essa, da seguinte forma:

Médico car­di­ol­o­gista, Marcelo Queiroga foi pres­i­dente da Sociedade Brasileira de Hemod­inâmica e Car­di­olo­gia Inter­ven­cionista (SBHCI), sendo mem­bro per­ma­nente do seu Con­selho Con­sul­tivo. Inte­gra, desde os anos 90, o Con­selho Regional de Med­i­c­ina do Estado da Paraíba na qual­i­dade de Con­sel­heiro Tit­u­lar, tendo ocu­pado a dire­to­ria por duas ocasiões. No Con­selho Fed­eral de Med­i­c­ina, foi mem­bro da Comis­são de Avali­ação de Novos Pro­ced­i­men­tos em Med­i­c­ina, por 4 anos. Atual­mente, pre­side a Sociedade Brasileira de Car­di­olo­gia (SBC).Natural de João Pes­soa (PB), Queiroga é for­mado em Med­i­c­ina pela Uni­ver­si­dade Fed­eral da Paraíba (1988)”.

Muito emb­ora não seja um cur­rículo de grande vulto, dele sequer pre­cis­aria se lhe sobrasse zelo pelo bom nome, o amor próprio e o autor­re­speito.

Imag­ine que você – seja que profis­são tenha –, seja con­tratado para fazer um tra­balho e o seu con­tratante não se ocu­passe de outra coisa que não fosse sab­o­tar a sua mis­são, fazer jus­ta­mente o oposto do que você, o profis­sional con­tratado, recomenda.

O que você faria?

Imag­ine que você, empre­stando seu nome a uma mis­são fosse tratado com desre­speito ou menosprezo.

O que você faria?

Para as duas per­gun­tas, se você tem um pouco de pudor – a velha e desu­sada ver­gonha na cara –, o que lhe resta é agrade­cer e pedir para sair. Pode fazer usando qual­quer des­culpa, inclu­sive, igno­rando os reais motivos.

Pois bem, após a desastrada gestão do gen­eral Pazuello frente ao Min­istério da Saúde, o sen­hor Queiroga assumiu a pasta com a mis­são de emprestar seu nome, sua téc­nica e conduzir-​nos nesta que é a maior crise san­itária de todos os tem­pos.

Disse que iria se guiar pela ciên­cia respei­tando os pro­to­co­los já usa­dos e que ren­deram resul­ta­dos nos out­ros países.

Talvez envaide­cido pelo prestí­gio do cargo de min­istro de estado, o sen­hor Queiroga tenha esque­cido de com­bi­nar com o chefe, o sen­hor Bol­sonaro e, por isso, se tiver ver­gonha, deve pas­sar sofri­dos constragimentos.

Desde que assumiu o “chefe” não passa um dia sem desafiar as regras pre­conizadas pelo Min­istério da Saúde como essen­ci­ais para o com­bate à pan­demia. Dia sim e no outro tam­bém pro­move desnecessários even­tos com aglom­er­ações; tem ojer­iza ao uso de más­caras e, nem a título de exem­plo e para inspi­rar os seguidores, con­segue usá-​las – no Brasil pois no estrangeiro usa –, sem con­tar que não cessa de pre­scr­ever medica­men­tos para a COVID já descar­ta­dos pela ciên­cia e pelo resto do mundo há mais de ano.

Como se todo o con­hec­i­mento cien­tí­fico do mundo estivesse errado e só ele certo, não cessa no absurdo.

E o que faz o min­istro da saúde que prom­e­teu se guiar pela ciên­cia? Nada.

Como des­culpa diz não ser cen­sor do presidente.

Que o trata­mento à base de medica­men­tos recu­sa­dos pelo mundo cien­tí­fico per­manece no site do Min­istério da Saúde, por seu con­teúdo “histórico”.

Ora, se nem o empre­gador está dis­posto a seguir a recomen­dação do seu min­istro, o que faz ele no cargo?

Não fica con­strangido ao pedir para a pat­uleia ado­tar um com­por­ta­mento que nem o seu empre­gador e, em tese, prin­ci­pal inter­es­sado no êxito do serviço, adota?

Não sente con­strang­i­mento por con­vi­dar alguém para um cargo do Min­istério e a pes­soa não ser nomeada por falar a lín­gua da ciên­cia que jurou seguir?

Pior, ter que man­ter uma equipe que passa longe dos pos­tu­la­dos cien­tí­fi­cos.

A falta de enver­gadura moral – pois se tivesse, já teria entregue o cargo há muito tempo –, faz com que o seu chefe aumente o nível de humil­hação pública.

A última – mas não a der­radeira –, foi referir-​se ao min­istro de estado do seu gov­erno como “um tal de Queiroga”.

Neste caso, a humil­hação sig­nifica a desmor­al­iza­ção do próprio gov­erno e do seu pres­i­dente. Eu, pres­i­dente, não nomearia um “tal de coisa alguma” para o meu governo.

Um médico, pres­i­dente disso ou daquilo, ex-​dirigente de enti­dade assim ou assada, aceitar o trata­mento de “um tal de Queiroga”!?

O min­istro, fazendo jus ao que disse meu pai, já tendo se abaix­ado tanto, talvez não tenha achado nada demais na forma desre­speitosa como foi tratado pelo presidente/​chefe. Tivesse ver­gonha na cara teria cobrado respeito.

Mas o desre­speito – que a muitos soaria como insulto –, veio acom­pan­hada de uma “ordem” das mais exdrúx­u­las – para o momento.

O pres­i­dente da República do país em que estão mor­rendo quase duas mil pes­soas por dia pela pan­demia, com a soma total se aprox­i­mando de meio mil­hão de vidas per­di­das e onde a vaci­nação agora que alcançou 11% (onze por cento) com duas doses, disse que recomen­dara ao “tal Queiroga” que ulti­masse um pare­cer visando a dis­pensa do uso de más­caras pelas pes­soas já infec­tadas e/​ou que já ten­ham sido imu­nizadas.

Desnecessário dizer que não existe qual­quer amparo cien­tí­fico ou lógico para a “ordem” trans­mi­tida para o “tal Queiroga”. Tanto assim que a comu­nidade cien­tí­fica, não ape­nas do Brasil, mas do mundo, reagiu com estu­pe­fação à ideia de sua excelência.

O “tal Queiroga”, entre­tanto, além de não fin­gir indig­nação, con­fir­mou o pare­cer, ape­nas ressal­vando que seria um estudo para o “futuro”.

Diante da reação de autori­dades e cien­tis­tas, o próprio pres­i­dente ensaiou uma meia-​volta, no dia seguinte disse que essa “recomen­dação” depen­de­ria de aceite de gov­er­nadores e prefeitos já que ele, pres­i­dente, “não api­taria nada nessa questão”.

Ape­sar de todas essas humil­hações públi­cas e até desre­speito, o tal Queiroga – agora sem aspas –, parece que ainda não se deu por achado ou que a sua col­una pode vergar-​se ainda mais.

Con­hecesse o sen­tido da palavra brio já teria pedido o “boné”.

Pede para sair, Queiroga!

Abdon Mar­inho é advogado.