AbdonMarinho - Maranhão 2022: Dino se movimenta e incomoda muita gente.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Maran­hão 2022: Dino se movi­menta e inco­moda muita gente.

MARAN­HÃO 2022:

DINO SE MOVI­MENTA E INCO­MODA MUITA GENTE.

Por Abdon Mar­inho.

QUASE tão pre­visíveis e esper­adas quanto a subida e a descida das marés na baía de São Mar­cos, o gov­er­nador Flávio Dino anun­ciou sua saída do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB e, em seguida, anun­ciou que requer­era fil­i­ação ao Par­tido Social­ista Brasileiro — PSB.

Tais acon­tec­i­men­tos, pre­vis­tos para acon­te­cer há muito tempo – eu mesmo, já em 2013, dizia tratar-​se de um equívoco a can­di­datura majoritária pelo par­tido comu­nista –, não mere­ce­ria um texto se não fosse o “estran­hamento” que essa “mex­ida” parece ter cau­sado nos adver­sários e, tam­bém, nos ali­a­dos do agora ex-​comunista.

Sobre as reações, ressal­vadas as raras opiniões isen­tas, o que vimos foi cada um anal­isando o fato a par­tir de sua con­veniên­cia e inter­esse próprio e/​ou da facção política que está pagando.

Nas próx­i­mas lin­has tentare­mos descorti­nar o que se encon­tra por trás desta “mex­ida” política do governador.

Ini­cial­mente cumpre esclare­cer que o sen­hor Dino não teria nen­huma neces­si­dade de sair do PCdoB se o seu inter­esse fosse ape­nas um mandato de senador da República.

Os maran­henses votaram nele inúmeras vezes sem ligar para esse falso viés ide­ológico, o que sig­nifica dizer que o seu pro­jeto não cor­ria risco.

Aliás, arrisco dizer que no Maran­hão tem mais comu­nista rico do que em Pequim, China.

A mudança para o PSB ocorre porque sua excelên­cia ainda aca­lenta o sonho de ser o can­didato a vice-​presidente na chapa do ex-​presidente Lula, o que seria inviável caso per­manecesse no PCdoB.

Muito emb­ora o ex-​presidente busque, na ver­dade, alguém “de dire­ita” para com­por a chapa, ter como com­pan­heiro de chapa alguém do PSB – que é um par­tido de centro-​esquerda, e do nordeste, bom de mídia e que se vende a um preço bem supe­rior ao que efe­ti­va­mente vale –, não é descar­tado.

Essa, ao nosso sen­tir, a primeira moti­vação para a mudança par­tidária do gov­er­nador.

Aqui abro um parên­tese para dizer que o PCdoB – se é que não foi tudo com­bi­nado –, não tem motivos para se sen­tir “enganado” ou traído pelo ex-​filiado.

Caso se tire a “prova dos noves”, é muito provável que a “relação” Dino/​PCdoB tenha sido bem mais “lucra­tiva” ao segundo, que, exceto aos par­tidos que deram sus­ten­tação ao sarneísmo, é o par­tido com mais tempo de poder no Maran­hão, se con­tar­mos os anos que inte­grou o gov­erno Roseana Sarney/​José Reinaldo, Jack­son Lago e, com Dino – chega ser quase uma oligarquia.

A segunda moti­vação do sen­hor Dino ao pedir guar­ida aos social­is­tas é empurrar a can­di­datura do senador Wev­er­ton Rocha (PDT) para a dire­ita bolsonarista.

Não sei se por erro de estraté­gia ou mesmo incom­petên­cia política, os par­tidos do cen­trão que se lam­buzam com polpu­das ver­bas públi­cas para apoiar o gov­erno do sen­hor Bol­sonaro já declararam que estão “fecha­dos” com o senador pede­tista para o gov­erno.

Logo, não é sem razão, até pelos out­ros motivos que já trata­mos no texto sobre a República de Planaltina, que o can­didato público ou oculto do sen­hor Bol­sonaro no Maran­hão será o senador do PDT.

Favorece ainda mais tal per­cepção o fato do PDT comungar com uma das pau­tas mais caras ao bol­sonar­ismo no momento: a questão do voto impresso.

O sen­hor Dino sabe que o seu adver­sário na política local é o senador pede­tista, ao fazer essas “mex­i­das” ele quer delim­i­tar o seu campo de atu­ação. Ou seja, o terá como adver­sário, mas vinculando-​o ao pro­jeto político do atual pres­i­dente da República.

Não sem razão lá atrás já havia recomen­dado aos ali­a­dos mais próx­i­mos que deix­as­sem os par­tidos vin­cu­la­dos ao pres­i­dente da República no estado.

Ao sen­tar praça no PSB o sen­hor Dino – que não foi para o par­tido sem garan­tias –, retirou do palanque pede­tista um par­tido que já estava na conta dos “garan­ti­dos”.

Como disse em outro texto, o sen­hor Dino fugiu do “prato-​feito” do senador pede­tista, que que­ria ser “ungido” como uma espé­cie de can­didato único em um leque de alianças englobando do PCdoB ao DEM.

Dino refu­gou, des­mar­cou diver­sas reuniões com os chama­dos par­tidos da chamada base e fez o seu próprio jogo.

Primeiro artic­u­lou junto com o vice-​governador, Car­los Brandão, a retomada do PSDB.

Jogou muito bem, nova­mente, quando colo­cou um dos prin­ci­pais “golden boys” no Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, no caso, o Camarão.

Difer­ente do que um ou outro petista pen­sou (ou pensa) o crustáceo, não rep­re­senta qual­quer ameaça a eleição de algum petista à Câmara dos Dep­uta­dos, pelo con­trário, ele pode aju­dar a eleger mais de um dep­utado fed­eral pela legenda.

Essa é uma das hipóte­ses, a outra é que o crustáceo tenha sido colo­cado no PT com o propósito de vir a com­por com o PSDB para o gov­erno estad­ual.

Noutras palavras, menos um par­tido no palanque pede­tista.

No jogo político gestos con­tam mais do que muitas ações.

Se Dino artic­ula uma aliança PSDB/​PT, até pela sim­bolo­gia que isso sig­nifica no cenário nacional, se cre­den­cia como “grande” artic­u­lador político a ponto de pleit­ear o Jaburu.

Até para diminuir a rejeição que tem, o PT vai querer essa fotografia.

Um pal­pite – repito, ape­nas um pal­pite –, é que o sen­hor Dino sonha com a seguinte chapa: Lula, do PT (pres­i­dente), ele, Dino do PSB (vice-​presidente), Brandão, do PSDB (gov­er­nador), Camarão, do PT (vice-​governador) e para provar que é mesmo um artic­u­lador “por­reta” chama Roseana, do MDB para ser a can­di­data ao Senado Fed­eral, claro se con­tar com a sim­pa­tia e apoio do ex-​presidente Sar­ney advo­gando seu pleito no MDB e junto ao ex-​presidente Lula.

Não dando certo a artic­u­lação para o Jaburu, será can­didato a senador, como já programado.

Claro que posso está com­ple­ta­mente errado, mas é assim que, no momento, estou vendo o cenário estad­ual.

Dando certo o plano de Dino, ao senador Wev­er­ton restará articular-​se, caso queira pleit­ear o gov­erno estad­ual – e já ouvi de quase uma dúzia de pes­soas que não será, muito emb­ora ninguém decline os motivos –, com os par­tidos e os políti­cos vin­cu­la­dos ao pres­i­dente da República, se com­pondo, além dos par­tidos que já lhe declararam apoio, com políti­cos como o senador Roberto Rocha, que pre­cisa de um palanque forte para dis­putar a reeleição para o Senado Fed­eral con­tra Dino ou Roseana (no caso das artic­u­lações do ex-​comunista darem certo).

Caso seja mais que um boato a não can­di­datura do senador pede­tista, não o vejo se recom­pondo com o gov­er­nador Flávio Dino, sendo mais provável que apoie outra força política, sendo pre­maturo espec­u­lar sobre quem seria.

Como disse em tex­tos ante­ri­ores, o quadro político no Maran­hão ainda se encon­tra bas­tante embar­al­hado e só agora começa a desanu­viar com essas movi­men­tações do gov­er­nador Dino, que até então jogava parado.

Com as últi­mas artic­u­lações do gov­er­nador, nem mesmo o fato de, suposta­mente, o PDT haver colo­cado a can­di­datura de Ciro Gomes na mesa de nego­ci­ações com o PT, o fará retro­ceder no pro­jeto de con­duzir a sua sucessão.

Foi esse, dig­amos, “ativismo” que inco­modou bas­tante a classe política local.

Uns dire­ta­mente, out­ros através de asses­sores de imprensa, vesti­dos de jor­nal­is­tas, já não pedem licença para enx­er­gar os defeitos do gov­er­nador que antes fin­giam não exi­s­tir.

Sobre as out­ras can­di­dat­uras que se dizem postas ainda é pre­cip­i­tado falar,

Esta sem­ana, tomei con­hec­i­mento que o secretário de Indús­tria e Comér­cio, Sim­p­li­cio Araújo, do Sol­i­dariedade, se coloca como can­didato ao gov­erno – mas fechado com Dino para o Senado.

Mas vai se com­por e artic­u­lar com quem?

Ainda para um par­tido estru­tu­rado em todo o estado é com­pli­cado sair sozinho.

Pior é a situ­ação de out­ros pos­síveis pos­tu­lantes.

O senador Roberto Rocha, por exem­plo, é um exímio artic­u­lador político, entre­tanto, fal­tando pouco mais de um ano para as eleições, não sabe­mos, sequer, se tem partido.

O prefeito de São Pedro dos Crentes, Lah­e­sio Bon­fim, que se apre­senta como bol­sonar­ista raiz e per­corre o estado, será que ao menos terá leg­enda para disputar?

O dep­utado fed­eral Josi­mar de Maran­hãoz­inho, do PL, tem leg­enda e até sus­ten­tação política – conta com o apoio de um grande grupo de prefeitos –, pos­suirá condições obje­ti­vas para enfrentar uma eleição majoritária de governador?

Todas essas situ­ações nos impe­dem de anal­isar com mais pro­fun­di­dade a sucessão do ano que vem.

Ape­sar disso, con­tin­uare­mos no nosso obser­vatório político, de olho nos lances e capí­tu­los dessa nov­ela.

Abdon Mar­inho é advo­gado.