Observatório das Eleições:
Um governador em seu labirinto.
Por Abdon Marinho.
CONFORME expressei em textos e/ou vídeos anteriores, o grupo político do senhor Dino dificilmente perderia o comando do estado se continuasse unido.
Poderia perder, claro, mas, apenas em situação excepcional.
Disse lá atrás, também, que parte da liderança do atual mandatário era “emprestada” de outros políticos o que certamente traria dificuldades a ele na eventualidade destas lideranças saíssem do grupo.
O problema de projetos hegemônicos é que o dia das deserções chega e com ele o enfraquecimento do antigo regime para um novo ou para o retorno dos que vieram antes.
O que estamos assistindo com o grupo do senhor Dino é o que já estava escrito nos “manuais” da política desde sempre: os liderados “cresceram” e acham que podem tomar o lugar do líder.
Para chegar ao poder – escalando o escombros do grupo Sarney –, o senhor Dino não precisou de ninguém, entretanto, conforme apontamos aqui mesmo, em textos escritos desde 2014, abriu toda sorte de concessão para antigos e novos aliados.
Em outras palavras, muito embora respeitando os méritos pessoais de todos, muitos “cresceram” utilizando-se dos espaços de poder e financeiros abertos pelo governo que o senhor Dino teria conquistado independente deles.
Agora, o mesmo senhor Dino que permitiu a esses “aliados” que se fortalecessem terá que enfrentá-los nas urnas.
Sim, é certo que o senhor Dino jamais pretendeu apoiar um ou outro dos que agora se rebelam, pois, conforme sempre alertei o projeto político dele é ser o novo Vitorino ou o novo Sarney do Maranhão, o que não acontecerá na eventualidade de uma vitória para o comando do estado do senador Weverton Rocha ou do deputado federal Josimar de Maranhãozinho.
O “esquema político” do senhor Dino passa pela vitória do vice-governador Carlos Brandão ou de um dos seus golpes boys, a turma de secretários vinculada pessoalmente ao seu projeto e que lhe devotam uma fidelidade canina.
Dizem até que se Dino pedir que parem de respirar eles param ainda que morram.
São a inspiração viva daquela anedota política de todos conhecida: o secretário chega para o governador e diz: — governador, a primeira pessoa que mais gosto no mundo é o senhor. O governador meio constrangido mas lisonjeado pela adulação, agradece: — muito obrigado, seu secretário, não era para tanto, mas, me diga, quem é a segunda pessoa? Ao que o secretário responde: — a segunda pessoa é quem o senhor mandar.
Ressalvadas as licenças literárias, o candidato do senhor Dino é mais ou menos alguém com esse tipo de perfil, que não possa lhe fazer sombra no cenário político local ou nacional e o aceite como líder inconteste.
Nos últimos anos enquanto inventavam a fábula de que o candidato do grupo do governador poderia ser o senador Weverton ou deputado Maranhãozinho ou outro qualquer sem o perfil narrado acima dizia que se tratava de uma brincadeira de “esconde-esconde”.
Claro que ninguém estava fingindo acreditar na história de que seria o ungido à toa, na verdade, como ainda fazem hoje, embora todos já sabendo rompidos é manterem suas posições de poder e tirar o máximo de vantagem estrutural e política do poder.
Tanto para o senador pedetista quanto para o deputado liberal é cômodo manter seus cargos, prestígio e ainda dizerem que são pré-candidatos do grupo do governador e não que serão adversários no pleito que se avizinha, muito embora todos saibam que os interesses que os movem são incompatíveis com os interesses do atual ocupante do Palácio dos Leões, sem contar que continuam acumulando forças a partir da máquina estatal.
O senador pedetista já lançou sua candidatura, em “comícios” dizendo que a mesma é irreversível e que o “foguete” não tem marcha-ré.
O deputado liberal, anunciam os jornais, fará seu lançamento para prefeitos aliados, ainda que em ambiente fechado, nos próximos dias.
Considerando que o governador teria um acordo de cavalheiros para que a decisão da candidatura só se desse em novembro, conforme documento assinado pelo senador e por diversos partidos da base aliada à exceção do partido de deputado Maranhãozinho, o anúncio de candidaturas “irreversíveis” só podem significar que não existe mais o acordo ou que não são cavalheiros, se me permitem a piada.
Mas, apesar das candidaturas irreversíveis postas, os novos adversários continuam agindo como se tudo estivesse na mais perfeita normalidade com uma notável diferença: se antes brincavam de “esconde-esconde”, passaram para a chantagem explícita.
Não é sem razão que a mídia vinculada ao senador pedetista passou a disseminar que os “prefeitos do Maranhão” querem como candidato ao Senado da República o presidente da FAMEM, que é uma espécie de “braço direito e esquerdo” do senador/candidato.
Como o atual governador aparece com quase setenta por cento das intenções de votos para o Senado da República e nunca tinha ouvido nenhum prefeito sugerir o nome do presidente da entidade de classe para tal cargo, a “sugesta” me pareceu muito com chantagem, com o grupo do senador pedetista querendo impor a sua candidatura ao restante do grupo do governador.
Como se dissesse ou aceita a candidatura do “foguete” ou perderá o apoio dos prefeitos para a candidatura ao Senado.
À ameaça feita o governador respondeu com outra: sugeriu, em entrevista, que poderia não ser candidato a nada para servir ao país em um cenário de imensa instabilidade política no cenário nacional.
Muito embora o recado tenha sido dado como para o público externo serviu como uma luva para o interno: o governador conduzindo a própria sucessão não é fato político para ser desconsiderado.
O ex-governador Luiz Rocha fez isso em 1986, para facilitar a eleição de Cafeteira; o ex-governador José Reinaldo fez para garantir a vitória de Jackson Lago em 2006.
E, como recordamos a ex-governadora Roseana também cumpriu o mandato até o fim em 2014, muito embora sem o êxito de eleger o sucessor.
Mas, reconheça-se, ela já não estava “nem aí” para nada e o candidato do grupo governista naquela ocasião não ajudava em nada.
Alguns aliados do candidato pedetista tratou a “contra chantagem” do atual governador como um “blefe” ou como uma reação a ameaça sofrida, analiso de outra forma.
Em situações normais o governador seria candidato ao Senado passando o governo ao vice-governador candidato à sua sucessão.
Ocorre que no Brasil de hoje nada é normal com as tensões políticas se acirrando cada vez mais e sem sabermos o que acontecerá ano que vem.
Neste contexto o governador avalia bem a possibilidade de ficar no comando do estado como uma voz legítima – e afastada da disputa eleitoral –, colocando-se como contraponto a qualquer tentativa de golpe militar na esfera federal, o que não ocorrerá caso esteja fora do mandato e como candidato.
Aliás, seria bom que outros governadores que pretendem sair dos mandatos para outras disputas avaliassem o cenário político antes de fazê-los. Uma coisa é um governador eleito no comando se colocando outra coisa é um governador tampão.
Já no cenário interno sabemos que muito mais que um mandato de senador o que interessa ao senhor Dino é manter-se no comando do estado.
Logo, caso sinta que corra algum risco esse objetivo não é descartado que fique no governo até o fim para ajudar a eleger o candidato de sua preferência. O Senado ou outro cargo de sua preferência pode vir dali a quatro anos, inclusive derrotando quem se rebelou contra ele agora.
Na minha opinião todas as possibilidades estão em aberto com o governador perdido em seu labirinto.
Abdon Marinho é advogado.
PS. A charge é do amigo Cordeiro Filho.