Observatório das eleições:
DESERÇÕES E MICARETA.
Por Abdon Marinho.
DURANTE o pleito de 2020, quando, no segundo turno, parte do grupo do senhor Flávio Dino deixou de apoiar o candidato oficial do grupo, o senhor Carlos Brandão, vice-governador, e dos principais fiadores da candidatura, chamo-a de desertora.
No dia da eleição lá estava quase todo vestidos com camisetas onde se lia “deserte-se”.
Pois bem, se naquele o momento a incursão pelos Lençois Maranhenses foi visto apenas como um chiste agora já é possível verificar que o grupo governista cindiu-se definitivamente para as eleições de 2022 com a deserção do senador Weverton Rocha e dos seus aliados como o presidente da Assembleia Legislativa, da família Cutrim, da senadora Eliziane, entre outros.
O termo deserção é apropriado para o momento diante das condições pretéritas. Há algum tempo que tenho dito ser inviável para o projeto de poder do atual governador o apoio à candidatura do senador pedetista uma vez que os projetos políticos são absolutamente distintos, entretanto continuavam o “fingimento” de ambas as partes e jogo de esconde-esconde na tentativa de adiar a ruptura lá para adiante.
Sabemos, inclusive, que o governador e os demais pretendentes à indicação de candidatura assinaram um “acordo” levando tal decisão para novembro, conforme amplamente divulgado.
Ocorre que o senador, talvez, antevendo a inviabilidade do apoio do governador decidiu “queimar a largada” com o lançamento da pré-candidatura na Região Tocantina, na semana passada, repetindo o feito neste final de semana na Região do Baixo Parnaíba.
Aqui abro um parênteses para dizer que Justiça Eleitoral deveria ficar atenta para estes atos políticos.
Não tenho dúvida que o que vem acontecendo no Maranhão ultrapassa, em muito, os limites legais que a legislação passou a permitir como sendo atos de “pré-campanha”.
O que a lei permite são reuniões de cunho partidários, em locais fechados, com filados e não comícios abertos ao público.
O MPE não pode “deixar passar” essas coisas.
Os abusos na veiculação de propaganda política nos canais de rádio, televisão, internet, em veículos, que são concessões ou autorizações públicas – certamente com recursos públicos –, pois tais práticas desequilibram os pleitos. E, agora, até comícios.
Basta o MPE ficar atento. Ignorando o ilícito e para mostrar força política, os infratores da legislação eleitoral fazem questão de divulgar com abundância os delitos cometidos.
Pois bem, voltemos à ruptura ocorrida no grupo governista.
Um leitor menos atento talvez apenas enxergue um simples ato de pré-candidatura, uma estratégia para se viabilizar dentro do grupo governista.
Aliás, alguns aliados do senador pedetista na imprensa tentaram plantar essa ideia na mídia, tendo até quem sugerisse que o próprio governador deveria participar dos “comícios”.
Dentro desta ideia e, talvez, por desaviso, no ato do Baixo Parnaíba, divulgou-se a presença da senadora Eliziane Gama e de um ou outro secretário do atual governo.
A leitura que faço é que o ato da Região Tocantina foi o ato oficial de ruptura.
Não se tratou de uma conversa interna e discreta de membros de um partido ou de aliados do projeto político do pré-candidato, mas sim, de um ato de campanha onde se lançou inclusive um slogan da candidatura.
Mais, e aí, certamente o X da questão, quando indagado ou no pronunciamento o senador pedetista comparou-se a um foguete para dizer que a candidatura não teria volta, dizendo que foguete não possui marcha-ré.
Só para não perder a piada, achei a alegoria do foguete perigosa pois lembrei que não faz muito tempo um foguete lançado do CTA de Alcântara não chegou a alcançar a atmosfera, explodindo antes como enormes prejuízos, inclusive, em vidas humanas.
Pois bem, se havia um acordo para adiar a decisão sobre a candidatura para novembro e um candidato já se “lança na pista” avisando que não tem volta, por óbvio que o acordo já não “vale” para ele, se o foguete não tem ré, significa que será candidato de qualquer forma independente do grupo governista escolhê-lo ou não.
Daí que existe a deserção em relação ao acordo celebrado e a ruptura de um expoente – e não apenas dele –, com o grupo do governador.
Diante disso, o que é normal ocorrer é o mandatário fazer uma reforma administrativa excluindo da máquina pública as pessoas aliadas ou indicadas pelos “novos adversários” colocando pessoas de sua confiança ou ligadas a novos aliados.
Acredito, inclusive, que o governador ainda não tratou ou pensou nisso por que esteve ocupado no restante da semana passada com a “micareta do Lula”, mas, que, nos próximos dias, certamente, fará um “chamado geral” para saber quem vai ficar com o grupo ou vai “desertar-se” para outras candidaturas.
É o normal que ocorra.
Como adiantamos no parágrafo anterior as autoridades do estado e aduladores de todos os naipes se “amontoaram” de todas as formas para a “micareta do Lula”.
Até agora estou tentando entender o que o estado, os cidadãos pagadores de impostos em um dos estados mais miseráveis da nação têm a ver com as atividades políticas partidárias do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ponto de servidores públicos, secretários de estado, comissionados, etc., terem deixados seus afazeres funcionais para forma plateia para o cidadão “inocente” que até bem pouco tempo cumpria pena por delitos diversos.
Mais, até agora busco explicações para a utilização de prédios públicos, recursos públicos com recepção a um cidadão que veio ao estado tratar de assuntos relacionados aos seus interesses “privados”, de sua campanha eleitoral.
Vejam que ironia.
Os mesmos que criticam os gastos do senhor Bolsonaro nos seus atos de pré-campanha (essa é a denominação correta dos atos que quase todo final promove, motosseatas, carreatas, etc), com gastos com deslocamentos, segurança e outros desperdícios, não viram nada demais na utilização de prédios e espaços públicos, gastos com segurança e alimentação na recepção/pré-campanha de Lula, inclusive, com a participação de servidores públicos, que, no horários das tertúlias deveriam está no “batente”.
Os bolsonaristas que se escandalizaram, também, são os mesmos que ficam cegos quanto a farra com os recursos públicos gastos na pré-candidatura do atual presidente.
No fundo, tudo “farinha do mesmo saco”, como diziam lá no sertão.
E haja “tietagem” para cima do ex-presidente. O governador voltou à casa dos 15, 16 anos e era a cara do militante deslumbrado com o ídolo.
O coro dos puxa-sacos não paravam um só momento com os elogios e com a busca dos melhores ângulos para as fotos e selfies.
Como diria a célebre Laurinha Figueroa, de Glória Menezes: um horror!
Com cada um dos interessados querendo aparecer e divulgando cada fiapo de frase do visitante em seu benefício.
No fim de tudo não se sabe, de fato, a quem serviu “micareta” do Lula, talvez para o ex-presidente Sarney e a ex-governadora Roseana, para quem o ex-presidente dispensou os maiores elogios.
Este, amigos, o resumo da semana política em terras timbiras onde tivemos de deserções a micareta.
Até a próxima.
Abdon Marinho é advogado.
PS. A charge é colaboração do querido amigo Cordeiro Filho.