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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Sábado, 02 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


Observatório das eleições: 

DINO E AS POMBAS. 

Por Abdon Marinho.

UM AMIGO indaga:

— Abdon, como estás vendo essas defeções no grupo do governador Flávio Dino?

A pergunta foi feita na sexta-feira ou sábado após o deputado federal Josimar de Maranhãozinho, cercado por um grupo de prefeitos anunciar que sairia candidato ao governo e reclamar que ele e os seus nunca foram “queridos” pelo chamado “núcleo duro” do governo, aquelas pessoas que por história ou por “adoção” achegaram-se ao governador e lhes devota uma fidelidade “canina”. Dizem até que se o senhor Dino pedir que cessem a respiração por meia hora os indigitados morrem mas cumprem a determinação.

Essa informação é relevante e será utilizada mais lá para frente. 

Respondi ao amigo querido: 

— ah, meu caro, vejo como “As Pombas”, de Raimundo Correia.

O amigo olhou-me com cara de quem não entendeu bulhufas, e completei.

— Não te recordas do soneto “As Pombas”, obrigatório nos tempos de colégio?

E recitei o que lembrava: 

“Vai-se a primeira pomba despertada...

Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas

Das pombas vão-se dos pombais, apenas

Raia sanguínea e fresca a madrugada.

 

E à tarde, quando a rígida nortada

Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,

Ruflando as asas, sacudindo as penas,

Voltam todas em bando e em revoada...

 

Também dos corações onde abotoam

Os sonhos, um a um, céleres voam,

Como voam as pombas dos pombais;

 

No azul da adolescência as asas soltam,

Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,

E eles aos corações não voltam mais”.

 

E conclui: — A diferença é que não sabemos se, como no poema, as pombas de Dino retornarão na segunda estrofe. 

A digressão sobre o poeta maranhense Raimundo Correia, expoente do Parnasianismo e que viveu entre os anos de 1859 a 1911, foi apenas para não perder a piada, muito embora os movimentos dos seus, agora ex-aliados, em muito se pareça com a revoada das pombas do soneto e sirva para confirmar o que previ há quase sete anos. 

Quando o senhor Dino elegeu-se governador escrevi-lhe uma cara pública – além do meu site foi divulgada no jornal Pequeno, no dia ou um dia após aquelas eleições –, naquela carta pontificava que o governador se elegera “sem dever nada a ninguém” – o grupo Sarney desmoronara de exaustão e o candidato que apresentou possuía inquestionáveis restrições –, e que o povo o escolhera para fazer um governo novo, diferente. 

Acrescentava que pela forma como fora eleito poderia fazer um governo que, de fato, representasse uma ruptura com o “antigo regime”, reformando e reestruturando o estado. 

Ao meu sentir era o correto a fazer. O senhor Dino poderia ter enxugado a máquina pública, exonerando todos aqueles que estavam no poder há décadas, substituindo-os por técnicos, altamente capacitados que operassem a mudança esperada por seus eleitores – entre os quais nunca me incluí. 

A leitura que fiz na ocasião foi que o senhor Dino não precisaria daqueles quadros – ou outros já cevados nos maus hábitos –, e que a reforma que poderia promover nas estruturas do estado fariam dele  uma liderança inquestionável por diversas gerações. 

Como sabemos, o correio extraviou a carta, que não chegou ao destinatário – às vezes, penso que poderia ter mandado um e-mail ou WhatsApp –, ou,  se chegou, a autoridade fez-lhe  ouvidos moucos. 

O certo é que o senhor Dino preferiu, ao invés de enxugar a máquina pública, expandi-la ainda mais, além de fortalecer pessoas que, por sua história pessoal, estavam (estão) longe de representar os anseios de mudanças que o levou ao poder no já distante 2014. 

Em diversos textos, que escrevi posteriormente, questionei a opção de sua excelência, dizendo, inclusive, que a liderança dele, pelas escolhas que fez, era uma “liderança emprestada”, sem contar que em muitos aspectos – e também em decorrência disso –, o Estado empobreceu e regrediu em desenvolvimento. Já se contando nos milhares os maranhenses que a gestão Dino levou à miséria. 

Por incrível que pareça o governo Dino conseguiu “cavar” um pouco mais o nosso fosso de miserabilidade. 

Este, porém, é assunto para ser tratado em texto específico. Voltemos ao nosso observatório.

Imagino que a estratégia de sua excelência tenha sido chamar todos para perto para, como se dizia outrora, “matar de faca”. Ou noutras palavras liderar a todos, compatibilizando seus interesses às custas do sofrido povo do Maranhão. 

O problema é que não fez o “dever de casa” ou não “combinou com os russos”. 

Agora muitos destes, que o governador julgava “aliados” ou “liderados”,  fortalecidos politicamente às custas das políticas públicas que deveria implementar – e não implementou –, estes políticos  – muitos dos quais  deixaram até de ser importunados pela polícia e justiça –, começam a revoada, tal qual “As Pombas”,  de Correia.

O primeiro a levantar voo do “ninho” governista foi o senador pedetista Weverton Rocha que, indiferente a suposto acordo firmado já foi para rua em autênticos comícios – graças a omissão providencial do Ministério Público e da Justiça Eleitoral –, onde disse que é um foguete, e como tal, não possui marcha-ré. 

Noutras palavras, disse – e como tal se articula –, que será candidato independente da vontade do governador que o tinha como liderado e a quem muito ajudou – de todas as formas.

Mas não é só. O senador pedetista e/ou o seu grupo trabalham fortemente contra o senhor Dino na ideia de enfraquecê-lo e trazê-lo “pelo beiço” para a sua candidatura.

Já se articulou com diversos aliados que Dino tinha como “ seus” e que se fartaram no “governo de todos eles”, como os deputados federais e estaduais, secretários de estado, lideranças, etc.; já disse ou mandou dizer que poderá ter um candidato a senador para enfrentar a candidatura Dino pela vaga única; já desancou o vice-governador Carlos Brandão, dizendo que este não nasceu para liderar, apenas para ser vice – registro que tendo percebido o excesso, divulgou vídeo pedindo desculpas, depois que o governador reclamou da falta de “humildade” ou por ter percebido que aquele que pretende pegar galinha não diz “xô”.

Muito embora não acredite que Brandão governador deixe de disputar ao único cargo que pode concorrer para apoiar alguém que disse que ele só serve para vice, jamais titular. 

Mas já vi de tudo na política do Maranhão. 

Além disso faz intenso serviço de articulação para “conquistar” prefeitos e lideranças políticas ligadas ao governador ao passo que a mídia que controla dia sim e no outro também, fustiga ou desmerece o governo no qual todos se fartaram. 

A segunda “pomba” a levantar voo, o deputado federal Josimar de Maranhãozinho, como já disse anteriormente, “inventou” a desculpa mais bisonha para deixar Dino e os seus segurando a “brocha”. 

Disse que não se sentia “querido” pelo governador e pelo ciclo próximo. 

Dizia um amigo meu lá atrás, muito lá atrás, que a pior sensação que pode acometer um ser humano é a sensação de “não ser querido”. 

Fico imaginando que o senhor deputado vem “sofrendo” esse tempo todo, quase sete anos, sem dizer nada, “engolindo o sapo” no calado. Foi e é muito “sofrimento”. Tem todo o “direito” de dizer que não aguenta mais.

Assim vão se as pombas do senhor Dino, a primeira, a segunda, a terceira… quantas mais? Retornarão ao fim do dia? Ou Dino é que terá que voar com elas? 

O senhor Dino que sofre esse “perrengue” com a revoada do seu pombal, também é vítima de um pecado que enxerga nos outros: a arrogância e falta de humildade. 

Julgou-se líder inquestionável quando, em verdade, pelo que parece, foi ludibriado  por outros bem mais espertos que ele, que se protegeram e se fortaleceram no seu governo ganhando musculatura, inclusive, para chantageá-lo. 

E lá se vão as pombas…

Abdon Marinho é advogado.