AbdonMarinho - Observatório das Eleições: Um governador em seu labirinto.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Obser­vatório das Eleições: Um gov­er­nador em seu labirinto.

Obser­vatório das Eleições:

Um gov­er­nador em seu labirinto.

Por Abdon Marinho.

CON­FORME expres­sei em tex­tos e/​ou vídeos ante­ri­ores, o grupo político do sen­hor Dino difi­cil­mente perde­ria o comando do estado se con­tin­u­asse unido.

Pode­ria perder, claro, mas, ape­nas em situ­ação excepcional.

Disse lá atrás, tam­bém, que parte da lid­er­ança do atual man­datário era “emprestada” de out­ros políti­cos o que cer­ta­mente traria difi­cul­dades a ele na even­tu­al­i­dade destas lid­er­anças saíssem do grupo.

O prob­lema de pro­je­tos hegemôni­cos é que o dia das deserções chega e com ele o enfraque­c­i­mento do antigo régime para um novo ou para o retorno dos que vieram antes.

O que esta­mos assistindo com o grupo do sen­hor Dino é o que já estava escrito nos “man­u­ais” da política desde sem­pre: os lid­er­a­dos “cresce­ram” e acham que podem tomar o lugar do líder.

Para chegar ao poder – esca­lando o escom­bros do grupo Sar­ney –, o sen­hor Dino não pre­cisou de ninguém, entre­tanto, con­forme apon­ta­mos aqui mesmo, em tex­tos escritos desde 2014, abriu toda sorte de con­cessão para anti­gos e novos ali­a­dos.

Em out­ras palavras, muito emb­ora respei­tando os méri­tos pes­soais de todos, muitos “cresce­ram” utilizando-​se dos espaços de poder e finan­ceiros aber­tos pelo gov­erno que o sen­hor Dino teria con­quis­tado inde­pen­dente deles.

Agora, o mesmo sen­hor Dino que per­mi­tiu a esses “ali­a­dos” que se for­t­ale­cessem terá que enfrentá-​los nas urnas.

Sim, é certo que o sen­hor Dino jamais pre­tendeu apoiar um ou outro dos que agora se rebe­lam, pois, con­forme sem­pre alertei o pro­jeto político dele é ser o novo Vitorino ou o novo Sar­ney do Maran­hão, o que não acon­te­cerá na even­tu­al­i­dade de uma vitória para o comando do estado do senador Wev­er­ton Rocha ou do dep­utado fed­eral Josi­mar de Maran­hãoz­inho.

O “esquema político” do sen­hor Dino passa pela vitória do vice-​governador Car­los Brandão ou de um dos seus golpes boys, a turma de secretários vin­cu­lada pes­soal­mente ao seu pro­jeto e que lhe devotam uma fidel­i­dade can­ina.

Dizem até que se Dino pedir que parem de res­pi­rar eles param ainda que mor­ram.

São a inspi­ração viva daquela ane­dota política de todos con­hecida: o secretário chega para o gov­er­nador e diz: — gov­er­nador, a primeira pes­soa que mais gosto no mundo é o sen­hor. O gov­er­nador meio con­strangido mas lison­jeado pela adu­lação, agradece: — muito obri­gado, seu secretário, não era para tanto, mas, me diga, quem é a segunda pes­soa? Ao que o secretário responde: — a segunda pes­soa é quem o sen­hor mandar.

Ressal­vadas as licenças literárias, o can­didato do sen­hor Dino é mais ou menos alguém com esse tipo de per­fil, que não possa lhe fazer som­bra no cenário político local ou nacional e o aceite como líder incon­teste.

Nos últi­mos anos enquanto inven­tavam a fábula de que o can­didato do grupo do gov­er­nador pode­ria ser o senador Wev­er­ton ou dep­utado Maran­hãoz­inho ou outro qual­quer sem o per­fil nar­rado acima dizia que se tratava de uma brin­cadeira de “esconde-​esconde”.

Claro que ninguém estava fin­gindo acred­i­tar na história de que seria o ungido à toa, na ver­dade, como ainda fazem hoje, emb­ora todos já sabendo rompi­dos é man­terem suas posições de poder e tirar o máx­imo de van­tagem estru­tural e política do poder.

Tanto para o senador pede­tista quanto para o dep­utado lib­eral é cômodo man­ter seus car­gos, prestí­gio e ainda diz­erem que são pré-​candidatos do grupo do gov­er­nador e não que serão adver­sários no pleito que se aviz­inha, muito emb­ora todos saibam que os inter­esses que os movem são incom­patíveis com os inter­esses do atual ocu­pante do Palá­cio dos Leões, sem con­tar que con­tin­uam acu­mu­lando forças a par­tir da máquina estatal.

O senador pede­tista já lançou sua can­di­datura, em “comí­cios” dizendo que a mesma é irre­ver­sível e que o “foguete” não tem marcha-​ré.

O dep­utado lib­eral, anun­ciam os jor­nais, fará seu lança­mento para prefeitos ali­a­dos, ainda que em ambi­ente fechado, nos próx­i­mos dias.

Con­siderando que o gov­er­nador teria um acordo de cav­al­heiros para que a decisão da can­di­datura só se desse em novem­bro, con­forme doc­u­mento assi­nado pelo senador e por diver­sos par­tidos da base ali­ada à exceção do par­tido de dep­utado Maran­hãoz­inho, o anún­cio de can­di­dat­uras “irre­ver­síveis” só podem sig­nificar que não existe mais o acordo ou que não são cav­al­heiros, se me per­mitem a piada.

Mas, ape­sar das can­di­dat­uras irre­ver­síveis postas, os novos adver­sários con­tin­uam agindo como se tudo estivesse na mais per­feita nor­mal­i­dade com uma notável difer­ença: se antes brin­cavam de “esconde-​esconde”, pas­saram para a chan­tagem explícita.

Não é sem razão que a mídia vin­cu­lada ao senador pede­tista pas­sou a dis­sem­i­nar que os “prefeitos do Maran­hão” querem como can­didato ao Senado da República o pres­i­dente da FAMEM, que é uma espé­cie de “braço dire­ito e esquerdo” do senador/​candidato.

Como o atual gov­er­nador aparece com quase setenta por cento das intenções de votos para o Senado da República e nunca tinha ouvido nen­hum prefeito sug­erir o nome do pres­i­dente da enti­dade de classe para tal cargo, a “sug­esta” me pare­ceu muito com chan­tagem, com o grupo do senador pede­tista querendo impor a sua can­di­datura ao restante do grupo do gov­er­nador.

Como se dissesse ou aceita a can­di­datura do “foguete” ou perderá o apoio dos prefeitos para a can­di­datura ao Senado.

À ameaça feita o gov­er­nador respon­deu com outra: sug­eriu, em entre­vista, que pode­ria não ser can­didato a nada para servir ao país em um cenário de imensa insta­bil­i­dade política no cenário nacional.

Muito emb­ora o recado tenha sido dado como para o público externo serviu como uma luva para o interno: o gov­er­nador con­duzindo a própria sucessão não é fato político para ser descon­sid­er­ado.

O ex-​governador Luiz Rocha fez isso em 1986, para facil­i­tar a eleição de Cafeteira; o ex-​governador José Reinaldo fez para garan­tir a vitória de Jack­son Lago em 2006.

E, como recor­damos a ex-​governadora Roseana tam­bém cumpriu o mandato até o fim em 2014, muito emb­ora sem o êxito de eleger o suces­sor.

Mas, reconheça-​se, ela já não estava “nem aí” para nada e o can­didato do grupo gov­ernista naquela ocasião não aju­dava em nada.

Alguns ali­a­dos do can­didato pede­tista tra­tou a “con­tra chan­tagem” do atual gov­er­nador como um “blefe” ou como uma reação a ameaça sofrida, anal­iso de outra forma.

Em situ­ações nor­mais o gov­er­nador seria can­didato ao Senado pas­sando o gov­erno ao vice-​governador can­didato à sua sucessão.

Ocorre que no Brasil de hoje nada é nor­mal com as ten­sões políti­cas se acir­rando cada vez mais e sem saber­mos o que acon­te­cerá ano que vem.

Neste con­texto o gov­er­nador avalia bem a pos­si­bil­i­dade de ficar no comando do estado como uma voz legí­tima – e afas­tada da dis­puta eleitoral –, colocando-​se como con­traponto a qual­quer ten­ta­tiva de golpe mil­i­tar na esfera fed­eral, o que não ocor­rerá caso esteja fora do mandato e como candidato.

Aliás, seria bom que out­ros gov­er­nadores que pre­ten­dem sair dos mandatos para out­ras dis­putas avaliassem o cenário político antes de fazê-​los. Uma coisa é um gov­er­nador eleito no comando se colo­cando outra coisa é um gov­er­nador tampão.

Já no cenário interno sabe­mos que muito mais que um mandato de senador o que inter­essa ao sen­hor Dino é manter-​se no comando do estado.

Logo, caso sinta que corra algum risco esse obje­tivo não é descar­tado que fique no gov­erno até o fim para aju­dar a eleger o can­didato de sua prefer­ên­cia. O Senado ou outro cargo de sua prefer­ên­cia pode vir dali a qua­tro anos, inclu­sive der­rotando quem se rebe­lou con­tra ele agora.

Na minha opinião todas as pos­si­bil­i­dades estão em aberto com o gov­er­nador per­dido em seu labir­into.

Abdon Mar­inho é advo­gado.
PS. A charge é do amigo Cordeiro Filho.