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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Terça-feira, 01 de Abril de 2025



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


Ideário de um mascate de sonhos.

Por Abdon C. Marinho.

 

PASSAVA das 18 horas quando o “cliente” chegou ao escritório – uma exceção na minha agenda de trabalho que se inicia às sete e vai até as dezessete horas. Rotina estabelecida para fugir do trânsito já que há mais de vinte anos moro em um sítio no Município de São José de Ribamar –, para ser atendido. Carlinhos Barros, ex-prefeito de Vargem Grande havia solicitado que o recebesse e trocasse umas ideias com esse seu aliado político de um município vizinho.

 

Após discutirmos diversos aspectos do caso e os caminhos a serem seguidos – o “cliente” é, também, advogado militante –, ele me diz:

 

— Ah, doutor eu o conheço de muito tempo, acompanhei os seus esforços para a criação daquele consórcio de municípios da estrada de ferro; ah, doutor, o senhor não sabe o quanto aquele trabalho foi e tem sido importante para os municípios.

 

Conforme já contei em algumas crônicas aqui, nesse espaço, no final de 2012, início de 2013, um grupo de prefeitos recém-eleitos convidou-me para trabalhar com eles a criação de um consórcio intermunicipal com a finalidade de buscar as compensações financeiras e sociais para minorar os impactos causados pela estrada de ferro que transporta o minério do Carajás, Pará,  para o Porto do Itaqui, no Maranhão. 

 

Tratava-se de grupo de prefeitos desconhecidos, de diversos partidos, que formavam um grupo heterogêneo e que tinham em comum apenas o fato de serem impactados pela estrada de ferro, em maior ou menor intensidade; a grande maioria deles se somaram ao movimento sem acreditar que fosse possível conseguir algo ou que tivéssemos êxito.

 

Durante quase um ano praticamente abandonei o escritório e os finais de semana para acompanhar os prefeitos em audiências públicas visando discutir com a população os impactos ambientais, econômicos e sociais para os municípios e suas populações e constituir formalmente o consórcio. 

 

Entendia que ser uma causa pelo o Maranhão (e também pelo Pará), assim, em todos os municípios foram feitas as audiências públicas onde alternava o papel de orador, advogado e jornalista – como já me dedicava a escrever, compunha textos sobre a importância do consórcio para a economia dos municípios. 

 

Nunca ganhei nada – um centavo que fosse e até gastei do pouco que tinha –, nem mesmo reconhecimento da parte de quem quer que fosse. Quando, naquele mesmo ano, a Vale concordou em repassar quase 90 milhões aos municípios, a nossa participação foi encerrada. 

 

Mais as conquistas foram além do compromisso da empresa em fazer repasses aos municípios, conseguiu-se, também, que parte dos impostos da mineração fossem destinados aos municípios impactados e não apenas aqueles que eram mineradores. 

 

Como dizia naquela oportunidade, a causa valia a pena. 

 

A manifestação do “cliente”/vereador, doze anos depois, é a comprovação disso. Fiz (fizemos) algo que ajuda os municípios e suas populações. 

 

E, muito embora não tenha ganhado nada – como bem alertou algum amigo –, sempre achei que fazer alguma coisa é sempre melhor que nada fazer.

 

Há uns quatro anos decidi diversificar minhas atividades para um setor que sempre me foi muito caro: a educação. 

 

Digo isso a partir de uma simples constatação: filho de agricultores pobres, nascido, no interior do interior, deficiente físico, órfão desde cedo. Se cheguei até aqui foi graças a educação. Só isso. 

 

Quando surgiu a oportunidade disse que, ainda que viesse a ser enganado, a educação era uma causa muito importante e que valeria muito a pena qualquer sacrifício.

 

Quase três anos depois – e com as pessoas certas –, conseguimos desenvolver projetos (no plural) educacionais que têm o potencial para revolucionar a educação brasileira elevando-a para um patamar compatível com a importância do país no cenário mundial. 

 

Esse ideário de empreender sonhos tem me feito viajar muito, conversar e ouvir as pessoas sobre os desafios da educação infantil brasileira. 

 

Esses “estudos” ou escutas tem me levado a concluir que precisamos, prioritariamente, vencer dois desafios: tornar a educação brasileira, da creche ao ensino médio, integral e bilíngue. 

 

Sem essa compreensão de que as crianças e adolescentes precisam ficar mais tempo em salas de aulas e já sendo alfabetizadas em pelo menos duas línguas diferentes, não alcançaremos indicadores melhores do que os que temos hoje.

 

Claro que não temos como “do dia pra noite”, colocar todas as crianças e adolescentes em tempo integral, até porque falta espaço físico, mas podemos iniciar pelo contraturno de atividades complementares, pela jornada estendida, podemos fortalecer a Educação de Jovens, Adultos e Idosos.

 

Essas iniciativas – desde que registradas no censo escolar –, trazem recursos para as redes locais que permitirão melhorar a remuneração dos servidores da educação, já que setenta por cento dos recursos do FUNDEB tem essa finalidade, e a melhorar a infraestrutura física das escolas e até mesmo construir escolas públicas já com o propósito de serem escolas integrais. 

 

Nos diálogos que temos mantido com os gestores educacionais tenho sugerido que, enquanto não conseguem colocar toda rede em tempo integral, criem Centros de Atividades Complementares - CAC, permitindo que toda a rede usufrua das atividades e das tecnologias que sejam possíveis ofertar, línguas, teatro, música, artes diversas, esportes, etc. 

 

Embora ache louvável “experimentos” que muitos gestores fazem com um número reduzido de crianças – para testar modelos –, acredito que esses devam ser exceções. 

 

Precisamos, com urgência, trabalhar formatos universais de ensino, permitindo igualdade de oportunidades para todas as crianças e adolescentes. 

 

A universalização de oportunidades e de ferramentas de aprendizagem terão, também, como efeito eliminar a necessidade de preparar as crianças para os “vestibulares” do SAEB. 

 

Entendo que todas as crianças precisam receber uma educação de qualidade o tempo todo, não apenas aquelas que serão submetidas ao exame do SAEB ou nos anos em que a avaliação ocorra. 

 

Certa vez, passava pela ponte Timon-Teresina, lembrei-me que quando criança, com sete, oito ou nove anos, mais de uma vez, durante os tratamentos médicos por conta da poliomielite, tivemos que atravessar a antiga ponte ferroviária a pé. 

 

A propósito da universalização das oportunidades, dizia certa vez, a um prefeito ou secretário: — olha, o senhor vê aquela criança ali atravessando a ponte a pé? Aquele menino magrinho, deficiente físico, tendo que atravessar a ponte coxeando, aquele menino era eu. 

 

Em tempos de tamanhas dificuldades, mas aproveitando a boa vontade dos prefeitos que iniciam ou reiniciam seus mandatos, a questão educacional e os caminhos para transformar o futuro de municípios, estados e do país, se reveste de uma prioridade quase que absoluta. 

 

Investir em educação é nos preparamos para o futuro. 

 

Abdon C. Marinho é advogado, escritor, cronista e um mascate de sonhos.