AbdonMarinho - Ideário de um mascate de sonhos.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quarta-​feira, 02 de Abril de 2025



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Ideário de um mas­cate de sonhos.


Ideário de um mas­cate de sonhos.

Por Abdon C. Marinho.

PAS­SAVA das 18 horas quando o “cliente” chegou ao escritório – uma exceção na minha agenda de tra­balho que se ini­cia às sete e vai até as dezes­sete horas. Rotina esta­b­ele­cida para fugir do trân­sito já que há mais de vinte anos moro em um sítio no Municí­pio de São José de Riba­mar –, para ser aten­dido. Car­lin­hos Bar­ros, ex-​prefeito de Vargem Grande havia solic­i­tado que o recebesse e tro­casse umas ideias com esse seu ali­ado político de um municí­pio vizinho.

Após dis­cu­tir­mos diver­sos aspec­tos do caso e os cam­in­hos a serem segui­dos – o “cliente” é, tam­bém, advo­gado mil­i­tante –, ele me diz:

— Ah, doutor eu o con­heço de muito tempo, acom­pan­hei os seus esforços para a cri­ação daquele con­sór­cio de municí­pios da estrada de ferro; ah, doutor, o sen­hor não sabe o quanto aquele tra­balho foi e tem sido impor­tante para os municípios.

Con­forme já con­tei em algu­mas crôni­cas aqui, nesse espaço, no final de 2012, iní­cio de 2013, um grupo de prefeitos recém-​eleitos convidou-​me para tra­bal­har com eles a cri­ação de um con­sór­cio inter­mu­nic­i­pal com a final­i­dade de bus­car as com­pen­sações finan­ceiras e soci­ais para mino­rar os impactos cau­sa­dos pela estrada de ferro que trans­porta o minério do Cara­jás, Pará, para o Porto do Itaqui, no Maran­hão.

Tratava-​se de grupo de prefeitos descon­heci­dos, de diver­sos par­tidos, que for­mavam um grupo het­erogê­neo e que tin­ham em comum ape­nas o fato de serem impacta­dos pela estrada de ferro, em maior ou menor inten­si­dade; a grande maio­ria deles se somaram ao movi­mento sem acred­i­tar que fosse pos­sível con­seguir algo ou que tivésse­mos êxito.

Durante quase um ano prati­ca­mente aban­donei o escritório e os finais de sem­ana para acom­pan­har os prefeitos em audiên­cias públi­cas visando dis­cu­tir com a pop­u­lação os impactos ambi­en­tais, econômi­cos e soci­ais para os municí­pios e suas pop­u­lações e con­sti­tuir for­mal­mente o con­sór­cio.

Enten­dia que ser uma causa pelo o Maran­hão (e tam­bém pelo Pará), assim, em todos os municí­pios foram feitas as audiên­cias públi­cas onde alter­nava o papel de orador, advo­gado e jor­nal­ista – como já me ded­i­cava a escr­ever, com­punha tex­tos sobre a importân­cia do con­sór­cio para a econo­mia dos municí­pios.

Nunca gan­hei nada – um cen­tavo que fosse e até gastei do pouco que tinha –, nem mesmo recon­hec­i­mento da parte de quem quer que fosse. Quando, naquele mesmo ano, a Vale con­cor­dou em repas­sar quase 90 mil­hões aos municí­pios, a nossa par­tic­i­pação foi encer­rada.

Mais as con­quis­tas foram além do com­pro­misso da empresa em fazer repasses aos municí­pios, conseguiu-​se, tam­bém, que parte dos impos­tos da min­er­ação fos­sem des­ti­na­dos aos municí­pios impacta­dos e não ape­nas aque­les que eram min­er­adores.

Como dizia naquela opor­tu­nidade, a causa valia a pena.

A man­i­fes­tação do “cliente”/vereador, doze anos depois, é a com­pro­vação disso. Fiz (fize­mos) algo que ajuda os municí­pios e suas pop­u­lações.

E, muito emb­ora não tenha gan­hado nada – como bem aler­tou algum amigo –, sem­pre achei que fazer alguma coisa é sem­pre mel­hor que nada fazer.

Há uns qua­tro anos decidi diver­si­ficar min­has ativi­dades para um setor que sem­pre me foi muito caro: a edu­cação.

Digo isso a par­tir de uma sim­ples con­statação: filho de agricul­tores pobres, nascido, no inte­rior do inte­rior, defi­ciente físico, órfão desde cedo. Se cheguei até aqui foi graças a edu­cação. Só isso.

Quando surgiu a opor­tu­nidade disse que, ainda que viesse a ser enganado, a edu­cação era uma causa muito impor­tante e que vale­ria muito a pena qual­quer sacrifício.

Quase três anos depois – e com as pes­soas cer­tas –, con­seguimos desen­volver pro­je­tos (no plural) edu­ca­cionais que têm o poten­cial para rev­olu­cionar a edu­cação brasileira elevando-​a para um pata­mar com­patível com a importân­cia do país no cenário mundial.

Esse ideário de empreen­der son­hos tem me feito via­jar muito, con­ver­sar e ouvir as pes­soas sobre os desafios da edu­cação infan­til brasileira.

Esses “estu­dos” ou escu­tas tem me lev­ado a con­cluir que pre­cisamos, pri­or­i­tari­a­mente, vencer dois desafios: tornar a edu­cação brasileira, da crèche ao ensino médio, inte­gral e bilíngue.

Sem essa com­preen­são de que as cri­anças e ado­les­centes pre­cisam ficar mais tempo em salas de aulas e já sendo alfa­bet­i­zadas em pelo menos duas lín­guas difer­entes, não alcançare­mos indi­cadores mel­hores do que os que temos hoje.

Claro que não temos como “do dia pra noite”, colo­car todas as cri­anças e ado­les­centes em tempo inte­gral, até porque falta espaço físico, mas podemos ini­ciar pelo con­traturno de ativi­dades com­ple­mentares, pela jor­nada esten­dida, podemos for­t­ale­cer a Edu­cação de Jovens, Adul­tos e Idosos.

Essas ini­cia­ti­vas – desde que reg­istradas no censo esco­lar –, trazem recur­sos para as redes locais que per­mi­tirão mel­ho­rar a remu­ner­ação dos servi­dores da edu­cação, já que setenta por cento dos recur­sos do FUN­DEB tem essa final­i­dade, e a mel­ho­rar a infraestru­tura física das esco­las e até mesmo con­struir esco­las públi­cas já com o propósito de serem esco­las inte­grais.

Nos diál­o­gos que temos man­tido com os gestores edu­ca­cionais tenho sug­erido que, enquanto não con­seguem colo­car toda rede em tempo inte­gral, criem Cen­tros de Ativi­dades Com­ple­mentares — CAC, per­mitindo que toda a rede usufrua das ativi­dades e das tec­nolo­gias que sejam pos­síveis ofer­tar, lín­guas, teatro, música, artes diver­sas, esportes, etc.

Emb­ora ache lou­vável “exper­i­men­tos” que muitos gestores fazem com um número reduzido de cri­anças – para tes­tar mod­e­los –, acred­ito que esses devam ser exceções.

Pre­cisamos, com urgên­cia, tra­bal­har for­matos uni­ver­sais de ensino, per­mitindo igual­dade de opor­tu­nidades para todas as cri­anças e ado­les­centes.

A uni­ver­sal­iza­ção de opor­tu­nidades e de fer­ra­men­tas de apren­diza­gem terão, tam­bém, como efeito elim­i­nar a neces­si­dade de preparar as cri­anças para os “vestibu­lares” do SAEB.

Entendo que todas as cri­anças pre­cisam rece­ber uma edu­cação de qual­i­dade o tempo todo, não ape­nas aque­las que serão sub­meti­das ao exame do SAEB ou nos anos em que a avali­ação ocorra.

Certa vez, pas­sava pela ponte Timon-​Teresina, lembrei-​me que quando cri­ança, com sete, oito ou nove anos, mais de uma vez, durante os trata­men­tos médi­cos por conta da poliomielite, tive­mos que atrav­es­sar a antiga ponte fer­roviária a pé.

A propósito da uni­ver­sal­iza­ção das opor­tu­nidades, dizia certa vez, a um prefeito ou secretário: — olha, o sen­hor vê aquela cri­ança ali atrav­es­sando a ponte a pé? Aquele menino magrinho, defi­ciente físico, tendo que atrav­es­sar a ponte cox­e­ando, aquele menino era eu.

Em tem­pos de taman­has difi­cul­dades, mas aprovei­tando a boa von­tade dos prefeitos que ini­ciam ou reini­ciam seus mandatos, a questão edu­ca­cional e os cam­in­hos para trans­for­mar o futuro de municí­pios, esta­dos e do país, se reveste de uma pri­or­i­dade quase que abso­luta.

Inve­stir em edu­cação é nos preparamos para o futuro.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado, escritor, cro­nista e um mas­cate de son­hos.

Comen­tários

0 #1 Fran­ci­valdo 30-​03-​2025 12:48
Parabéns dr pelas ini­cia­ti­vas, mesmo sabendo que não terá gan­hos finan­ceiros, tens a con­sciên­cia de que apre­sen­tará gan­hos cole­tivos que visão o bem dos que mais precisam.
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