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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

A TRAGÉDIA ANUNCIADA. 

Por Abdon Marinho.

MANIFESTEI-ME sobre a adoção de medidas de prevenção e contenção à proliferação do novo coronavírus no nosso estado, no dia 17 de março, portanto, há mais de um mês – quase dois –, alertava para a necessidade das autoridades tratarem o assunto com o máximo de transparência e responsabilidade; dizia da necessidade de informações corretas aos cidadãos para que os mesmos não questionassem (ou desobedecessem) as orientações recebidas; dizia da necessidade de se investir em campanhas educativas nas escolas, repartições, etcetera, de sorte que quando chegasse o momento certo todos soubessem o que fazer.

Naquela oportunidade, segundo dados oficiais, não havia o registro de qualquer caso no Maranhão e, também, nos estados do Piauí, Tocantins e Pará. Daí o questionamento sobre as medidas de restrições que nossas autoridades estavam adotando, já naquele momento, uma vez que com o passar do tempo a tendência das pessoas seriam “relaxar” nas mesmas. 

Numa situação de pandemia as medidas certas precisam ser adotadas nos momentos certos. Não adianta você adotar a medida errada no momento certo ou a medida certa no momento errado. 

Não vai funcionar e só vai causar mais problemas na cabeça das pessoas e favorecer o aumento da contaminação. 

Foi o que vimos nos diversos momentos deste surto pandêmico no estado. Nas primeiras medidas do governo as pessoas correram para se aglomerar nos supermercados, nas feiras, nos bancos, favorecendo que houvesse contágios ou que este aumentasse.

Nos dias seguintes apesar das notícias das contaminações e das mortes poucos foram os que deixaram de seguir suas rotinas de aglomerações. 

Ocorre a mesma coisa agora com o anúncio de que a Justiça, através da Vara de Interesses Difusos, instou o governo estadual a adotar a medida conhecida como “lockdown”, em toda a ilha de Upaon-Açu, alcançando, além da capital, São Luís, os municípios de São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa.

Embora se especule que a determinação judicial faça parte de um “combinemos” entre o Poder Executivo, o Ministério Público e o Poder Judiciário – vi diversas pessoas especulando sobre isso na imprensa e redes sociais, inclusive um deputado estadual da base governista –, vez que o governador do estado, que chamou para si a condução das medidas de combate à covid-19, não gostaria de assumir sozinho a responsabilidade pela medida – bem diferente de apenas cumprir uma decisão judicial –, o fato é que as medidas adotadas pelas autoridades estaduais ao longo deste tempo não surtiram efeito almejado. 

E o pedido do Ministério Público e a decisão do Juízo de Interesses Difusos – combinados ou não com governador do estado –, comprovam isso. 

Aqui não questiono a dedicação e empenho do governador do estado, do secretário de saúde, ou de tantos outros da sua equipe que estão tratando do assunto, mas, sim, o fato de que suas providências para prevenção e combate ao vírus não surtiram os efeitos desejados.

Se assim não fosse não teria havido necessidade de intervenção judicial.

A pergunta que se faz é se com a medida judicial o enfrentamento ao vírus terá efetividade. 

Faltava só o juiz mandar que governador fizesse o “lockdown” para que o vírus fosse combatido de forma correta? Acredito que não. 

E se concordamos que não faltou empenho e dedicação à equipe do governo no combate à pandemia, como chegamos à situação em que estamos hoje, cuja tendência, ainda, é piorar – e muito?

Vejam, até 17 de março, pelos dados oficiais, da Secretaria de Estado da Saúde e do Ministério da Saúde, não tínhamos nem um registro, um mês e meio depois, estamos entre os estados que mais oferecem preocupação. 

A capital do estado está entre as primeiras em número de infectados e de mortos por 100 mil habitantes. 

Já se tem notícias de pessoas com sintomas claros de contaminação que não estão sendo testadas; ou de pessoas em estado grave que as unidades de saúde não estão atendendo.

São notícias que chegam através de diversas mídias digitais que não sabemos serem verdadeiras ou não no momento em que são divulgadas, mas que depois são confirmadas pela crueza dos números. 

Então, é de deduzir-se que, provavelmente, a abordagem que o governo estadual vem dando talvez não seja a mais correta. 

A capital do estado, ocupa a sexta posição em número de óbitos, estando à frente, inclusive de Belém que possui uma população com cerca de 500 mil habitantes a mais que a nossa; 

Em número de contágio em todo estado, o Maranhão possui 3.506 contra 3.176 no estado vizinho, embora o Pará possua um número de óbitos superior ao nosso, 235 contra 204 mortos.

Em relação ao outro estado vizinho a nossa desvantagem é ainda maior. O Piauí, possui apenas 600 casos confirmados e 24 óbitos. 

Nem falemos no outro vizinho, o Tocantins, que possui apenas 164 cidadãos contaminados e registra três óbitos, uma vez que a população é bem menor, o distanciamento social é quase natural. 

Os quatro estados, na mesma data, apresentavam situações idênticas de nenhuma infecção, um mês e meio depois dois deles estão em péssimas condições e dois conseguindo administrar melhor o problema. 

Apesar de todo o caos que me relatam está ocorrendo no Pará, acredito, infelizmente, que nossa venha a se tornar ainda mais grave. 

Digo isso porque tenho recebido relatos de pessoas que estão com os sintomas da covid-19 e que não estão nas estatísticas oficiais. 

No último domingo, pelas 22 horas, recebi a mensagem de uma pessoa informando que uma grande amiga estava a caminho de São Luís, por estar com os sintomas da doença. Ontem, recebi a mensagem de que essa amiga havia perecido. Detalhe, o município sequer aparece nas estatísticas – pelo menos até aqui –, com registro de casos. 

Como já dizia o caboclo lá do meu sertão, o que está errado não pode estar certo.

Então é pertinente que se pergunte o que o governo estadual tem feito de errado na condução desta crise. 

É bem provável que alguns digam que fez tudo certo e que a população que não atendeu às recomendações oficiais. 

Os que pensam assim, decerto que estão corretos. Mas, se formos mais a fundo iremos encontrar os motivos pelos quais a população não tem (ou tem pouco) colaborado com as iniciativas governamentais.

Acredito que as respostas – o problema comporta mais de uma –, estejam no descumprimento daquele apelo que fiz em meados de março: que o governo tratasse o assunto com seriedade, tranquilidade e, sobretudo, com transparência. 

Mais, que passassem tal confiança a ponto dos cidadãos não questionarem suas recomendações.

Infelizmente, não foi o que se viu. 

Desde o início o próprio governador chamou para si a responsabilidade pela administração da crise e transformou a pandemia numa frente de batalha contra o governo federal, sendo mais específico, contra o presidente da República. 

Aqui não discuto se suas colocações estavam certas ou erradas. 

Estavam, sim, inoportunas, pois a população passou a entender que a pandemia “não existia”, era apenas uma disputa política entre o governador/candidato e o presidente/destrambelhado. 

O presidente dizia uma coisa de lá e o daqui respondia ou provocava de forma mais assertiva ainda. 

O prefeito da capital, que pela sistemática do SUS é o gestor da saúde na capital, talvez por educação ou timidez, deixou o governador “tão à vontade” para cuidar da saúde dos ludovicenses – responsabilidade do prefeito –, que os adversários passaram a dizer que ele foi a primeira pessoa a entrar em quarentena. 

Comportamento bem diferente do que observamos no prefeito de São Paulo, de Manaus ou mesmo do de Teresina, que estão tomando as medidas que dizem respeito à suas responsabilidades como gestores municipais. 

O de Teresina, por exemplo, instalou barreira sanitária nas pontes que ligam sua cidade ao Maranhão, justamente para evitar que maranhenses doentes acorressem para aquela cidade.

Outra coisa, tudo que uma pandemia precisa para se alastrar e matar a torto e a direito é de informações truncadas ou ausência de transparência.

Ao longo destes dias, inclusive, nesta semana, não foi só uma ou duas vezes que uma entrevista ou dados apresentados pelo governador não fossem contestados pelos jornalistas e/ou blogueiros da cidade. 

Se a autoridade passa uma informação e ela é contestada – e, pior, comprovada que não está certa ou que está truncada –, os cidadãos passam a duvidar da própria circustância a que estão submetidos. 

Ainda mais quando veem as autoridades fazendo aquilo que pedem para que não façam. 

Durante mais de uma semana vi uma polêmica envolvendo uma autoridade da saúde que estava fazendo sua caminhada por uma das avenidas da cidade. Em sua “defesa” a autoridade disse que estava andando sozinho e seguindo os protocolos de segurança.

Acho até compreensível – e necessário –, que a autoridade queiram fazer sua caminhada. Mas já pensou o caos que seria se todos que estão se sentindo aprisionados em casa resolvessem seguir o exemplo? 

Em situações de exceção, o exemplo, a presteza, a transparência, a confiança que a autoridade conseguir transmitir, vai valer mais do que discurso, entrevista, decreto ou sentença judicial. 

Conforme disse lá atrás, “medidas urgentes e necessárias, precisam ser adotadas no momento é pelo tempo certo”. 

Quem também deu uma boa sugestão, também, lá atrás,  foi um prefeito de Santa Rita, Hilton Gonçalo: sugeriu que o governador do estado – que colocou-se no comando da pandemia no estado –, se cercasse de uma equipe técnica com conhecimentos na área da saúde para adotar as medidas necessárias ao combate da pandemia. 

Espero que sua excelência ouça esses apelos.

A situação, que já é grave com essa pandemia concentrada, praticamente, na Ilha de Upaon-Açu e em poucos municípios do interior, se tornará insustentável caso se alastre por todos os municípios do estado. 

Abdon Marinho é advogado.