FALTA PÃO NO CENTRO HISTÓRICO.
VEJO nos veículos da mídia local uma falsa polêmica entre um deputado estadual e um subprefeito da administração municipal de São Luís.
A crítica e a “contracrítica", como não poderia de ser ocorreram em veículos distintos. Para os que não estão familiarizados, no Maranhão, como acontece desde sempre, com raríssimas exceções, a imprensa alinha-se de um lado ou de outro.
Assim, tendo lido primeiro sobre a resposta do subprefeito, fui pesquisar, noutros veículos, as colocações do deputado e que foram objeto da repulsa da autoridade municipal.
O deputado criticou o abandono do Centro Histórico da capital, a sujeira, a falta de segurança. O subprefeito retruca dizendo que o crítico é despreparado que não conhece o assunto, que nunca destinou nenhuma emenda parlamentar para requalificação do local e que preferia investir em expressões culturais alienígenas, nominando determinado artista cearense.
Essa discursão, tola, ao meu sentir, trouxe-me a mente um ensinamento do meu velho pai: "Em casa que falta pão, todo mundo falar e ninguém tem razão". Vem daí o título: Falta pão no Centro Histórico.
Falta pão no Centro Histórico porque as autoridades ao invés de buscarem uma solução conjunta para o problema se perdem em discussões que, quando muito, apontam problemas, solução nenhuma.
A verdade é uma só: a capital do Maranhão está perdendo sua maior riqueza que é o patrimônio histórico e que não pertence apenas a ela mas a toda humanidade conforme resolução da UNESCO. Não tem dia que um casarão não se deteriore, que os azulejos sejam roubados, que as pedras de cantarias sejam vendidas. E a pior dos males: a falta de povo. Os habitantes foram embora, as repartições públicas seguiram o mesmo caminho e até as empresas que vivem da exploração dos negócios no setor não sentem mais quaisquer estímulos para continuar.
O último governante maranhense a demonstrar genuína preocupação com esse patrimônio foi Epitácio Cafeteira que governou o estado de 1987 ao começo de 1990. Naquele fina dos anos oitenta, tivemos um projeto, igual em magnitude aos que eram empreendidos nos grandes centros de cultura mundial. Para nossa capital vieram profissionais que, juntos com outros profissionais daqui com igual sensibilidade e zelo, devolveram parte da cultura da cidade que se encontrava destruída e abandonada.
De lá para cá, pouco ou quase nada tem sido feito pelos governantes maranhenses ou da capital, não há, sequer, a preocupação na conservação do que foi feito há trinta anos.
O Projeto Reviver teve esse nome porque o seu propósito era reviver o centro histórico, lhe devolver a vida. Após o governo Cafeteira esse objetivo foi esquecido, deixado de lado. Aqui ou ali se recupera um prédio, se faz um escoramento para evitar a ruína e só.
A vida não voltou ao centro e cada vez mais se torna distante da ideia original.
Aos poucos, mas de forma persistente, a cidade de São Luís vai perdendo sua identidade.
Outro dia, passando em frente à Biblioteca Benedito Leite uma imagem me chamou a atenção: colocaram um gradeado cercando toda biblioteca, cercando sua frente, sua escadaria. Uma atitude normal para evitar o vandalismo a que são submetidos os logradouros públicos? Mais que isso, um sinal de que os cidadãos não são mais os donos da cidades. Não têm mais o direito de usufruir seus serviços, seus espaços.
O lugar dos cidadãos passou a ser suas residências e olhe lá.
Não deixa de ser emblemático que uma casa de cultura e saber tenha que ser cercada com grades. Lembro, que não só a biblioteca em si, mas também aquela escadaria fizeram parte da nossa juventude. Muitas foram às vezes que a usamos para realizar debates, reuniões públicas ou mesmo, apenas sentar no fim da tarde à espera do pôr do sol – aos que não sabem, a Biblioteca Benedito Leite está localizada no ponto mais alto da cidade. Talvez tenhamos perdido a escadaria para as grades antes, assim como perdemos as praças, as pontas de ruas, para a violência. Quem ainda se arrisca a frequentar estes lugares?
A solução que enxergo é uma política de Estado que retome o Projeto Reviver e faça o que inúmeras outras cidades fizeram ao redor do mundo: habitar o centro da cidade, seja na Praia Grande, seja nas demais áreas. Todas as capitais europeias e outras cidades históricas – diferente do que acontece aqui –, a população habita seus centros.
Outro dia, durante uma operação da policia na Europa, vimos a prisão de um envolvido ocorrer em um apartamento avaliado em mais US$ 3 milhões de dólares, no centro de Lisboa, Portugal, em prédio antigo, como tantos que temos aqui. É de se perguntar por que os prédios históricos da nossa cidade não podem seguir este modelo, virando apartamentos ou residências. Que mal haveria nisso? Seria uma forma de preservar e valorizar aquelas edificações. Seria uma forma de não deixar o centro morrer. Ou, de fazê-lo reviver. Quem se arrisca a percorrer o centro da cidade à noite ou nos fins de semana, não encontra quase ninguém, um deserto desolador.
As autoridades precisam compreender a importância da região central da cidade e encontrar alternativas para que ela volte ao seu papel de protagonista.
Isso é justamente o oposto do que vêm fazendo hoje.
Abdon Marinho é advogado.