A IDEOLOGIA DA CONVENIÊNCIA.
Escrevi outro dia sobre caso da vereadora do município de São Luís, que eleita sob o partido comunista mudara-se de malas e cuias para o partido que, ao menos nos manifestos e estatutos, representava o seu oposto, o progressita. Questionava falta de consistência destas siglas - mais de trinta - que infesta o cenário político nacional.
Vendo que o partido além de ligar muito para esses questões de fidelidade ideológica, também não se mostrava disposto a abraçar a candidatura da nova filiada, esta já tenta abrigo noutra sigla. Segundo li, a tomada de decisão dava-se pelo fato da sigla escolhida não se mostrar muito "confiável".
Se aos políticos - aos que ligam - parece complicado tantas mudanças, imaginem para o eleitor que vota mais pelo dever cívico.
Em todo caso fica mesmo difícil saber a quem assiste razão. Se a filiada que antes jurava devota do comunismo mais fervoroso, daquele capaz de justificar as barbáries cometidas pelo Stalinismo, pelo regime cubano ou norte-coreano, ou se o partido que tendo jurado apoiar a neo progressista, egressa do comunismo, flerta pública e despudoradamente com a candidatura popular-socialista.
Como dizem, o Brasil não é para amadores. O Maranhão menos ainda.
No caso de comportamentos políticos eleitorais inusitados – sem falar nas sérias denúncias que os partidos não organizam seus órgãos diretivos municipais para fazerem todo tipo de negócio às vésperas das eleições e quando se fala "todo" deve se entender no sentido mais amplo do termo –, pensei que fosse ficar no caso da comunista que virara progressista e que agora busca outra legenda "confiável" que pareceu não ser o caso da legenda progressista que escalara uma ex-comunista para disputa, mas que na verdade, tenciona apoiar uma popular-socialista, cuja afinidade ideológica é proporcional aos números das pesquisas de intenção de voto.
Aliás, a afinidade ideológica deve ser recíproca, uma vez que os populares-socialistas buscam, na realidade, é tempo no rádio e na televisão e para isso não se importarão muito de onde os mesmos vierem.
Mas como dizia, a fora as outras situações, pensei que ficaria somente neste caso. E ai, eis que me aparece o ilustrativo caso de São José de Ribamar, município onde resido, com uma situação, também, bastante peculiar.
No final dos anos oitenta, como quase todos os jovens daquela época, fiz cursinho preparatório para o vestibular (só existiam no Maranhão as duas universidades públicas: UFMA e UEMA), no curso do saudoso Professor José Maria do Amaral, um dos cristãos mais extraordinários que conheci. Meu professor de química ou biologia (não lembro) era o médico Júlio Matos (popularmente conhecido como Dr. Julinho), naquela época já militante político do Partido Democrático Trabalhista - PDT e pretenso candidato a prefeito de São José de Ribamar, sendo vitorioso, naquele ou no pleito seguinte. Pois bem, sempre identifiquei o militante das causas ditas "esquerdistas", mas, sobretudo e principalmente, pedetista.
Por estes dias soube que, não só que passara a militante do Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB, partido que sempre estivera no lado oposto ao seu, como também, pasmem, os seus eternos adversários, capitaneados pelo prefeito do município balneário, senhor Gil Cutrim, viraram os neossocialista morenos – no dizer do velho Leonel Brizola –, defensores, ardorosos, das causas trabalhistas. Mais até que Getúlio Vargas, João Goulart e o próprio Leonel Brizola.
Pelos veículos de comunicação, vi a festa de acolhimento dos novos integrantes da legenda trabalhista e, como cidadão, fiquei a indagar como se dera tamanha transmudação: pemedebistas virando trabalhistas e vice-versa. Como se uns e outros tivessem passado a vida inteira do lado errado da história.
Longe de mim questionar se estavam certos ou errados, nada disso, mas não deixa de ser estranho alguém passar a vida inteira de um lado e, de repente, descobrir que estava errado.
Já pensaram se, num passe de mágica, aqueles a quem jurávamos mocinhos, fossem os bandidos da história?
A legislação brasileira tenta, a todo custo, empurrar a ideia de fortalecimento dos partidos políticos e nos deparamos com situações como estas, ou outras bem piores, como o caso de partido que passam a vida inteira se vendendo como diferente e no poder, conseguem piorar todas as práticas que combatia.
Como acreditar num quadro partidário assim? Como confiar em política feita desta fora?
Não nos iludamos, se ainda formos capazes de nos surpreendermos como algo, até o dia 5 de outubro, teremos motivos de sobra para isso.
Abdon Marinho é advogado.