AbdonMarinho - Politica
Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

RETRATOS DA MUDANÇA.

Por Abdon Marinho.

O EXTINTO senador Epitácio Cafeteira, apesar de não ser muito estudado, de ter apenas  formação bancária e não ir muito além do ensino médio e nunca ter estudado marketing,  tinha o que os profissionais do ramo chamam de “feeling” – no sentido de percepção, intuição –, extraordinário.

Certa vez, pela eleição de 1994, seu fiel assessor Chico Branco, chegou para ele eufórico com o Jornal o Estado do Maranhão na mão: — Chefe! Chefe! O jornal está  dizendo que estamos crescendo nas pesquisas.

Cafeteira pegou o jornal, sem lê-lo, retrucou: — Pois é, Chico Branco, estamos crescendo como “rabo de cavalo”, para baixo. Não está vendo a sacanagem deste gráfico!?

Durante muitos anos essa “sacada” de Cafeteira sobre o crescimento como “rabo de cavalo” povoou nossas conversas. Ainda hoje, vez por outra, quando encontro Chico Branco, ele rememora o fato: – Abdon, tu ainda lembras do “esporro” que Cafeteria deu por conta do crescimento como “rabo de cavalo”? 

E rimos a valer. 

Vinte quatro anos depois daquela eleição, vejo o governo comunista estadual investir pesado em tudo que possa significar uma mudança em relação ao governo anterior, do grupo Sarney. 

A última polêmica que vi nos meios de comunicação foi a exploração de um “comboio” levando material de construção para uma ponte na Baixada Maranhense, tudo muito bonito, devidamente identificado visualmente. Detalhe: a ponte prometida desde muito, ainda se encontra nas fundações e, pelo ritmo das obras, deve avançar e muito no próximo mandato.

A primeira indagação que me ocorre é: o Maranhão mudou mesmo? Como é possível que a construção de uma simples ponte seja motivo de tanta exploração política? Que usem como “desencanto”, conforme o próprio governador alardeou, que estava “desencantando” a bendita ponte?

Vejam não se trata, sequer, da inauguração da obra – que ainda não saiu do lugar –, mas apenas do material. A ponte a merecer tanto alarido e exploração “ainda na intenção”, não é a que vai ligar a Ponta da Madeira ao Cujupe, com quase 20 km, mas, apenas uma “pontinha”, com cerca de 500 metros, sobre o Rio Pericumã. 

Claro que é uma obra importante, assim como é a perfuração de um poço artesiano de 80 metros num povoado do interior – e que o governo estadual faz questão de inaugurar com direito a banda de música e tudo mais.

Mas, diferente, do que querem mostrar, essas “miudezas”, longe de representar “avanço” ou “mudança” exibem o nosso fracasso.

Fico imaginando – e só posso imaginar pois não temos governantes que pensem grande –, se fosse a obra rodoferroviária ligando a capital do estado à Baixada Maranhense. Nada disso! Muito longe disso!

O Maranhão mudou! Agora se inaugura “intenção” de fazer a obra; a assinatura da “ordem de serviço”; o lançado da pedra fundamental e, até o transporte do material. Uma mudança do ...

Confesso que não consigo entender esse tipo de coisa.

Como prova de “mudança” devo dizer que a “inauguração” do transporte de material não é lá muito original. 

Lembro que no governo da senhora Roseana Sarney, o seu cunhado, secretário de saúde, anunciou que iria resolver o problema do abastecimento de água na capital. Dias depois ele fez divulgar em todos os meios de comunicação a “inauguração de carros-pipas”. E, lá estava ele, o próprio secretário, todo parvo “passando em revista” os ditos veículos encarregados do transporte do líquido precioso. 

Ao ver tal cena não pude deixar de ironizar o grande “avanço” dizendo que estava muito semelhante ao transporte de água do tempo de Ana Jansen, a Donana, apelidada de “Rainha do Maranhão” que por aqui viveu e fez fortuna no século XIX. A diferença é que a política e empresária tocava um negócio a suas próprias expensas, sem fazer uso dos recursos públicos.

Doutra feita o mesmo ex-secretário colocou em exibição e atrapalhando o trânsito da capital dezenas de ambulâncias ocupando toda ponte do São Francisco, Avenida Beira-Mar até chegar ao Palácio dos Leões. 

Como vemos vem de longe essa ideia de exibirem os “avanços” do nosso estado. 

Há uma breve diferença entre uma e outra mudança: não se esteva às vésperas de uma eleição. 

Quem melhor se aproximou do que o governo estadual faz nos dias de hoje com a “inauguração” dos materiais de construção foi o ex-governador João Castelo quando candidato à reeleição em 2012. Faltando pouco tempo para eleição inventaram de “modernizar” o transporte coletivo para a capital. A solução seria um VLT - Transporte Leve sobre Trilhos. E, nos dias anteriores ao pleito, lá estava o tal do VLT atrapalhando o trânsito da capital. O propósito: exibir para a patuleia o quanto avançado seria o transporte da cidade com a eleição do gestor-candidato. Não deu certo, João Castelo, identificado como representante do atraso, inclusive pelo que fez com o tal VLT, perdeu a reeleição para o candidato “novo e moderno” apoiado pelo atual governador que lhe copia, em seu próprio demérito, o mesmo modelo.

Ao se comportarem assim, nada ficam devendo a ex-governadora e sua troupe que se deixou fotografar sobre uma máquina no lançamento da Refinaria de Bacabeira, a famosa refinaria “Viúva Porcina”  – aquela que nunca existiu.

As pessoas não percebem, e a mídia não mostra, o quanto esse tipo de coisa, longe de refletir “mudança”, atesta nosso desastre civilizatório. Isso estar “na cara do povo”, mas tentam – e conseguem –, vender aos incautos que estão, na verdade, promovendo uma grande mudança no Maranhão.  

Sinto a imensa falta de uma consciência crítica, de uma sociedade que seja capaz de analisar  os fatos como eles são de verdade e não como “vendidos” pelos meios comunicação, estes, sem qualquer comprometimento com a verdade e/ou com as melhores práticas.

Já encerrando esse texto, tenho como melhor exemplo de “mudança” uma peça plebiscitária do governo estadual. Nela, com o fundo musical: “o Maranhão está mudando, tá, tá, tá, na cara do povo...”, uma senhora, supostamente, do Município de Jenipapo dos Vieiras, com apenas um dente na parte superior da boca, narrando um pouco do seu muito sofrimento, com a falta de assistência na área da saúde pública. 

A pobre senhora, muito feliz, elogia o atendimento que vem recebendo de um programa chamado “Brigadas da Saúde” que promove atendimento nos trinta municípios com pior IDH.

Muito bom o comercial – emocionante até –, mas que atesta o nosso atraso. Vejam uma peça publicitária que diz que o “Maranhão está mudando” e que essa mudança “está na cara do povo”, exibe uma senhora com apenas um dente. 

A pobre senhora, com seu solitário dente, nem desconfia do tanto que o estado lhe é devedor.

A cara da mudança é essa da senhora desdentada? Ou essa senhora apenas atesta o fracasso? Será que três anos e meio depois a saúde estadual não teve “tempo” de promover uma melhora da dentição desta – pelo menos –, senhora que aparece no comercial que atesta a “mudança”? Essa é a mudança que estar cara do povo?

Nada me parece mais ilustrativo do que a mudança no Maranhão – tão cantada em prosa e verso –, ser representada por uma senhora com apenas um dente na parte superior da boca.

Como dizia o saudoso Cafeteira sobre aquela pesquisa: – estamos crescendo como rabo de cavalo: para baixo.

Abdon Marinho é advogado.