MARKETING ESTRADEIRO.
Por Abdon Marinho.
LI OUTRO dia, em um matutino local – e depois noutras mídias –, que o governo estadual divulgara uma propaganda sobre as estradas maranhenses em um jornal do Sul do país, no caso, na Folha de São Paulo. Segundo estimou o noticioso, propaganda semelhante àquela, naquele dia da semana (domingo), custaria mais de 500 mil reais, quase 600 mil reais.
Achei um absurdo, uma inversão de prioridades. Qual o objetivo de uma propaganda nacional sobre “estradinhas” no interior do Maranhão?
Não vejo sentido que se gaste numa simples propaganda de um dia o valor de uma escola-polo, com seis ou oito salas de aulas, biblioteca, laboratório, refeitório, área de lazer, cozinha, banheiros, secretaria, diretoria, e tudo mais.
Em um dos municípios onde trabalhei, com o valor supostamente gasto na propaganda de um dia, veiculada na Folha de São Paulo, segundo a matéria, construíram uma escola nas condições acima descritas.
Aquela gestão chegou a construir seis, eliminando perto de cem escolinhas de chão batido.
Em sendo verdadeira a notícia, o governo estadual, na minha opinião, fez um péssimo negócio. Na verdade, o contribuinte maranhense, que é quem paga a conta, fez um péssimo negócio.
Esse marketing ruinoso, na verdade, depõe, inclusive, contra as autoridades do estado, caso, lhes tenham ocorrido a intenção de auferir alguma vantagem político-eleitoral com a tal propaganda.
A peça publicitária mostra um suposto engenheiro, em primeiro plano, com uma singela estradinha ao fundo, pista simples, sem acostamento e que, se olharmos direitinho, é capaz de verificarmos o asfalto quase transparente.
Na publicidade há a informação de que estão construindo 06 (seis) novas estradas (no padrão da que consta da propaganda?), que já fizeram 3 mil km de asfaltamento e que o investimento nisso tudo foi de 2 bilhões de reais.
O mote ainda tem o convite: venha crescer com a gente.
Ao ver a peça publicitária, examina-la nos seus detalhes, confesso que senti uma certa, como se diz, “vergonha alheia”.
Quer dizer que o grande Maranhão que estão vendendo Brasil afora, a “peso de ouro”, como se dizia antigamente, é esse, da estradinha acanhada, quase transparente?
Quer dizer que o Maranhão investiu 2 bilhões neste tipo de infraestrutura?
Este é o “progresso” que querem oferecer ao Brasil?
Fiquei tão acanhado com a propaganda que nem ia falar disso. Pensei que tinha sido apenas um ato falho momentâneo e que o “comercial” tinha saído unicamente naquela edição da Folha de São Paulo e que a vergonha já seria a notícia de enrolar peixe na feira do dia seguinte.
Ledo engano. Passados mais de duas semanas, vejo o mesmo comercial noutras mídias nacionais, sabe-se lá a que custo.
Trata-se de um marketing estradeiro – não apenas por se referir às “estradinhas”, mas no sentido figurado, de adjetivo e substantivo masculino –, ainda mais quando o Maranhão inteiro e até parte do Brasil, assiste as tais estradas, a infraestrutura para atrair os investidores para o estado se “dissolverem”.
Pois é, para nossa vergonha e constrangimento, as estradas do Maranhão estão se dissolvendo neste inverno.
Estamos desmentindo ensinamentos que remontam os tempos bíblicos: que água e óleo não se misturam.
Pois é, por aqui, a água “dissolve” o óleo do asfalto.
Vejam, ainda que se tente colocar a culpa no rigor do inverno, sabemos que isso não é verdade. Claro que as chuvas contribuíram com o caos, mas não foi determinante. Na realidade, como já cansamos de falar e escrever, as intervenções efetuadas nas rodovias deixaram e deixam muito a desejar.
O próprio governador prometeu há mais de dois anos recapear toda rodovia entre o Cujupe e Governador Nunes Freire (MA 106). Acho que não chegou a cidade de Pinheiro, e mesmo a parte que fez não aguentou um inverno.
Quando da realização da obra alertei, aqui mesmo que isso aconteceria, que obra estava sendo mal feita. Desde então constato isso.
Outra que alertei foi o trecho de Quatro-Bocas a Carutapera (MA 206), e de Carutapera a Cândido Mendes (MA 101). Desde que o governador assumiu que fazem paliativos nestas duas rodovias e sempre alertamos para a má qualidade dos serviços executados.
Por estes dias, o que estava ruim, piorou e aqueles municípios ficaram isolados, conforme apelou por uma solução imediata o prefeito de Luís Domingues, em vídeo que circulou na internet.
A obra entre os municípios de Bom Jardim e São João do Caru (MA 318), teve a “inauguração” da ordem de serviço pelo então secretário de infraestrutura do governo passado, antes do período vedado pela lei eleitoral do ano de 2014, até agora, seis anos depois, não deram conta de terminar, não é uma obra extraordinária, é uma estradinha, como a que aparece no comercial. Não deram conta, fotografias e vídeos que circulam nas redes sociais mostram que até os nossos valentes jumentos estão atolando naquela e noutras vias estaduais.
E, conforme anuncia o mesmo comercial, investiram (ou estão investindo) dois bilhões para infraestrutura, o que faltou?
Do norte ao sul do estado nos chegam noticias de vias cortadas, estrada destruídas, ou que, simplesmente, se dissolveram neste inverno.
Merece destaque, pelo inusitado, a rodovia feita, em parceria com um empresa privada, entre os municípios de Barreirinhas e Paulino Neves (MA 315), inaugurada com pompas e circunstâncias pelo próprio governador, menos de três meses da inauguração, dissolveu-se.
Neste caso, a responsabilidade deve ser compartilhada com a empresa, mas isso não diminui a participação do estado no episódio.
Pelo plano rodoviário do estado, que deve ser do conhecimento das autoridades do setor, a estrada prioritária deveria sair Barreirinhas pelo Povoado Barro Duro (MA 402) e de lá fazer a ligação para Paulino Neves via Tutóia, até ligar-se à MA 346, na divisa do Piauí.
Se seguissem o plano rodoviário poderiam, inclusive, aproveitar as pontes que já foram feitas anteriormente.
Com a desculpa de que se trataria de um Estrada ecológica, preferiram aprovar a realização da obra nos limites do Parque dos Lençois, desafiando um ecossistema fragilíssimo. Deu no que deu.
Mas nada parece abalar a confiança dos “iluminados” que dirigem o estado e, enquanto o governador do estado vendia no estrangeiro a “verdadeira revolução” que o seu governo opera – caso inédito na história do comunismo mundial –, em uma das mais prestigiadas universidades do mundo, Harvard, na cidade de Cambridge, estado de Massachusetts, EUA, no Maranhão de verdade, numa ambulância atolada em uma estrada nos rincões do estado, que, pela notícia acredito ser a MA 326, uma mãe “perdia”, no parto prematuro e improvisado, dois filhos gêmeos.
Ah, aquele ceguinho que semanalmente faz a linha Fortaleza - Belém, já está identificando com mais facilidade quando entra e quando sai do Maranhão.
Abdon Marinho é advogado.