OPOSIÇÃO!? QUE OPOSIÇÃO?
Por Abdon Marinho.
OUTRO dia um amigo fazia troça com a falta de atitude dos deputados estaduais de oposição ao atual governo.
Insatisfeito com inércia das excelências, dizia ele: — Abdon, descobri o motivo da oposição não está falando nada sobre essas coisas – foi no auge da denúncia do delegado Bardal sobre bisbilhotagem aos desembargadores e manipulação de investigações –, é que está muito ocupada. Olha aí a preocupação da oposição.
Dito isso me mandou um “print” de um Projeto de Resolução Legislativa, de autoria do senhor deputado Adriano, que concede a medalha de mérito legislativo “João do Vale”, ao cantor Bruno Patricio Abreu Ferreira, tendo por relator outro prócere da oposição, o deputado César Pires.
Fiquei sabendo que o homenageado é mais conhecido como Bruno Shinoda.
Bem, não conheço o trabalho do artista – e isso não ocorre por conta dele, mas porque levo uma vida de Casmurro –, decerto, o senhor Shinoda deve merecer bem mais que a comenda proposta pelo deputado.
Por outro lado, não posso deixar de reconhecer assistir razão a esse amigo, quando, na sua irresignação, faz pilhéria com o papel desempenhado pela oposição na atual quadra política.
Como já observado em textos anteriores, o parlamento estadual tem conseguido piorar a cada legislatura. E, parece-me, que a oposição tem seguido o ritmo ou piorado mais.
Lembro que quando trabalhava na Casa de Manoel Bequimão, a oposição inteira não chegava a dez deputados, mas o nível de articulação, conhecimento, disposição para o embate, fazia parecer que estavam emparelhados com a grande maioria governistas.
Na antessala do Plenário ou na Sala de Imprensa era comum ouvirmos que deputado fulano ou sicrano valia por dez ou uma dúzia dos governistas.
Hoje, pelo que dizem, está um por um, sem pedir troco. E olhem que o “papel” de pedra é bem mais fácil que o de vidraça.
Por estes dias li um artigo do juiz federal Roberto Veloso sobre a importância da oposição nas democracias modernas. Muito esclarecedor e veio na esteira do que sempre sustentamos.
Nas democracias, as oposições, ao meu sentir, funcionam como legitimadoras dos governos.
É isso que não temos no nosso estado, onde as próprias instituições parecem fragilizadas.
Vejamos, não é de hoje que se têm notícias de investigações clandestinas e criminosas contra os adversários do governo, tendo um delegado – ainda que apanhado nos seus próprios malfeitos –, não apenas confirmado, como confessado, que recebeu ordem do secretário de segurança pública para bisbilhotar a vida de desembargadores, além da manipulação de investigações criminais. Se chegaram a esse ponto, o que falta fazerem?
Apesar daquela confirmação o silêncio imperou, ninguém disse nada. Apenas, ultimamente, se teve notícia de um ofício do presidente do tribunal pedindo ao ministério público que investigasse o fato relatado pelo delegado.
Em relação a oposição foi como se nada tivesse acontecido.
Assim, como nada ou muito pouco têm a dizer – ou a protestar–, sobre a piora em quase todos os indicadores sociais e econômicos do estado; sobre a “quebra” no Fundo de Previdência do Estado; sobre o inchaço da máquina pública, com a criação, em pouco tempo, de mais de três mil cargos comissionados; sobre o fato das obras públicas estarem entregues a empresários de competência e honestidade duvidosas e/ou mesmo sobre o fato de tais obras públicas, que custaram (ou estão custando) uma fortuna, simplesmente terem se “dissolvido” neste inverno.
São fatos de gravidade ímpares para os quais a oposição – e mesmo as instituições fiscalizadoras –, parecem atribuir pouca ou nenhuma importância.
Não conheço a capacidade pessoal das excelências, com certeza devem possuir bastante, mas como opositores a um governo – que sabe usar os meios de comunicação de massas –, não poderiam ser mais fracos. Uma espécie de Exército de Brancaleone dos trópicos. Não que sejam maltrapilhos, pelo contrário, mas pela falta, inata, de aptidão para o ofício.
A respeito disso podemos citar apenas dois exemplos. O do deputado Adriano, que para exercício parlamentar, abdicou do próprio nome da família e do deputado federal Edilázio Júnior, também da família, por afinidade.
Quando o deputado Adriano, cometeu o “desatino” de renunciar ao próprio nome, comentei com um amigo próximo que jamais havia testemunhado tamanha prova de inabilidade política – até então.
Primeiro, que a medida era absolutamente inócua, jamais deixaria de ser um Sarney, filho de Sarney Filho e neto de José Sarney. O Maranhão, para o bem e para o mal, é uma aldeia, onde todos se conhecem e sabem de onde vem cada um.
Perguntei a esse amigo se o deputado não tinha nenhum assessor, amigo ou mesmo a iniciativa de ouvir mais alguém ante de cometer esse tipo de tolice.
Segundo, que ao abdicar do próprio nome, “liberou” todos aqueles que restavam fiéis ao grupo Sarney de continuar a sê-los.
Ora, se o próprio neto não quer ser reconhecido como um “Sarney”, porque, quem sequer é parente vai “quebrar-lanças” por eles, sobretudo, num estado miserável como nosso, onde se guarda a sobra do almoço para comer na janta? Onde, mais do que em qualquer outro lugar, tanto se necessita dos favores públicos?
Neste cenário político, até então, esse tinha sido o maior desastre dos oposicionistas diretamente ligado ao grupo Sarney, aí veio o deputado federal Edilázio Júnior e mostrou que a capacidade de produzirem asneiras estava bem longe do fim.
O deputado vinha bem, tinha feito um mandato anterior atuante, propositivo e, também, por isso, conseguira alçar voo mais alto, saltado de estadual para federal.
Até que conseguiu produzir uma declaração mais desastrada que a omissão do nome do deputado Adriano.
Não discuto se o deputado errou ou não no conteúdo. Mas, não restam quaisquer dúvidas que a forma não poderiam ser mais desastrada.
Nunca tinha visto um político ser tão infeliz em suas colocações quanto o deputado federal do partido verde.
Bem verdade que outros políticos já disseram coisas piores, criminosas, mas foram pegos em inconfidências, gravações clandestinas ou autorizadas judicialmente.
Já o deputado estava ali, se manifestando publicamente, alheio se estava sendo gravado ou não (e todos estamos sendo gravados o tempo todo) e crente que estava “abafando”. Expôs seu verdadeiro sentimento. Poderia se candidatar ao título de “sincero do ano”, pois cometeu aquilo que hoje se chama de “sincericídio”.
Acho que nem aquele deputado governista que foi detido depois de beber “todas”, fazer uso de outras substâncias e agredir algumas pessoas, ao dizer “a gente mata gente” e outras ameaças, saiu-se tão chamuscado do episódio – até porque contou com a conivência cúmplice dos oposicionistas –, quanto o deputado federal Edilázio Júnior, no episódio do píer da Península.
Ora, ele teria inúmeras razões, sobretudo, de ordem técnica, para se manifestar contrário ao projeto do governo estadual, não haveria qualquer necessidade de descambar para preconceitos que talvez nem os possua no trato pessoal. Como não o conheço, não posso dizer.
O que sei é que suas palavras – editadas ou distorcidas, como disse –, não poderiam ser mais infelizes para sua carreira política. Para sempre será lembrado e cobrado por elas. Só ver a infinidade de “memes” com a imagem do deputado.
Existem outros parlamentares de oposição, mas os acima referidos são os comandantes naturais do grupo Sarney.
E, como vimos, deram mostras que a missão foi bem maior que eles.
É bem verdade que os Leões sempre tiveram muita força. A história mostra isso. Vejam que mesmo com uma oposição mais aguerrida, o grupo Sarney só foi defenestrado do poder a partir de uma ruptura interna. Sem ela, ainda hoje estariam mandando.
Foi a ruptura de José Reinado Tavares, devido a uma conjuntura de cunho pessoal, que possibilitou a eleição do primeiro governador de oposição, em 2006, Jackson Lago, e abriu a possibilidade da segunda vitória, com o senhor Flávio Dino, em 2014, e assim mesmo, porque a governadora Roseana Sarney abdicou de governar o estado, entregando-o nas mãos de prepostos, ao invés de fazer de um grande governo, quando voltou a ele depois depois que “tomou” o governo em 2009 e, principalmente, depois de reeleita para o quadriênio 2011/2014.
O velho Sarney dado às coisas da literatura deve imaginar que assim como a briga por causa de uma mulher destruiu Tróia, também a briga por uma mulher provocou a destruição de todo seu grupo, de todo o seu poder no Maranhão – e não estamos falando de Helena.
Assim como no caso do grupo Sarney, o fim do “comunismo” no Maranhão se dará a partir de uma ruptura interna do grupo.
A diferença em relação ao grupo anterior é que isso ocorrerá bem mais cedo.
Já nesta próxima eleição (2020) teremos o “desenho” da futura composição de forças, dentro do grupo comunista, para o “cisma” que ocorrerá de forma definitiva em 2022. Isso é inevitável.
Mesmo no mundo animal, nunca vi um cão que está com o osso na boca o ceder para o outro. Eles brigarão até que o mais forte, fique com o osso para si. Sem contar que os cães são territorialistas.
Como demonstrado acima, não há uma oposição orgânica capaz de representar qualquer risco ao governo.
O grupo Sarney (ou o que sobrou dele) não representa mais qualquer risco eleitoral potencial, embora os governistas ainda achem que se choveu ou se fez sol a culpa é do Sarney.
Uma terceira via, até agora não se mostrou possível, não digo que não suja, talvez alguém de fora da política. Mas, não vemos quadros que mostrem disposição para enfrentar essa “guerra”.
Claro que quatro anos é um tempo considerável e poderia possibilitar esse surgimento, como ocorreu no Rio de Janeiro, Minas Gerais e outros estados. Mas quem?
Na quadra atual a única oposição que enxergo é a que se forma dentro do grupo do atual governador.
Os fantasmas que perturbam o sono dos governistas estão mais próximos do que podem imaginar.
Abdon Marinho é advogado.