O MARANHÃO É UMA IMENSA SAVANA.
Por Abdon Marinho.
FOI o ex-deputado Marcony Farias quem me disse, certa vez – há alguns anos –, a seguinte frase:
— Abdon, o Maranhão é uma imensa savana comandada por dois leões (uma referência aos dois leões que adornam a entrada do palácio sede do governo estadual).
Dos tempos em que os dias eram curtos para o muito que lia adquiri um vício: gosto de uma boa frase, uma colocação de impacto. Essa me pareceu muito interessante. Uma síntese perfeita do nosso estado.
Por onde passava, e dizia tal frase, ouvia o assentimento e concordância do interlocutor.
Fiquei dias, semanas, meses, imaginando como imortalizar (quanta pretensão minha) tal frase em um texto.
Dos anos de fiel admirador da Sétima Arte, ficava me transportando para aquelas vastas savanas africanas retratadas em uma infinidade de películas clássicas.
Outra lembrança a assaltar-me sempre que ouço o termo savana, são aquelas vastas planícies dominadas pela seca que costumamos assistir nos canais ou mesmo nas revistas da National Geographic.
Ainda dentro deste contexto, Imaginava os esquálidos felinos do alto do morro dominando a planície, vez ou outra, descendo para caçar a refeição do dia.
Em um estranho paradoxo, a área geográfica identificado como savana no Maranhão é justamente a mais rica que, embora dominada pelos leões, deles não depende para nada.
A savana a merecer verdadeiramente o nome tal qual reportada no imaginário de todos que nos remete à mais degradante miséria é a experimentada pela quase totalidade da população que sobrevive sob índices africanos em quase todos os quesitos pesquisados por institutos sérios – apesar de vivermos em um estado potencialmente rico.
O nosso atraso desafia a lógica. E, neste aspecto o Maranhão sempre foi uma grande savana.
Foi assim com o vitorinismo, com o sarneismo e, assim continua, na fase do comunismo.
A impressão que fica nos cidadãos de bem é que aos leões de plantão – nas várias épocas –, tal miséria se mantém como um instrumento de dominação. Os leões por serem mais fortes vão reinando e dominando as demais espécies na vasta planície da savana.
Outro dia um senador da República, Roberto Rocha, que não pediu segredo, disse-me que se o governo federal se dispusesse a investir um bilhão ou mais de reais no Maranhão em obras estruturantes de grande monta não poderia, porque não existem projetos neste sentido no estado. Não duvido que esteja certo.
O senador é um dos raros políticos maranhenses da atualidade que tem excelentes ideias. Tão boas a ponto de fazê-lo pensar que só ele tem boas ideias e não querer ouvir as dos demais, o que coloca em risco as excelentes ideias que tem.
Já o atual governo – que foi depositário de tanta esperança para povo pois estava pondo fim ao “regime de dominação anterior” –, avança pelo quinto ano sem que tenhamos notícias de um projeto de futuro para o estado. Seus leões – e demais integrantes da corte –, passam grande parte do tempo “caçando conversa” com os adversários – reais ou imaginários –, e/ou “fuxicando” nas redes sociais.
Em alguns aspectos, é dever registrar, até conseguem ser piores do que o regime que substituiu, basta vermos as graves suspeitas de bisbilhotagem à vida das pessoas, a intolerância à liberdade de expressão, a perseguição à imprensa livre e a própria inaptidão para a gestão pública.
Aliás, soube que outro dia, em uma roda de conversas, alguém fez a seguinte pilhéria: dizia que quando sua excelência, o atual governante, era apenas um “menino do buchão” e lhe perguntavam o que queria ser quando crescesse, ele não respondia que queria ser um juiz, um médico, um advogado, um jornalista, um bombeiro, um policial, etc. Respondia que queria ser o “Sarney”. Segundo o autor do chiste o gajo batia o pezinho e repetia incansavelmente o desejo de ser o Sarney quando crescesse.
Mas isso deve ser mesmo apenas uma pilhéria. Não acredito que seja sério.
Mas voltando ao assunto sério ninguém sabe quem está “pensando” o estado para as próximas décadas – se é que tem alguém fazendo isso no atual governo. Quais são os grandes projetos capazes de alavancar o Maranhão para o desenvolvimento?
Segundo Sarney, o original, só nos restou agora o Centro de Lançamento de Alcântara, pelo qual devemos “nos bater” para ver aprovado o acordo de salvaguardas com os americanos e com outros países que disponham de tecnologia para isso.
Devo confessar que acho muito pouco, mas, o que dizer de um governo que solta rojões por inaugurar sentinas, um poço artesiano aqui ou acolá ou escolinhas de duas salas?
Quando vejo isso imagino o quão baixas estão as nossas expectativas para o futuro.
Claro que tais obras são importantes para o nosso povo. Mas isso não é projeto de estado. Isso não é o suficiente para a libertação do povo das amarras do atraso.
Ficamos com a impressão (ou certeza?) que nossos políticos só conseguem enxergar até a próxima eleição – e depois para a seguinte.
Na verdade, infelizmente, e digo isso com pesar, não temos um projeto de estado, mas sim um projeto de poder da classe política local, que usa a mísera do povo para reinar sobre a imensa savana.
A última vez que ouvi um político falar em uma união em torno de um projeto de desenvolvimento para Maranhão foi com o ex-governador José Reinaldo Tavares ainda no ano de 2015. E, por sugerir isso aos novos leões dominantes sobre a savana, foi destratado, humilhado, traído e, por fim, levado ao ostracismo político.
O resultado desta falta de união e de projeto de desenvolvimento para o estado é que acabamos de perder uma siderúrgica para o Estado do Pará. Já até tínhamos um terreno pronto ali em Rosário distante pouco mais de 60 km da capital.
O novo empreendimento que será instalado na cidade de Marabá, com potencial para gerar milhares de empregos diretos e indiretos no estado vizinho, nos traz uma preocupação adicional: com a siderúrgica instalada, por que não construírem um porto naqueles rios amazônicos para escoar não só as manufaturas, mas o próprio excesso da commodity? Qual o sentido do minério vir “passear” no Maranhão depois disso?
No futuro, corremos até o risco de perdermos aquela fonte de renda extra para os municípios recém conquistada: os royalties da mineração pelo qual tanto se lutou. Escrevi sobre isso no texto “A Vitória da Perseverança”.
Em meio a essa polêmica da “perda” da siderúrgica li dois textos se contrapondo. De um lado um deputado de oposição criticava a perda do empreendimento e recomendava aos maranhenses procurarem empregos em Marabá, de outro, um secretário do governo estadual tentando justificar e criticando o deputado opositor “egresso” do antigo regime.
Vi como sendo um debate do “sujo falando do mal lavado”, como se dizia lá no meu povoado.
Ora o deputado é sabedor que essa imensa savana africana que se tornou o Maranhão não é fruto apenas deste governo, o antigo regime, do qual fez parte tem uma colossal parcela de culpa. Durante os anos que os leões de sua família reinaram – assim como no reinado atual –, bilhões de dólares foram emprestados sem que o resultado desta monumental dívida se revertesse em benefícios do povo e isso se devendo, também, a falta de projetos de infraestrutura e de desenvolvimento para o estado.
Tanto sabe disso que uma das primeiras providências – senão a primeira –, que adotou na atual legislatura foi abdicar do nome família, passando a se identificar, pelo menos no parlamento, apenas pelo prenome.
Por sua vez o secretário, mais motivado pelo desejo de “prestar serviço” aos novos leões reinantes, nada disse que justificasse a perda do empreendimento ou apresentou os planos do estado para as décadas seguintes, falou de questionáveis empreendimentos da iniciativa privada que nada deve ao atual governo.
De certo o que temos na atualidade é o mesmo “modus operandi” das oligarquias anteriores, infraestrutura inexistentes, com estradas e pontas de ruas que custaram milhões se “dissolvendo” com as chuvas, um estado endividado, um povo sem esperança e sem qualquer perspectiva de futuro sendo escorchado por uma carga tributária de primeiro mundo enquanto oferece ao contribuinte um serviço de último.
O que temos de concreto é a velha e escaldante savana africana dominada por esquálidos e famintos leões que logo mais nada mais terão para comer.
Abdon Marinho é advogado.