Venezuela 🇻🇪 cola nariz de palhaço no Brasil 🇧🇷.
Por Abdon C. Marinho.
SEMPRE que vou falar de politica relacionada a eleição, representatividade e democracia me vem a lembrança aquela história do coronel do sertão. Como falo muito de política é provável que já a tenha contado aos leitores uma dezena de vezes. Mas, para os que não lembram, a lenda é a seguinte: no sertão do Brasil, em dia de eleição, a urna era colocada na varanda da casa do coronel – e sob as vistas deste –, que, meticulosamente, ia preenchendo as cédulas e entregando-as aos eleitores da região para que estes as colocassem na urna. O roteiro bem simples: o cidadão saia da fila, pegava a cédula devidamente votada pelo coronel e a depositava na urna. Tudo transcorrendo bem até que um dos eleitores fez menção de “abrir” o voto. O coronel gritou: — o que pensa que está fazendo, cabra? O cidadão respondeu: — desculpa, seu coronel, só estava vendo em quem estou votando. O coronel retrucou: — e você não sabe que o voto é secreto?
Fatos assim – outros até mais graves –, povoam as narrativas do direito eleitoral brasileiro referentes aos séculos passados em oposição ao quanto que evoluímos na nossa democracia, sendo os “soluços” antidemocráticos, fatos isolados.
Aqui é assim, mas na Venezuela …
O assunto do texto, embora relacionado com as eleições venezuelanas, nem é esse, mas sim, como o regime ditatorial daquele país fez o governo brasileiro – e não é de hoje –, de bobo. A história das eleições nos tempos dos coronéis, serve apenas para mostrar que, na Venezuela da atualidade, ela ganhou uma nova roupagem.
O aprendiz de ditador, cedendo as pressões internacionais, decidiu marcar eleições “livres” para o dia do aniversário de nascimento de Hugo Chavez (28 de julho), que “instalou” o atual regime. Numa releitura do que faziam os nossos coronéis, aquele regime decidiu que o povo pode votar, mas desde que seja nos candidatos do regime ou fantoches do mesmo.
Para isso, ao longo dos anos, foi “eliminando” os adversários, tornando-os inelegíveis, levando-os às prisões, acusando-os de traidores da pátria, etc, etc., até que restou, no campo da oposição, apenas uma candidata, uma senhorinha de mais de oitenta anos que nunca fizera nada de “errado” na vida; que nunca tivera qualquer participação política – e por isso mesmo –, totalmente fora do “radar” da ditadura. E o que fez o regime? Simplesmente impediu-a de registrar-se candidata. A “velhinha” não conseguiu registrar a candidatura no site da justiça eleitoral do país e tão pouco chegar à sede daquela instituição para fazer o registro de forma presencial.
A “democracia” venezuelana “escolhe” em quem o povo pode votar e é bem provável que estejam batendo cabeça porque “deixaram” uma velhinha e tiveram que deixar cair a máscara da ditadura para impedir que concorresse. Ou não. Talvez o regime se sinta tão confortável que pouco esteja “ligando” para o pensa o mundo exterior a respeito de sua ditadura. Não é assim na Rússia, que ao longo das décadas foi “matando” qualquer suspiro democrático e eliminando fisicamente possíveis oponentes? Não foi assim em Cuba? Não foi assim na Coreia do Norte? E tantos outros.
Pesquisas recentes apontam que setenta por cento da população mundial vive sob o jugo de regimes autoritários – um acréscimo de um quarto em relação ao início dos anos dois mil.
No capítulo venezuelano dos regimes autoritários o Brasil “ganha” o nariz de palhaço por ter – desde que se instalou o atual regime, ainda sob o comando de Hugo Chávez –, vistas grossas, ou como se diz, atualmente, “passado o pano” para o que vinha acontecendo.
É certo que o Brasil não poderia fazer qualquer tipo de “intervenção” no regime venezuelano, claro, mas, a questão é outra. Desde que instalou o regime ditatorial na Venezuela, o Brasil – não adianta dizer que é o atual governo, já na quinta versão –, tem atuado como “fiador” do mesmo.
Quanto o atual governo assumiu, o dirigente venezuelano já visto como ditador por todo o mundo, foi recebido com “pompas e circunstâncias” deferidas a benfeitores da humanidade. Antes, já com o regime mostrando a que veio, o governo brasileiro despejou rios de dinheiro para ajudá-los, em uma das fajutas eleições que fizeram o atual presidente, já na condição de ex-presidente de mandatos anteriores, foi a Caracas participar de comícios em favor do atual ditadorzinho.
O Brasil está “passando o pano” há duas décadas para um regime político que, chegando ao ápice do seu autoritarismo impediu uma velhinha de ser candidata através de estratagema bisonho; que aparelhou todas as instituições; que levou à prisão dezenas, centenas de opositores e que levou o país à ruína econômica.
O nosso país quer se vestir de “liderança” regional e até mesmo global, mas não conseguiu, até aqui, ir além do papel de “bobo da corte” da Venezuela.
Outro episódio que o regime de Caracas colou o nariz de palhaço em Brasília diz respeito à “briga” territorial daquele país contra o Suriname pela região do Essequibo. O Brasil quis fazer papel de “mediador” e acaba de ganhar um novo “chega pra lá” da ditadura venezuelana, que editou uma lei “anexando” a região ao seu território.
Mais uma vez a resposta do Brasil ficou aquém do esperado. Ao dizer que a lei tem sentido “pró forma” é não entender (ou não querer entender) o que ela significa.
Qualquer pessoa sabe que a Venezuela não vai “invadir” o Suriname amanhã, até porque, segundo os especialistas, teria que passar por território brasileiro, o sentido da lei é criar um falso conflito externo para buscar em torno da ditadura uma unidade e, principalmente, oprimir ainda mais os opositores, arranjando desculpas para impingir-lhes a pecha de “traidores” da pátria.
Esse é o real significado da lei de incorporação do Essequibo. Logo mais veremos dezenas de opositores sendo presos como “traidores” da pátria, sofrendo processos fraudulentos, expulsos e condenados por traição.
Isso tudo parece-nos tão óbvio, entretanto, o Brasil finge que não sabe o acontece, preferindo equilibrar-se entre a omissão e as notas protocolares.
Assim, será difícil tirar o nariz de palhaço que a Venezuela colocou.
Ressalte-se que não é apenas a Venezuela que faz o Brasil de bobo no cenário internacional, outras ditaduras também fazem o mesmo como a Rússia, Irã, Cuba, entre outros.
Abdon C. Marinho é advogado.