BOTÂNICA: VIVA O AGUAPÉ!
Por Abdon Marinho.
DESDE 2016 um problema me desafiava. Naquele ano construi um lago artificial para a criação de carpas ornamentais aqui no meu sitio.
A criação, como já cansei de mostrar nas minhas redes sociais me rende muita alegria. Os peixes são lindos e, na maioria das vezes, mais inteligentes que muitos humanos. Já contei, também, sobre o espírito solidário deles é sobre o temperamento.
Apesar de toda essa satisfação com a criação das carpas que, até, se reproduzem no lago que criei, havia um problema: não conseguia conservar a água transparente devido a grande proliferação de algas. Estava sempre trocando a água, o que estressava os peixes, além da eficácia do método sem bem efêmera, limpava e trocava a água num dia e, dois dias depois, a água já estava turva.
As outras opções, como colocar filtros ultravioletas me pareceu demasiadamente custosa. Pelo tamanho do lago teria que ser, pelo menos, uns cinco filtros e bombas consumindo energia.
Foi aí que passei a estudar botânica e redescobri o aguapé como alternativa para resolver meu problema.
Digo “redescobri” porque, além de ser do interior, do mato, propriamente dito, sou “viciado” em assistir o Globo Rural, quase nunca perco e já tinha ouvido alguma coisa sobre a planta, só faltava aprofundar.
Aos desavisados a Eichhornia crassipes é uma espécie de planta aquática da família Pontederiaceae, conhecida pelos nomes comuns de jacinto-de-água e aguapé. A espécie é originária das massas de água doce das regiões tropicais quentes da América do Sul, com distribuição natural nas bacias do Amazonas e do Rio da Prata.
O que interessa aos apreciadores de lagos é o resultado que alcancei. Pedi a um amigo que trouxesse algumas mudas de aguapés do interior (apenas umas três).
Em pouco tempo (muito pouco mesmo) consegui melhorar a turbidez da água. Apenas para se ter uma ideia sobre a clareza da água no estágio atual, é possível avistar-se tudo no fundo do laguinho, coisa que não conseguia antes, apesar dele possuir apenas 60 cm de profundidade.
Este resultado só foi obtido graças a inclusão da planta no processo de filtragem da água.
No sistema que implantei a água sai do lago para os filtros biológicos – um total de três, devido tamanho do lago –, e depois passa pelo filtro de aguapés retornando ao lago. Os aguapés “devoram” toda matéria orgânica, devolvendo ao lago a água limpa e transparente.
Segundo os pesquisadores da planta, ela apresentou excelente resultado até mesmo na limpeza de lagos e rios onde foram despejados dejetos de matadouros, seja de origem bovina, caprina ou de aves.
Como as plantas se “alimentam” da matéria orgânica, quanto mais matéria orgânica nos cursos d’água, mas elas se reproduzem, dobrando sua quantidade a cada semana. Ou seja, a cada semana uma planta “vira” duas e assim, sucessivamente, em forma exponencial.
Devido a grande proliferação é tratada, por vezes, como vilã. O que, ao meu sentir é um equívoco. Na verdade, não é a planta que polui os rios ou lagos, ela se reproduz justamente para fazer a limpeza da sujeira deixada pelo homem.
A partir da minha experiência, vejo que se os humanos soubermos aproveitar este grande potencial desta planta podemos promover uma sensível melhora da qualidade da água dos rios, lagos, igarapés e outros cursos d’água.
O governo poderia aproveitar e desenvolver pesquisas a partir dos resultados já comprovado e tentar um processo de limpeza dos rios e Igarapés, inclusive estes atingidos pelos desastres ambientais de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais.
Uma outra vantagem dos aguapés, segundo os pesquisadores, é que, como se reproduzem numa velocidade estonteante e possui grande riqueza nutricional, podem ser aproveitados como ração animal ou mesmo na geração de energia.
Mas isso é assunto para um outro texto. Já me basta ter resolvido o problema da qualidade da água das minhas carpas.
Abdon Marinho é advogado.