AbdonMarinho - Tigre de mentira, miséria de verdade.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 08 de Março de 2025



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Tigre de men­tira, mis­éria de verdade.


Tigre de men­tira, mis­éria de verdade.

Por Abdon C. Marinho.

EM 2024, na esteira do trigésimo ano de aniver­sário das eleições de 1994, escrevi uma coletânea de tex­tos alu­sivos àquela eleição. Uma espé­cie de memória de quem viveu aque­les de den­tro de uma das alas da dis­puta. Apelidei os seis tex­tos de “Trinta anos de uma cam­panha mem­o­rável” e nominei cada um dos episó­dios.

Não faz muito recebi de um amigo querido – que tam­bém esteve pre­sente naquela cam­panha –, um fil­mete da cam­panha da can­di­data vito­riosa, Roseana Sar­ney, onde a mesma aparece em um ambi­ente de sala de aula para mostrar como iria preparar o Maran­hão para o futuro. A can­di­data cita como exem­plo os Tigres Asiáti­cos como mod­elo, dizendo que três daque­les ter­ritórios (For­mosa, Sin­ga­pura e Cor­eia do Sul), saíram da pobreza em vinte anos para se trans­for­mar em potên­cias econômi­cas, a par­tir do inves­ti­mento em mão de obra e tec­nolo­gia. A can­di­data ainda coloca as rep­re­sen­tações dos três ter­ritórios den­tro do mapa do Maran­hão para mostrar que eles, soma­dos, pos­suem uma área bem menor que a do nosso estado e sem os recur­sos nat­u­rais que já dis­pún­hamos naquela época.

Revendo aquele video trinta anos depois – e sem a ten­são daque­les dias –, conclui-​se que a can­di­data até que se saiu bem na apre­sen­tação da peça pub­lic­itária, ape­sar dos recur­sos tec­nológi­cos ainda estarem “engat­in­hando”, ape­nas para ficar na refer­ên­cia dos feli­nos.

O que não foi nada bem foi aquela pro­posta de trans­for­mar o Maran­hão em um “tigre do nordeste”. Ape­sar de ter dito saber como trazer o desen­volvi­mento para o estado e os cam­in­hos a per­cor­rer para isso, cheg­amos à con­clusão que a can­di­data ape­nas foi bem “ensa­iada” para pas­sar com tanta con­vicção pro­postas que jamais iria colo­car em prática.

Roseana “levou” a eleição de 1994, depois, nova­mente, em 1998, elegeu o suces­sor e retornou nova­mente ao gov­erno em 2008 (ficando até 2014) após um curto período do gov­erno de Jack­son Lago, eleito con­tra ela e colo­cado para fora do gov­erno em 2008.

O tempo de vinte anos que fez países mis­eráveis se tornarem potên­cias e econômi­cas cor­re­sponde ao que a então can­di­data teve prati­ca­mente soz­inha no poder para implan­tar ou para, pelo menos, lançar as bases daquele desen­volvi­mento prometido.

Trinta anos depois vemos os indi­cadores do estado prati­ca­mente no mesmo lugar man­tendo o Maran­hão “acor­rentado” aos gril­hões do atraso.

Mais ilus­tra­tivo do que qual­quer indi­cador econômico ou social sobre a nossa situ­ação no cenário nacional você encon­tra no horário nobre da tele­visão onde passa nos inter­va­los da pro­gra­mação uma “vis­tosa” cam­panha do gov­erno estad­ual anun­ciando suas políti­cas de com­bate à “extrema pobreza”.

O Maran­hão, trinta anos depois de ter sido anun­ci­ado como o futuro “tigre do nordeste” não é um estado com uma pop­u­lação pobre é ainda um estado que pos­sui parte de sua pop­u­lação “extrema­mente pobre”, pre­cisando dos favores do estado para con­seguir sobre­viver.

Essa dura ver­dade, com o máx­imo de sin­ceri­dade, nos é dita pelo próprio gov­erno do estado enquanto assis­ti­mos o Jor­nal Nacional ou outra pro­gra­mação qual­quer do horário nobre.

Esse texto não é para fazer “des­fi­lar” os números do nosso fra­casso – e pos­suirmos a maior parte da pop­u­lação depen­dente de bolsa-​familia e uma infinidade de out­ros pro­gra­mas assis­ten­ci­ais –, o seu propósito é nos fazer refle­tir sobre eles.

Vejam, há trinta anos a can­di­data vito­riosa já dizia que para trans­for­mar o Maran­hão em um “tigre do nordeste” dev­eríamos inve­stir em edu­cação, qual­i­fi­cação de mão de obra, tec­nolo­gia, atrair empre­sas, aumen­tar expor­tações … o que fize­mos nesse sen­tido? O que ela fez, já que ficou quase vinte anos no poder? Por que o Maran­hão não se tornou ao menos um “gat­inho” em matéria de desen­volvi­mento, se já se sabia o que fazer para chegar ao desen­volvi­mento?

Faço esse texto com “desalento dos fra­cas­sa­dos” pois a minha ger­ação e, tam­bém, aquela que nos pre­cedeu, não alcançare­mos as “luzes do desen­volvi­mento”.

Aquele sonho de ver­mos pré­dios mon­u­men­tais nos dois lados da baía de São Mar­cos, por­tos dos dois lados car­regando e descar­regando riquezas ao mesmo tempo em que mil­hares de tur­is­tas virão ao estado con­hecer nos­sas riquezas nat­u­rais e os avanços tec­nológi­cos da nossa gente, infe­liz­mente, não ver­e­mos acon­te­cer.

O pro­gresso é ilu­mi­nado. Ainda vive­mos as trevas do atraso.

Há quan­tas décadas osten­ta­mos o título de “estado rico e povo pobre”? Pas­sa­dos tan­tos anos, além dos pobres, temos os extrema­mente pobres. A sen­sação que temos é que esta­mos crescendo para baixo, como rabo de cav­alo ou avançando rumo ao fra­casso.

Fico imag­i­nando o que teria acon­te­cido com o estado se há trinta anos aquele com­er­cial de cam­panha eleitoral tivesse sido além daquilo, além de um chama­riz para iludir tolos e, de fato, tivesse sido um pro­jeto de gov­erno a ser imple­men­tado nos qua­tro ou oito anos seguintes. Con­tin­uaríamos com cidadãos extrema­mente pobres?

Desde sem­pre – e há mais de trinta anos que é um corte tem­po­ral sig­ni­fica­tivo –, cobro das nos­sas autori­dades um pro­jeto de desen­volvi­mento para o nosso estado com começo, meio e fim e que não seja vin­cu­lado a esse ou aquele gov­er­nante.

É dizer, temos as emergên­cias do dia a dia mas, para­lelo a elas, pre­cisamos fazer avançar um plano de desen­volvi­mento para estado que seja “supra­partidário” e que vin­cule qual­quer gov­erno a cumprir as metas pré-​estabelecidas.

O mesmo raciocínio vale para os gov­er­nos munic­i­pais, além dos “cor­res” diários teriam que “con­tribuir” com um pro­jeto macro para desen­volver o estado.

Acred­ito que a Assem­bleia Leg­isla­tiva, casa mater da rep­re­sen­ta­tivi­dade pop­u­lar, pode­ria “con­tratar” uma comis­são de espe­cial­is­tas para estu­darem o assunto e apre­sentarem um pro­jeto de desen­volvi­mento para, por exem­plo, vinte anos. Nesses vinte anos todos os gov­er­nos estad­u­ais e munic­i­pais estariam vin­cu­la­dos aquele pro­jeto de desen­volvi­mento, tra­bal­hando para tornar aquilo real­i­dade. A Assem­bleia Leg­isla­tiva iria acom­pan­har, através de seus órgãos aux­il­iares, e cobrar se estavam dando segui­mento ou não.

Vejo os gov­er­nos brasileiros – não é um prob­lema só do Maran­hão e dos seus municí­pios –, como “naus des­gov­er­nadas” nave­gando ao sabor dos ven­tos e/​ou das con­veniên­cias dos gov­er­nantes.

Esse tipo de gestão não traz desen­volvi­mento perene.

Qual­quer plano de desen­volvi­mento econômico neces­sita, como dizia aquela can­di­data há trinta anos, de edu­cação de qual­i­dade e qual­i­fi­cação de mão de obra.

Os gov­er­nos estad­ual e os munic­i­pais pre­cisam com­preen­der essa urgên­cia pri­mor­dial para o desen­volvi­mento com a mel­ho­ria das condições de ensino. Urge que todas as cri­anças e jovens ten­ham uma edu­cação de qual­i­dade e que sejam alfa­bet­i­za­dos em pelo menos duas lín­guas e terem habil­i­dades em tec­nolo­gia.

Esse desafio não pode esperar. Esta­mos falando de algo que é para ontem.

Encerro com a frase do Duende da pros­peri­dade que diz o seguinte: “quando sabe­mos onde quer­e­mos chegar qual­quer cam­inho nos leva lá”.

Os esta­dos e municí­pios, assim como as pes­soas, pre­cisam saber onde querem chegar e tra­bal­har para alcançar esses obje­tivos.

Somente com esse nível de con­sciên­cia é pos­sível romper o ciclo do atraso.

Os tigres podem ser de men­tira ou de papel, mas as neces­si­dades são de ver­dade.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.

Comen­tários

0 #1 FRED­SON LUIS DE PAIV 22-​02-​2025 16:08
Belís­simo artigo. Adorei. Sua sug­estão lembrou-​me o fiz­eram os amer­i­cano na década de 80 quando os japone­ses se tornaram a maior potên­cia tec­nológ­ica do mundo: abri­ram uma CPI no Con­gresso para inve­stirá porque haviam ficado para trás e como solu­cionar o prob­lema. Ouvi­ram espe­cial­is­tas de todo o país, apre­sen­taram uma pro­posta de reforma edu­ca­cional e a seguiram. O resto é história.
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