AbdonMarinho - É preciso coragem para fazer a coisa certa.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 08 de Março de 2025



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

É pre­ciso cor­agem para fazer a coisa certa.

É pre­ciso cor­agem para fazer a coisa certa.

Por Abdon C. Marinho.

EXISTE um con­senso na sociedade: todos gosta­mos de fes­te­jar, de festa, diver­são. Os que não gostam são as exceções que jus­ti­fi­cam a regra. Existe até um sam­binha cuja letra é mais ou menos assim: “quem não gosta de samba bom sujeito não é ou está ruim da cabeça ou doente do pé…”

O prefeito de Cedral, Danilo Moraes, meu amigo e revi­sor desta col­una, prati­ca­mente, desde que ela existe – os com­pro­mis­sos da cam­panha e, agora, do mandato, o afas­tou dessa “mis­são” mas, sem­pre que pos­sível ainda con­tribui –, inte­gra a grande maio­ria dos que gostam de fes­te­jar, ainda assim, com a cor­agem de bem poucos tomou uma decisão que foi na “con­tramão” do con­senso gen­er­al­izado: decidiu que os recur­sos públi­cos do municí­pio que admin­is­tra não iriam, esse ano, custear o Car­naval local.

Esse fato faz com ele saia da posição de revi­sor para a de pro­tag­o­nista da nossa col­una de hoje.

Até onde sei, ape­nas dois prefeitos maran­henses tomaram essa ini­cia­tiva – se exi­s­tirem out­ros me avisem para que possa fazer o reg­istro –, o prefeito de Ama­rante do Maran­hão, na região sul do estado, que decidiu sus­pender o car­naval por razões san­itárias (o prefeito infor­mou a existên­cia de um surto de COVID 19 no municí­pio) e o prefeito de Cedral, no litoral norte.

O que torna a decisão de Danilo Moraes cora­josa e espe­cial é que ele, pes­soal­mente, foi para as redes soci­ais e veícu­los de comu­ni­cação e disse que deix­ava de patroci­nar o Car­naval local com ban­das e tudo mais, porque, nesse momento, as pri­or­i­dades dele, como gestor, são out­ras: é recu­perar os pré­dios públi­cos, veícu­los, mel­ho­rar os aces­sos dos povoa­dos e tan­tas out­ras coisas que o municí­pio pre­cisa resolver antes de gas­tar direta e indi­re­ta­mente quase um mil­hão dos recur­sos munic­i­pais em três dias de festa. Isso parece tão óbvio.

No seu vídeo o prefeito se com­pro­m­e­teu (e fez) em bus­car out­ros patroci­nadores para custear as brin­cadeiras locais como eram os car­navais de antiga­mente.

O que torna a ati­tude do prefeito lou­vável é que mesmo diante das incom­preen­sões, que cer­ta­mente virão, ou da explo­ração do fato pelos adver­sários, ele não se que­dou, não teve medo de fazer o certo, que é, na sua visão (e na visão das pes­soas sen­sa­tas) pri­orizar os serviços públi­cos em detri­mento das fes­tas car­navalescas.

Ao virar a chave e romper com o roteiro pre­vi­a­mente esta­b­ele­cido: tem que gas­tar com o car­naval, tem que con­tratar banda (de prefer­ên­cia a mel­hor e mais cara), ele mostra que não terá medo de fazer o que é certo, ainda que isso venha a desagradar algu­mas pessoas.

Muito emb­ora ele esteja coberto de razões para decidir não colo­car 600, 700 ou mesmo um mil­hão de reais numa festa de três dias, pois rece­beu os equipa­men­tos públi­cos sucatea­dos, con­tas para pagar e zero de recur­sos nas con­tas públi­cas, muitos são os que não com­preen­dem essa ati­tude, uns por ignorân­cia, out­ros por má-​fé e, ainda, out­ros pelo sem­pre pre­sente opor­tunismo.

É claro que muitos out­ros gestores rece­beram seus municí­pios em idên­tica situ­ação ou até mesmo em situ­ação pior, infe­liz­mente, esses não tiveram a cautela de fazer o enfrenta­mento que o prefeito de Cedral fez.

Com isso ele “inau­gura” uma nova forma de admin­is­trar: ter a cor­agem de enfrentar as críti­cas para fazer a coisa certa e cumprir com o plano de gov­erno com o qual se com­pro­m­e­teu na eleição.

Como dito, cer­ta­mente o prefeito nada tem con­tra as fes­tas car­navalescas ou qual­quer outra, mas sabe que não faz sen­tido pagar uma for­tuna para algu­mas ban­das e estru­turas em detri­mento das neces­si­dades da pop­u­lação, dos seus servi­dores, dos serviços públi­cos de qual­i­dade.


Desde muito tempo exponho a opinião de que não faz muito sen­tido um municí­pio, sobre­tudo, os pequenos municí­pios, con­tratarem com recur­sos públi­cos grandes ban­das “aliení­ge­nas” para suas pro­gra­mações de car­naval, fes­te­jos juni­nos, aniver­sários ou out­ros even­tos de seus cal­endários cul­tur­ais.

Explico os motivos: exceto pela a ale­gria momen­tânea dos cidadãos, o resto é só pre­juízo. O municí­pio tira, por exem­plo, 500, 600 mil para pagar artis­tas e estru­tura de festa, esse din­heiro deixa de cir­cu­lar na cidade e vai cir­cu­lar na cidade e/​ou no estado da sede da empresa ou da casa do artista. Jamais esse recurso é recu­per­ado com os trib­u­tos ger­a­dos pelo evento, até porque a maio­ria dos municí­pios maran­henses não pos­suem estru­tura de arrecadação de impos­tos e quando pos­sui o que con­segue arrecadar é incip­i­ente.

Tem mais de uma década que fiz um desafio: que provem que estou errado nessa assertiva. Nunca ninguém me provou. É pre­ciso que haja essa com­pro­vação téc­nica: vamos inve­stir X e vamos rece­ber em trib­u­tos XY.

Arrisco dizer que, talvez o gov­erno estad­ual – que resolveu inve­stir bas­tante nesse segui­mento –, ou os grandes municí­pios con­sigam, ao menos, “empatar” o que gas­tam com esses even­tos com a arrecadação de impos­tos, o restante dos municí­pios, arrisco dizer, mais de noventa por cento, retira din­heiro público que pode­ria ser investido em coisas mais urgentes para man­dar para out­ras cidades e esta­dos, sem qual­quer retorno.

Dá-​se, o que já alertei diver­sas vezes, uma espé­cie de Robin Hood ao con­trário: tira-​se dos pobres para dar aos ricos.

Essa é uma questão matemática: se você pega o din­heiro público e manda para out­ros municí­pios e esta­dos, sem que o mesmo cap­i­tal ou mais, retorne através de arrecadação de impos­tos, você está tor­nando seu municí­pio mais pobre e enri­cando os que recebem esses recur­sos.

Para começar, a maio­ria das pes­soas que vão para os pequenos municí­pios por ocasião do Car­naval, Sem­ana Santa, ou out­ros feri­ados, são os fil­hos da terra que retor­nam para vis­i­tar os par­entes, não são tur­is­tas de verdade.

Os pequenos municí­pios que têm vocação turís­tica, aliás, pre­cisam, antes, inve­stir na infraestru­tura local para con­seguir atrair out­ros tur­is­tas e assim jus­ti­ficar com a pre­visão de incre­mento na arrecadação, os inves­ti­men­tos na con­tratação de shows artís­ti­cos.

Essa, ainda, não é a real­i­dade da maio­ria dos municí­pios maran­henses.

O jovem prefeito de Cedral, rompeu com um par­a­digma ao preferir, acer­tada­mente, uti­lizar os recur­sos públi­cos que des­ti­naria ao paga­mento de ban­das e estru­turas aliení­ge­nas e inve­stir na recu­per­ação dos pré­dios e equipa­men­tos públi­cos. Acer­tará, ainda, mais se con­seguir con­tratar ape­nas empre­sas e mão de obra locais para real­iza­ção dos serviços, fazendo com que o din­heiro cir­cule den­tro do municí­pio.

É pre­ciso ter cor­agem para fazer a coisa certa prin­ci­pal­mente nos dias de hoje em que os con­ceitos e val­ores pare­cem ter se inver­tido. Muitos, na ver­dade, até têm ver­gonha de fazer o que é certo, preferindo ape­nas seguir o que os out­ros fazem sem qual­quer ques­tion­a­mento.

O que o prefeito de Cedral fez é o que dev­e­ria ser feito por todos os demais prefeitos e prefeitas: primeiro ver­i­ficar as reais neces­si­dades do povo e só depois “inve­stir” em out­ras coisas que não são tão necessárias e/​ou urgentes em um iní­cio de mandato.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.