A DIPLOMACIA IDEOLÓGICA.
Mais de uma vez tratamos da grave situação da diplomacia brasileira, conduzida, nos últimos anos, com base na ideologia dos governantes. Ao que parece, a situação atingiu o ápice – se bem que este governo é sempre capaz de nos surpreender.
Há meses o governo brasileiro "cozinha" o embaixador israelense para o Brasil. A recusa é materializada na não concessão do "agrément" a Danny Dayan, nomeado pelo país do Oriente Médio.
Não tenho notícias do Brasil recusar embaixadores. Fora o breve incidente com o embaixador da Indonesia, por conta do cumprimento de sentenças de morte contra brasileiros – depois aceito sem maiores traumas –, nem lembrava mais da expressão “agrément”, apesar das muitas vezes que ouvi sobre o tema nas aulas de OSPB ministradas pela professora Maria da Luz, no Liceu Maranhense, e já se vão quase trinta anos.
Voltemos ao tema principal.
A recusa ao embaixador tem por fundamento, segundo fontes extraoficiais, o fato do mesmo ser defensor da ocupação, por seu país, de territórios na Cisjordânia, sendo, inclusive um dos líderes dos colonos judeus. Registre-se que agências da ONU já se manifestaram contra tal ocupação e a retirada dos colonos de tais territórios. Registre-se, ainda, que o Brasil é defensor da coexistência dos dois estados (israelense e o palestino).
Pois bem, a pergunta que se faz é: o fato de um cidadão, devidamente nomeado por seu país, defender esta ou aquela posição ideológica, que pouco ou nada terá de relevante com sua missão no Brasil, é motivo para o governo recusar-se a conceder o agrément? O governo brasileiro entende que sim por isso tem "cozinhado o galo" na aceitação do embaixador israelense agravando, ainda mais as relações entre os dois países.
Outra pergunta que se faz é se o Brasil com minguadas relações bilaterais pode tratar um país com Israel da forma que vem tratando. Esta não é a primeira vez que o governo brasileiro fustiga aquela nação e seu povo.
Não estou aqui, de forma alguma, dizendo que se deva apoiar e endossar as políticas internas de Israel, pelo contrário, algumas são merecedoras de críticas, mas, até para isso, faz-se necessário a existência de relações menos tensas.
Noutra ponta não podemos deixar de reconhecer que a má vontade em relação a Israel é de cunho meramente ideológico porque qualquer um sabe que o Brasil não tem essa cautela toda em acolher embaixadores de outros países – muitos, sabidamente, violadores dos direitos humanos –, com é o caso de diversas ditaduras africanas, asiáticas, muitas, inclusive, festejadas pelo nosso governo.
E, nem precisamos ir muito longe. Não faz muito tempo (acho cerca de um mês), a rede bandeirantes de televisão exibiu uma série de reportagens sobre o nosso vizinho bolivariano ao norte.
A série mostrou, além do desastre econômico que destruiu aquele país, graves violações aos direitos humanos, como o caso de dois jovens que estão há quase um ano detidos na "tumba" – sede do serviço secreto do país –, uma espécie de masmorra onde os jovens não têm, sequer, acesso à luz do sol, onde perdem a noção do tempo, tudo isso sem culpa formada, sem serem apresentados a um juiz (ainda que bolivariano), para que se condoa da situação deles. Vi o depoimento emocionado de suas mães. Estes entre outros casos mais graves de prisioneiros políticos, aparelhamento ideológico do Estado, exílio de concidadão, cerceamento da liberdade de expressão e de julgamentos orquestrados, como bem confessou o promotor que atuou no processo contra Leopoldo Lopez, condenado a quatorze anos de prisão.
O promotor confessou que as provas contra o líder oposicionista foram forjadas. Ainda assim, há meses, a esposa do político tenta ser recebida pelo governo brasileiro e não consegue.
Aliás, o governo brasileiro mantém um servil e obsequioso silêncio em relação a todos os desmandos que vêm acontecendo na Venezuela, até quando aquele país faz claras ameaças de iniciar uma guerra de expansão contra a Guiana para abocanhar dois terços do seu território, nossa diplomacia emudece.
O comportamento servil e obsequioso ao regime de Caracas já vem de muito tempo. Nos oito anos de Lula, nos cindo de Dilma. Lá atrás, apenas para recordar, o Brasil participou e conduziu a suspensão do Paraguai – que sempre se mostrara contrário ao ingresso daquele pais (Venezuela) no Mercosul – e assim admitiram a Venezuela no bloco, apesar de não cumprir a cláusula democrática.
Nunca se soube bem a utilidade da Venezuela no Mercosul, se deram alguma contribuição a mim é desconhecida. Agora mesmo, logo após a eleição do Sr. Macri à presidência da Argentina, o presidente Venezuelano fez foi desejar-lhe um péssimo governo. Esse é o tipo de comportamento de quem quer o fortalecimento das relações entre as nações sul americanas? Derrotado nas urnas pela oposição que conquistou dois terços do parlamento, ameaça “melar" o jogo.
O Brasil não ver nada disso. Não tem um gestor de repreensão. Pelo contrario, o que vemos são os membros do governo brasileiro saudarem como heróis da humanidade os caudilhos que quebraram o país e levaram a população a experimentar toda sorte privação.
E nem falemos das graves suspeitas de envolvimento com trafico de armas e drogas para todo o mundo.
O que se percebe é que o país deixou de ter uma diplomacia profissional e consistente para mergulhar de cabeça na diplomacia de conivência de cunho ideológico.
O Brasil caminha, mais uma vez na contramão da história.
Abdon Marinho é advogado.