OS IDOSOS E OS JOVENS ANCIÃOS.
Por Abdon Marinho.
OUTRO DIA, pela segunda vez, vi uma fotografia e uma reportagem depreciativa sobre o grupo político que apoia a ex-governadora Roseana Sarney. Listavam os nomes, um a um, com a respectivas idades para discriminá-los por isso, pelo fato de terem, 60, 70, 80 ou 90 anos.
Nenhum tipo de preconceito merece consideração – e devemos repudiar a todos –, entretanto, ao meu sentir, o preconceito pela idade me parece o mais imbecil, uma vez que todos nós, um dia, seremos idosos. Quer dizer, os que tiverem sorte de chegar lá.
O saudoso jornalista Walter Rodrigues, que se vivo fosse já estaria se aproximando dos setenta anos, costumava dizer – e com ele concordava inteiramente –, que as reprimendas deveriam recair sobre as atitudes das pessoas, o bem ou mal, que tenham praticado e não sobre as condições sobre as quais o criticado não tenha responsabilidade.
Com isso quer se dizer que, como já o disse certa vez Rui Barbosa, que os canalhas também envelhecem, mas a crítica se devida é pela canalhice, jamais pela idade.
Assim como o fato de alguém ser jovem não o torne imune da prática de delitos ou condutas vergonhosas.
Idade nada tem a ver com o caráter ou crimes que um ou outro possa cometer.
O mesmo valendo para todas as demais condições, seja cor, raça, gênero, deficiência, etc.
Certamente aqueles que chegaram até aqui na leitura e que acham bonito criticar pessoas por serem elas idosas, mulheres, negros, homossexuais (ou o resto da sopa de letrinhas), deficientes, estarão me chamando, ainda que internamente: “— esse aleijado, filho de uma égua!”.
Não ligo. Só incomoda o fato de não respeitarem minha santa mãezinha que nada tem a ver com o que escrevo e que já nos deixou há mais de quarenta anos.
Gosto muito de conversar e de trabalhar com pessoas de idade mais avançada – é uma chance de aprender –, recomendando sempre aos meus colegas o máximo de atenção, diligência e paciência. Costumo dizer: — entendam que as causas dos idosos têm mais prioridade porque eles já não têm muito tempo para esperar. Compreendam isso!
Idade cronológica nunca foi sinônimo de atraso, pelo contrário, muita das vezes, pela experiência acumulada, é até uma forma de ver as coisas com uma visão mais arguta e com tolerância de quem já passou por diversas situações.
Não faz muito, a velha democracia americana, através do seu Poder Judiciário, determinou que o presidente Donald Trump, 71 anos, não poderia bloquear os seguidores na sua conta do Twitter. No entendimento da justiça, se ele usa essa rede social para divulgar suas ideias, para os seus e para o mundo, não pode impedir que tais ideias e pensamentos sejam criticados pelos que deles discordam.
Numa espécie de coincidência reversa, aqui, no “moderno” Maranhão, leio uma nota do Sindicato dos Policiais Civis onde acusam o jovem governo maranhense de impedir seu protesto contra a política governamental numa placa de outdoor.
Segundo o sindicato, o governo teria “obrigado” a empresa responsável a retirar a crítica feita, sob pena de perder o espaço de veiculação e ter a própria placa – o meio físico –, retirada do local.
Em sendo verdade, estamos diante de algo muito “avançado”, “moderno”, estreitamente em consonância com o espírito de “jovialidade” dos atuais governantes, SQN, na linguagem dos jovens: “só que não”.
Ainda na esteira da decisão judicial sobre Twitter do presidente americano, me veio à lembrança a informação de um blogueiro de que ele fora “bloqueado” por um órgão do governo, no caso o PROCON. Foi necessário um outro colega dele reclamar/denunciar ao próprio órgão o absurdo da conduta para que blogueiro/bloqueado voltasse a interagir com o órgão.
A história é interessante porque os nossos “jovens” governantes são ardentes críticos dos Estados Unidos, a quem acusam de imperialismo, opressores aos povos do mundo, entretanto lá, ate a conta pessoal do presidente pode ser criticada enquanto que por aqui, como no exemplo citado, mesmo os órgãos públicos se acham no direito de censurar a critica livre dos cidadãos. Nem se fale que nas contas pessoais – são correntes as notícias –, não gostando do que leram bloqueiam sem a menos cerimônia ou constrangimento.
Não bastasse isso, tentam calar quaisquer críticas através de infinitas ações judiciais – ainda que despropositadas. Muitas, com o claro propósito intimidatório, uma vez que mesmo que a critica seja legitima e regular, o jornalista, blogueiro, escritor, “gastará” tempo e recursos para se defender. Tempo, esse, subtraído do trabalho de pesquisa, do tempo que poderia ser investido noutras críticas na defesa da sociedade.
Este é o papel dos jornalistas: serem fiscais da sociedade, investigando e denunciando os abusos dos governantes.
Estranhamente, embora “modernos” não conseguem entender isso é, por isso mesmo, os reprimem e perseguem.
Será que no mundo civilizado exista algo mais arcaico que a censura e a intimidação àqueles que criticam ou opinam desfavoravelmente aos que se acham “donos do poder”?
Será que podemos ter como “novo” modelos de opressão que tenta impingir aos cidadãos que vivam de joelhos, sem poderem, sequer, se manifestarem livremente?
Entendo que não. Daí o reafirmar que a idade cronológica de uma pessoa não torna “nova” ou “velha” na definição do que seja práticas aceitáveis de respeito à boa convivência entre os povos, o respeito à liberdade dos cidadãos e à própria democracia.
Ao longo da vida sempre vi e convivi com pessoas que apesar da idade cronológica avançada tinham ou têm uma concepção do seja democracia, do que seja liberdade, do que seja respeito, bem mais aceitável e razoável do que vimos na prática cotidiana destes “jovens anciãos” com os quais convivemos na atualidade.
Vi, não faz muito tempo – e até escrevi sobre o assunto –, posando sobre uma máquina de asfalto, em uma obra, diversas jovens autoridades – mais velha não se afastando muito dos cinquentenário. Todos fazendo sinal de “positivo” ou “V” da vitória, num claro abuso político e de autoridade, vez que era uma chapa completa majoritária (lançada publicamente recentemente) e mais três candidatos proporcionais.
Ora, existe algo mais ultrapassado que tais práticas? Este é o exemplo que os jovens políticos querem legar à posteridade? O exemplo do abuso e do vício? É assim mesmo? Essa é a jovem classe política que nos levará ao futuro?
São jovens anciãos, que não se desprendem das velhas práticas, dos velhos preconceitos.
Por estes dias, também, o Supremo Tribunal Federal - STF, negou seguimento a uma ação de uma jovem senhora, esposa de um jovem deputado federal, proposta contra um jovem senador da República.
A ação em tela era por suposta ofensa à sua moral. A questão de fundo, como lebram, foi uma declaração do senador dizendo não entender as críticas à sua pessoa, proferidas pelo deputado federal e o presidente do seu partido, uma vez que sempre “torceu pela felicidade do casal”, aludindo, obviamente, a uma suposta relação homoafetiva entre ambos.
Por ocasião dos fatos, tratei do assunto no texto “A Ofensa Gay”, onde explico entender como absurdo quem em pleno século 21, quando as pessoas tanto falam em liberdade e respeito às diversidades, tenhamos um senador da República supostamente aludindo a uma relação homossexual para desmerecer e, pior que isso, que os supostos “ofendidos” tenham encarado a tal alusão como ofensa.
Por a caso, dizer que alguém é gay e mantém uma relação homoafetiva é algo indigno a ponto de um senador da república dizer e o deputado (e seus familiares) receber como ofensa à tal assertiva e ir bater às portas do STF reclamando? Como ousam ofenderem tantas pessoas por sua condição sexual e depois virem pedir seus votos?
Pois é, assim pensam nossos “jovens anciãos”. Dizem que são modernos, atualizados, mas volta e meia “deslizam” nos próprios preconceitos. E, pior, não se dão conta disso. Bem fez o STF ao rechaçar o arremedo de ação pela ilegitimidade e ausência de justa causa.
Tive a sorte da convivência com muitos idosos que a despeito da idade cronológica avançada, davam – e dão –, de dez a zero em muitos destes jovens presos e escravizados às velhas práticas e preconceitos do passado. Ainda criança adquiri o gosto pela leitura e pelo pensamento crítico com uma jovem senhora de quase oitenta anos.
Encerro dizendo que mim é mais saudável a convivência com idosos joviais do que com jovens anciãos.
Viva a melhor idade!
Abdon Marinho é advogado.