Vinculação de Dino ao crime organizado é absurda.
Por Abdon C. Marinho*.
O AMIGO Nedilson Barbosa Coelho, político lá de Cedral e meu amigo de uma vida, esteve no escritório e me abordou:
— Abdon, viste esses “memes” de Flávio Dino com o crime organizado?
Respondi-lhe com a verdade:
— Não, não vi.
— Ah, tem um monte, não “falam de outra coisa”, tem uma infinidade de montagens, memes, etc.
Como já sabem os mais próximos, raramente participo de debates de grupos e as ocupações diárias não me permitem acompanhar as publicações, e se me mandam, não sendo pessoas bem conhecidas não abro. Muitas vezes nem mesmo dessas me dou o trabalho de olhar.
Essa minha “ojeriza” a abrir áudios, vídeos, memes, já até me rendeu um “meme” próprio: aquele da pessoa que não sabe o que está acontecendo porque não abre as mensagens que lhe mandam.
Em relação a esse episódio tão comentado, imagino que foi o que aconteceu.
Acho que bem poucos cidadãos, políticos adversários ou aliados, jornalistas alinhados ou de oposição apontaram os acertos e, principalmente, os desacertos do governo Flávio Dino (2015/2022) quanto eu.
Qualquer um que digite seu nome no meu site encontrará uma “enxurrada” de textos a grande maioria com críticas ao seu governo e ao seu estilo de governar.
Como, sempre que posso, evito citar os nomes próprios – acho que devemos falar de fatos, não de pessoas –, a quantidade de textos com referências aos desacertos governamentais são ainda mais abundantes e diversos.
Quem apostava numa “revolução” governamental que tirasse o Maranhão do atraso como eu, só ganhou decepção.
Ainda no dia da eleição de 2014 fiz uma carta-aberta ao candidato mostrando pontos que deveriam ser objetos de preocupação e por onde deveria começar para fazer um governo efetivamente diferente – o nosso baluarte da imprensa, o Jornal Pequeno, publicou a missiva.
Ainda antes da posse mais um textão dizendo que a eleição dele se devia ao desejo de mudança do povo, de alternância ao antigo regime e que ele deveria implantar as mudanças de imediato, isso foi no texto “recado ao Dino: mate o galo na primeira noite”.
Por ocasião falei-lhe que todo aquele povo ali na praça alguns chorando era por acreditar em um Maranhão diferente e que aquelas eram lágrimas de esperança.
Apesar de todos meus comentários e conselhos serem ignorados, continuei pontuando o que achava inadequado, o fato de não se cercar de bons conselheiros, preferindo o consórcio de devotos e aduladores; do desprezo à experiência e visão de Zé Reinaldo, que o trouxe para a política; o fato de ir deixando quem o ajudou pelo caminho.
Em momentos distintos escrevi dois textos refletindo a solidão do governante: “o menino só” e “amigos pelo caminho”.
Reclamei da perseguição pessoal e institucional aos jornalistas e blogueiros; da utilização do poder estatal contra adversários.
E não foram poucos os textos mostrando que o estado não caminhava para o futuro sonhado e desejado pelo povo. Falei sobre o acordo com grupo Sarney pontuando que enterrara os cinquenta anos de atraso e sobre a junção política de ambos no união que não ousava o nome.
Se não me falha a memória, a última análise que fiz do governo do senhor Dino, às vésperas ou logo depois de sua saída foi no texto “O fracasso da geração Pirapora”, uma análise do fracasso da nossa geração à frente do governo depois te tantos anos criticando o “antigo regime” e legando indicadores ainda piores e festejando as reiteradas inaugurações de restaurantes populares quando o seu significado é sempre o oposto do que deseja para um estado desenvolvido.
Pois bem, faço essas breves digressões para dizer que são completamente absurdas essas tentativas de vinculação do atual ministro ao crime organizado.
É dizer, me parece tão delirante esse tipo de pauta que a minha impressão é que trata de uma cortina de fumaça colocada pela própria vítima para desviar a atenção de alguma coisa.
O cinema já explorou o tema algumas vezes.
Funciona assim: você faz uma “lambança” indefensável, não tem como defender e aí, para desviar a atenção daquilo que é real, você insufla uma falsa acusação de algo bem mais grave, complexo, muitas vezes com conteúdo sexual, etc... E o que acontece? As pessoas acabam “perdendo tempo” com a falsa acusação ao invés de ir atrás do fato real para o qual não tem desculpas.
Após o alerta de Nedilson, fui verificar minhas caixas de mensagens ou mesmo de grupos e vi que nos últimos dias me chegaram infinitas matérias de blogues obscuros e até da imprensa séria com esse tipo de informação, que o ministro da justiça estaria “vinculado”, em “conchavo” com o crime organizado.
O “pule de dez” para o delírio coletivo final teria sido o fato de uma senhora, esposa de um traficante condenado e preso – e ela também condenada, mas recorrendo em liberdade –, ter se “infiltrado” numa comissão qualquer do Amazonas e ter ido tratar de pautas dentro do Ministério da Justiça.
O fato ganhou tanta repercussão e exploração política que todos os canais de televisão, blogues, canais de internet divulgaram e tornaram o rosto da apelidada “dama do tráfico” um dos mais conhecidos da mídia – talvez ela passe a ser uma “influencer”.
E, também, por conta disso, o ministro virou “aliado” de alguma das facções criminosas que infestam o país.
A situação é tão “inusitada” que o presidente, governador, deputados e tantos outros políticos, chegaram a se “solidarizar” com o ministro com direito a divulgação na mídia.
Ora, o absurdo de tal vinculação é tão despropositado que não caberia as autoridades ou quem quer que seja hipotecar solidariedade ao ministro.
Muito menos que ele fosse agradecer.
A única coisa razoável a se fazer seria ignorar a “não” notícia.
Pelo que percebo, grande parte das “não notícias” têm partido de redes “vinculadas” ao bolsonarismo – pelo menos me chegaram em maior proporção as vindas deste seguimento.
Por outro, lado sou informado que os “colegas” de disputa pela cobiçada vaga de ministro do STF (que juraram amizade eterna) também estariam por trás da patranha – ou pelo menos tentado tirar uma “casquinha” da história.
O “hábito” do ministro de ter se colocado – desde a campanha eleitoral de 2022 e, principalmente, depois de instalado o novo/velho governo petista –, na condição de ser mais realista que o rei fez com que atraísse contra si todos os ódios dos adversários e todos os ciúmes “dos aliados”, que passaram a ter nele o inimigo a ser batido.
Com isso, repetem uma velha manchete de um antigo jornal português que dizia: “Direita e esquerda do mesmo lado”. No caso, do mesmo lado, contra o ministro postulante a vaga no STF.
No presente episódio, entretanto, parece-me que erraram o ponto ou se enganaram no excesso, de tal sorte que a ilação, a notícia, os ares de escândalo, de tão absurdos, mais ajudam do que atrapalham o senhor Dino.
O consórcio lulo-bolsonarista, direita e esquerda, do mesmo lado, escandalizam uma acusação boba, sem pé nem cabeça ao invés de, se fosse o caso, apontarem falhas reais, insucessos concretos, etc., do ministro.
Ninguém sério acredita nessa bobagem de que o ministro da justiça tem vinculação com o crime organizado.
Trata-se de uma pessoa que desde muito cedo leva uma vida “pública” – mesmo antes disso existir –, militância política, tem desde os tempos da campanha pelas “Diretas Já”, quando tinha de treze para quatorze anos.
Eu mesmo o conheço desde essa época, quando ele estudava no Maristas e eu chegava no Liceu Maranhense, em meados dos anos oitenta.
Já se vão quase quarenta anos e nunca se ouviu ou se teve notícias de qualquer coisa do tipo.
Ao meu sentir, trata-se de algo tão absurdo que se tivesse sido planejado por ele para colocar direita e esquerda trabalhando a seu favor não teria saído tão perfeito.
Essa total “falta de absurdo”, como dizia um político com quem trabalhei anos atrás, acabam por ajudar as pretensões do ministro – na verdade as segundas pretensões, já que a primeira seria a presidência.
Abdon C. Marinho é advogado.