AS ELEIÇÕES E A VIÚVA PORCINA.
Por Abdon Marinho.
DIZIA a um amigo que pretendia escrever sobre conjuntura política local quando ele fez uma observação/recomendação bem interessante: —Mas aprofunda. Tem coisas que parecem ser mas não são.
Decidido a escrever porém “encucado” com as colocações deste amigo, lembrei-me de “Roque Santeiro”, folhetim da Rede Globo, de autoria de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, exibido no horário das 20 horas entre os anos de 1985 e 1986.
Aquele folhetim teve por base uma peça do próprio Dias Gomes, apresentada nos anos sessenta e, depois, numa novela, já com o nome “Roque Santeiro” que foi censurada pelo regime militar em meados dos anos setenta.
Com o fim do regime militar e a redemocratização do país a partir da eleição de Tancredo Neves e José Sarney em janeiro de 1985 e a posse deste último em março – Tancredo Neves adoeceu na véspera da posse e morreu no mês seguinte –, a censura foi abolida e o folhetim, finalmente foi exibido.
Ainda menino, lembro que existia toda uma expectativa para assistir a novela que fora censurada pelos “milicos”, as pessoas não desgrudavam da televisão no horário da novela e no dia seguinte comentavam nas feiras, nos bares ou nas repartições o que ocorrera no capítulo anterior.
A novela, de fato, não decepcionou, tanto que ainda hoje lembramos de seus personagens memoráveis, como o Sinhozinho Malta, o poderoso do pedaço, interpretado por Lima Duarte e seu famoso bordão: “tô certo ou tô errado?”, enquanto sacudia o braço com grossas pulseiras de ouro; o prefeito de Asa Branca, seu Florindo, interpretado por Ary Fontoura; o Zé das Medalhas, de Armando Bógus; o padre Hipólito, de Paulo Gracindo; o Roberto Mathias, de Fábio Júnior e grande elenco.
A espinha dorsal da historia gira em torno da suposta morte de Roque Santeiro, um fazedor de Santos, que supostamente teria morrido ao defender sua cidade, interpretado por José Wilker e sua falsa viúva chamada de viúva Porcina, magistralmente interpretada por Regina Duarte. Como ficamos sabendo, Roque nunca morreu defendendo a cidade, Porcina nunca fora casada com ele (na verdade era amante de Sinhozinho Malta) e, portanto, nunca fora viúva.
À história a viúva Porcina passou a designar as “coisas que eram sem nunca terem sido”. Daí ter lembrado de Roque Santeiro quando meu amigo disse que as coisas na política local parecem ser uma coisa quando na realidade é outra.
Nada mais parece caber na definição de viúva Porcina do que a suposta candidatura à presidência da República do governador do Maranhão, senhor Flávio Dino, do PCdoB.
Logo que assumiu o comando do estado pela segunda vez, sua excelência declarou-se pré-candidato à presidência.
Não só declarou como tentou a todo custo (e ainda tenta) polarizar com o presidente Jair Bolsonaro.
A cada coisa que diz o presidente, certa ou errada, lá está o governador para desdizê-lo, ainda que seja só para isso: ser do contra.
Não apenas o governador mas todo o “estafe” governamental, estejam em horário de expediente ou não, lá estão a fustigarem o presidente. Se este disser que o céu é azul-anil lá estarão o governador e seus xerimbabos a dizerem que o céu é vermelho como a bandeira do partido.
Apesar de tamanha insistência para se fazer notar, não colou.
Ninguém levou a sério essa candidatura de Flávio Dino à presidência. Nem os supostos adversários, na figura do atual presidente – ou do seu ministro Sérgio Moro, outro alvo preferencial dos comunistas locais –, nem, principalmente, os aliados.
Ninguém no chamado campo da esquerda “deu bola” para a candidatura de Dino à presidência, pelo contrário, o Partido dos Trabalhadores - PT, que ainda detém o status de maior força política de oposição, já disse textualmente que o próximo candidato do partido será o senhor Haddad, derrotado no último pleito; o Partido Democrático Trabalhista - PDT, com Ciro Gomes – que não saiu-se mal na última disputa –, continua no projeto de viabilizar-se como alternativa ao projeto petista, mas levando os votos deste campo.
A Dino resta o minúsculo PCdoB... e só.
Mesmo as outras siglas “nanicas” continuarão como “viúvas” de Lula tendendo a seguir uma futura candidatura petista.
O boato sobre uma possível ida do governador para PDT não deve passar de boato (provavelmente espalhado pelos aliados do governador) pois partido algum abriria mão de uma candidatura já consolidada para aventurar-se numa nova sem qualquer motivo aparente.
Mesmo a peregrinação à Curitiba para adulação de Lula deverá surtir algum efeito para a candidatura presidencial de sua excelência.
E, embora o governador venha a público dizer que “estava brincando” ao lançar-se candidato à presidência da república quatro anos antes da disputa, qualquer um que analise melhor o quadro sabe que não estava. Ele tentou – e continua tentando com investimentos elevados na mídia, local, nacional e internacional –, vender-se como a alternativa da esquerda brasileira para 2022, acontece que, até aqui, a estratégia não tem dado certo e ninguém o tem levado a sério, obrigando-o a recuar e dizer que a candidatura era a “viúva Porcina” – a que era sem nunca ter sido.
Não fosse o “chega pra lá” dos companheiros de luta, o governador teria facilitado, em muito, aquela que é a sua principal dificuldade: acalmar os aliados “doidinhos” para ocuparem a cadeira que hoje ocupa.
A ideia perseguida por sua excelência é conseguir êxito onde Sarney fracassou (a velha obsessão), qual seja, unir todos do grupo – já que a oposição inexiste –, em torno de sua candidatura à presidência.
A mesma estratégia de Sarney com o projeto presidencial de Roseana antes do escândalo da Lúnus, quando pretendeu união de todos (até da oposição) em torno do mesmo.
Diferente de Sarney é que na atual quadra e, conforme confessado, com uma candidatura “viúva Porcina” – vejam que ironia –, o governador que ganhou a eleição no primeiro turno; que “empolgado” lançou uma candidatura à presidência da República; com a futura eleição sucessória caminhando para ser decidida entre os aliados de hoje – a menos que surja até 2022 algum “outside”, que até agora não vislumbramos –, não terá voz ativa na própria sucessão.
Ora, já temos duas candidaturas postas: do atual vice-governador e do senador Weverton Rocha (PDT) – e diferente do que fez o governador –, estes dois, não escondem de ninguém que “não abrem nem para um trem carregado de giletes”, como se dizia outrora. O vice-governador disputará no cargo, com os dois leões trabalhando por ele, mas o segundo já conta com uma forte articulação política, somando-se a isso o fato de ter colocado “as mãos” na FAMEM, ter construído um pequeno império de comunicação e ter se capitalizado (e ainda está se capitalizando) para disputa.
Pois bem, enquanto, pelo menos, dois “aliados” estiverem travando a “briga de foices” pelo governo estadual, sua excelência, já vestido de ex estará “correndo” atrás de votos para eleger-se senador. E não pensem sem que será fácil.
Embora sua excelência tente se vender – nas esferas nacional e internacional –, como um grande líder – o Collor das “esquerdas”, criado artificialmente as pela mídia nacional e transnacional –, o certo é que seu governo tem sido pífio, conseguindo o inimaginável: piorar os indicadores sociais herdados da oligarquia Sarney, aumentando o número de miseráveis do estado; a economia do estado cresce como rabo de cavalo: para baixo; os servidores públicos já não sabem até quando terão seus salários pagos em dia; os aposentados assistem, incrédulos, a quebradeira do seu fundo de aposentadoria e, também, temem pelo amanhã; a infraestrutura estadual parecendo uma piada com as estradas se “dissolvendo” nas primeiras chuvas, e tantas outras mazelas.
Sobre as obras que se dissolvem com as chuvas já há quem diga que estes empreiteiros – que dominam as obras estaduais –, não podem participar de algum evento em que estejam delegados sérios, sob pena de serem presos em flagrante.
Mas não é só, optou, sua excelência, por seguir as orientações de Maquiavel, preferindo ser temido a amado, talvez por isso, dia sim e no outro também, a pauta da mídia local seja sobre perseguições a jornalistas, com infinitos processos; aos adversários, aos aliados e até mesmo outros expoentes cidadãos, como desembargadores – e seus familiares –, juízes, etcetera, com uma “polícia política” investigando-os, conforme se tem notícias desde o começo do governo.
São escândalos sérios para os quais, até agora, o governo estadual não apresentou respostas satisfatórias, tanto assim, que o Tribunal de Justiça, depois de um longo e tenebroso inverno – fala-se destas espionagens desde muito tempo –, resolveu cobrar investigações por parte da Procuradoria Geral de Justiça; do Conselho Nacional de Justiça e ao próprio Supremo Tribunal Federal.
Com tudo isso, não é estranho que pesquisa recente aponte os maranhenses como os mais desmotivados dos brasileiros.
“Tô certo ou tô errado”?
Abdon Marinho é advogado.