E DAÍ, SENHOR PRESIDENTE?
Por Abdon Marinho.
E daí, senhor presidente, que ninguém na história do nosso arremedo de República em qualquer dos seus momentos – mesmo os piores –, proferiu uma frase tão desastrada, tão desprovida de empatia e respeito pelos seres humanos quando vossa excelência.
Nem mesmo o ex-presidente João Figueiredo quando nos estertores do regime militar, talvez cansado, talvez fatigado pelos encargos do cargos, e disse preferir o cheiro dos seus cavalos aos odores humanos foi tão infeliz quanto vossa excelência .
Quando o repórter lhe perguntou sobre o que achava de havermos “cravado” a marca de mais de cinco mil mortos por conta da pandemia, a resposta poderia ser qualquer outra, menos um desqualificado “e daí?”, como se estivesse falando com seus “parceiros de copo” em um botequim de ponta de rua.
E já que falta respeito pelos que perderam a vida muitos deles por conta da inércia das autoridades a quem se confiou a responsabilidade pelos destinos dos estados e da nação – inclusive da sua –, deveria lembrar que cada um dos que pereceu era o pai, a mãe, o avô, a avó, o filho, o neto, o irmão, o parente ou o amigo de tantos outros que além da dor da perda da impossibilidade de poder despedir-se do que partiu, passa a humilhação de ver seu ente querido ser tratado como uma mera estatística indigna de um manifestação de consideração, apreço ou solidariedade.
E daí, senhor presidente, que ontem foram mais de cinco mil, hoje já serão quase seis mil, depois sete mil, e não se sabe até onde vai.
São vidas humanas que estão se perdendo, seres humanos, não meras estatísticas como o senhor imagina e deseja minimizar.
Enquanto isso, a pandemia vai sendo usada – de forma inédita no mundo, em qualquer tempo –, como munição para a guerra política que não cessa nem diante da morte.
E daí, senhor presidente, que já morreram mais brasileiros nesta pandemia do que pracinhas na Segunda Guerra Mundial – e num espaço de semanas.
E dai, senhor presidente que a sua presidência acabou, o senhor só governa porque tem a tutela dos generais, que providenciam até a tinta da sua caneta “bic”, sem eles vossa excelência já não estaria mais dizendo-se chefe do executivo nacional.
E daí, senhor presidente, que o senhor nem poderá colocar na oposição a culpa do fracasso do seu governo. A oposição andou foi longe de alcançar o seu despreparo e empenho em destruir o seu governo quanto o senhor.
Aliás, a oposição esquerdista, comunistas, petistas, e outros que os valha – principais responsáveis por sua eleição, por terem escolhido e apostado na radicalização das últimas eleições –, junto com o senhor, vai voltar para as franjas do esquecimento.
E dai, senhor presidente, que o senhor não poderá culpar ninguém, coisa alguma, nem aposição, nem o vírus, nem esse ou aquele ministro, nem o povo, o único culpado pelo fracasso do seu governo é o próprio presidente.
E daí, senhor presidente, que hoje o seu governo é refém de tipos como Maia e Alcolumbre, no Congresso Nacional, ou como Dias Toffoli, no Supremo Tribunal Federal, os primeiros representantes de uma parcela ínfima do eleitorado, e o segundo sem voto algum. Mas não foram eles que cresceram, foi vossa excelência que diminuiu – e continua a diminuir –, não foi o Congresso Nacional ou Supremo Tribunal Federal que cresceram, foi a presidência que foi diminuída – e diminuída pelo senhor, pelo seu governo.
E daí, senhor presidente, que para se manter no poder – embora como “pato manco” –, com todo o respeito devido aos patos e aos mancos, o senhor além de ser tutelado pelos militares, de ser refém de tipos como Maia, Alcolumbre, Toffoli, e tantos outros, ainda terá que entregar uma boa parte do governo – senão todo o governo –, a velha politica, tão bem representada por tipos como Roberto Jefferson, Waldemar da Costa Neto e tantos outros que pensávamos terem ficados nas páginas já esquecidas da história.
Pois é, justamente no dia em que o senhor se dava uma de “valente” em um “comício” intempestivo na porta do QG do Exército brasileiro e dizia que não iria “negociar com ninguém” já tramava as tratativas com aquela que se convencionou chamar de “a banda podre da politica”.
São justamente aqueles que o senhor prometeu afastar definitivamente do poder e do dinheiro público que agora voltam – e pelo seu convite.
É o senhor que os adulam para lhe emprestar a sustentação para permanecer no governo – não se trata de governar, isso já se perdeu há muito tempo, apenas ficar no governo posando de autoridade enquanto, no entorno, a turma se farta.
O senhor até que, ainda, possui apoio popular, conforme as pesquisas de opinião apontam. Algo em torno de 35% (trinta e cinco por cento), embora significativo, já longe do percentual obtido na eleição.
A ironia é que muitos dos eleitores que aparecem nas pesquisas são eleitores novos. O seu eleitorado se deslocou, já imaginou se não tivesse feito todas as lambanças que fez e conservado o eleitorado original, que lhe deu a vitória nas urnas?
E daí, senhor presidente, que o meu pai – um flagelado da seca, analfabeto por parte de pai, mãe e parteira –, costumava dizer que “quando a cabeça não pensa, o corpo padece”.
O senhor vem sabotando o governo – e a confiança dos milhões de eleitores que o elegeu – , desde antes da posse; já na posse, ao permitir que um dos filhos “tomasse” posse junto, mostrou que de fato não seria um presidente completo, de lá para cá, a cada dia, a cada declaração, só aumentou a sabotagem ao governo – mais, devido a colocações infelizes do que, propriamente ações.
E daí, senhor presidente, que o senhor não é vitima, pelo contrário, é o sujeito e autor de suas próprias asnices e com elas compromete o futuro da nação.
E daí? Talvez a nação nada mais seja do que um brinquedo a satisfazer egos.
Abdon Marinho é advogado.
Escrito por Abdon Marinho
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