Educação: desafios e soluções.
Por Abdon C. Marinho.
QUANDO assumirem, em primeiro de janeiro do próximo ano, os destinos de seus municípios os novos gestores – e mesmo os que foram reeleitos –, além de garantirem que tenha medicamentos e médicos nos hospitais; que o lixo seja recolhido; que o ônibus escolar e a ambulância esteja funcionando; que ruas e estradas estejam trafegáveis, precisarão ter em mente que os seus mandatos serão determinantes para o novo mundo que se descortina diante dos nossos olhos.
Em tal cenário faz-se necessário compreender o papel da educação. A partir de agora precisamos preparar as crianças que estão ingressando nas escolas e aquelas que lá já se encontram para um mundo em transformação.
Esse é o principal desafio dos novos gestores e educadores: educar para um mundo em transformação.
Lá pela minha infância, lembro-me bem, dizia-se que o “analfabeto era como um cego” pois apesar de vê não compreendia nada daquilo que via.
O mundo de hoje “diminuiu” de tamanho. Vivemos em um mundo globalizado, interconectado e tecnológico e muito mais complexo.
Um mundo que enfrenta, como nunca antes, os desafios do aquecimento global e de um clima cada vez mais instável, com as estações se misturando e sem que consigamos entender nada do que se passa.
Um mundo onde os radicalismos não abrem espaços para o racionalismo, a temperança e o bom-senso.
Um mundo altamente tecnológico e conectado colocando um cidadão brasileiro a clique de distância de um cidadão japonês ou coreano ou americano ou canadense ou sul africano, etcetera e tal.
Diante disso precisamos entender que não é suficiente o modelo de ensino que era praticado a cem ou mesmo cinquenta anos atrás.
Precisamos de uma política de ensino que desde o infantil I e II e mesmo nos anos iniciais do fundamental possibilite as mesmas condições e ferramentas de aprendizagem as nossas crianças.
O ex-ministro da educação, ex-governador e profundo conhecedor da política educacional brasileira, Cristovam Buarque, sustenta desde muito tempo a necessidade de se “federalizar” o ensino fundamental brasileiro. Em recentes artigos sustentou ser imperioso que ao invés de nos preocuparmos apenas em alfabetizar as crianças até o oitavo ano de suas vidas deveríamos fazer isso já em pelo menos dois idiomas e ainda que precisamos ter a tecnologia como aliada do processo de aprendizagem.
Devo dizer aos novos gestores e aos educadores – que já não são tão novos assim –, que os desafios de educarmos crianças e adolescentes para um mundo em transformação (e transição) ofertando-lhes as ferramentas necessárias para um mundo globalizado, tecnológico e conectado não é tão difícil quanto parece.
Muito embora setenta por cento dos recursos da educação sejam destinados constitucionalmente ao pagamento dos seus servidores, diferente de outras áreas, na educação pública é possível “fazer dinheiro” enquanto se investe.
Os exemplos mais claros disso é a politica de contraturno e a de ensino integral. Na primeira já é possível incrementar em aproximadamente trinta por cento a receita enquanto que na segunda pode se chegar a até cem por cento.
Imagino que os novos gestores devam se cercar nessa área de pessoas que entendam a política educacional e que sejam comprometidas com a educação e com o futuro desses milhões de pequenos cidadãos que precisam ter garantidos os seus direitos.
Em relação aos municípios, é dizer: precisamos que todas as crianças desde aquelas em idade de creche até o nono ano estejam na creche/escola o maior tempo possível.
Para que isso aconteça é necessário uma busca ativa e um controle rígido da frequência escolar.
Ah, mais a maioria dos municípios não possuem estrutura física para acolher os alunos em tempo integral, esse é um dos principais argumentos que escuto por onde passo e acredito que existem muitas maneiras de resolvermos essa situação e quando vem a estrutura.
Uma das possibilidades é o contraturno com salas mistas de cursos específicos: inglês, espanhol, música, teatro, artes diversas; ou as práticas esportivas.
Os estudantes dos anos finais poderão ter atividades educacionais próprias da educação integral sem necessariamente ficarem vinculados à série a que estão matriculados. Essa integração, aliás, se devidamente acompanhada por educadores, poderá ter um impacto significativo no crescimento intelectual e emocional desses adolescentes.
Estudantes do sexto ao nono (e até mesmo do quinto) podem interagirem em atividades específicas de aprendizagem e/ou esportivas e culturais com acréscimo significativo ao seu aprendizado e formação.
Claro, repito, dependerá do acompanhamento dos educadores e do seu compromisso com educação e a formação dessas crianças/adolescentes.
Com isso resolvemos, ao menos, em parte, a questão da falta de estrutura física.
Existe no mercado editorial projetos educativos com essa finalidade.
Uma outra forma de melhorar a receita da educação com foco em um ensino de melhor qualidade é desenvolver uma política educacional para os jovens, adultos e idosos o nosso velho EJA que agora foi acrescido um I para os idosos.
Com quem falo escuto a mesma coisa, com algumas variações: — não adianta, começamos as turmas com 40 e chegamos ao final do ano com 5.
É fato que muitos jovens, adultos e mesmo os idosos, não possuem muita paciência para o aprendizado ou para voltarem para as salas de aulas. Os números mostram isso.
Mas não é papel do gestor e, principalmente, do educador, desistir desse público.
O que se precisa é de estratégia de ensino.
Os jovens, adultos ou idosos não querem ir para a sala de aula? Por que não os matriculamos em atividades do seu interesse em sistema de EaD?
Estudava que o ensino de línguas para os idosos tem efeitos magníficos sobre os cérebros dos mesmos, evitando ou retardando inúmeras doenças neurológicas, o mesmo podemos dizer das atividades esportivas para esse público.
Sendo o EJAI uma modalidade de ensino com potencial para trazer benefícios educacionais e de saúde para o conjunto da sociedade brasileira precisamos ter estratégias para o seu fomento. Pode se adotar a busca ativa, acompanhamento, cursos específicos, áreas de interesse, aliar a educação à prevenção de problemas de saúde e tantos outros.
O importante é que gestores e educadores compreendam a importância de “pensarem a educação” fora da caixa. Fundamental que haja, da parte de todos, comprometimento.
A educação nunca foi problema para nenhuma gestão, pelo contrário, é a principal solução para todos demais problemas que acometem os municípios, estados e a nação.
E, em um mundo em transformação (e transição), a educação é a melhor, senão a única solução.
Abdon C. Marinho é advogado.