AbdonMarinho - Parlamentarismo – Um debate necessário.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quarta-​feira, 11 de Junho de 2025



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Par­la­men­tarismo – Um debate necessário.


Parla­men­tarismo – Um debate necessário.

Por Abdon C. Marinho.

Cumprindo deter­mi­nação con­sti­tu­cional, em 1993, os brasileiros fomos chama­dos a decidir entre República e Monar­quia e, entre, Pres­i­den­cial­ismo e Par­la­men­tarismo. Por larga maio­ria, saíram vito­riosos o régime repub­li­cano com o sis­tema pres­i­den­cial­ista de gov­erno.

Mais de três décadas depois, debater o sis­tema de gov­erno, entendo, tornou-​se uma urgên­cia nacional.

É sabido que ao longo dos anos o Con­gresso Nacional (Câmara e Senado) foi assu­mindo a respon­s­abil­i­dade pela des­ti­nação de partes do orça­mento da União, chegando ao ponto de pos­suir mais recur­sos para “inves­ti­men­tos” que o poder exec­u­tivo. Alguns min­istérios, inclu­sive, quase que a total­i­dade de suas ver­bas “per­tence­ram” aos par­la­mentares.

O gov­erno fed­eral, talvez desav­isado sobre o poder de mando nessa etapa da República, man­dou um pro­jeto de lei ou medida pro­visória real­in­hando (ou aumen­tando) deter­mi­na­dos trib­u­tos, e as lid­er­anças das Casas Par­la­mentares, mais que de repente, deram-​lhe um ulti­mato: ou mod­i­fica a pro­posta ou eles aprovam um decreto leg­isla­tivo sus­tando as medidas.

O Brasil é hoje um país inad­min­istrável. O Poder Exec­u­tivo – seja por suas ações ou suas omis­sões – não con­segue mais con­duzir a admin­is­tração pública. Sequer alcançará o final do ano com recur­sos sufi­cientes para custear suas despe­sas cor­rentes. Qual­quer tipo de inves­ti­mento novo é impos­sível de ser real­izado.

Na outra parte da praça, no Con­gresso Nacional, os par­la­mentares podem dis­por, livre­mente, e quase sem nen­hum con­t­role, de uma for­tuna que chega a pas­sar de 60 bil­hões anu­ais, através das mais vari­adas emen­das.

O sis­tema de gov­erno atual – que acred­ito ser invenção brasileira –, chamado “pres­i­den­cial­ismo de coal­izão”, se exau­riu, não tem mais (se é que teve algum dia) as condições de apre­sen­tar as respostas que o país pre­cisa.

A pre­pon­derân­cia finan­ceira do leg­isla­tivo em relação ao exec­u­tivo é tanta que não faz muito tempo um dep­utado fed­eral foi con­vi­dado para ser min­istro de estado – cargo político que out­rora era até motivo para briga de foice –, e recu­sou, perce­beu que no par­la­mento pode­ria dis­por de uma fatia do orça­mento, e por­tanto do poder, muito supe­rior ao que pode­ria dis­por em qual­quer Min­istério da República.

Veja, é disso que se trata, quem manda no orça­mento é quem, efe­ti­va­mente, manda no gov­erno.

A dis­crepân­cia do sis­tema de gov­erno atual é que os par­la­mentares “man­dam” no orça­mento, qual­quer um deles (seja de oposição ou situ­ação) tem mais ver­bas do que qual­quer min­istro do gov­erno, e o “mel­hor”, para eles, claro, sem a respon­s­abil­i­dade pela exe­cução.

O Brasil não vive sob um sis­tema de gov­erno “pres­i­den­cial­ista de coal­izão”, o atual sis­tema é uma “invenção” brasileira que chamo de “par­la­men­tarismo irre­spon­sável”, onde o par­la­mento manda sem o ônus da respon­s­abil­i­dade.

Acred­ito que não dá mais para con­tin­uar­mos a insi­s­tir nesse mod­elo pres­i­den­cial fajuto, uma espé­cie de “viúva Porcina” à que era sem nunca ter sido. Urge, por­tanto, que o Brasil adote o par­la­men­tarismo ao invés de ser­mos par­la­men­taris­tas enver­gonhados.

No par­la­men­tarismo clás­sico ter­e­mos o pres­i­dente da República como o chefe do Estado, com suas funções de rep­re­sen­tar o país e o primeiro-​ministro escol­hido pelos rep­re­sen­tantes da maio­ria no par­la­mento com a respon­s­abil­i­dade de chefiar o governo.

Acred­ito que o gov­erno chefi­ado pelo par­tido ou coal­izão majoritária terá um mel­hor aproveita­mento dos recur­sos, pois terá que assumir as respon­s­abil­i­dades pelo emprego dos gas­tos públi­cos.

A maio­ria gov­erna com os ônus e os bônus do poder enquanto a mino­ria aguarda a sua vez de tornar-​se maio­ria.

Mais dirão: com o par­la­mento gov­er­nando os “esque­mas cor­rup­tos” irão aumen­tar, farão acor­dos entre eles para desviarem os recur­sos do povo, etcetera.

Ora, ao meu sen­tir, a situ­ação mais danosa para a pop­u­lação brasileira é o atual mod­elo de gov­erno onde temos um Poder Exec­u­tivo que não tem poder (ou os recur­sos) enquanto temos um Poder Leg­isla­tivo com o poder (e os recur­sos) mas sem a respon­s­abil­i­dade pela exe­cução orça­men­tária.

A per­si­s­tir o mod­elo atual, ter­e­mos o par­la­mento no mel­hor dos mun­dos: com din­heiro e poder, mas sem qual­quer com­pro­me­ti­mento do seu “CPF”.

Entendo que já passa da hora de bus­car­mos uma cor­reção de rumos: os que dis­põem de recur­sos dos con­tribuintes pre­cisam assumir per­ante os donos do din­heiro a respon­s­abil­i­dade por sua uti­liza­ção.

O par­la­men­tarismo é, na minha opinião, o cam­inho mais ade­quado para ser seguido nas condições atu­ais.

Deve­mos aproveitar a eterna dis­cussão da “reforma política” para colo­car tal assunto na “ordem do dia”, assim como a necessária redução da rep­re­sen­tação par­la­men­tar e os exces­sos de bene­fí­cios agre­ga­dos aos mes­mos.

Acho que o Brasil tem muito a gan­har com isso.

Abdon C. Mar­inho é advogado.

P.S. Um amigo querido alerta para o fato de que um dep­utado ou senador não tem mais recurso que um min­istro. É ver­dade. A minha colo­cação se ref­ere a recur­sos livres para inves­ti­men­tos. O min­istro da Edu­cação tem 20% do orça­mento; o da saúde tem 15% do orça­mento. Mas tal orça­mento já está todo com­pro­metido ou como se diz está enges­sado. O Exec­u­tivo tem muito “din­heiro” mas quanto é mesmo que sobra quando se tira todas as despesas?