AbdonMarinho - A ROTINA DA VIOLÊNCIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A ROTINA DA VIOLÊNCIA.

A ROTINA DA VIOLÊNCIA.

Por esses dias recebi por diver­sas for­mas um vídeo mostrando ban­di­dos ater­ror­izando motoris­tas em certa área da cap­i­tal do Maran­hão. Em que pese ser recente – pelo soube o vídeo começou a ser divul­gado quase em tempo real em relação ao ocor­rido – era muito semel­hante a out­ros veic­u­la­dos nos últi­mos tempos.

A rotina da vio­lên­cia está de tal forma enraizada que já se tornou comum na cidade alguns setores gan­harem nomes sug­es­tivos. Uma parte da Avenida Fer­reira Gullar, por exem­plo, é chamada «Faixa de Gaza», mais à frente, outra parte, já foi apel­i­dada de «Iraque». Talvez essas regiões nem exper­i­mentem tamanha violência.

Outro dia, um engen­heiro amigo, reportou-​me que ao vis­i­tar uma obra em uma parte da cidade rece­beu a recomen­dação para que baix­asse os vidros do carro, evi­tando assim que o mesmo não fosse metral­hado. No per­curso, ainda segundo ele, ia avi­s­tando «mol­e­cotes» osten­tando armas. Não faz muito tempo, famílias de uma uma rua inteira, no bairro Coroad­inho, foram inti­madas a deixarem suas casas, refletindo que exis­tem setores da cidade que o crime orga­ni­zado assumiu total­mente o comando.

A rotina de vio­lên­cia vai aneste­siando a pop­u­lação. A casa e a empresa de um amigo foram assaltadas outro dia. Ele abor­dou o assunto fazendo troça. Dizia que os ban­di­dos não eram pé-​de-​chinelo, referindo-​se ao gosto refi­nado dos meliantes que entre a coisas de valor sub­traí­das deixaram os uísques com 12 anos e só levaram os que tin­ham mais de 18 anos para frente.

Essa real­i­dade é traduzida em números. A cap­i­tal maran­hense já figura como a ter­ceira mais vio­lenta do Brasil. Os números são do ano pas­sado, que tam­bém reg­istrou o país com quase 60 mil homicídios/​ano.

Ape­nas para efeito de com­para­ção, os Esta­dos Unidos da América, com 320 mil­hões de habi­tantes, tiveram menos de 15 mil homicí­dios, enquanto no Brasil, com 203 mil­hões de habi­tantes, tive­mos 58 mil homicí­dios, um a cada nove min­u­tos. Sem con­tar que lá qual­quer cidadão tem acesso a armas ao passo que Brasil só os ban­di­dos têm.

Os números, por si, assus­ta­dores, provam que o país perde a guerra para a crim­i­nal­i­dade. Cam­in­hando na con­tramão da espi­ral de cresci­mento da vio­lên­cia, algu­mas exceções como Per­nam­buco e o Estado de São Paulo que reg­istrou a menor taxa per capita, com ape­nas onze para cada cem mil habi­tantes, estando bem abaixo da média nacional.

Se os números com­pro­vam que o país perde a guerra, o que dizer do Maran­hão? Os números que fiz­eram a cidade se tornar a ter­ceira mais vio­lenta do país é o reflexo do desmonte do setor de segu­rança do estado nos últi­mos anos, a leniên­cia, a froux­idão, a falta de inves­ti­men­tos, de treina­mento, de inteligên­cia, de polí­cia nas ruas. O que acon­tece hoje não pode e não deve ser atribuído ao acaso. Temos respon­sáveis por este caos que vivemos.

Lem­bro que a cap­i­tal e a sua região met­ro­pol­i­tana reg­istrou em 2002 o número, já ele­vado de 240 homicí­dios. Hoje, esse número é supe­rior a mil. E isso não pode ser deb­itado uni­ca­mente ao aumento da pop­u­lação. Até porque a vio­lên­cia cresceu num per­centual bem supe­rior ao populacional.

Sem querer ser pes­simista e torcendo para está errado, não vejo uma luz no fim do túnel neste que­sito. Esta­mos entrando no décimo mês do novo gov­erno, o mês de setem­bro fechou com oitenta mor­tos na região met­ro­pol­i­tana da cap­i­tal. Não sei esse é um número maior ou menor que o número de mor­tos do mesmo mês de 2014, mas sei que é um número alto, absur­da­mente alto, em qual­quer lugar do mundo.

A razão da angús­tia é ver que o estado, ao que parece, não pos­sui uma política de segu­rança consistente.

Ficar com­para­ndo um número aqui outro ali é muito pouco.

O Maran­hão pos­sui, senão o menor, uma das menores relações, per capita entre agentes de segu­rança e pop­u­lação. A promessa de colo­car, mil ou dois mil homens na ruas, é insu­fi­ciente para repor a enorme defasagem acu­mu­lada ao longo dos anos.

A vio­lên­cia se alas­tra por todo o estado, alcançando os municí­pios – mesmo os menores – e tam­bém povoa­dos. Não faz muitos dias soube de uma gangue de moto­queiros assaltando em povoa­dos. Polí­cia atenua, mas não creio que os números que anun­ciam sejam sufi­cientes para aten­der a necessidade.

Mas não é só.

O com­bate à crim­i­nal­i­dade pre­cisa de uma ação con­junta de todas forças de segu­rança, do Poder Judi­ciário, do Min­istério Público, dos poderes munic­i­pais e per­feita har­mo­niza­ção com a sociedade civil. Não esta­mos vendo isso acon­te­cer. Ainda no gov­erno pas­sado, diante das cenas de bar­bárie vivi­das nos presí­dios, dos incên­dios a ônibus com víti­mas fatais, vimos o ensaio de uma união. Nunca mais ouvi falar.

Sem a união de todos os agentes cumprindo, com efi­ciên­cia, sua mis­são, não ire­mos muito longe. Ao lado desta união o com­bate sis­temático da cor­rupção den­tro do apar­elho estatal, do judi­ciário, das polí­cias, dos exec­u­tivos, etc. Pre­cisamos apre­sen­tar uma maior efi­ciên­cia na solução dos crimes com punição rig­orosa aos malfeitores.

Esta­mos diante de prob­le­mas graves que ten­dem a fazer aumen­tar a vio­lên­cia. Outro dia pren­deram um ônibus com inúmeros crim­i­nosos que voltavam do enterro ou velório. O que sig­nifica isso? Ora, sig­nifica que a ban­didagem já age às claras sem temer o Estado. O mesmo se diga com a implan­tação de «toques de recol­her » ou o fechamento de deter­mi­nadas áreas da cidade.

A faveliza­ção dos municí­pios da Ilha de São Luís, através de infini­tas invasões de ter­ras públi­cas e pri­vadas, sem que as forças estatais se man­i­festem no sen­tido de impedi-​las – pelo con­trário pare­cem agir como se as estim­u­lassem –, serão out­ros focos de diss­a­bores e vio­lên­cia, com o favorec­i­mento do trá­fico de dro­gas e o próprio finan­cia­mento do crime orga­ni­zado através da venda destes lotes invadidos.

As autori­dades pre­cisam traçar um plano de segu­rança e agirem em con­junto. Impor o império da lei a todos, apre­sen­tar resultados.

Ao momento que fes­te­jam o enfrenta­mento das máfias, dos cor­rup­tos, não podem des­cuidar dos homi­ci­das, latro­ci­das, traf­i­cantes, ladrões, etc. Sem isso, ire­mos con­tin­uar a enfrentar a mesma rotina. A rotina da vio­lên­cia. A mesma que ater­ror­iza o cidadão que sai de casa sem saber se voltará, que o faz temer ficar na rua e até mesmo den­tro de casa, que teme pegar um ônibus e tam­bém a sair de carro, que o torna pri­sioneiro de si mesmo. Somos reféns do medo, vive­mos em sobressalto.

Durante a cam­panha, o ainda can­didato – e hoje gov­er­nador – vis­i­tou uma sen­hora que lhe con­fi­den­ciou ser o seu maior desejo poder abrir a janela.

Pois é, já passa da hora de fazer algo neste sen­tido, antes que aquela sen­hora seja obri­gada a desi­s­tir da janela, erguendo uma parede em seu lugar.

Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

+2 #1 JAD­SON PEIXOTO 09-​10-​2015 17:25
Pre­cisamos de mais poli­ci­a­mento, mais de poli­ci­a­mento capac­i­tado que tra­balhe a fundo na busca da redução dessa estrema vio­lên­cia que tanto nos assusta nessa cap­i­tal. Pre­cisamos de mais empenho dos nos­sos rep­re­sen­tantes que se mostram despre­ocu­pa­dos com a pop­u­lação ludovi­cense que tanto sofre e que não se cansa de a cada nova eleição deposi­tar sua con­fi­ança na expec­ta­tiva de uma cidade mel­hor e mais segura e sem­pre acaba se decep­cio­nando. Sonho viver pra ver uma Cap­i­tal segura onde possa sair com minha filha sem me pre­ocu­par com essa vio­lên­cia avas­sal­adora a qual convivemos.
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