O ABRIGO DA DISCÓRDIA.
Por Abdon Marinho.
A CAPITAL do Maranhão, São Luís, vive um momento de raro esplendor. Desde o final da década de oitenta, com a implantação do Projeto Reviver, pelo saudoso governador Epitácio Cafeteira, não víamos tantas obras de revitalização do centro histórico.
Já tratei deste assunto lá atrás, por ocasião da entrega do Complexo Deodoro, no texto de “Cafeteira a Kátia Bogéa”, elogiando o que fora feito pelo então governador Cafeteira, há mais de três décadas, e o que estava ocorrendo no momento, com a revitalização de diversos logradouros, primeiro, o complexo da praça Deodoro; depois Rua Grande; agora Praça João Lisboa, Largo do Carmo, ruas do Sol, da Paz, Mercado das Tulhas e tantos outros logradouros importantes historicamente para a capital do estado e para a memória do nosso povo.
O atual alcaide à frente desta importante revitalização – sem deixar de reconhecer o esforços de tantas outras pessoas que muito fizeram, desde o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, e talvez antes, para conseguir os recursos para tais obras –, sai, assim como foi com Cafeteira, fortalecido e reconhecido por todos os maranhenses que amam a nossa capital e só querem o seu bem.
O prefeito Edvaldo Holanda Júnior – e também a cidade, e também o estado –, talvez por sua fé, tantas vezes demonstrada, recebeu essa graça.
A graça de, na sua gestão, a nossa capital receber como presentes estas obras de revitalização.
O prefeito que já recebeu essa benção poderia aproveitar e fazer o “serviço completo”, devolvendo à Praça João Lisboa/Largo do Carmo seu aspecto original do começo do século passado. Determinando, como fez Cafeteira, que os espaços urbanos voltassem ao seu aspecto original, antes das “desfigurações” de que foram vítimas por décadas de administrações descomprometidas.
Quando Cafeteira implantou o Projeto Reviver, determinou que fossem devolvidas àqueles espaços, prédios e monumentos históricos, as suas características originais.
Para isso não mediu esforços, até telhas mandou importar de outros lugares para que os prédios voltassem a ser o que eram.
Por isso mesmo o nome do projeto: Reviver. Para que os espaços os prédios revivessem seus melhores tempos, seus tempos áureos.
No livro que lançou sobre o Projeto Reviver consta uma relação com os nomes dos vários pesquisadores, historiadores e profissionais diversas áreas que concorreram com aquele inesquecível projeto.
Hoje, como dito anteriormente, revivemos alguma coisa de semelhante ao vivido há três décadas.
Em meio a esse momento de rara felicidade para a nossa cidade, para o nosso estado, o prefeito permite uma polêmica que não teria qualquer razão de existir.
Falo da polêmica em torno do tristemente famoso “abrigo da João Lisboa”.
Há algumas semanas tenho acompanhado, sobretudo, nas redes sociais, essa falsa polêmica.
Por que digo falsa polêmica?
Simplesmente porque não haveria qualquer motivo para existir a partir da concepção do projeto de revitalização do mencionado logradouro.
Ora, qual é a ideia para revitalização do “complexo” João Lisboa? É devolvê-lo ao seu aspecto original do começo do século passado?
Caso seja essa a ideia, não há que se falar em manutenção do “abrigo”, passa o trator e devolve a praça o aspecto que tinha naquele momento.
Se, ao contrário disso, a ideia é só devolver o espaço as características dos anos cinquenta do século passado, deixa-se o abrigo, recupera-se o mesmo.
Ao meu sentir, entretanto, filiando-me à corrente dos historiadores de “raiz”, não existe qualquer sentido para perdermos a oportunidade de devolvermos à cidade o aspecto que a mesma tinha no começo do século passado.
Seria, na verdade, de imperiosa importância para o turismo que fizéssemos isso.
Qual a razão para perdermos tal oportunidade se já estamos fazendo a revitalização da área?
O abrigo, com apenas 68 anos não faz parte daquele lugar.
A única serventia que tem é servir de mictório para os cidadãos que vivem nas ruas, para abrigar o comércio de drogas, favorecer a violência e outras coisas mais que só depõe contra a cidade.
Até onde sabemos, todos os antigos trabalhadores que ocupavam seus boxes já não estão por lá, todos retornaram aos seus bairros. E, se tivessem, nada impediria que fossem alocados em um ou dois dos diversos prédios históricos do seu entorno.
Seria muito melhor, inclusive, financeiramente pois o Largo, com seu aspecto original do começo do século passado, atrairia a frequência de turistas e mesmo dos cidadãos locais.
Noutro giro, também, até onde sabemos, o “abrigo”, com seus mais sessenta anos, encontra-se com a sua estrutura completamente comprometida. Ou seja, a municipalidade, caso faça a opção errada pela sua manutenção, terá que reconstruí-lo. Incorrendo no mesmo equívoco dos gestores dos anos cinquenta.
As dezenas de fotos que examinei nos últimos dias mostrando complexo João Lisboa, antes e depois do “abrigo”, mostram claramente que o momento anterior é muito mais belo, muito mais aprazível.
O apelo que se faz ao prefeito – que, parece-me, ser o único empecilho ao projeto que revitaliza a área de colocá-la no mesmo patamar do Projeto Reviver –, é que dê uma oportunidade ao bom senso.
Conforme dito anteriormente não faz qualquer sentido, repito, não aproveitar essa oportunidade de devolver à cidade o seu aspecto original do começo do século passado e ao invés disso fazer uma revitalização “meia-boca” e onerosa com a reconstrução do tal “abrigo”, que “não cabe” naquele logradouro, mantendo as mesmas mazelas que sempre se quis extirpar.
— Senhor prefeito, não perca essa oportunidade. Inclua o “complexo João Lisboa” no nosso Projeto Reviver. Não existe um motivo real para que não faça isso. Coloque seu nome na história da cidade.
Abdon Marinho é advogado.