UMA ORAÇÃO POR HENRY E PELA HUMANIDADE.
Por Abdon Marinho.
O BRASIL, para o desespero das pessoas de bem, ultrapassou a triste marca de 350 mil mortos pela Covid-19, são famílias, são amigos que sofrem a dor de suas perdas.
Enquanto isso, as autoridades ainda não “acordaram” para tragédia que acomete o país e “brigam” para saber quem tira melhor vantagem do vírus e até o “escala” como “cabo eleitoral”; os poderes de chocam por conta de pedidos de CPI, impeachment ou por gordos nacos do orçamento da união – as emendas parlamentares impositivas são as empreiteiras de outrora.
Em meio a todos esses acontecimentos e tantas tragédias, uma, em especial – e que nada tem a ver com as referidas anteriormente –, tem ocupado minha mente a ponto de não conseguir escrever sobre os outros assuntos antes de abordá-la.
Assim, pedindo licença aos leitores de sempre, no texto de hoje abordarei a dolorosa tragédia que vitimou o garotinho Henry Borel.
Lembro-me de já haver experimentado igual sentimento de revolta e tristeza por ocasião do assassinato da menina Isabella Nardoni e depois, mais ainda, com o assassinato do menino Bernardo Uglione.
No caso de Bernardo, especialmente, senti-me triste por saber que desde que perdera a mãe anos antes, vinha sofrendo maus-tratos ante a omissão criminosa do pai.
Estas duas tragédias tiveram o consórcio dos pais.
No caso de Bernardo, um sofrimento prolongado pelo tempo, pela dor do abandono, da omissão do pai até culminar com eliminação física perpetrada pela madrasta – com o conhecimento /consentimento do genitor.
Situação um pouco diferente do que deu com Isabela que, ainda com a participação do pai no evento sinistro, não tomamos conhecimento de maus-tratos anteriores.
O pai, juntamente com a madrasta, cometeram o crime, no “calor” do momento. Uma agressão e, para oculta-la, o homicídio jogando a criança pela janela.
Agora foi a vez de Henry. Um caso igualmente cruel, torpe, desumano mas que se mostra distinto dos dois casos anteriores.
Quando, há um mês soube-se do crime e da versão dos criminosos, que a criança teria morrido ao cair da cama – versão que frontalmente se chocava com os exames periciais –, alguém comentou: “está certo. A criança caiu da cama, rolou 20 andares de escadas e parou justamente em meio a uma luta de MMA”.
Essa foi apenas uma das frases que ouvi, pois todos já sabiam por alto o que se dera com o garoto fora um crime horrendo perpetrado por aqueles que tinham o dever de protegê-lo.
Certeza que foi se cristalizando à medida que novas informações foram sendo disponibilizadas.
A frieza de ambos, o esforço do padrasto para impedir a perícia médica, a pressa para enterrar a criança – segundo ele “virar a página” –, os depoimentos de testemunhas, notadamente, de ex-companheiras apontando inúmeros exemplos de violência, sobretudo, contra os filhos das mesmas, etc., etcetera.
Mas, como dizia antes, o crime que vitimou o menino Henry teve características distintas dos dois casos citados (Isabela e Bernardo), muito embora todos iguais nos quesitos crueldade e horror.
A distinção é justamente a participação da mãe.
No caso de Isabela a mãe foi uma vítima indireta do que ocorreu à filha.
No caso de Bernardo a mãe já havia morrido há alguns anos.
No caso de Henry a mãe teve participação ativa por ação ou omissão.
As provas revelaram que um mês antes da tragédia uma sessão de tortura contra a vítima indefesa, pior, seu filho, lhe foi narrada “ao vivo” sem que ela nada fizesse.
Não procurou a polícia, não procurou o conselho tutelar, não confrontou o companheiro. Não fez nada. Absolutamente nada.
Depois, em conversas com o ex-marido, pai da criança, agiu como se não soubesse os motivos do filho não querer voltar para ela, chorar, vomitar, etc.
O comportamento da mãe do garoto Henry, não é o padrão nem mesmo na natureza selvagem.
O que vemos no mundo animal é o instinto protetor da mãe aos seus filhos. É assim com as leoas, com as elefantas, com as girafas. E não é assim apenas com os mamíferos. Experimente aproximar-se de uma ninhada de pássaros ou mesmo de galinhas, gansos, patas...
O instinto protetor da mãe sempre está presente na defesa de suas crias.
Esse instinto protetor da mãe se estende às fêmeas em geral.
Quantas vezes não assistimos um filhote que perdeu a mãe ser acolhido por outra mãe e até mesmo por outra fêmea de outra espécie?
No caso de Henry o que salta aos olhos é essa falta de instinto protetor da mãe.
Ela, uma professora de formação, a quem outras mães confiavam-lhe os filhos, mesmo sabendo que o companheiro era um contumaz torturador de crianças, foi incapaz de defender o próprio filho. Mesmo tendo tomado conhecimento de uma “tortura” que seu filho estava sofrendo em “tempo real”, nada fez no momento, antes do fato – pois pelo diálogo presume-se que ela já sabia o que o companheiro estava fazendo com o seu filho de apenas quatro anos –, ou depois do fato, com a criança mancando e com escoriações, pedindo a babá que não lhe lavasse a cabeça porque doía muito.
Que tipo de mãe é esse que nada faz para proteger um filho de quatro anos que estava sendo “barbarizado” pelo companheiro?
E, muito embora a responsabilidade primeira seja da mãe, a mesma pergunta cabe ser feita à babá.
Que tipo de ser humano pode ficar inerte diante dos maus-tratos sofridos por uma criança?
A mãe e a babá foram testemunhas – acho melhor dizer, cúmplices –, do que vinha ocorrendo com a criança.
E, desgraçadamente, se omitiram – ou consentiram, com os maus-tratos, a tortura perpetrada pelo vereador/médico/psicopata.
São menos psicopatas que ele?
Sou tentado a acreditar que a mãe “vendeu” o filho em troca de uma vida luxo, status, poder ...
Diante do desenrolar dos fatos, da criminosa omissão da mãe – considerando a hipótese que ela não tenha participado de nenhuma das sessões de torturas contra o filho –, imagino que o vereador/médico/psicopata deve ter proposto a ela que garantiria o luxo, o dinheiro, o conforto e status – isso tudo às custas do idiota do eleitor do Rio de Janeiro, que nos últimos tempos tem se esmerado em eleger a escória –, em troca de poder usar o filho como seu “saco de pancadas” pessoal.
Vejam que mesmo depois do assassinato do filho – que sabe como ocorreu –, ela mantém as versões falsas do fato, tentando proteger o companheiro – ou a si mesma.
Não vemos qualquer sentimento, só indiferença.
Indiferença, aliás, já demonstrada anteriormente, quando a babá lhe transmitiu “ao vivo” a sessão de tortura sofrida pelo filho; quando saiu do enterro “diretamente” para o salão de beleza; quando tirava “selfie” e postava enquanto aguardava o depoimento sobre a morte do filho. O seu filho, uma criança de quatro anos.
A criança tinha mais instinto protetor e amor pela mãe que ela. Uma das partes mais tocantes é o diálogo da babá contando que a criança lhe teria dito que o vereador/médico/monstro lhe disse que não podia falar senão a mãe sofreria as consequências.
E a mãe sabia de tudo isso.
Que tipo de humano é capaz de torturar uma criança?
Que tipo de humano é capaz de ficar indiferente à tortura de um ser indefeso?
As crianças, Henry, Bernardo, Isabela precisam de orações ... a humanidade precisa muito mais.
Abdon Marinho é advogado.