A IMOLAÇÃO DOS INOCENTES NA PAIXÃO DE CRISTO.
Por Abdon C. Marinho*.
CHOREI bastante e, enquanto fazia isso, a lembrança de uma canção de Natal chamada Rei Pequenino, de Siba e Fuloresta – que usei no vídeo da campanha Natal Solidário 2022 –, assaltou-me à mente pois na sua última estrofe ela pontua:
“A todo instante
Que uma mulher dá à luz
Vê-se a feição de Jesus
Numa criança inocente
Como a semente
já tem árvore guardada
Toda criança é sagrada
Não pode ser diferente
É Natal diariamente
Pois, a vida não se cansa
E onde nasce uma criança
Nasce Jesus novamente”.
Ainda profundamente impactado com os acontecimentos da Quarta-feira Santa, quando, em Blumenau - SC, um ser disfarçado de humano, invadiu uma creche e imolou quatro crianças de 04 a 07 anos e feriu outras tantas, lembrei-me e me pus a refletir sobre a canção de natal que tanto me emocionou.
Imaginei, então, em sentido reverso, que a imolação de crianças inocentes significa, a cada morte, a cada sacrifício de um inocente, a morte de Jesus novamente. Em Blumenau-SC, em uma única manhã, mataram Jesus Cristo quatro vezes e o feriram infinitamente milhares ou milhões de outras vezes – e não me refiro apenas aquelas crianças se feriram no ataque covarde, ou mesmo aquelas que estiveram próximas aos acontecimentos, e, certamente, estão traumatizadas e com receio de irem à escola –, todas as crianças do nosso país.
Roubaram-lhes a infância, tiraram-lhes o direito de serem inocentes.
A violência injustificada – e toda ela é injustificada –, passou a dominar os debates nas escolas, nas mesas de bares, no seio das famílias.
Mesmo aqui, no norte e nordeste do Brasil, tão distante do local onde se deu a tragédia, e que já vinha sendo noticiado possíveis atos de violência contra crianças e adolescentes, as famílias firam ansiosas em mandar seus filhos para as escolas.
Possuo, por formação, uma imensa de dificuldade em aceitar qualquer ato ou abuso contra pessoas indefesas, idosos, deficientes, crianças, além das mulheres, tantas vezes violadas e abusadas sexualmente, psicologicamente, financeiramente, e tantas outras formas.
Já tratamos tantas vezes disso.
O que aconteceu um Santa Catarina é algo que, de tão absurdo, não conseguimos compreender. Uma vez me deparei com uma constatação bem curiosa, a de que existem coisas tão grandes, mas tão grandes, que não conseguimos enxerga-las. É dizer, são tão imensas que ocupam todo o nosso campo visual a ponto de não conseguirmos saber do que se trata.
Um ato de violência – assim como tantos outros –, é algo que a mente humana normal não possui capacidade para “divisar”, não há como compreender, sob qualquer aspecto, que alguém pule o muro de uma creche, e, com golpes de machado, tire a vida de crianças.
Uma situação ou fato desses não é algo que “caiba” dentro das nossas mentes.
Acho que na natureza poucas são as espécies capazes de destruir os seus semelhantes. A raça humana ocupa o topo dessas exceções.
Sobre o fato específico – e sobre outros acontecimentos dos últimos dias –, bem como, sobre os infinitos boatos de que mais atos de violência irão eclodir a qualquer momento e em qualquer lugar, urge que as autoridades de segurança, autoridades médicas e, principalmente, as famílias, investiguem o que vem ocorrendo no nosso país na quadra que vivemos.
As famílias, principalmente elas, precisam acolher e conviver melhor com os filhos, procurando saber se efetivamente estão bem ou se estão recebendo outros tipos de influências que os tornem capazes de praticar atos insanos e incompreensíveis.
Soube que a mãe do assassino das crianças de Blumenau teria dito que o mesmo não apresentava “condição” anormal, exceto pelo o uso de drogas. As primeiras informações oficiais sobre o fato davam conta que ele teria tido um “surto psicótico”.
Ora, a menos que ele tenha tido tal surto em casa, de onde saiu com machadinha. Nesse meio tempo, antes de cometer o ato inominável, teria repensado, cessado o surto? Ouvi de um delegado que o plano do indigitado seria imolar 30 (trinta) crianças.
Não me parece surto algum, mas uma ação planejada e executada, que não teve seu desfecho completo graças a ação das professoras.
As autoridades, por sua vez, precisam “mergulhar” fundo no submundo das redes mundiais de computares, a fim de descobrir que tipo de crimes ou de planejamento de crimes estão em curso.
São muitas coincidências entre os fatos ocorridos e a série de boatos surgidos nos últimos tempos. Talvez uma coisa não tenha nada a ver com a outra, talvez estejam relacionadas e estejamos diante de algo tão grande e ruim, como disse anteriormente, que nem possuímos a capacidade de divisar ou compreender.
Mas deixemos isso, por enquanto, ao escrutínio das autoridades.
Estamos na Sexta-feira Santa, a Sexta-feira da Paixão de nosso Senhor e por isso, como falamos no início, nossas palavras devem ser no sentido de buscar Nele, no seu sofrimento por todos nós, o conforto que tanto precisamos, pois vivemos um momento em que só a fé em algo bem maior é capaz de trazer um pouquinho de “refrigero” as nossas vidas.
Toda violência é inominável, a violência contra crianças indefesas, penso eu, não cabe numa definição, é algo que apenas dói muito, pois dói diretamente na alma.
É algo que nos faz duvidar, em um rasgo de revolta, da própria existência divina. Pois, como pode Deus permitir, ante seus olhos, tamanha maldade?
O que dizer a um pai, uma mãe quando estes perdem um filho? Que palavras os confortariam? Certamente nenhuma.
Quando perda se perde um ente querido, alguém que amamos, perdemos um pouco de nós mesmos.
Lembrei-me do pequeno Bernardo, órfão de mãe, assasinado pelo pai em consórcio com a madrasta e mais outros seres abjetos, no Rio Grande do Sul, há alguns anos.
Numa triste e dramática coincidência, uma das vítimas da tragédia insana de Blumenau também se chamava Bernardo, certamente, em homenagem ao santo.
Em plena Semana Santa e antes do dia da Paixão, mataram o Cristo novamente quatro vezes, e tantas vezes mais o fizeram antes.
Nós, os que cremos, temos a convicção de que Cristo ressuscitará e com Ele ou Nele ressuscitarão todas as crianças imoladas. Estarão elas, como anjos que são, ao lado do Senhor por toda a eternidade.
Uma Sexta-feira Santa de reflexão para todos.
Abdon C. Marinho é advogado.