É MARAVILHOSO TER AMIGOS.
Por Abdon Clementino de Marinho*.
PRINCIPIAVA a semana mais curta, acho que na terça-feira, quando recebi a visita do amigo Gutemberg Braga, auto-apelidado de a “nega do leite”, por cultivar, como poucos, o hábito de falar “pelos cotovelos”, como se dizia antigamente.
Conheço Gutemberg há mais de trinta anos, desde os tempos que inicie meus estudos na Universidade Federal do Maranhão – UFMA, no curso de Direito. Ele, da Livraria Juridica, D. Francisca, da Livraria El Shaday, e o Louro, da Livraria do Advogado, eram nossos livreiros e primeiros credores dos tempos de estudante. Mantinham suas estantes de livros nas varandas do CCSo.
Com o dinheiro escasso, não raro aproveitava algum livro já sem o plástico para consultar lá mesmo.
Depois de formado – e como sempre gostei muito de livros –, os vendedores de livros jurídicos ou não passaram a “marcar ponto” e levarem seus produtos no meu escritório, Osmar Neres, Ronaldo Salazar e tantos outros.
O tempo foi passando e desde os tempos de UFMA a amizade com Gutemberg foi aumentando e se consolidando – ele que começou por me vender livros, migrou para as assinaturas de digitais dos vários vários produtos jurídicos, que conhece como poucos e utiliza de tais conhecimentos para alavancar suas vendas. Há quem diga que ele fala muito para os clientes comprarem logo. Hahaha.
Esbanjando jovialidade, apesar dos setenta e quatro anos bem vividos, esse coroataense, conhece quase todos do mundo jurídico do Maranhão e estados vizinhos, juízes, desembargadores, advogados, promotores, procuradores, etcetera, de muitos conhece ou conheceu dos avós aos netos, a muitos ajudou vendendo fiado, ou no “apuro”, quando um ou outro se formava e começava a trabalhar ou passava em um almejado concurso.
Pelo que já fez, há muito a sociedade lhe deveria um reconhecimento maior.
Mas, voltando a “vaca fria”, Gutemberg entra nesse texto por conta de uma lembrança de sua saudosa mãe que compartilhou na sua última visita – faltando dois meses para o vencimento das assinaturas que temos com ele, foi ao escritório para renová-las –, disse-me que ainda criança fora admoestado pela genitora, que lhe disse olhando nos olhos: —queres ser feliz? Faz a felicidade do teu próximo.
Segundo ele, essa lição formatou toda sua conduta, tornando-o feliz quando sabe ou tem o testemunho que fez a felicidade de alguém ou ajudou outrem a prosperar e a realizar seus sonhos.
Tal depoimento veio ao encontro da ideia já tinha para o nosso
‘encontro semanal’ através de textos, já pensado como forma de agradecimentos a Deus por ter me dado a honra de possuir ainda que poucos, extraordinárias amizades.
No dizer do inglês Francis Bacon (1561-1626): “Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades”.
Como dizia, pela graça divina tenho bons e leais amigos e isso ficou – e está –, sendo patente na disputa que travo com diversos colegas advogados pela vaga de desembargador pelo critério do quinto constitucional.
Muito embora sem recursos para desprender numa campanha “eleitoral”; sem a saúde exigida para percorrer o estado ou mesmo para visitar os colegas em seus escritórios; sem promover almoços, jantares, happy hour, etcetera; sem “padrinhos” importantes e/ou “máquinas” públicas ou privadas trabalhando a nosso favor; sem participar do chamam de “clube do token” e sem me afastar das regras do edital ou dos nossos princípios de vida, conseguimos, naquela oportunidade – a eleição foi anulada para que nova consulta seja realizada no dia 16 de maio –, quase quatrocentos votos.
A todos estes “senões” acima, acrescentem o fato que sou uma pessoa “difícil”. Desde sempre me recuso a curvar-me aos ideários ou à mídia vendida pelos poderosos, preferindo um olhar crítico sobre a realidade e apontando os erros de autoridades, órgãos públicos, privados e governos de quaisquer espectros políticos.
Foi assim, devido essa irresignação e, também, por não encontrar na imprensa profissional, visões dos fatos que fossem além dos “realeses” oficiais – com as honradas exceções –, que resolvi, de próprio punho, principalmente após a morte do amigo e jornalista Walter Rodrigues, escrever e tornar públicos as minhas visões de mundo, que, longe de mim, as pretendo que estejam corretas e inquebrantáveis, mas, sim, uma visão distinta ou um olhar dos fatos sobre uma nova perspectiva.
Nos últimos doze ou treze anos já colecionei cerca de mil e quinhentos “textões” que podem ser consultados no nosso sitio www.abdonmarinho.com e, em outros veículos e redes sociais. E, apesar de jamais expressar críticas de cunho pessoal, colecionei algumas inimizades, que afirmo, categoricamente, serem unilaterais e decorrentes de intolerâncias às divergências de opinião.
No Brasil e, principalmente, no Maranhão, os poderosos e “donos do poder” se acham insuscetíveis de críticas e cultivam péssimo hábito de gostarem de adulação.
Como nunca aprendi a ficar calado diante do que considero errado – meu pai dizia que o “malfeito” é da conta de todos –, e nunca soube como adular ninguém (e faço questão de não saber), por essas terras de “vice-reis”, trago tais “desvantagens”.
Outro dia, acho que foi o próprio Gutemberg, ou outro amigo, que ligou com tal constatação: — doutor, tu és difícil. Disse do outro lado da linha.
Apesar de tal “histórico” consegui a quantidade de votos que tive, numa campanha de menos de 20 dias, enquanto muitos colegas estão em “campanha” de verdade, há de um ano (desde que a vaga foi criada), e outros estão na corrida pelo cargo, desde sempre.
Mais que isso, não só consegui os votos referidos, como já consegui – e estou conseguindo cada vez mais –, inúmeras declarações de apoio para a consulta do dia 16 de maio.
São declarações de apoios de advogados e advogadas de todas as idades e gêneros, dizendo votaram e/ou que votarão na próxima consulta e tantos outros dizendo que não sabiam que era candidato, mas que a partir de agora estarão em “campanha” pedindo votos para mim e em meu nome.
São manifestações que até nos emocionam, pois sentimos que são manifestações de respeito, de carinho, de fé – por acreditarem que estamos fazendo o certo na nossa vida até aqui –, e desprovidas de quaisquer interesses de cunho pessoal.
Outro dia um colega muito querido ligou para dizer que faria a minha “campanha” conforme eu determinasse, iria aos escritórios dos colegas advogados e advogadas, ligaria, pediria votos de todos que conhecesse.
O mesmo interesse sinto da parte de diversos outros amigos que mesmo de fora do mundo jurídico estão localizando parentes e amigos advogados e advogadas para pedirem votos em meu nome.
E são tantas as declarações de carinho e apreço que fico encabulado e sem saber o que dizer ou fazer em agradecimento.
Sei apenas o quanto é imensa a responsabilidade que temos ao atingirmos nosso intento: jamais decepcionar, manter a retidão de caráter que nos trouxe até aqui e que fez – e faz –, com que tantas pessoas, mesmo aquelas que não nos conhece pessoalmente, confiem na gente.
É com esse compromisso de cidadania com essas pessoas comuns, homens e mulheres simples da nossa sociedade que esperamos alcançar o objetivo pretendido.
Pois uma coisa é certa: é maravilhoso ter amigos.
Muitíssimo obrigado a todos vocês.
Abdon Clementino de Marinho é advogado.