AbdonMarinho - Casa de Veraneio por Aziz Santos
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Casa de Ver­aneio por Aziz Santos

Casa de Veraneio

por Abde­laziz Aboud Santos

Pode ser uma opção a de vender a Casa de Ver­aneio do Gov­erno para con­struir uma unidade de saúde des­ti­nada a cri­anças com câncer. Mais um sinal da boa von­tade do futuro gov­er­nador Flávio Dino em aliviar o sofri­mento e a dor dos mais desas­sis­ti­dos do Maran­hão. Como na política pesa mais o sim­bólico, imagina-​se que seja mais uma ação con­tra uma mal assom­brada “Casa da Dinda”.

Exis­tem alter­na­ti­vas a con­sid­erar antes que isto se con­cretize. O Tesouro Estad­ual tem amplas condições de resolver a questão, basta que deixe de pagar inde­v­i­da­mente a ban­cos estrangeiros dívi­das ante­ri­or­mente quitadas pelo Estado. Este é um dos grandes absur­dos que está acon­te­cendo con­tra os inter­esses maiores do nosso povo. Em artigo pub­li­cado este ano no Jor­nal Pequeno, expliquei por­menorizada­mente a san­gria que se abate sobre os cofres públi­cos estad­u­ais com o paga­mento dessa dívida inex­is­tente, com dados irre­spondíveis pelo (des) gov­erno que aí está, com­balido e rejeitado por parce­las pon­deráveis de nossa população.

Outra pos­si­bil­i­dade conc­reta que o novo gov­erno pode lançar mão para ofer­e­cer ao Estado uma obra tão impor­tante como a unidade de saúde dese­jada é a cel­e­bração de Parce­rias Público-​Privadas. Vários Esta­dos estão lançando mão deste tipo de alter­na­tiva. Aqui, em nosso Estado, o gov­erno do Dr. Jack­son Lago preparou o Pro­grama de Parce­rias Público-​Privadas, em sub­sti­tu­ição à frágil Lei 8.437, de 2006, ense­jando a de nº 8.989, de 2009, que cria o Fundo Garan­ti­dor do Pro­grama. Entre out­ros pro­je­tos de PPP, 3 (três) hos­pi­tais de emergên­cia que iriam ser con­struí­dos (Bal­sas, Cha­pad­inha e Pedreiras) o seriam por essa via, já que os de Imper­a­triz e Pin­heiro o gov­erno injus­ta­mente deposto pela (in) Justiça cor­romp­ida por Lula/​Sarney cuidou de deposi­tar recur­sos do Tesouro para sua con­strução, recur­sos que foram seqüestra­dos pela suces­sora de Jack­son Lago.

O difí­cil de um hos­pi­tal não é sua con­strução e a con­se­qüente aquisição dos seus equipa­men­tos, cujos preços alcançam val­ores muito acima do que se pode auferir com a venda da Casa de Ver­aneio. O difí­cil é sua manutenção. Por isso mesmo, os hos­pi­tais que estão sendo con­struí­dos (não sei quan­tos do total de 72 anun­ci­a­dos) devem ter sua manutenção custeada pelos municí­pios. O Gov­erno inau­gura, faz a festa, poli­tiza a questão e passa para os municí­pios a respon­s­abil­i­dade do custeio, que é sabida­mente elevada.

Por­tanto, é bom que a Casa de Ver­aneio seja poupada, se enten­der­mos que ela não é de um gov­er­nador ou gov­er­nadora de ocasião, mas do Estado. Não serve ape­nas para fes­tas. Serve para rece­ber autori­dades nacionais ou de out­ros países em dia não útil; serve para reuniões em dias de feri­ado, sábado e domingo com aux­il­iares do gov­erno; serve como espaço de reflexão do primeiro man­datário do Estado, quando ele pre­cisa retirar-​se para pen­sar sobre questões de alta relevân­cia incom­patíveis com a tur­bulên­cia do dia-​a-​dia; serve, afi­nal para o des­canso legí­timo do gov­er­nador, quando isto se faz necessário.

Por tudo isso, é de se supor que a Casa de Ver­aneio do Gov­erno rep­re­sente um patrimônio já incor­po­rado aos bens do Estado, com funções próprias, exis­tente há mais de meio século e situ­ada em área para esse fim erigida. Se o Gov­erno enten­der que deve desafe­tara área para vendê-​la em processo apro­pri­ado de lic­i­tação, ali cer­ta­mente será edi­fi­cado um pré­dio de 15 (quinze) andares pelo vence­dor da com­petição, que, além de em nada con­tribuir para a pais­agem da cidade, vai con­sol­i­dar um absurdo legal ini­ci­ado pelos pré­dios viz­in­hos, todos inde­v­i­da­mente con­struí­dos, posto que à rev­elia do artigo 189 da Lei Orgânica do Municí­pio de São Luís, que assim especi­fica: “Fica proibida a con­strução de edifí­cios de aparta­men­tos famil­iares e com­er­ci­ais na orla marí­tima de São Luís, numa dis­tân­cia de até quin­hen­tos met­ros da mais alta maré das pra­ias de São Luís”.

Como foi pos­sível tal excrescên­cia? Explico: ao tempo em que a Con­ceição Andrade era prefeita da Cap­i­tal, aí pelo iní­cio de 1993, fiz­eram pub­licar no Diário Ofi­cial do Municí­pio uma “Lei Ordinária” mod­i­f­i­cando o pré-​citado artigo da Lei Orgânica, mas PAS­MEM os leitores: “lei” que não rece­beu a aprovação da Câmara de Vereadores, mesmo porque naquele Par­la­mento ela jamais tran­si­tou, além de que uma lei ordinária não tem poderes de mod­i­ficar uma lei orgânica. Como? Pois é, muito provavel­mente “moti­va­dos” por empresários do setor da con­strução com inter­esse na área, diri­gentes munic­i­pais de então man­daram irre­spon­savel­mente para pub­li­cação no DOM a fatídica “lei” que até hoje dá guar­ida irreg­u­lar a essa aber­ração de pré­dios ao lado do Hotel Luzeiros,este tam­bém con­struído irreg­u­lar­mente. Expliquei isto aos ex-​prefeitos Castelo e Tadeu Palá­cio. Como era de se esperar, nen­hum dos dois moveu uma palha sequer para sanar a irreg­u­lar­i­dade, posto que ambos têm muito em comum. Oxalá o Prefeito Edvaldo Holanda tome conta desta questão.

E o Min­istério Público Estad­ual? Tomou con­hec­i­mento desse abuso legal? Claro que sim. O que fez? Nada, pelo menos que eu saiba. Por quê nada fez? Mis­tério, esta ilha é cheia de mis­térios, de São Sebastião, de ser­pentes, de fal­si­fi­cações, de men­ti­ras, enfim, o Padre Anto­nio Vieira já nos aler­tava sobre isso sécu­los atrás, quando proclamou que aqui se insta­lara o reino da mentira.

Implo­dida ou não a Casa de Ver­aneio con­tin­uará abrindo baús de ossos sepul­ta­dos pelos que querem o esquec­i­mento da real­i­dade. Mesmo que seja mais um, den­tre os inúmeros cadáveres enfeita­dos, na cria­tiva expressão de Muniz Sodré sobre a mod­ernidade sem con­teúdo, pre­sente na cul­tura do país, a provo­cação de Dino aponta para a inadiável neces­si­dade de se colo­car o Maran­hão a limpo.