DESAFIOS DO MARANHÃO: AGRICULTURA.
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- Criado: Quarta, 20 Agosto 2014 13:28
- Escrito por Abdon Marinho
DESAFIOS DO MARANHÃO: AGRICULTURA.
A partir de agora passarei a discutir sobre os problemas que considero relevantes para o debate político no estado. Começo pela agricultura. Já falei deste tema algumas vezes. O que fazemos hoje é uma revisitação ao tema.
Não faz muitos dias vi alguns políticos soltarem rojões com a história de que o Maranhão teria, este ano, uma safra recorde, algo em tono de 4 milhões de toneladas de grãos. Os donos do poder festejam como se fosse um gol de placa essa safra.
Os números parecem grandiosos, infelizmente, não são. A safra brasileira neste mesmo período chegou a 190 milhões de toneladas, logo, a produção maranhense, representa algo em torno de 2% (dois por cento) da safra brasileira de grãos. O que é quase nada. Uma irrelevância em termos de números. Olhando mais de perto essa safra verifica-se que a maior contribuição é da monocultura de exportação e muito pouco para alimentar o povo.
Converso muito com as pessoas ligadas ao setor, agrônomos, veterinários, produtores. Todos dizem como que em coro que a agricultura do estado foi destruída nos últimos anos. O diálogo que mantenho, na verdade, é apenas para corroborar meu próprio pensamento. Salta aos olhos que o estado, embora o governo pregue e festeje seus recordes agrícolas, está muito longe de produzir o que deveria.
Com área total de 331.937,450 km2, o Maranhão, em extensão territorial, só fica atrás dos estados do Amazonas, Pará, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás. Alguns destes a diferença em extensão nem é tão significativa. Exceto por poucas áreas (reservas florestais, áreas de areia) o estado é quase todo agricultável, possui solo adequado a quase todo tipo agricultura. Pela posição geográfica, quantidade de rios, estações climáticas definidas o coloca em situação de muita vantagem em relação aos demais. A essas condições some-se ao fato de não possuir uma população muito grande possibilitando um maior aproveitamento do solo.
Apesar destas vantagens todas em relação aos demais estados a contribuição maranhense na produção de grãos gira em torno de 2% (dois por cento) da produção nacional. É muito pouco. Não temos razão para tanto festejo.
O Maranhão hoje não produz o suficiente para alimentar sua população. Não precisamos ir muito longe para constatarmos isso, basta acompanhar o tráfego de veículos na CEASA da capital. A profusão de veículos chegando aqui, oriundos de outros estados, com todo tipo de alimento, dimensiona bem a nossa produção. Chegamos ao ponto de estarmos importando de outros estados até cheiro-verde. A mesma situação é vivida nos demais municípios, sejam eles grande, médios ou de pequeno porte. O que mais vemos são os caminhões chegando nos mercados, feiras e no comércio local para o abastecimento.
Faço aos candidatos ao governo o desafio da CEASA. Que amanheçam um dia por lá para verificar a situação que nos encontramos.
O próximo governante precisa explorar o grande potencial que possui o estado neste setor. Alguém com capacidade para aliar o desenvolvimento com a preservação dos nossos recursos ambientais. Ao longo das últimas décadas as agências estaduais de desenvolvimento do setor primário foram sendo desativadas, não restando quase nada nos dias de hoje. Tem faltado políticas públicas que incentive a produção do pequeno agricultor para que o conjunto de pequenas produções alimente nossa população e provoque algum superávit. O governo estadual deixou de focar num dos setores mais importantes da economia e que equilibra a balança comercial todos os anos. A produção planejada de alimentos poderá fazer do Maranhão um dos celeiros do Brasil. Temos feito o contrário. A nossa política para o campo tem incentivado que as populações camponesas migrem para a periferia das cidades.
Não é aceitável que um estado tão rico como é o nosso, tenha mais de 60% (sessenta por cento) de sua população inscrita no Programa “Bolsa Família” e um outro tanto inscrita noutros programas assistenciais. Quem viaja pelo estado e se dá o trabalho de observar a vida das pessoas, já deve ter percebido que a qualquer hora do dia, qualquer dia da semana, o que mais se vê são pessoas ociosas, jogando, bebendo, de cara para o vento. Ao lado vastas áreas desocupada, com água próxima sendo consumida pelo mato, sem produzir nada, nem capim para alimentar o gado.
Não temos como compreender que o nosso estado tenha desativado os órgãos de incentivo ao setor primário, que não haja pesquisa consistente na área.
O Maranhão precisa entender sua vocação para esse setor, pesquisar mais, garantir assistência técnica aos produtores, possuir um cadastro atualizado de todas as propriedades e garantir que cada produtor receba incentivo e assistência para produzir. Explorar, repito, esse potencial.
Nas minhas andanças tenho observado, e pesquisas atestam isso, que um dos produtos mais consumidos pelo maranhense, é cerveja. Ouso dizer também que a produção de sinucas e bilharinas também não cessa de aumentar. Por onde passamos encontramos pequenos bares, butecos. A maioria com seus bilhares, as vezes mais de uma. As pessoas recebem suas bolsas e outros incentivos e reserva uma parte para gastar com cerveja, cachaça e para jogar.
E, apenas para registro, passando pela BR 135, encontro uma placa na porta da AMBEV. Lá, a informação, importante, de que a pujante industria de bebida conta com os incentivos do Estado do Maranhão. Nada contra, mas custa incentivar e investir no setor produtivo primário?
É essencial que o nosso estado redescubra sua agricultura, que os próximos governantes reestruture o setor devolvendo a assistência técnica e os incentivos ao homem do campo. Sem essa compreensão continuaremos a importar batata, tomate, abóbora e até cheiro-verde e a empurrar os trabalhadores do campo para as periferias das cidades, para o vício e para a violência.
O povo brasileiro e maranhense não pode mais continuar a viver de esmolas. Não esse povo que sempre teve coragem de trabalhar.
Abdon Marinho é advogado.