Sinfonia de panelas às portas do inferno.
- Detalhes
- Criado: Domingo, 22 Março 2020 19:53
- Escrito por Abdon Marinho
SINFONIA DE PANELAS ÀS PORTAS DO INFERNO.
Por Abdon Marinho.
O MUNDO está em suspense diante desta que talvez seja a maior tragédia humanitária em décadas: a pandemia do coronavírus ou covid-19.
Mesmo os cálculos mais otimistas apontam para milhares – ou milhões –, de mortos ao redor do mundo em uma questão de meses.
Na China, onde tudo começou, com mais de oitenta mil infectados, registrou-se mais mais de três mil mortos. Lá o governo adotou uma política de isolamento da província epicentro do surto e controlou a proliferação do surto, reduzindo ou não registrando contágio interno há alguns dias.
Antes de fazer o “dever de casa”, porém, o novo corona já havia se espalhado pelo mundo, causando mortes e destruindo a economia dos países.
Na Itália, que adotou o isolamento das cidades quando o surto se espalhara, já registra quase mil mortos/dia – ultrapassando o número de mortos ocorridos na China –, com a curva de contágio e mortes ainda em ascensão e já sem um sistema de saúde que possa dar conta da demanda – por mais que se esforcem e mostrem abnegação –, e nos fornecer números reais da tragédia que vem ocorrendo naquele país.
Ainda na Europa, a Espanha, que também demorou nas providências, o ritmo de contágio e mortes segue em ascensão e não se descarta que ultrapasse, em breve, os números italianos.
O Reino Unido, diante do avanço do vírus e do que vem acontecendo noutros países, está revendo sua política para o enfrentamento do problema – antes pensavam em deixar como estava para ver como ficava.
Constataram que o prejuízo em vidas humanas seria incalculável.
O ponto fora da curva na Europa, pela eficiência no combate ao covid-19, é a Alemanha que a despeito do número elevado de infectados, possui um baixo número de mortos.
O mundo é globalizado e as doenças também. Assim o vírus chegou as Américas.
Nos Estados Unidos, que, inicialmente, apostaram no combate natural da doença, o vírus já infectou alguns milhares de americanos e já se contam em centenas os mortos.
Isso fez com que o governo revisse sua estratégia e corresse para as políticas de contenção enquanto aceleram estudos e pesquisas para encontrar um medicamento no mais curto espaço de tempo.
Fizemos ligeiramente essa panorâmica – deixando de fora diversos outros países dentre os quais o Irã, por possuir uma dinâmica própria, e outros da Europa, Ásia e África, por se enquadrarem nos modelos já referidos –, antes de adentrar, propriamente no assunto do nosso texto.
Como era de se esperar o vírus chegou ao Brasil e circula entre nós.
Oficialmente já temos mais de mil infectados com o vírus e quase duas dezenas de mortos. Isso oficialmente, uma vez que só estão sendo submetidos a testes – até por sua escassez –, aqueles que apresentam algum sintoma e estes são uma ínfima quantia dos que, de fato, podem está efetivamente infectados.
Ainda assim, se levarmos em conta os números de outros países e consideramos que já somam mais de 13 mil mortos e um bilhão de pessoas em quarentena, trata-se de números modestos e que permitem, ainda, uma ação conjunta e efetiva das autoridades para reduzir – ou minorar –, os impactos do novo coronavírus no nosso país.
Infelizmente, pelo que tenho visto, parece que as autoridades federais, estaduais e municipais – com as honradas exceções de sempre –, não se deram conta da gravidade do problema, ou apostaram na solução do mesmo pelo esgotamento.
Desde o final do ano passado que o coronavírus vinha fazendo vítimas na China, mas o Brasil e o Maranhão – faço esse destaque por conta do Porto do Itaqui que recebe inúmeros navios de várias partes do mundo e daquele país, em especial, além de termos uma considerável população de asiáticos aqui –, continuaram a receber a todos sem adotar os protocolos mínimos de segurança.
No período do Carnaval, então, nem se fala, cada governo querendo “se mostrar” e receber mais turistas.
Isso foi há pouco mais de duas semanas. Até poucos dias o nosso governo estadual “vendia” que tinha feito melhor carnaval de todos os tempos e que tinha colocado perto de um milhão de pessoas na Beira-mar, etc.
O período de Momo por aqui coincidia, com pouca margem, com o período de crescimento da doença na China.
Mas não é só, por aqui já havia um grande número de pessoas infectadas pelo vírus H1N1 circulando e festejando como se nada tivesse acontecendo.
Se por aqui não morreu, pelo menos oficialmente, devido o covid-19, em relação ao H1N1, pelo que dizem, o quadro é desolador, com registro de mortes, inclusive de adolescentes.
E as autoridades sabiam disso, não podiam eram perder a beleza da fotografia da beira-mar lotada de gente.
Agora correm para fazer comercial dizendo que estão testando a temperatura das pessoas que chegam no aeroporto. Por que não fizeram antes, durante o carnaval e em todas os acessos à cidade?
Não é por nada, mas poderia ter, perfeitamente, já alguém infectado com o covid-19 que ninguém daria conta.
Como disse acima, oficialmente, ainda temos um número baixo de infectados, menos ainda de mortes.
Apesar de todo tempo que se perdeu, esse é o momento até a onde podemos fazer alguma coisa para impedir que a pandemia tome conta do país, alcançando principalmente as camadas mais pobres – que são a maioria da população –, que não têm como seguir recomendações de isolamento e higiene e que, verdade seja dita, não têm nada com o problema.
Mas Isso só acontecerá se houver entendimento entre as autoridades nas três esferas administrativas: federal, estaduais e municipais.
Algo que seria óbvio, em momento de crise como esse, parece o mais difícil de se conseguir.
Enquanto nos Estados Unidos o presidente já anunciou que os partidos (Democrata e Republicano) e ainda os independentes, estão trabalhando em conjunto para tirar aquele país da situação em que se encontra, fazendo questão de nominar os líderes políticos da oposição com que tem tratado, por aqui, a população não tem só que se privar de tudo para evitar o contágio, tem, ainda, que assistir a troca de acusações e a guerra de egos das autoridades.
O presidente da República brigando com os governadores e estes com o presidente, tudo para tirarem vantagens políticas e pessoais, como se não tivessem 210 milhões de brasileiros no meio da confusão.
Acredito que mesmo o mais fiel aliado do atual presidente já saiba que ele (o presidente) é o principal inimigo do seu governo – conforme já disse aqui mesmo algumas vezes.
Lá atrás, bem antes das eleições de 2018, registrei o desastre que seria o país ser dirigido a partir dos extremos; quando decidiram que segundo turno seria disputado entre os extremos, registrei que tinha se dado “perda total”, e consciente disso, no dia do segundo turno das eleições, fiz o que a minha consciência mandou: não sai de casa.
Desde que assumiu o comando do país o atual presidente sabota o governo, ora, atrapalhando as reformas estruturais, necessárias e urgentes; ora, tentando, e conseguindo, “queimar” algum ministro que possa lhe fazer sombra no futuro; ora, fazendo ou dizendo tolices.
Quando não é ele é algum dos três filhos patetas ou os três ao mesmo tempo.
Na atual pandemia o presidente continuou fazendo o que sempre fez desde que assumiu: sabotar o governo e as importantes medidas e providências que os seus ministros estão adotando.
Cientes desta fragilidade do presidente – não do governo, que vem, dentro de suas atribuições e limitações, dando as respostas necessárias –, alguns governadores, de forma oportunista, e sem que tenham feito o dever de casa, apostam no conflito e na balbúrdia para se promoverem politicamente a sucessores do atual presidente.
Nos Estados Unidos, onde as eleições presidenciais acontecerão em novembro, estão todos os partidos unidos para salvar o povo é evitar mortes.
Todos esqueceram as diferenças políticas, os interesses pessoais, para se submeterem aos interesses da população e do país.
No Brasil a eleição presidencial será só daqui a três anos, por isso choca que alguns políticos de oposição ao atual governo, diretamente ou através de seus aduladores, inclusive da mídia, tentem por todas as formas explorar a tragédia para se promoverem.
Até tomam medidas que beneficiam a população, não duvido, mas alguns estão “jogando” com a desgraça alheia para se beneficiarem política e pessoalmente. Isso está bem claro.
Choca mais ainda é ver a população dividida em alas aplaudindo os malucos de ambos os lados sem saberem o dia de amanhã.
Não é aceitável ou razoável que em plena pandemia, ao invés de todos se unirem, fazerem reuniões e buscarem as melhores alternativas para salvarem a população da tragédia, inclusive, seguindo os exemplos de outros países, se ocupem de alimentar movimentos divisionistas, pregando impeachment, promovendo, literalmente, uma sinfonia de panelas às portas do inferno, como o sofrimento dos menos favorecidos não passasse de um detalhe no cálculo eleitoral.
O desastrado presidente que temos não justifica que usem o tal do covid-19 como cabo eleitoral para servir aos interesses dos desqualificados, oportunistas e inescrupulosos.
Tratem o Brasil com respeito!
Abdon Marinho é advogado.