AbdonMarinho - LULA REINA, BOLSONARO AVANÇA DUAS CASAS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

LULA REINA, BOL­SONARO AVANÇA DUAS CASAS.


LULA REINA, BOL­SONARO AVANÇA DUAS CASAS.

Por Abdon C. Marinho.

O BRASIL, segundo pesquisas abal­izadas, desponta como uma das nações mais polar­izadas no campo da política. Arrisco dizer que nem seria necessário pesquisa alguma pois essa é uma real­i­dade bem pre­sente por onde se passa, nos esta­dos, nas cidades, nas comu­nidades, ainda que peque­nas, nas empre­sas, repar­tições e den­tro dos lares.

Tal nível de polar­iza­ção faz com que opiniões ou análises políti­cas sejam tidas como pros­elit­ismo a favor de um ou con­tra outro e vice-​versa.

Esse estado de coisas leva à ignorân­cia ou a má-​fé – ou à ambas –, se se deparam com alguma opinião que con­trarie a sua “ide­olo­gia”. Um caldo de cul­tura que impede a leitura de opiniões dis­so­nantes das suas, fazendo com que se retroal­i­mentem a par­tir dos próprios (pré) con­ceitos ou a par­tir de ideias de um grupo bem exclu­sivo e con­cor­dantes com as suas.

Uma das car­ac­terís­ti­cas destes tem­pos de obscu­ran­tismo é colo­car deter­mi­na­dos autores em uma espé­cie de “índex” proibido.

Muito emb­ora essa seja uma prática da Idade Média dão um nome bem atual: “cancelamento”.

Faço tal reg­istro ape­nas para consignar que talvez tenha pas­sado desaperce­bido por muitos o alerta que fiz logo no iní­cio da pandemia.

Dizia naquela opor­tu­nidade – quando os desati­nos na con­dução da crise san­itária gan­hava corpo e termo “genocí­dio” se tor­nava cada vez mais pre­sente nos debates –, que, muito emb­ora o termo não se apli­casse à pop­u­lação brasileira como um todo, era per­feita­mente aplicável em relação ao trata­mento dis­pen­sado as povos indí­ge­nas, uma vez que se tratavam de gru­pos étni­cos menores.

Pon­tuando que o trata­mento inad­e­quado da pan­demia em relação a essas pop­u­lações pode­ria, sim, embasar uma con­de­nação do man­datário nacional, não ape­nas no Brasil, mas, prin­ci­pal­mente, nas cortes internacionais.

Com muito mais ênfase, inúmeras vezes, nas min­has análises, pontuei que o gov­erno do então pres­i­dente “tra­bal­hava” – não sei se por devaneios ou desvar­ios –, com per­spec­tiva de um golpe mil­i­tar que o entron­izasse no poder pelo tempo que achasse dev­ido.

Fiz tal análise política, acred­ito, pelo menos uma dúzia de vezes.

Inúmeras vezes, disse, tam­bém, que cog­i­tar ou ten­tar imple­men­tar uma ditadura mil­i­tar no Brasil em pleno século XXI era algo abso­lu­ta­mente sem nexo ou conexão com a real­i­dade mundial.

Em out­ras palavras, não havia “clima” para uma rup­tura insti­tu­cional e que ten­tar tal lou­cura seria con­duzir o país a uma guerra civil e a destru­ição da nação.

Entre muitas das análises sobre o cenário político escrevi um texto com o seguinte título: “Um can­didato entre o Planalto e a Papuda”, ilus­trava o texto uma charge col­hida da inter­net mostrando uma ampul­heta com o então pres­i­dente, na parte de cima, vestido de pres­i­dente, com faixa e tudo; e, na parte de baixo, já se for­mando no uni­forme de pre­sidiário.

Foi logo no iní­cio do processo eleitoral.

Soube que os “devo­tos” do ex-​presidente, sobre­tudo aque­les inca­pazes de enten­der, repito, que uma análise política “não é con­tra ou a favor de ninguém”, pois se o for, torna-​se pros­elit­ismo, “subi­ram” nas taman­cas de ódio e desejaram-​me o fogo do inferno pela eternidade.

O tempo – esse incon­testável sen­hor da razão –, pas­sou e com ele a certeza de que tudo (ou quase tudo) que afirmei (e que tenho afir­mado), eram ver­dades.

Com as sementes golpis­tas semeadas durante qua­tro anos – todas as vezes que ata­cou as insti­tu­ições, prin­ci­pal­mente, o Con­gresso Nacional, o Supremo Tri­bunal Fed­eral, a Justiça Eleitoral e o processo eleitoral –, após a der­rota nas urnas, no segundo turno, o man­datário entrou, para o público em geral, em uma espé­cie de mutismo, enquanto fazendo uso do que convencionou-​se chamar “apito de cachorro”, dire­ta­mente ou através de inter­postas pes­soas, insu­flava os seus seguidores a ocu­par as ruas, por­tas dos quar­téis mil­itares chamando para o golpe institucional.

Soube-​se, inclu­sive, de reuniões com os chefes mil­itares com tal intenção – tendo os mesmo se recu­sado a tal aven­tura –, e que o filho zero um fiz­era uma incursão espe­cial ao coman­dante do exército para sondá-​lo sobre tal pos­si­bil­i­dade, tendo sido rechaçado.

Prova maior de que engen­draram um golpe foi a min­uta do decreto com tal intenção apreen­dida pela Polí­cia Fed­eral na casa do ex-​ministro da Justiça – que se encon­tra preso.

Não sat­is­feitos com o fra­casso das ten­ta­ti­vas, por assim dizer, “insti­tu­cionais” do golpe, o pres­i­dente “foge” do país na antevéspera de pas­sar a “faixa”, após um dis­curso com lin­guagem cifrada, instando os seus “devo­tos” a con­tin­uarem as trata­ti­vas golpis­tas.

O ex-​ministro da justiça, agora feito secretário de segu­rança pública do Dis­trito Fed­eral, teve papel sig­ni­fica­tivo no triste evento de 8 de janeiro, quando deu-​se a bizarra ten­ta­tiva de “tomada do poder” pelo “povo”.

Ele (secretário) tomou posse, não desmo­bi­li­zou as forças de segu­rança pública (não fez isso soz­inho) e par­tiu de férias uma sem­ana após assumir o cargo, pre­tendendo com isso fazer crê que nada tinha com a patus­cada.

Mas é fato, sim, que tive­mos uma ten­ta­tiva de golpe, mas, como tudo que fiz­eram nos últi­mos anos, o golpe tam­bém era fake pois não tinha a menor chance de pros­perar.

Foi a der­radeira ten­ta­tiva de “con­vencer” as Forças Armadas a embar­carem na canoa furada do golpismo.

As cenas de van­dal­ismo e a certeza que se tem de quem engen­drou tal vex­ame, pro­duziu o efeito con­trário, dando ao pres­i­dente eleito com uma margem mín­ima de votos – a menor que temos notí­cia –, a legit­im­i­dade para que se sinta o “rei da cocada preta”, como se dizia na minha aldeia, e pas­sasse a gov­ernar como se não devesse nada a ninguém.

Como disse em um texto ante­rior, o atual gov­erno não teve iní­cio no dia primeiro, con­forme man­da­mento con­sti­tu­cional, ele começou, de fato, no dia 8 de janeiro, quando os atos “golpis­tas” o val­i­daram, dando-​lhe uma legit­im­i­dade que até então não tinha.

Foi ali, naquela ten­ta­tiva fake de golpe insti­tu­cional que o sen­hor Bol­sonaro avançou uma casa.

E vamos em frente.

Con­forme pontuei há quase três anos, os maiores diss­a­bores do gov­erno findo viriam da questão ambi­en­tal, notada­mente, da forma como con­duziriam a questão indígena.

Como a des­graça nunca nos decep­ciona – pois sem­pre vem pior do que se pode imag­i­nar –, as ima­gens de seres humanos, índios brasileiros, mor­tos ou mor­rendo de fome chocaram o mundo.

Muito emb­ora nada possa ou deva ser com­parado ao holo­causto judeu na Segunda Guerra Mundial, o que o gov­erno brasileiro fez com os ianomâmis só encon­tra para­lelo ao que a máquina de guerra nazista fez ao povo judeu – guardadas as dev­i­das proporções.

As ima­gens de cri­anças e adul­tos magér­ri­mos, só pele e osso, doentes, com enfer­mi­dades diver­sas, só se assemel­ham com as ima­gens do holo­modor, quando os comu­nistas soviéti­cos diz­imaram pela fome, mil­hares de ucra­ni­anos; ou grande fome chi­nesa ocor­rida depois da tomada do poder pelos comu­nistas de Mao Tse Tung, ocor­rida entre os anos de 1958 a 1961; ou maior de todas as tragé­dias, que foi o mor­ticínio de judeus, ciganos, homos­sex­u­ais, pela máquina de guerra nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Qual­quer cidadão brasileiro, com ver­gonha na cara, dev­e­ria sentir-​se pes­soal­mente ultra­jado pelo que o gov­erno brasileiro fez com os índios ianomâmis, uma ver­gonha, um hor­ror, uma bar­bárie, cujas ima­gens de fatos semel­hantes só encon­tramos em fotografias em preto e branco pois ocor­ri­dos antes do advento do “em cores”.

A nossa ver­gonha ocorre agora em pleno século XXI, em tem­pos de comu­ni­cação instan­tânea em todos os can­tos do país.

Como essa des­graça se deu? Quem são os responsáveis?

O Brasil não poderá ser con­sid­er­ado como um país sério se “pas­sar o pano”, tanto na bisonha ten­ta­tiva de golpe, como, prin­ci­pal­mente, na ten­ta­tiva geno­cida de elim­i­nação do povo ianomâmi.

Sim, a palavra genocí­dio, como disse há três anos, é cabível. Por ação ou omis­são – não foi ape­nas incom­petên­cia –, os gov­er­nantes brasileiros, pre­cisam ser respon­s­abi­liza­dos pelas cen­te­nas de mortes evitáveis daquele povo, pelo fato de tê-​los deix­a­dos para “mor­rerem” de fome, con­forme mostram, de forma incon­tável, as ima­gens, fotos, vídeos, etc.

A gravi­dade ímpar dos fatos não admite outra coisa senão a punição exem­plar de todos que con­cor­reram para o genocí­dio, inclu­sive, que sejam feitas prisões pre­ven­ti­vas – respei­tando o dev­ido processo legal –, dos respon­sáveis, antes que os mes­mos fujam para alguma ditadura amiga.

Ao meu sen­tir, não há paci­fi­cação pos­sível sem a punição dos crim­i­nosos.

O trata­mento da questão indí­gena ou a “solução final” dada a ela fez o sen­hor Bol­sonaro avançar a segunda casa.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.